ALGARVE INFORMATIVO #46

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OPINIÃO TIRA UM «CURSO A SÉRIO»! PAULO CUNHA

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uitos que no «seu tempo» ouviram da boca dos seus pais as costumeiras frases “Tens que estudar para ser alguém na vida!”, ”Tira um curso a sério!” ou “Vê lá se essa área tem saída!?”, dizem-no agora com o mesmo paternalismo, convicção e esperança com que os seus progenitores o disseram. O tempo passa mas os velhos tabus sociais que nos foram incutidos por todos aqueles que ajudaram a construir os alicerces da atual sociedade de consumo, mantêm-se. É uma herança cultural que, duma forma ténue e lenta, tarda em mudar. É inquestionável a importância de adquirir conhecimentos seja em que área for, para, sobretudo, nos enriquecermos moral e intelectualmente, independentemente do rótulo e dos prémios e regalias que a sociedade nos venha a atribuir na sua hierarquia do «quem é Quem». Toda a gente é alguém na vida! Na vida de quem prezamos e nos preza. É isso o mais importante, pois para além do usufruto inconsequente e ostentação mundana de bens materiais, o bem-estar dos «nossos» acaba por ser o garante da nossa verdadeira importância nesta curta passagem terrena. Quando alguém faz a destrinça qualitativa entre o sério e o menos sério no que à importância profissional diz respeito, coloca-se a questão se a mesma é dada apenas pelo índice de empregabilidade, da média salarial, da capacidade de progressão, do status social ou também contempla a satisfação, a realização, o preenchimento e a felicidade pessoal de cada um. Não serão também os ditos cursos inferiores, aqueles que não sendo superiores

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tornam a nossa vida superior? Afinal de contas tira-se um curso para ser superior a outrem ou para tornar superior a nossa aprendizagem da vida, na vida e para a vida? Observando a forma como muitos educadores tentam condicionar as escolhas vocacionais dos seus educandos, em nome de uma projetada e muito almejada «saída profissional», tenho vindo a constatar que nos seus percursos académicos muitos desses alunos hipotecam e vilipendiam a sua felicidade em nome duma aparente certeza e segurança profissional. Entendo o desejo de qualquer pai que os seus filhos encontrem uma forma de subsistência que lhes garanta a possibilidade de também constituir família. Mas a que custo?... Apeteceu-me aqui desabafar este estado de espírito após ter ouvido um comentário de um jurado dum concurso onde é avaliado o talento dos concorrentes. Artista de formação e de convicção, aconselhava um jovem a continuar a investir o seu tempo e energia, dedicando-se “de alma e coração” àquilo que o fazia feliz: a arte onde mostrava vocação e competência. Tendo finalizado a dissertação com o eloquente e assertivo conselho: “Não ligues a quem te diz para tirares um curso a sério. Um curso a sério é o que fazes!”. Apetece-me perguntar-vos o que é hoje um «curso a sério». Não podendo, deixo-vos aqui a questão para colocarem aos vossos filhos… Talvez eles saibam! .

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