Revista Nó Na Palavra 2018

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Marina Mattos Desde sempre, os negros, pessoas mais pobres, mulheres e lgbts sempre foram vistos como inferiores, incapacitados, foram desprezados, julgados, excluídos, privados de vários bens e até mesmo desumanizados ou objetificados. O rap é um espaço em que, principalmente jovens negros da periferia, tem de se expressar e falarem/cantarem o que veem, passam e sentem, sua impressão sobre a sociedade, sobre o lugar onde vivemos e o mundo em geral. Fazem críticas sociais explícitas, (música colarinho branco) falam sobre os brancos sempre tendo privilégios em relação aos negros, sobre a diferença/luta de classes, sobre a extrema diferença entre a favela e, por exemplo, os condomínios etc. No natal do ano de 2013, jovens, a maioria pretos pobres da periferia, foram abordados e expulsos de um shopping (alguns até levados a delegacia) por estarem fazendo o conhecido como “rolezinho”. No texto de Eliane Brum, podemos entender melhor o ocorrido: “No sábado, 14, dezenas entraram no Shopping Internacional de Guarulhos, cantando refrões de funk da ostentação. Não roubaram, não destruíram, não portavam drogas, mas, mesmo assim, 23 deles foram levados até a delegacia, sem que nada justificasse a detenção. Neste domingo, 22, no Shopping Interlagos, garotos foram revistados na chegada por um forte esquema policial: segundo a imprensa, uma base móvel e quatro camburões para a revista, outras quatro unidades da Polícia Militar, uma do GOE (Grupo de Operações Especiais) e cinco carros de segurança particular para montar guarda. Vários jovens foram “convidados” a se retirar do prédio, por exibirem uma aparência de funkeiros, como dois irmãos que empurravam o pai, amputado, numa cadeira de rodas. De novo, nenhum furto foi registrado. No sábado, 21, a polícia, chamada pela administração do Shopping Campo Limpo, não constatou nenhum “tumulto”, mas viaturas da Força Tática e motos da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) permaneceram no estacionamento para inibir o rolezinho e policiais entraram no shopping com armas de balas de borracha e bombas de gás.”.

A autora também fala que os shoppings foram construídos para a classe média, média-alta ou alta e que quando esses jovens entram nesse local, revindicando aquele espaço, que se diz público, são fortemente reprimidos pela polícia, por frequentadores (elite branca) e pela mídia indiretamente. Isso acontece por conta do racismo e diferenças de classe que ocorrem no Brasil. Também diz que os seguranças de shopping são orientados a monitorar, acompanhar e se preciso, até expulsar jovens que sejam considerados ¨suspeitos¨ pela sociedade. Às vésperas do Natal, o Brasil mostra seu racismo oculto e mascarado pela ¨mestiçagem¨ dos brasileiros, que estão supostamente sempre felizes, agindo como se o preconceito racial não existisse, ou pior, existisse e não fosse uma questão importante.


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