129719319 antropologia de los objetos

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estranho que determinadas épocas não consigam se livrar do poder de certos conceitos. O conceito de “cultura”, por exemplo. Ele parece ter marcado definitivamente a segunda metade do século XIX e todo o século XX. Há uma espécie de obsessão por essa idéia. Os antropólogos, paralelamente, e em contraste com outros especialistas, têm desempenhado um papel específico nesse processo. Ao construírem a noção de cultura para pensar as experiências humanas, as diferenças entre “civilizados” e “primitivos”, entre “nós” e os “outros”, trouxeram algo que, simultâneamente, desencadeia e cura a doença; ao mesmo tempo, veneno e remédio. Houve época em que os seres humanos eram pensados a partir de um outro vocabulário. Por exemplo, a partir de sua suposta condição de “filhos de Deus”. Interpretar as experiências humanas, entender a história da humanidade significava tomar como ponto de partida essa condição, manifestação de uma vontade e determinação divina. A humanidade começava com Adão e Eva. Esse pressuposto estava presente naquelas interpretações que identificavam nas chamadas sociedades primitivas os remanescentes de um processo de degeneração que teria atingido parte da humanidade. Essa degeneração era pensada em termos teológicos,


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