Revista Barbante - Ano VI - Num. 24 - 1 de dezembro de 2018

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de fazer a filha perder o feto. No momento do parto, preferiu deixar Antonia da Conceição sofrendo sozinha a ter de ajudá-la em seus conhecimentos com parturientes10 mesmo estando em casa e sabendo que a filha estava em trabalho de parto. Podemos pensar, que a intenção da mãe de Antonia fosse deixar ambos morrerem ou pelo menos o bebê. Fato que não ocorreu, haja vista que o menino nasceu vivo, mas que logo que Joana o encontrou e constatou que estava morto, não mediram esforços para enterrá-lo imediatamente. Desse caso de infanticídio nos depreende a questão da “aversão” que existia na condição da mulher solteira ser deflorada e ainda ficar grávida, antes de contrair o matrimonio, não podemos afirmar se esse era o pensamento da mãe de Antonia da Conceição, no entanto, por sua falta de ajuda a sua filha, tudo nos leva a pensar que a mãe não aceitava aquela gravidez e preferia a morte de seu futuro neto. O inquérito, por sua vez, foi arquivo tendo em vista que não havia provas que a criança havia nascido viva e que teria sido sepultada na tentativa de se livrar de um recém-nascido indesejado por parte dos familiares de Antonia da Conceição. Essa, por sua vez, ficaria com sua dor e sofrimento solitário, sem ter com que desabafar ou ter um consolo. Até a felicidade de ver seu filho pela última vez foi tirado, no instante, que sua mãe e a irmã o sepultaram sem que Antonia o visse. Fatos como esse são sintomáticos para a Comarca de Caicó para se entender como era vista perante a sociedade e seus familiares uma mulher solteira que se deixava levar pelas emoções de seus desejos sexuais e permitia-se deflorar por um homem antes do casamento. Ademais, se aquela ficava grávida havia o desprezo até mesmo por parte de seus familiares, como foi o caso da mãe de Antonia da Conceição.

Considerações Finais A partir das discussões ora efetivada, podemos perceber, que a mulher na transição do século XIX para o início do século XX era uma sujeito social dependente das normas sociais impostas pela sociedade na qual vivia. Essa, por sua vez, estava alicerçada ainda no poder do homem sobre a mulher e sua família.

Cabia a mulher zelar por sua honra e nesse caso, estava guardando o prestígio e a moral de sua família. No entanto, foi possível perceber que as mulheres, não raras às vezes, se deixavam dominar por seus desejos e permitiam-se perder a virgindade com seus amores. A questão é que nem sempre essas mulheres conseguiam obter seu intuito, ou seja, casar com seu namorado. Após o ato sexual, o rapaz nem sempre cumpria com a promessa de casamento e abandonava a 10 Pelo auto de perguntas feitas a mãe de Antonia da Conceição fica claro que ela era parteira.

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