Livro Baú dos Sonhos - Contos Surreais

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Desespero Ela acordou desesperada, com o rosto molhado, porém não conseguia distinguir se era suor ou lágrimas. Sabia onde estava, mas, ao mesmo tempo, não fazia a menor ideia. Olhou para cima e para os lados e percebeu que o local era grande. Por que sentia como se estivesse presa dentro de uma caixa? Era sufocante. Tudo o que ela queria era ir embora daquele local, mas sabia que não conseguiria fugir, não poderia fugir. Tentou se mover, mas era quase impossível. Parecia que havia alguém segurando seus pés, e que seus maiores medos, todos os monstros de seus piores pesadelos, corriam atrás dela, consumindo-a. E ela tentou gritar, soltar-se, pedir ajuda, para, no fim, ser apenas mais uma tentativa falha de livrar-se de tudo aquilo. Parou para respirar e pensar em tudo o que havia acontecido nos últimos tempos. Era engraçado, pois, um dia atrás, estava feliz, aproveitando tudo de bom que a vida tinha para oferecer, e ela nem sabia disso, só descobriu quando viu as coisas desmoronando ao seu redor. Nunca imaginou que isso aconteceria, era quase surreal. Sentou-se e fechou os olhos. Dizia para si mesma que tudo aquilo passaria, era só contar até três e abrir os olhos. E foi isso que ela fez. Ao abrir os olhos, sombras começaram a aparecer ao seu redor, e essas sombras foram se transformando em pessoas, pessoas que ela conhecia, ou ao menos era isso que pensava. Ela se levantou e, finalmente, conseguiu se mover. Parecia que a sensação reconfortante de conhecer essas pessoas espantava seus monstros, mas, ao perceber que falava e ninguém a escutava, mas essa ilusão logo foi embora. Era inútil, ela era invisível a eles. Lágrimas se acumulavam em seus olhos e escorriam pelo seu rosto, como se chorar fosse tudo que conseguisse fazer, o desespero batendo de novo, e a sensação de sufoco voltando. Não tinha percebido, mas já haviam se passado dias, e nada parecia melhorar. Ela se perguntava como a vida podia mudar em tão pouco tempo, mesmo tendo sido testemunha e personagem principal de diversos atos. Até que, no meio daquela confusão toda que havia se estabelecido em sua mente e em seu corpo, sentiu alguém segurando sua mão e a puxando para que andassem lado a lado. Por mais que tentasse, não conseguia ver quem era e para onde a estava levando. Sentia como se estivessem andando por anos, e, quando finalmente pararam, ela se viu sozinha mais uma vez. Olhou para todos os lados, e era só escuridão, quando uma porta surgiu ao seu lado. Sem pensar duas vezes, ela segurou a maçaneta e a girou, imaginando que, assim, sairia daquele local que mais parecia um pesadelo. Ao abrir a porta, uma luz forte e um ar fresco rodeado de possibilidades a atingiu, e

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