Esmeralda

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— Isso não é motivo. Estou decidido. Por mais respeito que tua opinião me mereça. Não posso aceitar. Isadora é minha vida. Sinto, mas não pretendo aceitar tua recusa. Sabes que não tenho preconceito de casta. Isadora foi educada em nosso meio. E até muito instruída para uma mulher. Gostaria que a conhecesses melhor e assim poderias esquecer a antipatia e a má vontade que sempre manifestaste para com ela, que sempre te tratou com educação. — Não preciso que me dites normas. Apesar de tudo, dá-me tempo para pensar. Carlos não sabia o que dizer. Não tinha coragem para contar a verdade. Preferia pensar com mais calma sobre o assunto. Brigar com José só iria piorar as coisas. — Muito bem — disse o moço com seriedade. — Não quero esperar muito. Prometi a Isadora breve regresso. Carlos sentiu forte abalo no coração. — Filho, peço-te que fiques um pouco para ajudar-me nos negócios. Nossa casa vai mal. Por minha culpa, eu sei. Contudo, estou fraco, doente, preciso de tua ajuda, até eu melhorar um pouco mais. José olhou o rosto magro de Carlos, seu ar abatido, seus cabelos meio grisalhos. Comoveuse. Ele não pretendia brigar com a família. Ao contrário. Era seu desejo conviver em paz. Queria que eles aceitassem Isadora. Sabia que ela, por sua beleza, sua dignidade, conquistaria o coração deles. Seu pai estava abatido; a mãe, cansada. — Está bem, papai. Minha vontade é ir para o lado dela o quanto antes, porém concordo em esperar. — Obrigado, meu filho. Que Deus te bendiga. Porém, no coração de Carlos, funda mágoa aumentava seu remorso. Seria a Providência Divina quem o estava castigando dessa forma? Jamais poderia permitir esse casamento. Entretanto, como relatar a verdade a eles? Como? Eles por certo o odiariam para sempre. Carlos estava arrependido. Entretanto, como refazer o que destruíra? Como atuar, sem destruir o amor do filho e da filha, que por certo lhe cobrariam seus direitos? Quando José saiu, Carlos deixou-se cair numa poltrona e enterrou a cabeça entre as mãos e, sem poder dominar a emoção, começou a soluçar. Não viu a um canto da sala a figura sinistra de seu tio Fabrício, que sorria satisfeito e pensava: — Tu me tiraste a vida. Agora já começas a pagar.

Capítulo XXII


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