J krishnamurti liberte se do passado

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mundo de tédio infinito; medo de vossa vida não corresponder à imagem que os outros fazem de vós; medo de perderdes a vossa fé — esses e muitos outros e incontáveis temores; conheceis vossos temores pessoais? E que costumais fazer em relação a eles? Não é verdade que fugis dele ou que inventais idéias e imagens para encobri-los? Mas, fugir do medo é torná-lo maior. Uma das causas principais do medo é que não desejamos encarar-nos tais como somos. Assim, temos de examinar tanto os nossos temores como essa rede de vias da fuga que criamos para nos libertarmos deles. Se a mente, que inclui o cérebro, procura dominar o medo, se procura reprimi-lo, discipliná-lo, controlá-lo, traduzi-lo em coisa diferente, daí resulta atrito e conflito, e esse conflito é um desperdício de energia. A primeira coisa, portanto, que devemos perguntar a nós mesmos é: "Que é o medo, e como nasce?" Que entendemos pela palavra medo, em si? Estou perguntando a mim mesmo o que é o medo e não de que é que tenho medo. Vivo de uma certa maneira; penso conforme um determinado padrão; tenho algumas crenças e dogmas, e não quero que esses padrões de existência sejam perturbados, porque neles tenho as minhas raízes. Não quero que sejam perturbados porque a perturbação produz um estado de desconhecimento de que não gosto. Se sou separado violentamente das coisas que conheço e em que creio, quero estar razoavelmente seguro do estado das coisas que irei encontrar. As células nervosas criaram, pois, um padrão, e essas mesmas células nervosas recusam-se a criar outro padrão, que pode ser incerto. O movimento do certo para o incerto é o que chamo medo. Neste momento em que estou aqui sentado, não estou com medo; não tenho medo do presente, nada me está acontecendo, ninguém me está fazendo ameaças nem me tomando nada. Mas, além deste momento presente, uma camada mais profunda da mente está, consciente ou inconscientemente, a pensar no que poderá acontecer no futuro, ou a preocupar-se com algum fato passado que me possa prejudicar. Portanto, tenho medo do passado e do futuro. Dividi o tempo em passado e futuro. O pensamento interfere, dizendo "Tem cuidado, para que isso não torne a acontecer", ou "Prepara-te para o futuro! O futuro pode ser perigoso. Agora tens alguma coisa, mas podes perdê-la. Podes morrer amanhã. Tua esposa pode abandonar-te. Podes perder teu emprego. Talvez nunca te tornes famoso. Podes ver-te na solidão. Precisas estar perfeitamente seguro do amanhã". Considerai agora vosso temor particular. Olhai-o. Observai vossas reações a ele. Podeis olhá-lo sem nenhum movimento de fuga, de justificação, condenação ou repressão? Podeis olhar aquele medo, sem a palavra que causa medo? Podeis olhar a morte, por exemplo, sem a palavra que suscita o medo da morte? A própria palavra produz um estremecimento, não é exato? — assim como a palavra amor produz seu estremecimento, sua imagem peculiar. Pois bem; a imagem que tendes na mente a respeito da morte, a lembrança de tantas mortes a que assististes, e o relacionar a vossa pessoa com tais incidentes — é essa a imagem que está criando o medo? Ou, com efeito, tendes medo do findar e não da imagem que cria o fim? É a palavra morte que vos causa medo ou é o próprio findar? Se é a palavra ou a memória que vos está causando medo, então não se trata realmente do medo. Estivestes doente há dois anos, digamos, e a lembrança daquela dor, daquela doença, persiste, e a memória, agora em funcionamento, diz: "Tem cuidado, para não adoeceres de novo!" Por conseguinte, a memória, com suas associações, está criando o medo, e isso não é realmente medo, porque, com efeito, neste momento

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