12ª Edição Revista Corpo & Mente

Page 29

Psicoterapia CORPO&MENTE

Não se pode abandonar a busca da felicidade.”

nho raiva, a culpa como sentimento ao qual o superego fica exigente. Observa-se que, só podemos começar a pensar diante de uma frustração porque a agressividade constitui no homem uma disposição instintiva original. O que é mal é repreensivo, é algo que não deve ser feito, mal é tudo aquilo que, com a perda do amor, faz o sujeito sentir-se ameaçado. Como se chega a este julgamento? Tem-se medo de renunciar ao objeto, sendo ele a busca da satisfação, um ideal, uma pessoa. A civilização é que ensina as leis que insere superego, é ela que acentua o poder da consciência e que podemos pensar quando se faz algo errado, aparecendo o sentimento de culpa. Sentir culpa é um sentimento, é como ter percepção de um erro, também como inibir um desejo,

Negar a dor e a frustração é querer formatar de modo onipotente a realidade quando se consegue dar sentido para nomear esse sentimento se simboliza. Para Bauman (1998), a pessoa não se estrutura mais pela tradição da civilização, da função paterna que, na psicanálise, segue como trama social e que parece estar em decadência. Essa decadência afeta a situação de simbolizar, acarretando mal-estar. Quando se vive uma situação traumática, busca-se a repetição para que aconteça uma tentativa de descarga, mas a civilização contemporânea admite que se evite esse sofrimento, na modernidade líquida, o efêmero faz com que a pessoa não consiga as lembranças do tradicional, deixa exposta a ferida do desamparo. Nessa situação, a pessoa não consegue as transformações subjetivas e, assim, reinventar a própria história porque o desejo se consome em con-

sumir algo e o desejo de se ter posse do objeto fica a deriva da liquidez, fugindo dos registros do outro, fazendo sua angústia ficar confusa, com as mais variadas formas de consumo. De acordo com Recalcati (2005), vive-se uma experiência de mobilização generalizada, que forma a existência maníaca. O toxicômano não pode esperar, age mais rápido que a coisa faltosa, o desejo é tão rápido que não se pensa, só começamos a pensar diante de uma frustração. Será a geração contemporânea vazia por falta de pensar e reviver a sua tradição, por isso se diz vazia? Será uma geração que busca chegar àquilo que o outro quer: “um ideal inatingível” de superego e ego. Ao pensarmos sobre o comportamento da sociedade que busca constantemente aliviar a dor, ou até eliminar este sentimento, Arthur Schopenhauer (1788-1860), em seu livro “Dores do Mundo” (1810), escreve que, na nossa existência a dor é a razão do ser humano no mundo. A busca da consolação em toda a desgraça e sofrimento é voltar os olhos para aqueles que, ainda são mais desgraçados que nós. A vida do homem é um combate perpétuo, não só contra males abstratos, misérias e aborrecimentos, mas também contra os outros homens. Encontram-se adversários em toda parte, a vida é uma guerra sem tréguas, e morre-se com as armas na mão. Se todos os desejos fossem realizados, do que se preencheria a vida humana, e em que se empregaria o tempo; assim, os homens viveriam em um conto de fadas, obteriam seus desejos o mais facilmente possível, e morreriam de tédio. O tédio é o vazio, a dor contemporânea, o fim da representação, o vazio simbólico, levando o homem a atuar para preencher e aliviar essa dor, o uso de drogas e medicações exemplos de sintomas. Negar a dor e a frustração é querer formatar de modo onipotente a realidade, não sentir agressividade é não conseguir o movimento psíquico saudável para a sublimação da angústia.

Evane Reiter da Silva Psicóloga CRP: 14/05126-3 Especialista em Psicoterapia de Orientação Psicanalítica.

Telefone: (67) 9115- 1519 Rua Firmino Vieira de Matos, 1.189 Sala /2 - Dourados / MS

29


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.