Peixes do Rio Madeira - vol. 2

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27 Cetopsidae Capítulo

Mário de Pinna

principalmente noturna e sua alimentação baseada em invertebrados alóctones, um hábito aparentemente plesiomórfico e compartilhado com os Cetopsinae mais generalizados. Durante o dia, espécies de Helogeninae se escondem em tufos densos de raízes ou outros acúmulos de matéria vegetal. Estes refúgios podem ser densamente compactados, mas geralmente são bem aerados por correntes de água diretas ou adjacentes. As espécies de Cetopsinae foram recentemente revisadas por Vari et al. (2005). Aquele trabalho, em combinação com as conclusões da análise filogenética de de Pinna et al., (2006) resultaram em algumas importantes alterações na nomenclatura e classificação do grupo. As mais relevantes dizem respeito à expansão do conceito do gênero Cetopsis, que passou a incluir também as espécies anteriormente alocadas em Hemicetopsis e Bathycetopsis, além de parte daquelas em Pseudocetopsis. Para alguns, a sinonimização de Hemicetopsis e Bathycetopsis em Cetopsis pode parecer contra-intuitiva, já que as duas espécies neles incluídas (os dois gêneros eram então monotípicos) são tão espetacularmente peculiares. Acontece, porém, que as duas espécies são os parentes mais próximos de Cetopsis coecutiens, espécie-tipo do gênero-tipo da subfamília e família. Tais circunstâncias fazem com que a manutenção dos dois gêneros exigisse a criação de vários outros gêneros distintos para abrigar linhagens mais basais em Cetopsinae. As diferenças entre eles seriam sutis e em sua maioria envolvendo detalhes de anatomia interna, o que resultaria em uma taxonomia pouco prática. Em termos formais, a melhor solução nomenclatural foi determinar um conceito ampliado de Cetopsis, eliminando Pseudocetopsis, Hemicetopsis e Bathycetopsis. As características que tornam Cetopsis candiru (outrora Hemicetopsis candiru) e C. oliveirai (outrora Bathycetopsis oliveirai) tão distintas entre os Cetopsidae são todas autapomórficas, ou seja, evoluíram unicamente nas suas respectivas linhagens e não são informativas sobre sua posição filogenética. Os outros gêneros de Cetopsidae representam linhagens basais em relação a Cetopsis. Cetopsidium é um clado de espécies de tamanho pequeno, que representa o ramo mais basal de Cetopsinae. São os únicos membros do grupo que retêm um aparelho de Weber correspondente ao estado primitivo em Siluriformes (i.e., sem nenhum grau de encapsulamento da bexiga natatória), além de espinhos nas nadadeiras peitorais e dorsal. O próximo grupo-irmão dentro da subfamília é o gênero Denticetopsis, que também inclui unicamente espécies de tamanho corporal pequeno e superficialmente semelhantes às de Cetopsidium. Os gêneros Paracetopsis e Cetopsis são grupos-irmãos, e incluem espécies de porte médio a grande (o primeiro gênero inclui as maiores espécies na família). Todos os gêneros de Cetopsinae estão representados na bacia do Rio Madeira, exceto Paracetopsis (cujas espécies são exclusivamente Trans-Andinas). Com exceção de C. candiru e C. coecutiens, os Cetopsinae raramente são bem representados em coletas e a maioria das amostras contém apenas um ou poucos exemplares. A segunda subfamília de Cetopsidae, Helogeninae, foi taxonomicamente tratada pela última vez por Vari & Ortega (1986), que reconheceram quatro espécies em um único gênero, Helogenes. Desde então não houve registro de nenhum novo táxon no grupo, apesar do aumento exponencial de material representativo e de novas localidades amostradas. No Rio Madeira ocorrem duas espécies, H. marmoratus, com ampla distribuição nas bacias dos rios Amazonas e Orinoco, além das bacias costerias da Guiana, Guiana Francesa e Suriname, e H. gouldingi, restrita a um igarapé perto de Humaitá. As duas espécies são muito semelhantes, idênticas no aspecto geral, mas se distinguem apenas por uma diferença no número de raios principais da nadadeira caudal, 15 em H. gouldingi e 16 em H. marmoratus. A diferença de um raio a mais ou menos está localizada no lobo inferior da nadadeira (8 em H. gouldingi e 9 em H. marmoratus). Helogenes gouldingi não está representada no material amostrado pelo presente projeto e permanece conhecida apenas pelo material tipo. Seria interessante a coleta de mais material comparativo da espécie. A lista abaixo e a chave correspondente se referem apenas às espécies coligidas durante as atividades de campo associadas ao projeto que deu origem a este volume. Além de H. gouldingi, existem algumas outras espécies de Cetopsidae já registradas para porções do Rio Madeira, mas não incluídas aqui, por exemplo Cetopsis pearsoni e C. starnesi.

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