EXIT 27 Gestão da Mudança no Terceiro Sector: mito ou revolução?

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entrevista com...

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Mirjam Schoning Senior Director & Head of Schwab Foundation for Social Entrepreneurship (Genebra, Suíça) Dianova: É de opinião geral de que, a fim de resolver alguns dos problemas mais difíceis do mundo globalizado, especialmente nos países desenvolvidos, a resposta depende de Inovação e Empreendedorismo. Pensando no Sector sem fins lucrativos e o seu papel na mudança social, como poderá ser definida a Inovação Social e o Empreendedorismo? Mirjam Schoning: Estávamos acostumados a empresários, como Steve Jobs, serem os principais motores da inovação para a economia. Sob uma luz semelhante, os empreendedores sociais são os principais motores da inovação para a sociedade. Eles têm, assim, desenvolvido modelos como a microfinança ou novos métodos de ensino que abrem novas oportunidades para todos os segmentos da população. Um empreendedor social é um líder ou visionário pragmático que: • Atinge a grande escala, uma mudança social sistémica e sustentável através de uma nova invenção, uma abordagem diferente, uma aplicação mais rigorosa de tecnologias ou estratégias conhecidas, ou uma combinação destas. • Concentra-se em primeiro lugar na criação de valor social e/ ou ecológico. • Constrói Organizações fortes e sustentáveis, que podem ser configuradas como sem fins lucrativos ou empresas com fins lucrativos. Em última instância, queremos lutar por todo o empreendedorismo como sendo empreendedorismo social. Dianova: Acabou de ser lançado pela Euclide Network European Third Sector Leaders a Taskforce on European Social Investment Facility. A Mirjam também esteve envolvida na elaboração do “Manual de Investimento Social - um Guia para Empreendedores Sociais” desenvolvido pela Schwab Foundation. Para uma melhor performance num processo de gestão de mudança no sector sem fins lucrativos, a fim de ‘ser financeiramente auto-sustentável, mas também rentável’, poderia resumir as principais conclusões deste relevante Guia que podem fornecer um roteiro sustentável “para expandir o seu impacto”? Mirjam Schoning: O Manual de Investimento Social foi a ideia de um grupo de empreendedores sociais que fazem parte da Schwab Foundation Network e que se reuniu há um ano numa das nossas reuniões na China. A maioria deles já tinha realizado experiências de captação de capital junto de investidores sociais e desejavam serem capazes de aprender mais sobre o processo antes de embarcar nele com uma aprendizagem por tentativa e erro. Decidiram então, criar um Manual que proporcionasse aos empreendedores sociais mais conhecimento sobre captação de capital, bem como gestão de

confiança mútua com os investidores sociais. O Manual inclui ainda uma lista abrangente de diferentes fontes de capital de investimento. As quantias que os investidores sociais fornecem às Organizações sociais são muitas vezes maiores do que as subvenções, mas que, é claro, terão que ser pagos, na maioria das vezes com juros. Para além de avaliar se taxa de juros é inferior às taxas típicas de mercado, um empreendedor ainda tem que avaliar cuidadosamente se pode pagar o empréstimo. O capital angariado junto de investidores sociais oferece uma oportunidade única para escalar o impacto da Organização de uma forma sem precedentes, mas também pode levar a consequências indesejadas tais como: uma mudança na direcção estratégica, uma divergência em relação aos valores originais e missão da Organização, um distanciamento do envolvimento directo com a comunidade que serve ou uma perda de controlo sobre a cultura organizacional. O Manual procura abordar estas advertências activamente para mitigá-las desde o início. Dianova: As Organizações sociais desempenham um papel vital nas comunidades e na sociedade, envolvendo uma elevada confiança pública. Como podem os seus Conselhos de Administração gerir eficazmente as Organizações de forma a incrementar a confiança e o apoio do público? Terá a Governance um papel mais importante no Sector sem fins lucrativos do que nas empresas com fins lucrativos? Mirjam Schoning: É interessante que coloque essa pergunta a seguir à questão do investimento. De facto, como feedback para o Manual de Investimento Social, fomos solicitados a fornecer mais informação e orientação em torno da questão da Governance nas Organizações Sociais ou sem fins lucrativos. Muitas vezes, quando um investidor social traz capital para uma Organização, ele exige estruturas de governança específicas, como um Conselho de Supervisão e muitas vezes exige um assento no tal Conselho. Actualmente, estamos a solicitar aos empreendedores sociais de todo o mundo que preencham um inquérito sobre as suas estruturas de Governança actuais. Enquanto esperamos pelos resultados finais desse estudo em Janeiro, podemos constatar que a maioria das principais Organizações sociais já tem Conselhos activos e independentes. Na Europa, as Organizações sociais geralmente desfrutam de uma confiança pública por causa da sua missão clara. À medida que os seus números e importância crescem, será importante garantir que sejam bem governadas para não se perder a confiança pública. Dianova: De acordo com a sua experiência na Schwab Foundation, quais são as principais tendências, desafios estruturais ou forças que influenciam as exigências de encarnar bem o papel da Liderança no sector sem fins lucrativos? Mirjam Schoning: Os Empreendedores sociais e muitos líderes de Organizações sem fins lucrativos têm estado, nas últimas décadas, na sombra dos CEOs, empresários e outros líderes “Estrela” no domínio dos negócios e da política. Têm estado a trabalhar nas margens da nossa sociedade. Os


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