Design in my design

Page 183

O ACTO FOTOGRÁFICO PHILIPPE DUBOIS

Proponho aqui uma espécie de síntese reflexiva sobre os fundamentos da fotografia, simultaneamente sobre a imagem e sobre o acto que a definem, aliás indissociáveis. Porque a fotografia; teremos ocasião de voltar a dizê-lo, não é apenas uma imagem produzida por um acto, mas é também, antes de mais, um autêntico acto icónico “em si”, sendo consubstancial mente uma imagem-acto. Noutros termos, a clivagem tradicional entre o produto (a mensagem acabada) e o processo (o acto gerador a realizar-se) deixa aqui de ser pertinente. Com a fotografia, já não é possível pensar a imagem fora da sua própria constituição, fora do que a faz ser como tal, entendendo-se, por um lado, que esta “génese” tanto pode ser um acto de produção propriamente dito (tirar a fotografia) como um acto de recepção ou de difusão e, por outro lado, que esta indistinção do acto e da imagem não exclui em nilda a necessidade de uma distância fundamental, de uma fissura no seu próprio cerne. Vemos assim que num tal contexto a dimensão pragmática aparece como o incontornável ponto de fuga de toda a perspectiva sobre a fotografia. Terá ficado assente também que, quando ao longo destas páginas intento interrogar “a fotografia”, não pretendo especialmente analisar fotografias, isto é, a realidade empírica das mensagens visuais designadas por esta palavra e obtidas pelo processo óptico-químico que se conhece. Intento antes interrogar “a fotografia” no sentido de um dispositivo teórico, o fotográfico, se se quiser, mas numa apreensão mais larga do que quando se fala de ‘’’poético’’ relativamente à poesia. Tratar-se-á aqui de conceber este “fotográfico” como uma categoria que seja menos estética, semiótica ou histórica do que epistémica, uma verdadeira categoria de pensamento, absolutamente singular e conducente a uma

>> 183


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.