A triste realidade do trânsito brasileiro

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GPEC – Educação a Distância [Escolha a data]

MÓDULO 2

A TRISTE REALIDADE DO TRÂNSITO BRASILEIRO

Nelson Pascarelli Filho |Curso: Gestão Educacional e Prática Pedagógica


A TRISTE REALIDADE DO TRÂNSITO BRASILEIRO Prof. Nelson Pascarelli Filho

“Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos.” (Anais Nin)

A UNESCO afirma que o trânsito no Brasil é hoje a segunda causa de morte entre jovens de 18 a 25 anos. A invalidez permanente que é decorrente dos acidentes de trânsito enfraquece a força de trabalho do Brasil. Urge que os educadores, políticos e toda a sociedade tomem medidas educacionais que causem uma profunda reflexão e mudança nos comportamentos inadequados no trânsito. É preciso capacitar docentes para trabalhar o tema trânsito em sala de aula atendendo à força de lei e praticar a responsabilidade social de modo a mudar, através da educação sistemática, os comportamentos inadequados no sistema trânsito que geram 50 mil mortos por ano no Brasil. Força de Lei: Artigo 23, XII da Constituição Federal e nos artigos 20, IX, 21 XI, 22, XII, 24, XV, 76 e 78 da Lei 9.503/97 Código de Trânsito Brasileiro. Esses dispositivos legais tratam da obrigatoriedade de se educar para o trânsito em todos os níveis de ensino e nos PCNs. Qual é o custo social, o custo Brasil, de um acidente de trânsito? A resposta para esta pergunta pode ser dada através das seguintes fontes: - a Universidade de Brasília afirma que os acidentes de trânsitos geram custo da ordem de 20 bilhões de reais por ano; - o Sistema Único de Saúde gasta 5 bilhões de reais por ano no atendimento às vítimas de trânsito nos hospitais da rede pública.


Para compreender a dimensão e o absurdo que representa esse custo social, com 5 bilhões de reais é possível construir 400 mil casas populares e esse valor é superior à venda da Vale do Rio Doce. De acordo com a OMS o trânsito é a nona causa mortis mundial e a projeção é sombria: em 2020 o trânsito passará a ser a segunda causa mortis mundial, perdendo apenas para doenças congênitas ou problemas cardíacos. Segundo o BID o custo social de um atropelamento é de US$ 8.460,00 e o custo de uma vida é de US$ 141.000,00. Se quisermos ter adultos responsáveis e éticos, agindo com segurança no sistema trânsito, temos de investir na educação. A ação educativa planejada e aplicada de forma sistêmica e não somente pontual, envolvendo a família, comunidade, iniciando-se desde o ensino infantil até o ensino superior, como prevê a lei artigo 76 do Código Nacional de Trânsito, é capaz de mudar o comportamento inadequado em relação ao trânsito. O papel aceita tudo, todo projeto fica bonito e interessante no papel. Para viabilizar e alcançar a eficiência na educação para o trânsito tem-se de considerar as variáveis sócio-antropológicas do nosso Brasil, que é um país continental, multiétnico e de intenso sincretismo religioso. Para entender como uma criança percebe e interage no sistema trânsito é fundamental estudar as Psicologias da Percepção, Criança e Adolescente. Lembrar de que a criança não é um adulto em miniatura, que ela tem reações

diferentes

do

adulto

quando

interage

no

sistema

principalmente nos binômios ver e ser vista, distância e velocidade.

trânsito,


Na Europa e EUA a educação para o trânsito teve início em 1960, portanto, estamos atrasados 37 anos, considerando a data da promulgação do novo código nacional de trânsito brasileiro, em 1997. Não há um registro preciso com o que ocorre às vítimas de acidentes de trânsito, o número total de mortes pode chegar a 50 ou 60 mil por ano, número esse superior ao total de mortos na “Guerra do Vietnã” e superior, também, ao número de mortos pela AIDS, como aponta o Ministério do Planejamento e o DENATRAN. Para compreendermos o significado desse número de mortos, é como se um avião de passageiros caísse a cada dois dias, matando todos os seus ocupantes. O elevado número de óbitos no trânsito brasileiro atraiu a atenção do Banco Mundial (Bird) e do Global Road Safety (GRS) que enviaram equipes de pesquisadores para o Brasil. A ONU estabeleceu que o limite tolerável para perdas de vidas em acidentes de trânsito é de 3 mortes para cada dez mil veículos por ano. Nos países onde a educação para o trânsito ocorre desde 1960, a média é de 1 morte anual para cada 10 mil veículos; no Brasil, segundo o DENATRAN, ocorrem 25 mortes para cada 10 mil veículos. Na Conferência de Roma promovida pela OMS, em 1984, concluiu-se que o comportamento do motorista é o principal fator responsável pelos acidentes de trânsito. Os acidentes de trânsito são considerados como a mais grave epidemia do século XX. Epidemia que teve a sua origem no intenso desenvolvimento industrial do século XX e que continua fazendo as suas vítimas no século XXI através de uma progressão geométrica.


Infelizmente, a ação educativa de caráter humanista ainda não se desenvolveu a ponto de coibir, através da reflexão e ação ética, as mazelas inerentes ao desenvolvimento tecnológico. A ação educativa que humaniza é capaz de motivar o educando para o exercício da ética e da cidadania porque ao fortalecer a auto-estima é capaz de mudar um comportamento inadequado em relação ao sistema trânsito, no qual todos nós somos participantes desde a mais tenra idade. Um estudo feito pelas prefeituras de Santo André e São Paulo mostrou que 76% das vítimas de acidentes de trânsito possuem apenas o nível básico de instrução e que a incidência de acidentes de trânsito cai para 6% entre as vítimas de nível superior. Vítimas do trânsito custam R$ 10 milhões à Prefeitura de São Paulo. Com esse dinheiro seria possível construir 10 novas unidades de Assistência Médica Ambulatorial. Segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, 20% dos adolescentes brasileiros dirigem sem habilitação; 400 mil jovens morrem anualmente em acidentes de trânsito em todo o mundo (OMS). Assim, ocorre uma inversão na natureza: os pais estão sepultando seus filhos. A educação é fator preponderante na mudança de comportamentos inadequados. Desde as séries iniciais do ensino fundamental é que se deve aplicar a educação sistêmica para o trânsito, pois a criança não é refratária à mudança de comportamento como os adultos. Há a necessidade urgente de se capacitar professores que atuem na educação para o trânsito ao longo de um ano letivo e não somente em


campanhas pontuais, isto é educação sistêmica de ampla responsabilidade social. O maior pecado é matar o futuro: São tantos jovens brasileiros que perdem estupidamente suas vidas na ilusão de que um carro mais veloz ou um comportamento arrojado no sistema trânsito lhes conferirá maior poder pessoal. Nessa guerra que ocorre no sistema trânsito todos perdem. O Brasil perde força de trabalho e recursos financeiros são gastos porque o fator prevenção é desprezado; as famílias choram seus jovens mortos, perda afetiva irreparável que rouba a alegria de viver dos pais. As universidades e faculdades deveriam inserir nos cursos de Pedagogia e Licenciaturas a disciplina “Educação para o Trânsito”. Ministrando três aulas semanais sobre o tema trânsito e realizando encontros mensais com os pais, as escolas estariam cumprindo com as exigências legais e promovendo no educando e na comunidade a formação de uma consciência ética capaz de gerar comportamentos responsáveis no sistema trânsito. É menos oneroso para o Brasil investir em educação do que custear as consequências geradas pelos acidentes de trânsito. Ao investir em educação age-se na base do problema e em menos de uma década veem-se resultados consistentes. “Não adianta colocar band-aid em câncer”, diz o ditado popular, para essa triste realidade de 50 mil mortos ao ano gerados pelo sistema trânsito brasileiro, medidas paliativas e teóricas, eventos esparsos de conscientização, por si só não surtirão mudanças significativas.


A ação educacional imediata e permanente com a parceria entre os fabricantes de veículos, ONGs e OCIPs, a articulação entre as secretarias de educação e trânsito e realizar grandes investimentos em pesquisa científica e educacional são medidas inteligentes que trarão resultados eficazes.

Para Saber Mais

Livros

Dinâmica dos Acidentes de Trânsito, Analises, Reconstruções e Prevenção. Rodrigo Kleinubing e Osvaldo Negrini Neto. Millennium Editora. 2009.

Mini Larousse da Educação No Trânsito. Laura Bacellar. Larousse / Escala. 2005. Filmes Em Trânsito. Henri Arraes Gervaiseau. Brasil. 2005. Trânsito Muito Louco. Neal Israel. EUA. 1985.


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