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BELO HORIZONTE, SEXTA-FEIRA, 11 DE JANEIRO DE 2019

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OPINIÃO O descrédito do Congresso Nacional ARISTOTELES ATHENIENSE *

Com a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal das Estatais em 2016, ficaram assentadas as regras de governança das companhias públicas, de modo a impedir os desmandos que corroíam aqueles órgãos. O diploma legal veio em boa hora, visando entravar a interferência política, a designação de parentes de parlamentares, de titulares de cargos comissionados, dirigentes partidários e sindicais até o terceiro grau, debelando, assim, a prática do nepotismo. Decorridos dois anos de vigência da lei e assim que conhecido o resultado do pleito de outubro, sobreveio a frustração dos congressistas que não foram reeleitos. Armou-se, então, um esquema fraudatório na Câmara dos Deputados, com a participação vergonhosa de todos os partidos, em prol da criação de oportunidades

aos que não mereceram o reconhecimento de seu desempenho pelo voto popular. A proposta consistiu em permitir que os repelidos pudessem integrar a diretoria ou o Conselho de Administração das estatais, desde que nos últimos três anos houvessem dirigido e participado de campanha eleitoral. O bom resultado obtido no regime da lei atual tornou-se evidente ante a queda expressiva de 153 para 178 no número das companhias do Estado, com a redução de 30 mil funcionários. O lucro de R$ 4,6 bilhões atingiu a R$ 25 bilhões em 2017. A chicana foi aprovada por uma indecorosa comissão especial, em caráter conclusivo, devendo ser submetida à avaliação do Senado Federal. A aprovação da reforma na Câmara Alta terá efeitos negativos no processo de profissionalização

implantado, prestando-se a dar continuidade à mesma volúpia e desfaçatez que alimentaram a sua tramitação na Câmara dos Deputados. Como este expediente deva ter sequência neste ano e diante da prometida política de retenção de gastos anunciada por Jair Bolsonaro ao longo de sua campanha eleitoral, cabe-lhe permanecer vigilante, impedindo que tamanho absurdo ganhe formato de lei. É indispensável que assim se mantenha, sob pena de concorrer, por omissão, para que essa vexatória iniciativa venha a prevalecer, em desfavor de tudo aquilo que o novo governo se dispõe a propiciar a um povo exausto das decepções proporcionadas pelo nosso Legislativo. * Advogado, Conselheiro Nato da OAB e Diretor do IAB

Receita Federal e servidores enfrentam cenário difícil ANTÔNIO GERALDO DE OLIVEIRA SEIXAS *

No ano de 2017, a Receita Federal do Brasil (RFB) apreendeu um total de R$ 2,3 bilhões em mercadorias nas ações de combate ao contrabando, ao descaminho e à pirataria. Em 2018, o resultado se aproximou de R$ 3 bilhões - o maior na história do órgão, desde a sua criação. Embora seja responsável por estes e outros importantes resultados que impactam positivamente a economia e a segurança pública do País, a Receita Federal vem sofrendo diversas limitações, que prejudicam o trabalho desempenhado por seus servidores e comprometem as ações de vigilância e repressão conduzidas pelo órgão. A Aduana brasileira também tem alcançado resultados cada vez mais expressivos no âmbito do combate ao tráfico internacional de drogas. Em todo o ano de 2017, foram apreendidas 18,07 toneladas de cocaína – resultado ultrapassado em 2018, quando foram apreendidas 29,7 toneladas da droga de janeiro a novembro, em trabalhos de rotina da Receita Federal durante o período. De janeiro a julho do ano passado, a apreensão de cocaína nos maiores portos do País alcançou a média de 66 quilos por dia, sendo o maior volume diário de apreensões da droga registrado na última década. As ações da Receita Federal contra os ilícitos no comércio internacional são fundamentais para proteger a economia do País, pois os produtos descaminhados e contrabandeados comercializados nas ruas promovem a concorrência desleal, causam prejuízos aos empregos formais, afetam a arrecadação de tributos e podem ser uma forma de financiamento do crime organizado. Para promover um ambiente de negócios mais seguro no Brasil, a Receita Federal também exerce um papel fundamental no âmbito da segurança pública retirando toneladas de drogas de circulação, a partir da atuação dos analistas-tributários nas atividades de vigilância e repressão, análise de risco, vistoria de mercadorias, cargas e bagagens. Cabe esclarecer que ao promover o controle de cargas, mercadorias, bagagens e veículos nos portos e aeroportos e postos de fronteira terrestre, a Receita Federal se depara com grandes quantidades de drogas ilícitas, como maconha, cocaína, crack, ecstasy, LSD e outras. Essa situação ocorre pelo fato de que essas drogas são encontradas, pelos analistas-tributários, escondidas em contêineres e veículos, camufladas em bagagens e produtos, embarcadas sorrateiramente em navios e até mesmo ocultas em pedras de granito destinadas ao exterior. A atuação da Receita Federal no Brasil, assim como nas demais economias em desenvolvimento e nos países desenvolvidos, reflete o atual entendimento de que as administrações aduaneiras passaram a ter um papel ainda mais importante no enfrentamento de ameaças à segurança internacional, representadas pelo tráfico internacional de drogas, de pessoas, de armas e munições, pelos crimes de contrabando, descaminho, evasão de divisas e o terrorismo. Todas essas ameaças são difusas, promovidas por atores não estatais e não se encontram mais delimitadas às fronteiras das nações. Apesar dos seus excelentes resultados, a Receita

Federal vem sofrendo várias limitações na sua atuação, principalmente com o quadro reduzido de servidores. Hoje, a Receita Federal possui 977 analistas-tributários responsáveis pelo controle de todo o fluxo do comércio internacional brasileiro, envolvendo uma movimentação de milhões de toneladas de cargas de importação e exportação nos portos, aeroportos e rodovias do País, sem contar com o trânsito de veículos e pessoas. Para piorar a situação da fiscalização e controle aduaneiro realizados pelos analistas-tributários, uma resolução Anac determinou a inspeção obrigatória dos servidores que trabalham nas áreas de segurança dos aeroportos, comprometendo a agilidade das atividades desenvolvidas pela Receita Federal. O problema remonta ao ano de 2013, quando foi editada a Resolução Anac 278, de 10/07/2013, submetendo os analistas-tributários a múltiplas inspeções de segurança diariamente ao entrarem nas áreas alfandegadas dos aeroportos internacionais, comprometendo o exercício das atividades incumbidas à Receita Federal, diretamente relacionadas ao combate ao contrabando, descaminho e tráfico internacional de drogas e armas. A fiscalização sendo realizada por terceirizados, observando que o alfandegamento dos aeroportos internacionais é concedido pela própria Receita Federal do Brasil, permitindo que nesses locais ocorram atividades relacionadas ao comércio internacional, são as chamadas Zonas Primárias. Nas Zonas Primárias, o artigo 35 do Decreto-Lei 37/1966 determina que em tudo o que interessar à fiscalização aduaneira a autoridade aduaneira tem precedência sobre as demais que ali exercem suas atribuições. Ou seja, é extremamente incompreensível os analistas-tributários serem vistoriados no momento em que adentrem nas áreas aeroportuárias durante sua jornada de trabalho. A precedência citada consta no texto do inciso XVIII, do artigo 37, da Constituição Federal, determinando que a administração fazendária e seus servidores fiscais terão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência sobre os demais setores administrativos, na forma da lei. Diante de resultados tão expressivos de sua atuação em 2018, a Receita Federal do Brasil inicia o ano de 2019 com a apreensão de 760 quilos de cloridrato de cocaína no porto de Paranaguá/PR. A droga estava escondida dentro de um contêiner em caixas que continham carne congelada de frango destinadas à exportação. A apreensão demonstra o comprometimento dos analistas-tributários com suas atribuições, mesmo sofrendo várias ações que desrespeitam a importância da Aduana brasileira para sociedade. Que 2019 seja um ano no qual a Receita Federal do Brasil seja respeitada pela sua missão e por seus valores, ao exercer a Administração Tributária e Aduaneira com justiça fiscal e respeito ao cidadão, em benefício da sociedade, com integridade, lealdade, legalidade, profissionalismo e transparência. * Presidente do Sindireceita

Diário do Comércio Empresa Jornalística Ltda. Fundado em 18 de outubro de 1932 Fundador: José Costa Diretor-Presidente Luiz Carlos Motta Costa

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Pensar para evitar erros Na segunda metade dos anos 40, ao final da Segunda Grande Guerra, os brasileiros enxergavam pela frente um ciclo de prosperidade. Nesse contexto, entendiam ser necessário – e urgente – a capacitação de mão de obra de nível médio, tarefa que as próprias empresas, inicialmente nos setores industrial e comercial, se propuseram cumprir. Nascia o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), ambos integralmente financiados pela iniciativa privada e sem recursos públicos. Por razões práticas, uma vez que não havia estrutura privada capaz de suportar o encargo, ficou acertado que as contribuições seriam recolhidas através do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários, o antigo IAPC. Foi assim que começou a ser construída uma história de sucesso, hoje assim amplamente reconhecida, embora seja também motivo de muita controvérsia. Com o correr dos anos o sistema cresceu e aumentou seu campo de atuação, sendo reconhecido hoje como um dos maiores e mais eficientes no mundo em Falar mal do Sistema seu campo S parece fazer parte de atuação, inclusive de um roteiro antigo, servindo de que agora se repete modelo para diversos países. nas promessas do Contam-se ministro da Economia aos milhões os alunos que de “meter-lhe a passaram pelos faca” para reduzir bancos de suas escolas, as contribuições, algumas delas que em parte já são classificadas entre as voluntárias, pelo melhores do menos em 30% País, mesmo na comparação com estabelecimentos privados e premiadas até internacionalmente. Seu financiamento – hoje mais conhecido como Sistema S – é custeado diretamente por empresas privadas, que recolhem entre 0,2% e 2,5% sobre suas respectivas folhas de pagamento. Apesar do sucesso reconhecido e aplaudido, não falta quem lhe atire pedras, na enganosa ideia de que se trata de dinheiro público, retirado dos bolsos dos contribuintes. Falar mal do Sistema S parece fazer parte de um roteiro antigo, que agora se repete nas promessas do ministro da Economia de “meter-lhe a faca” para reduzir as contribuições, que em parte já são voluntárias, pelo menos em 30%. O argumento é desonerar a folha salarial e assim criar condições para maior e mais rápida geração de empregos. Parece fazer sentido, mas não é levado em conta que cada vez mais empregos dependem de qualificação técnica de qualidade, exatamente o que o sistema oferece. Com toda certeza é possível fazer mais e fazer melhor, com menores custos e, como regra, os dirigentes do Sistema S têm consciência disso. O que não faz o menor sentido é inviabilizar, ou até matar, uma experiência que deu muito certo, que disponibiliza mão de obra de qualidade e muito contribui para a inovação de que o País ainda é tão carente. É portanto altamente recomendável pensar melhor a respeito, antes que uma decisão impensada, ou demagógica, ponha a perder um caso de reconhecido sucesso.


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