Os Axiomas de Zurique

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O primeiro obstáculo é o medo de arrepender-se - basicamente o mesmo medo de que tratamos no 2° Grande Axioma. Nesta caso, o medo é de que perdedores virem ganhadores depois de você ter abandonado o barco. Isto acontece, e dói. Por exemplo: você comprou um pouco de ouro a 400 dólares a onça. digamos, e ele despenca para 350. Não enxergando bons motivos para ficar, você resolve absorver o prejuízo de 12% e vende. Nem bem se completa a transação, explodem seis novas guerras, quatro países sulamericanos declaram moratória, os países da OPEP dobram o preço do petróleo, as bolsas de valores despencam em todo o mundo, e quem tem dólares sobrando corre a proteger sob o metal amarelo. O preço dispara e bate 800 dólares a onça. Ai! Pois é, dói demais. Cedo ou tarde, é provável que algo assim lhe aconteça. Não há como evitar. Essas reviravoltas da fortuna, porém, não acontecem todo dia. Com muito maior frequência, uma situação ruim permanece ruim, pelo menos por algum tempo. Os problemas que costumam causar quedas de preços em ativos especulativos - ações, mercadorias, imóveis etc. - tendem a perdurar. Surgem lentamente, e vão-se com a mesma lentidão. Quase sempre, o correto é escapar assim que o preço mostra a primeira queda significativa. Há certas situações na vida, é verdade, nas quais o certo pode ser esperar passar o mau tempo. Quando há dinheiro no meio, porém, é muito raro. Se você deixar o dinheiro se entalar numa operação errada, e o problema perdurar, talvez se passem anos até poder usá-lo de novo. Seu capital fica preso, quando deveria, isto sim, estar trabalhando para você, correndo atrás de outros negócios bons e lucrativos. O segundo obstáculo à implementação do 3° Grande Axioma é a necessidade de se abrir mão de parte de um investimento. Para alguns, é uma dor insuportável. Se valer de consolo, porém, posso lhe garantir que, com a prática, fica menos doloroso. Você está especulando com moedas, suponhamos, e apostou 5.000 dólares na lira italiana. Seu palpite furou, a taxa de câmbio voltou-se contra você, e o que dá para salvar do seu capital não passa de 4.000 dólares. Como não há indícios decentes de que a coisa vai melhorar para o seu lado, o mais provável é que deva cair fora. Só que estará abandonando 1.000 dólares. E é isto que dói. Para alguns, a dor é tanta que não conseguem. O instinto do pequeno especulador típico manda que ele agüente as pontas, na esperança de, um dia, recuperar aqueles 1.000 dólares. Se você não dominar esse instinto, jamais passará de um pequeno especulador típico, podendo mesmo chegar a ser um especulador falido. O jeito de recuperar os seus 1.000 dólares é tirar 4.000 do investimento que azedou, e pô-los em algo bom e produtivo. Se você especula dando certa garantia, a incapacidade de abandonar parte de um investimento vira um problema duplamente grave. Usando dinheiro emprestado para aumentar o seu poder de fogo, a sua posição especulativa começa a ficar parecida com o mais deliciosamente torturante jogo do mundo o pôquer. Vale a pena examinar um pouco essa semelhança. Na realidade, se


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