Saberes Caiçaras - a cultura caiçara na história de Cananéia/SP

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Francisco de Sales Coutinho, chamado por todos de “Chiquinho”, descendente desta família e morador 6 local desde seu nascimento, conta que em 1860 Celestina Vinicius de Andrade, irmã de Francisco Vicente Mandira por parte de pai, doou 1200 alqueires paulistas de terra ao irmão por ir embora do lugar. Francisco Vicente se casou, foi pai de vários filhos, porém, somente João Vicente Mandira e Antonio Vicente Mandira permaneceram no bairro, no entanto, devido a uma briga dos irmãos, a terra foi dividida. João Vicente lutou muito contra o grileiro Cabral que também queria a posse dessas terras até ganhar a causa na justiça e a propriedade ficar para a família, sendo que em 1912 a posse da área foi registrada no cartório de Cananéia em nome da família Mandira e desde então é passada de geração em geração, até os dias atuais, onde residem os moradores desta localidade. A primeira referência sobre o nome Mandira surge nas anotações em um cartório de Cananéia no ano de 1763, pois ocorreu um tremor de terra que fez expelir fumaça do Morro Mandira, conforme relata o documento que trás em suas anotações a frase, em latim, “et mandira fumavit”, numa paródia ao poeta latino Virgílio que escreveu “et vesuvio fumavit”, ao mencionar a explosão do Vulcão Vesúvio, localizado em Nápoles. Segundo Antonio Paulino de Almeida, (2006), no artigo “Memórias Memoráveis”, publicado na Revista do Arquivo Municipal, em 1948, foi no ano de 1784 que este fato ocorreu: 6

Em relação a esta data existem controvérsias, em outra publicação sobre o quilombo, consta a data de 1868 como o ano em que as terras foram doadas a Francisco Vicente Mandira (PIMENTEL, 2005).

“Sai a novidade de um fogo no cabeço do monte ‘Mandira’ (situado a oeste da cidade de Cananéia). O cabeço deste dito monte foi visto, por três dias sucessivos, lançar de si conhecido fumo misto com lavaredas. Causou admiração este novo e estranho acontecimento, porque ponderada a causa daquele incêndio, não se lhe podia atribuir motivo humano, por ser cabeço, que por íngreme e pedregoso, não tinha até então facilitado em si entrada para divertimento de caçadas ou para extração de algum mister necessário ou de pesquisas minerológicas. Não se podia deixar de acreditar ser o dito incêndio acontecimento do mesmo monte, quando de outros também se conta que de contínuo vomitam fogo. ‘Fumavit Mandira semel mons vertice nostrum; noctes atque die fumigat A Etna suo’. (O monte Mandira fumegou uma vez: o Etna fumegou noites e dias no seu vértice)”. Existem indícios de que os negros, que vinham sem sobrenome, procuraram o Salto do Ipiranguinha para se refugiar, um lugar que fica muito perto da Serra do Mandira, nas proximidades do bairro Santa Maria. Os primeiros registros históricos confirmam a presença de escravos, vindos da África, no final do século XVIII. A construção da linha do telégrafo nacional entre Santos e Iguape engrossou a lista de quilombolas; no trecho paulista, em 1868, trabalharam cerca de 800 escravos, mais tarde a linha avançou até o Porto de Paranaguá, no Paraná, e mais trabalhadores fugiram para as matas. A Cultura Caiçara na História dos Bairros Rurais de Cananéia

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