Cosmozine - Leila Danziger

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balangandans (da s茅rie viagem hist贸rica e pitoresca ao brasil) / 2012 carimbo e pulseira de ouro, 16 x 16 cm aprox.


série realizada a partir da resenha do livro saturne et la mélancolie, de klimbansky, panofsky e saxl, publicada em 12/10/1989, no jornal libération, por ocasião da publicação da tradução da obra em língua francesa. a partir da reprodução fac simile das páginas do jornal, fiz uma série de leituras do texto (apagamentos e/ou acréscimos).

ARTE

CONTEMPORÂNEA elenco

alex topini / felipe barbosa / geraldo marcolini hugo houayek / leila danziger / leo ayres / lin lima marta neves / mônica rubinho / murilo maia rafael alonso / rodrigo oliveira / rosana ricalde sidney philocreon / wilton montenegro Diretores Artísticos Felipe Barbosa e Rosana Ricalde Diretor Executivo Álvaro Figueiredo Gerente Maria Alice Figueiredo Acervo e Transporte Teresa Gonçalves Assuntos Gráficos Lin Lima

De segunda a sexta, das 10 às 19 horas / Sábados, das 11 às 16 horas Shopping Cidade Copacabana / Rua Siqueira Campos, 143 / Slj. 32 / Copacabana - Rio de Janeiro +55 21 2236-4670 / cosmocopa@gmail.com / www.cosmocopa.com

capa leituras da melancolia / 2012 impressão fotográfica sobre papel de algodão e intervenções diversas, políptico 70 x 50 cm.


A melancolia na arte: um artefato da vida pública Luiz Cláudio da Costa

Leila Danziger inverte o efeito de privatização que a disposição melancólica alcançou na cultura desde o século XIX e, especialmente, no século XX. Rever as posturas, as imagens, os elementos da melancolia na história da arte, articulando-a à materialidade dos jornais, é atualizar a distinção que vinculou o melancólico à reflexão profunda no âmbito da vida pública. Aristóteles se perguntara já na Antiguidade por que todo ser de exceção era melancólico. Desde a Grécia, chegando à Idade Moderna, a melancolia foi considerada pela arte, filosofia e religião como a virtude dos mais dotados. A figura típica do melancólico, com a cabeça inclinada sobre o punho, é a de um ser imerso na contemplação. Mesmo as investigações médicas admitiam o vínculo das oscilações características do melancólico com as grandes tarefas do pensamento até que o sofrimento do homem tornou-se um problema da vida privada a partir do século XIX. Luto e melancolia, o belo texto de Freud, consolida no século XX essa transferência do lugar da melancolia para a esfera da vida privada. Em um dos vários textos publicados sobre o tema, dando sequencia a sua reflexão sobre o banzo – aquela tristeza típica dos africanos distantes de sua terra natal – , Leila Danziger afirma: “Mas a melancolia só pode ser compreendida como doença da cultura, e, por sua vez, doença culturalizante.” Em Todos os nomes da melancolia, é a doença de nossa cultura globalizada que a artista põe em cheque, esse “aceleramento vertiginoso do tempo”. Debret, Tarsila, balangandãs, cadernetas, jornais, louças, livros, fotografias – tudo e todos submetidos à impermanência imperiosa do tempo. Seria possível superar a perda se a reconhecermos na intimidade de nossa cultura? Como resgatar o passado senão por fulgurações que cintilam em imagens escritas? É possível resistir ao desaparecimento do mundo submetido à degradação?


detalhe de vanitas / 2012 / foto: luciano bogatto

A disposição melancólica é produto de dois atos: a escrita e a leitura. O tempo pesa enquanto o pensador reflete. Sua cabeça pende. O colecionador acumula artefatos, o estudioso se dedica à leitura desses objetos como signos, o tradutor dá nomes a essas coisas. Essas três figuras compõem a estratégia poética da artista Leila Danziger. Ler os objetos do mundo é traduzir o tempo, tendo consciência de sua impermanência. Mas se o presente passa é porque ele permanece: paradoxo inexplicável do tempo. Memória e história se encontram nessa exposição em que a melancolia é atualizada pela arte. Os objetos se quebram. A areia pode cobrir e apagar tudo. A destruição e a ruína pertencem a esse mundo. Toda manifestação melancólica observa esse fato e sofre o luto das coisas. Mas esse que sofre dos humores da bile negra, que é influenciado por Saturno, sabe que “o passado só se deixa fixar como imagem que relampeja”, como afirmara o melancólico Walter Benjamim. Através desses fragmentos do passado, talvez seja possível salvar os acontecimentos do total desaparecimento. Sem a ingenuidade de quem acredita ser possível resgatá-los em sua totalidade, Leila Danziger mostra, nos trabalhos apresentados nesta exposição, a importância da leitura e da tradução poética dos objetos e acontecimentos do mundo. Apropriar-se de objetos banais e traduzi-los poeticamente, operar essa transcriação dos fragmentos pelo viés da melancolia é devolver à cultura essa disposição, conhecida há mais de 25 séculos, em toda sua grandeza de artefato da vida pública. Professor do Instituto de Artes da Uerj, doutor em Comunicação pela UFRJ, bolsista PROCIÊNCIA/UERJ desde 2008, atual coordenador do Programa de Pós-graduação em Artes da Uerj.


27 de novembro de 1987 / 2012 impressĂŁo fotogrĂĄfica sobre papel de algodĂŁo 45 x 40 cm


28 de junho de 1987 / 2012 impressĂŁo fotogrĂĄfica sobre papel de algodĂŁo 45 x 40 cm,


As figurinhas talvez tenham sido a origem de tudo. Quando as tirei do armário, arrastaram objetos e brinquedos que eu acreditava apaziguados pela eternidade, interrompida no exato instante em que os coloquei sobre a mesa (feliz em recebê-los), reinscrevendo-os no tempo e na queda Esquecido pelo menino no extremo do quarto / o jogo da memória ativa nostalgias modernistas / Broadway Boogie-Woogie que se expande e se retrai / em meio a tocos de lápis / borrachas usadas e a pedra dos rins de um ruminante / que é um poderoso amuleto contra a melancolia. / Espelhos que se recusam à imagem secretam também certo mofo protetor. / Cada coisa ocupa seu justo lugar embaralhado a outras coisas / e é nocivo desfazer a solidariedade / que une os embaçados àqueles que refletem a luz1. Leila Danziger, Quarto de maravilhas, publicado em Três ensaios de fala (poesia), Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 18. 1

Nos últimos meses, de forma especialmente intensa, me vi cercada de objetos e documentos carregados de esperanças do passado, à espera de serem reinscritos no tempo e no espaço: jornais franceses da década de 1980, um livro de 1912, objetos de diferentes infâncias – a de meu pai, a minha, a de meu filho (tão próxima e que já se recobre suavemente de musgo). Procuro algo semelhante a uma escritura da melancolia, partindo da ideia de que ela é produtora de signos. Suas diferentes denominações ao longo dos séculos (melaina khole, acedia, atrabile, spleen, blues, banzo, entre outros) não se pretendem sinônimos, traduções exatas de um mesmo mal, mas sim registros diversos, transcriações culturais. Acredito ser possível pensar a melancolia como resistência ao aceleramento vertiginoso do tempo, uma estratégia reativa a um tipo de temporalidade – excessivamente veloz e voraz - em que não apenas o passado, mas também o presente e o futuro nos parecem barrados e inacessíveis. O que se inscreve nesses trabalhos é a ânsia por uma experiência de tempo resistente. Bem sei que essa demanda se apresenta como impossibilidade, como aporia, ou, nas palavras de Agamben, como a necessidade de “ser pontual num compromisso ao qual se pode apenas faltar”.

Todos os nomes da melancolia Leila Danziger junho de 2012


vanitas (livro 1) /2010 carimbo sobre jornal apagado e encadernação, 68 påginas 65 x 58 cm (aberto) fotos: luciano bogatto



o que desaparece, o que resiste / 2011 detalhe da instalação realizada em uma banca de jornal no campus da uerj, rio de janeiro. mostra campus (des)situado.


vanitas / 2010 carimbo sobre jornal apagado e encadernação, 68 påginas 65 x 58 cm (aberto) fotos: luciano bogatto.


vanitas / 2010 carimbo sobre jornal apagado e encadernação, 68 påginas 65 x 58 cm (aberto) fotos: luciano bogatto


os que vivem à beira da dissolução (com domenico fetti) / 2011 impressão sobre papel de algodão 100 x 78 cm. edição: 5.


áfrica e oriente (da série viagem histórica e pitoresca ao brasil) / 2012 impressão fotográfica sobre papel de algodão 60 x 45 cm


biblioteca / 2011 impressão fotográfica sobre papel de algodão 100 x 78 cm edição: 5.


o que desaparece, o que resiste / 2006 – 2011 (vistas parciais) apropriação de uma banca de jornal que funcionou de 1975 a 2011 no campus da uerj, no rio de janeiro, e foi desativada. na banca foram instalados três vídeos realizados ao longo de seis meses, em tel aviv, a partir da observação da mídia israelense, e diferentes séries de jornais apagados. integrou a mostra campus (des)situado, realizada durante 20º encontro nacional da anpap, em setembro/outubro de 2011. curadoria: rodrigo gueron / fotos: l. danziger


Leila Danziger

Nasceu e vive no Rio de Janeiro. Desde 2006, é professora adjunta do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). De 2000 a 2006, foi professora do Departamento de Artes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Formação 2011 2003 1996 1992 1989

Pós-doutorado, Bezalel Academy of Arts and Design Jerusalem, Israel. Doutorado em História (linha de pesquisa: história da arte), PUC, Rio de Janeiro. Mestrado em História (linha de pesquisa: história da arte), PUC, Rio de Janeiro. Especialização em História da Arte e da Arquitetura no Brasil, PUC, Rio de Janeiro. Bacharelado em Artes, Institut d’Arts Visuels, Orléans, França.

Bolsas e distinções Pós-doutorado, CNPq, Bezalel Academy of Arts and Design, Israel, janeiro - junho de 2011; Produtividade em pesquisa , CNPq, (2011- 2013); Prociência, Uerj | Faperj. (2011 - 2013); Jovem Cientista do Nosso Estado, FAPERJ, 2010 - 2013; Doutorado com estágio no exterior, Capes, Universidade de Oldenburg, Alemanha, 2000; Programa de Bolsas RIOARTE, 1ª e 7ª edições (1995 e 2001), Instituto Municipal de Cultura, RJ; Multiplikatoren, Goethe Institut (Berlin, 1994). Exposições Individuais 2012 Felicidade-em-abismo, Cavalariças, EAV Parque Lage, Rio de de Janeiro (outubro). Todos os nomes da melancolia, Cosmocopa Arte Contemporânea, Rio de Janeiro. Edifício Líbano, Galeria IBEU, Rio de Janeiro. 2011 What vanishes, what resists, MFA Bezalel Gallery, Bezalel Academy of Arts and Design, Tel Aviv, Israel. 2007 Diários públicos, Casa da Cultura da América Latina/ UnB, Brasília. 2004 Diários públicos, Espaço Cultural Sérgio Porto/ RioArte, Rio de Janeiro. 2000 Eigennamen, BBK Galerie, Oldenburg, Alemanha. 1999 Pequenos impérios, Galeria Cândido Portinari, Campus UERJ, Rio de Janeiro. 1998 Nomes próprios, Galeria Thomas Cohn, São Paulo. 1997 Nomes próprios, Paço Imperial, Rio de Janeiro. 1994 Cáucaso, Pequena Galeria, Centro Cultural Cândido Mendes, Rio de Janeiro. 1993 Cáucaso, Centro Cultural São Paulo, São Paulo. 1992 Galeria Macunaíma, FUNARTE/IBAC, Rio de Janeiro. 1989 Pour Edmond Jabès, Librairie Les Temps Modernes, Orléans, França. Exposições Coletivas 2012 Reverberações, Cosmocopa Arte Contemporânea, Rio de Janeiro. 2011 Campus (Des)situado, Uerj (campus Maracanã), Rio de Janeiro. CorLaborAção, Caza Arte Contemporânea, Rio de Janeiro. Coletiva Coleção Cosmocopa, Cosmocopa Arte Contemporânea, Rio de Janeiro. 2010 Tempo-matéria. Museu de Arte Contemporânea, Niterói. 9º Vaga-lume. Mostra de Video Experimental do Instituto de Artes da UFRGS (artista convidada), Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, UFRGS, Porto Alegre. 2009 Materialidades na arte brasileira, Museu de Arte Moderna Murilo Mendes, Juiz de Fora.


Contato: arte e biologia, Galeria Cândido Portinari, Campus UERJ, Rio de Janeiro. 2008 África?, Galeria Cândido Portinari, Campus UERJ, Rio de Janeiro. Algumas histórias do Brasil, Museu de Arte Moderna Murilo Mendes, Juiz de Fora. 2007 Achados e Perdidos, SESC Pinheiros, São Paulo. 2006 Lugar Plano, Espaço Cultural ECCO, Brasília. Ver = Ler, Galeria da Faculdade de Artes Visuais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia. 2005 Visível - Legível, Galeria Antônio Sibasolly, Goiás. Dez indicam dez, Centro Cultural Cândido Mendes, Rio de Janeiro. Zona Oculta: entre o público e o privado, Centro de Estudos da Mulher, Rio de Janeiro. 2003 Bilder des Erinnerns und Verschwindens, Ifa-Galerie, Berlim, Alemanha. X Salão da Bahia, Museu de Arte Moderna, Salvador. 2002 Wegziehen, Speicherstadt (Hamburg); Kommunale Galerie Wilmmersdorf (Berlim), Alemanha. Galeria Especial, UniversidArte X, Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro. 2001 Wegziehen, Frauenmuseum, Bonn, Alemanha. 2000 Frauenbilder, Städtische Galerie Wollhalle, Güstrow, Alemanha. Dobras do Corpo, Marcas da Alma, Fundação Cultural de Curitiba. Investigações: Rumos Visuais 1 (Arte e Política: isto são outros 500), Itaú Cultural, São Paulo, Centro Dragão do Mar, Fortaleza e Fundação Joaquin Nabuco, Recife. 1999 Mercoarte, OSSE/Museo de Arte Juan Carlos Castagnino, Mar del Plata, Argentina. 1998 O Artista Pesquisador, Museu de Arte Contemporânea, Niterói. V Salão da Bahia, Museu de Arte Moderna, Salvador. 1997 25o Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte, Centro Cultural da UFMG, Belo Horizonte. 1996 Dialog: Experiências Alemãs, Instituto Goethe/ MAM-Rio, Rio de Janeiro. 1995 Metrópolis e periferia, Instituto Goethe/ MAM-Rio, Rio de Janeiro. 1994 14º Salão Nacional de Artes Plásticas, Funarte, Rio de Janeiro. 18º Salão Carioca de Arte, Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. 1993 Programa Anual de Exposições, Centro Cultural São Paulo, SP. 17º Salão Carioca de Arte, EAV/ RioArte, Rio de Janeiro. 1992 Projeto Macunaíma, IBAC/ FUNARTE, Rio de Janeiro. 16º Salão Carioca de Arte, Palácio Gustavo Capanema, MEC, Rio de Janeiro. 1991 IX Mostra de Gravura Cidade de Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba. Novíssimos, Galeria de Arte do IBEU, Rio de Janeiro. 1990 9na. Bienal del Grabado Latinoamericano y del Caribe, Porto Rico. 1989 Gravures d’Ateliers, Centre d’Arts Plastiques Albert Chanot, Clamard, França. Publicações Três ensaios de fala (poesia), Rio de Janeiro : 7Letras, 2012. Edifício Líbano, Rio de Janeiro: Instituto de Artes da Uerj/Ibeu, 2012. Diários públicos (no prelo), Rio de Janeiro: Contracapa/ Faperj. Todos os nomes da melancolia (no prelo), Rio de Janeiro: Apicuri/ Cosmocopa. Coleções públicas Frauen Museum, Bonn, Alemanha. Casa das Onze Janelas, Belém, Pará. Fundação Cultural Ormeo Junqueira Botelho, Cataguases. Museu de Arte Moderna Murilo Mendes, Juiz de Fora. Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos (Ibeu), Rio de Janeiro. Centro Cultural Cândido Mendes, Rio de Janeiro. Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro.


ARTE

CONTEMPORÂNEA

de chrico e a bailarina / 2011 impressão sobre papel de algodão 60 x 45 cm edição: 5.


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