Número 1

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MÁRIO NICOLAU

sociedade

A fita métrica falante é um precioso auxiliar de José Moreira nos momentos que antecedem o corte

Lousã

O Zé tem o mundo na ponta dos dedos É INVISUAL. As mãos de José Moreira, no

entanto, "trabalham que se fartam". Começam manhã cedo, no serviço de fisioterapia da ARCIL - Associação para Recuperação de Cidadãos Inadaptados da Lousã. As massagens "a tempo inteiro" duram há 18 anos. Mal terminou o 12.º ano, abalou para Lisboa para frequentar o curso de massagista. Foi aprovado. José Moreira nasceu em Ceira dos Vales, próximo de Casal de Ermio, na Lousã. Tem mãos de ouro, "as senhoras gostam". Quando deu serventia aos pedreiros, na construção da moradia em que vive, as mãos ficaram "que nem lixa". As senhoras criticaram-no. Mas o "malvado" não desistiu do sonho. E a moradia está à vista de todos. José Moreira saboreia cada canto com todos os outros sentidos. As mãos dão uma preciosa ajuda. Tetos e soalho têm a sua marca. Na instalação elétrica "foram, também, rigoro-

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sas", tanto que o boletim da inspeção da EDP não tem "sequer" uma cruz. Durante algum tempo, além do trabalho na ARCIl, as mãos de José Moreira massajaram, também, no domicílio. A marquesa mora ainda no quarto de serviço do primeiro andar, onde a mulher passa a ferro. Junto à garagem há, também, muito para contar. Antes, porém, o "José" - a pedido do próprio - passou a "Zé". A fita métrica falante, a serra elétrica, o nível sonoro e a serra tico-tico entraram em cena. No caso da moradia, os 17 metros quadrados do forro dos tetos "já vinham envernizados e foi só cortar e aplicar". O soalho "foi pelo mesmo caminho". Ao todo, 140 metros quadrados de parquet e um orçamento de 2.900 euros. O carpinteiro que aplicou as portas e os rodapés estranhou a decisão: o Zé comprou o parquet por 1.300

euros, deitou mãos à obra, após as funções na ARCIL, e ao fim do equivalente a três dias de trabalho tinha a tarefa cumprida e "1.600 euros no bolso". O carpinteiro Pedro temeu a chegada da "nova concorrência", que utiliza réguas como guias na definição das zonas de corte e tem a preciosa ajuda de uma fita métrica que "habla" na língua do país vizinho. Brilhante instalação elétrica Quando pensou na instalação elétrica, o Zé repetiu "a dose": pediu algumas explicações a um familiar e assumiu as funções de eletricista. A inspeção da EDP confirmou o mérito: "nem uma cruz", lembra. Mas o Zé não pára. Os três filhos de dois casamentos dão-lhe que fazer. Gere um negócio de distribuição de rações. "Sabes como é: isto não está para festas", conclui. MN


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