CriticasDeLuizGeraldoDeMirandaLeao_AuroraMirandaLeao

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termos de síntese, técnica e conteúdo, e também com conotação erótica no uso das metáforas e quando alude à Lady Godiva desfilando nua num cavalo (um desejo oculto de fazer o mesmo, conforme sugeriria depois o Prof. Dale Bailey): Estase no escuro / E um fluir azul sem substância / De penhascos e distâncias / leoa de Deus / Nos tornamos uma / Eixo de calcanhares e joelhos! – O sulco / Fende e passa / Irmã do / Arco castanho / Do pescoço que não posso abraçar / Olhinegras / Bagas expelem escuras / Iscas – / Goles de sangue negro e doce / Sombras. Algo mais / Me arrasta pelos ares – Coxas, pêlos / Escamas de meus calcanhares / Godiva / Branca, me descasco – / Mãos secas, secas asperezas / E agora / Espumo com o trigo, reflexo de mares / O grito da criança / Escorre pelo muro / E eu / Sou a flecha / Orvalho que avança / Suicida, e de uma vez se lança / Contra o olho / Vermelho, fornalha da manhã.

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O derradeiro poema de Sylvia, segundo revelou Ted Hughes em seus Birthday Papers tão citados aqui e ali, é Edge (Auge), premonição explícita do seu próprio fim: Sylvia se reveste do ideal de auge da perfeição atingido na morte, como se completasse uma obra. Assim se manifestou o tradutor Garcia Lopes, justificando sua solução para o título do poema, além da aproximação sonora entre os dois nomes Edge e Auge, quando

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