Pequeno Guia para Contar Histórias

PEQUENO GUIA PARA CONTAR HISTÓRIAS SÉRIE COLECIONÁVEIS A TABA

DENISE GUILHERME (A TABA) EDI FONSECA (A TABA)

PEQUENO GUIA PARA CONTAR HISTÓRIAS COMO LER COM OS BEBÊS?

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Apresentação Leitores e leitoras, Chegamos ao sexto guia da série Colecionáveis, produzida especialmente para os assinantes do Clube de Leitores A Taba.

Neste volume, vamos compartilhar algumas dicas sobre como contar histórias.

Todos sabemos que crianças e adultos amam histórias. Basta apenas que as palavras mágicas “era uma vez” sejam ditas e, pronto: a magia se instaura.

No entanto, muitas dúvidas surgem quando nos propomos a narrar algo para alguém: existe alguma técnica mais adequada para essa prática? Como manter a atenção dos ouvintes? A partir de que idade podemos começar a contar histórias para as crianças?

Para conversar sobre esse tema que encanta pessoas de todas as idades, A Taba convidou Edi Fonseca. Pedagoga, atriz e narradora oral, atua como formadora de professores há mais de 20 anos para alguns dos principais centro de formação do país, como CENPEC, e Avisa Lá. É também colaboradora da

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Revista Emília e curadora na Taba. Junto com Denise Guilherme, idealizadora da Taba, Edi compartilhará, nas próximas páginas, sua experiência como contadora de histórias e formadora de leitores.

Esperamos que o conteúdo deste guia possa inspirar cada vez mais adultos e crianças a se reunirem ao redor de uma boa história, compartilhando seus desejos, sonhos e experiências de vida.

Boa leitura e boas histórias!

Equipe A Taba

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Introdução Desde os tempos mais remotos, a humanidade narra. Por meio da narração, é possível compartilhar experiências ocorridas e entender o mundo que nos cerca.

O crítico literário, ensaísta e professor Antônio Candido disse que o ser humano sempre teve necessidade de efabular, inventar, criar.

Narrando, compreendemos o mundo e a nós mesmos, a nossa existência. Ao narrar oralmente, contamos o que nos contaram, o que vivemos, o que sentimos, reconstruímos acontecimentos, elaboramos sentimentos e ideias. Narramos para deixar um legado, fazer marcas, abrir espaço ao sonho e ao desejo.

Todas as formas de narrar fazem parte da torrente de narrativas originadas entre os povos da Antiguidade e se espalharam por toda parte, cobrindo o mundo como uma rede com os contos tradicionais ou folclóricos que, apesar de possuírem origens comuns, assumem particularidades de acordo com a cultura de cada lugar a que chegam.

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Antes de serem escritas, as histórias foram narradas oralmente, entoadas, cantadas.

Os fenômenos da natureza precisaram ser compreendidos e explicados, então surgiram os mitos, em busca da verdade e de significados. Algo parecido aconteceu com as lendas que transformaram os fatos por meio da imaginação popular ou pela poética, sempre atribuindo um fundo de verdade ao que é narrado. Para abordar as relações humanas, as hierarquias, os direitos, os deveres e a moral, foram criadas as fábulas. Para tratar das relações em uma perspectiva mais psicológica, foram inventados os contos de fadas.

Enfim, as histórias falam de nós, seres humanos. Contam sobre diferentes lugares, épocas e culturas. Podem tratar do passado, da atualidade, dos acontecimentos ocorridos, da ficção ou de tempos que ainda não chegaram. Falam das tradições, conquistas e derrotas, dos medos e anseios, dos desafios, fracassos e aprendizagens. Tratam de sentimentos, ideias, crenças, sonhos e desejos.

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Alguns antropólogos, inclusive, dizem que é a capacidade de narrar que nos diferencia das demais espécies. Contando histórias, criamos, inventamos, damos sentido às experiências vividas, compartilhamos quem somos, quem desejamos ser, nossos sonhos e sentimentos.

Por que contar histórias para crianças?

Ao ouvir histórias narradas por alguém, a criança entra em contato com a linguagem oral em uma situação diferenciada das que usamos nos momentos de cantoria ou de conversa, por exemplo: descobre quais são as histórias que mais gosta de escutar, as histórias de sua família ou as que fazem parte de um determinado grupo ao qual pertence (pode ser a região onde vive, o bairro onde mora ou mesmo a turma da escola).

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Quando alguém conta uma história, a criança pode observar os recursos e linguagens outras que caminham junto com a narrativa oral – possibilidades de se iniciar as histórias, de abrir-se para o mundo do “era uma vez”, a utilização dos gestos e movimentos do corpo, a troca de olhares, as informações não ditas, mas subentendidas, as mudanças de tom da voz, as pausas, a produção de suspense, a elaboração dos detalhes narrados, as variadas formas de desfecho.

Ouvir uma história é uma oportunidade de nos colocarmos no lugar do outro, de estar perto das pessoas e de compartilhar com elas olhares, impressões, interpretações e sentimentos. É um momento no qual a realidade fica suspensa e a imaginação nos permite criar e lidar com diversos personagens e situações, de assumirmos outras formas de ser e de viver ou somente olharmos para elas, mesmo que por alguns instantes.

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Contar histórias é uma experiência coletiva!

Narrar ou ouvir uma história é um ato que não se faz sozinho. Pressupor a convivência, o coletivo, a necessidade do outro é outro aspecto valioso da narração oral.

Todos nós temos uma bagagem cultural. Ao contar uma história para alguém, passamos adiante essa bagagem, dividindo-a como um legado, com a certeza de que este ato precisa continuar, seja por meio de uma anedota, uma piada, um causo, um fato do cotidiano ou um conto. Porque temos a necessidade de narrar, de compartilhar com alguém o que aconteceu no dia, sendo sucinto ou floreando demais, contamos histórias, e isso nos faz sentir humanos: “Passe adiante, porque adiante vai!”.

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Ler é diferente de contar Eu devo ler ou contar? A partir de que idade devo começar a ler? Quando a criança for maior, eu paro de narrar e passo somente a ler para ela?

Ao narrar oralmente devo ser fiel ao que está escrito no livro?

Essas são perguntas bastante pertinentes e que surgem quando estamos diante de situações de leitura ou narração oral com as crianças. É importante garantir ambas as experiências.

Com a leitura, possibilitamos que entrem em contato com textos bem escritos, possibilitamos a apreciação de projetos gráficos interessantes e a fruição de diversas formas de ilustração. Apresentamos o acesso aos livros, ao mundo da leitura. Por isso tudo, ao ler um livro precisamos ser fiéis ao texto escrito. Com a leitura fluida e interpretativa, a criança compreenderá significados aparentemente difíceis.

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Quando contamos uma história, podemos dar preferência àquelas que sabemos de cor, que carregamos em nossa bagagem cultural, as quais somos capazes de reconstruir com nossa memória, porque estão dentro de nós.

Se a ideia for inovar o repertório, busque as histórias que mais agradam o seu gosto particular, que realmente conversam com sua identidade e lhe dão prazer. Portanto, para narrarmos oralmente, não precisamos dos livros. Podemos nos basear nos textos, mas não precisamos decorá-los, a não ser que a proposta seja falar o texto exatamente como foi escrito.

O importante é deixar claro para a criança que, ao realizar uma leitura, você seguirá o texto, mas, ao contar uma história, o fará ao seu modo, com suas palavras.

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O que contar?

A intenção de contar histórias para as crianças é o primeiro e um dos mais importantes passos nessa jornada, mas não é o único. E agora? Que tipo de história contar?

Por onde começar?

Quais histórias são mais adequadas? É fundamental que a pessoa que vai contar uma história sinta-se confortável, esteja familiarizada com ela. Lembrar das histórias que ouvia na infância, de quem as contava, em quais situações, o que elas provocavam, ou seja, considerar a própria experiência e as marcas que ela deixou, pode ser uma boa forma de escolher histórias para contar.

Narrar as histórias de vida, as memórias e os acontecimentos do cotidiano é outra possibilidade. Em muitas famílias, é comum ouvir e compartilhar a história de como um avô veio de outra região do país e se estabeleceu por aqui, como o papai conheceu a mamãe, PEQUENO GUIA PARA CONTAR HISTÓRIAS

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como o nosso nome foi escolhido, alguma passagem emocionante ou engraçada vivida por um amigo ou parente. Essas histórias de vida são carregadas de emoções e ajudam a construir nossas identidades, a entender quem somos, a quais grupos pertencemos, em que acreditamos.

Esse “material” é importante porque fala de nós, porque nos identificamos diretamente com os personagens envolvidos, as situações, os desafios. E é desse material humano que trata também a literatura.

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A intenção pode nos guiar para as melhores histórias Diante de tantos livros, quais escolher? Que critérios adotar? Como fazer essa seleção?

Outras questões nos auxiliarão a responder esta primeira: Para quem vou contar histórias? Para quê? Por quê?

Por vezes, queremos acolher, divertir quem ouve, envolver a pessoa em linguagem e afeto e apresentar um pouco da literatura oral que conhecemos. Alguém que atua em escolas, creches, bibliotecas, centros culturais ou grupos de jovens pode ter como objetivo a ampliação do universo cultural dos ouvintes e, assim, apresentar títulos, autores PEQUENO GUIA PARA CONTAR HISTÓRIAS

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e gêneros fazendo adaptações e narrando textos ou parte deles com a intenção de que os ouvintes busquem os livros para conhecer mais. Ou ainda, pode fazer da narração oral uma atividade para o grupo com o qual trabalha – pesquisam, selecionam e estudam os textos, apropriam-se deles para narrá-los em uma roda de histórias ou sarau. Identificar a situação e o contexto da narração oral são aspectos fundamentais para a escolha das histórias que serão contadas.

Quando falamos de literatura, uma dica valiosa é explorar os contos tradicionais e folclóricos. Esses textos foram transmitidos oralmente de geração a geração e chegaram até nós porque escritores e pesquisadores resolveram organizá-los, registrá-los e transformá-los em obras da literatura. Buscar os autores consagrados - como Ruth Rocha, Ricardo Azevedo, Marina Colasanti, Moacyr Scliar, Machado de Assis e tantos outros também é uma ótima possibilidade.

O importante é que o narrador goste muito da história a ser narrada, que algo da história de fato “converse” com sua identidade, sua personalidade e suas experiências.

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Uma boa dica: leia muitas histórias de vários tipos e origens para ampliar seu repertório e suas possibilidades de escolha.

Como contar?

A seguir, elencamos algumas dicas que poderão ajudá-lo(a) a contar histórias de forma mais envolvente.

Aproveite-as!

1. Selecione a história, leia, reveja o texto para interpretá-lo e compreendê-lo.

2. Entenda a estrutura da história: quais partes a compõem e como estão encadeadas, percebendo frases importantes, passagens que dão sentido e enriquecem o texto, os conflitos existentes, a intenção dos personagens, o vocabulário utilizado pelo autor.

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3. Capte a essência dos personagens, tanto do ponto de vista físico quanto do que se relaciona a personalidade, aspectos pessoais, objetivos dentro da história, suas motivações e desejos. Todo mundo gosta de saber mais detalhes sobre aqueles que fazem parte da história.

4. Observe detalhes sobre os cenários em que a história se passa: isso vai ajudar o ouvinte a visualizar as “cenas” e embarcar na narrativa.

5. Capriche no ritmo: há momentos em uma história que pedem uma pausa ou uma entonação diferente. É necessário aguçar a sensibilidade para perceber e transmitir o suspense, o romantismo ou a emoção que o autor colocou no texto.

6. Se você se sentir à vontade, poderá fazer diferentes vozes para alguns personagens.

Lembre-se de que será necessário fazê-las do início ao fim. Cuidado para não exagerar e não ficar cansativo para quem ouve!

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7. Use seu corpo, expressões, gestos e movimentos. O corpo precisa estar em consonância com a história. Faça movimentos corporais de acordo com seu jeito de ser. Não é preciso forçar nada. Às vezes, um gesto suave já é o suficiente para compor a narração.

8. Algo que pode enriquecer a contação é o uso de objetos que possam representar elementos ou personagens da história. Esses objetos podem ser figurativos: uma pena ou um lenço podem representar um pássaro; um saleiro e um pimenteiro podem ser rei e rainha; uma almofada pode se transformar em uma montanha ou um castelo e assim por diante.

9. Você pode criar um ritual para os momentos de contação, iniciando sempre com algum gesto ou som, um sino tocando, abrindo “um portal” ou entoando versos. Isso também PEQUENO GUIA PARA CONTAR HISTÓRIAS

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vale para o encerramento, que pode ser feito com quadrinhas ou frases como “Entrou pela porta, fechou a janela, quem sabe outra história não fica banguela.” , “Colorin, colorado, esse conto está terminado!” ou ainda outras frases encontradas em livros de folcloristas, inventadas por você ou até mesmo pelas crianças.

10. Não é necessário se fantasiar para contar histórias. As narrativas, por si só, já nos transportam para o reino da fantasia. Você pode se enfeitar, usar adereços, ajudar a estimular a imaginação dos ouvintes, mas tenha cuidado para não dar mais valor aos objetos do que ao próprio texto. Lembre-se: contar histórias é diferente de encenar.

Inspirado(a) a descobrir o(a) narrador(a) oral que existe dentro de você?

Então, mergulhe nos livros e em suas memórias e boas histórias!

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Créditos INSTITUCIONAL A Taba Livros CONTEÚDO Denise Guilherme e Edi Fonseca REVISÃO Cínthia Siqueira PROJETO GRÁFICO Débora Pereira Diagramação Diego Martinez ILUSTRAÇÕES Nara Isoda SIGA A GENTE NO INSTAGRAM ! @atabaleituraemrede E FALE COM A GENTE TAMBÉM ! contato@ataba.com.br e edifonseca@uol.com.b r A Taba e Edi Fonseca são detentoras dos direitos

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