Volume 10 - Paulo Emílio: legado crítico

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Segundo Souza, em 1937, quatro anos depois da estreia de Zéro de conduite (1933), de Jean Vigo, Paulo Emílio chega a Paris. Dez anos depois, em 1947, assinala seu interesse em estudar a história do jornal anarquista Le bonnet rouge. Como nos coloca o pesquisador e biógrafo: “A pergunta é ociosa, mas quem teria estado primeiro no centro das preocupações de Paulo Emílio: o pai ou o filho, Miguel Almereyda ou Jean Vigo?”40.A escolha por incluir a história do pai e que tomou uma proporção quase tão grande quanto o trabalho sobre o filho vinha porque Paulo Emílio procurava adentrar os estudos dos meios libertários nos quais vagou Almereyda (e depois ele próprio).O próprio crítico escreveria depois numa carta que buscava “decifrar a personalidade do pai do cineasta Jean Vigo, ou em seu tempo o célebre Miguel de Almereyda, que viveu uma juventude libertária ardente e generosa”41. Almereyda representa a figuração dos militantes antifascistas, antepassados de trinta anos do Front Populaire, mas que percorreram as mesmas ruas de Paris em disputa com as forças reacionárias, só que na primeira década do século XX. Os camelots du roi, que correspondiam a gangues de monarquistas que Almereyda enfrentava e eram uma antecipação dos fascistas da década de 1930. Esse itinerário de dissidências do período do Front Populaireaque assistira Paulo Emílio em sua passagem pela França também acometera a geração de Almereyda, que viveu sempre se esquivando das disputas sectárias entre socialistas e 40

SOUZA, José Inácio de Melo. Paulo Emílio no paraíso. Rio de Janeiro: Record, 2002. P. 321.

41

GOMES apud MELO, op. cit. p. 321.

A ENCRUZILHADA DAS DISSIDÊNCIAS: ALGUMAS PASSAGENS NA TRAJETÓRIA MILITANTE DE PAULO EMÍLIO 187


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