Esmeralda

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Apesar disso, ele sabia que tinha sido melhor assim. Amava a família, o lar, tudo, jamais os trocaria pelo amor da cigana. Porém ela era o proibido, o inatingível, a fantasia, o exótico, a liberdade, a mulher que todos queriam e que ele podia ter só para si. A mulher que Álvaro queria. Por certo, ele estaria com ela, tinha-a nos braços, aquele imbecil, que era incapaz de dar a Esmeralda o que ela precisava como mulher. A esse pensamento, empalidecia e, sentindo-se impotente para impedi-los de relacionaremse, engolia sua raiva contra o primo de sua mulher, contentando-se em odiá-lo. Maria, por vezes, vendo-o nervoso, inquieto, ar preocupado, delicadamente procurava atrair-lhe a atenção para coisas amenas e agradáveis e algumas vezes conseguia modificar-lhe o humor, atenuando-lhe o pessimismo, desviando-lhe os pensamentos. Carlos respeitava-a e amava-a muito. Por isso, quando chegou um portador de Madri, solicitando a presença dela, com urgência, ao lado de D. Hernandez, que estava doente e chamava pela filha e pelos netos, Carlos entristeceu-se. Naquele momento, não podia acompanhá-la a Madri. Estavam em plena colheita, que exigia sua presença constante. Graças a essa participação é que suas terras estavam produtivas e os negócios iam tão bem. D. Fernando não dispunha de saúde para percorrer as terras todos os dias. Carlos não podia evitar a ida de Maria e dos filhos em atendimento ao pedido de D. Hernandez. Tentou confortar Maria, assustada com o chamado, e resolveu: — Vai com as crianças e leva alguns servos. Fica lá o quanto achares necessário. Manda-me notícias da saúde de teu pai. Se não voltares em quinze dias, irei ter contigo. Poderei deixar os negócios sem prejuízo. No momento, sabes que nos prejudicaria a colheita. Depois, creio que não será nada grave. Teu pai sempre gozou de boa saúde. Em todo caso, confio em ti. Se achares necessário, se o caso for grave, o que não desejo, manda-me dizer, que largarei tudo e irei ter contigo. Maria levantou-se na ponta dos pés e beijou-o levemente na face. — Não te preocupes. Iremos muito bem. Se precisar de ti, mando-te chamar. Podes ficar tranqüilo. Foi com lágrimas nos olhos que Carlos despediu-se de Maria no amanhecer do dia seguinte. Beijou os filhos e fez muitas recomendações aos dois cavaleiros que acompanhavam as duas carruagens, uma com Maria e os filhos e a outra com a camareira de Maria, a ama de Matilde e a bagagem. Acenou o lenço até eles desaparecerem. Sentiu um vazio ao entrar no castelo. A vida seria insuportável sem eles, pensou comovido.


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