O Efeito Marina

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um pouco no estilo francês. Convenhamos que isso é muito pouco para moldar um(a) candidato(a) presidencial num país de política personalista por força do sistema eleitoral, que tanto critico, e da nossa cultura. Presidente tem de ser uma “personalidade”, um personagem marcante, carismático ou de estatura e tônus presidencial. Isso nenhum Duda Mendonça ou João “Patinhas” Santana, por mais talentosos que sejam, são capazes de fabricar, se a coisa não estiver lá. A decisão de Lula foi o que os franceses chamam une fuite en avant (uma fuga para a frente), e o levou a começar prematuramente a campanha com imenso prejuízo ao país. As campanhas no Brasil desorganizam o funcionamento normal do serviço público nas três esferas de governo, criam hostilidades e emperramentos, exacerbam conflitos, criam polêmicas artificiais na mídia, crises parlamentares, e quem sofre sempre é o contribuinte, o povo. Não temos uma estrutura de governo estável, de carreira: a política comanda a administração por meio de dezenas de milhares de cargos comissionados, que dependem da vitória eleitoral de seus provedores. Isso traz o psicodrama eleitoral para dentro do serviço público quando a disputa se inicia. Quando os repórteres me procuram, tentando fazer arder mais alto as chamas do circo em relação às infelizes declarações do ministro Juca Ferreira, respondo culpando Lula pela sua “saia justa”. Está apegado, compreensivelmente, ao trabalho — ao cargo também, ao status, sem dúvida —, às realizações que deseja fazer antes de sair. De repente, viu-se diante de um dilema, entre o presidente a quem serve e o partido que garantiu sua presença na saída de Gil, e que, como qualquer outro, tem seus problemas, suas brigas. Não justifico sua atitude num momento tão importante para os verdes e para o Brasil; num momento de tanta esperança, jogar água na fervura, possivelmente — estou quase certo disso — pressionado pela tradicional truculência petista. Mas entendo o drama. Isso não estaria acontecendo se uma agenda eleitoral prematura não estivesse estuprando os tempos normais da gestão da coisa pública. Teríamos esses dramas no meio do primeiro semestre do ano eleitoral de 2010. Eu costumava dizer, com meus oito anos de experiência de governo, que no Brasil a gente governa só nos anos ímpares; nos pares, as eleições embolam tudo. Agora, Lula resolveu embolar tudo já num

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