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www.jornalfalandodedanca.com.br ISSN 2237-468X

ANO 8 - Nº 94 JULHO/2015

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Opinião

Danças vivas e danças mortas Recentemente li um texto de Khaled Emam, amigo egípcio de eventos de dança do ventre, indignado com o surgimento de modificações nas danças Marco Antonio Perna* étnicas tradicionais. Ele relata a importância de se manter as danças folclóricas e tradicionais como elas são. Venho estudando danças étnicas e posso dizer que a indumentária atual da dança do ventre não corresponde à história árabe. Mas essa nova indumentária e as fusões com outras linguagens, como o tribal norte-americano, são mo-

dernidades muito bem-vindas. No entanto, é de se esperar que, tendo tanto espaço para criar, o dançarino deva pensar também em preservar suas danças tradicionais. Concluí, então, que eu era solidário com a indignação de Eman. Faz tempo que falo da importância de mantermos o Samba de Gafieira como uma dança tradicional carioca, através do registro e documentação de determinados passos e movimentos, como a proposta do syllabus de 2001. A dança social está em constante evolução e já temos vertentes descendentes do samba de gafieira, como o samba funkeado, e se não nos preocuparmos com preservação, daqui a 50 anos ninguém vai saber como era nossa dança no início do milênio. A evolução terá gerado uma dança bem diferente, o que também é uma boa coisa, mas é bom ter as duas danças. Durante a história da Dança de Salão algumas danças foram preservadas, como o Lindy Hop e a Quadrilha. A Quadrilha passou a fazer parte do folclore nas festas juninas e não en-

trarei no mérito se é preservado fielmente ou não. Já o Lindy teve vida relativamente curta como dança social e simplesmente sumiu dos salões norte-americanos próximo à metade do século 20 e com certeza influenciou algumas danças do estilo Swing americano. Na década de 1980 professores de dança conseguiram identificar seus passos e desde então preservam a dança em suas aulas. O Lindy praticamente não é dançado fora de bailes não ligados a essas academias que o mantém, o que o classificaria como dança morta. Mas por sua beleza o Lindy continua vivo dentro delas, existindo até congressos dedicados a ele no exterior. Seria uma dança “zumbi” ? No Brasil teríamos o Maxixe como dança morta socialmente, mas que poderia ser ensinada em academias, preservando nossa cultura. Por alguma razão, não existe interesse de se criar aulas de Maxixe. O brasileiro não gosta de velharia doméstica, só importada. Talvez seja essa a razão de termos aulas de Lindy e não de Maxixe. Com esse exemplo, vem a preocupação da preservação do nosso Samba de Gafieira, pois é questionável se daqui a 50 anos alguém irá querer recuperar a forma da dança do início do milênio. É mais fácil preservar hoje, criando-se aulas sem modificações de nossa dança. A evolução dela pode ser uma outra dança, outra aula, como hoje já é o samba funkeado (que também corre o risco de não ser preservado como é hoje). Pensem, reflitam, pois evolução é bom, mas preservação também. _________________ Marco Antonio Perna é analista de sistemas, pesquisador, coordenador do portal dancadesalao.com, organizador de congressos de dança e autor de livros sobre dança de salão (dentre os quais Samba de Gafieira, a História da Dança de Salão Brasileira) e organizador da coletânea “200 anos da dança de salão no Brasil”, publicada pela AMAragão Edições. Site: www.marcoantonioperna.com.br Blog: www.dancadesalao.com/agenda

ESTACIONAMENTO NA RUA MÉXICO 21

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Dia

de JULHO QUINTA - FEIRA

NIVER DO ALDAIR (BANDA PÉROLA)

VENHAM PRESTIGIÁ-LO!

BOLO EM HOMENAGEM AO ANIVERSARIANTE


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