PGRÁFICO ROJETO GRÁFICO
CADERNO DE CINEMA FOUND FOOTAGE vol.3 - 2022 Comunicação e Multimeios - Universidade Estadual de Maringá CCOORDENAÇÃO OORDENAÇÃO Prof. Dr. Rodrigo PGontijo rof. Dr. Rodrigo Gontijo PROJETO
Eduarda Garcia, Isadora Kaori, Júlia Carbone, Mariana Guarnieri, Thayany EVedovato duarda Garcia, Isadora Kaori, Júlia Carbone, Mariana Guarnieri, Thayany Vedovato
AP
Neste Caderno de Cinema vol.3, produzido pela equipe do Cine UEM, selecionamos 50 produções, entre brasileiras, latino-americanas, europeias e norte americanas que apontam as diversas possibilidades da ressignificação da imagem. Um convite para ver e rever obras clássicas de realizadores como Jean Luc Godard, Harun Farocki, Santiago Álvarez e se deparar e se encantar com tantos outros. O tema é tão instigante que junto a este caderno de cinema, produzimos também um documentário sobre o tema, com participação de cineastas e pesquisadores. Boa descoberta a todes!
Rodrigo Gontijo
Prof. do curso de Comunicação e Multimeios, da UEM Coordenador do Cine UEM
PAN CINEMA PERMANENTE
De Wally Salomão para Carlos Nader
Não suba o sapateiro além da sandália legisla a máxima latina. Então que o sapateiro desça até a sola Quando a sola se torna uma tela Onde se exibe e se cola A vida do asfalto embaixo e em volta.
Apresentação...................................3 Brasil.........................................6 Estados Unidos................................22 Cinema de Exposição...........................28 América Latina................................34 Europa........................................45 Documentário "A Arte do Found Footage"........61 Referências...................................62 SUMÁRIO
BRASIL
Trata-se da reunião de cenas das demais produções do diretor, tanto de filmes concluídos quanto das obras que nunca foram finalizadas. As imagens selecionadas criam uma nova história, muitas vezes fazendo com que o próprio espectador crie um sentido e as relacione de acordo com sua linha de pensamento e interpretação pessoal.
Nesta produção é possível notar a personalidade de Andrea Tonacci, o qual dá um novo olhar sobre suas próprias produções, dando outra perspectiva aos mesmos frames e fotos.
uma nova história
Brasil J á v i s t o , j a m a i s v i s t o A n d r e a T o n a c c i , 2 0 1 4 P. 7 Por Thaiany Vedovato
documentário
Novo”,
retrato aprofundado
Eryk Rocha traz
detalhado sobre
Cinema Novo, movimento cinematográfico nacional
conhecido
estudado atualmente.
realizador
filho
Glauber Rocha, cineasta
movimento
O
“Cinema
de
um
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mais
e
Seu
é
de
expoente do
em questão. retrato aprofundado e detalhado O longa bu movimento sensações q durante o p colagens e momentos ajudaram a Cinema Novo Brasil C i n e m a n o v o E r y k R o c h a , 2 0 1 6 P. 8 Por Matheus Yamamoto
Por Matheus
O longa “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”, dirigido por Marcelo Masagão em 1999, busca contar a história do século XX por meio de uma reunião antológica de imagens pertencentes a esse período, sejam essas imagens obtidas de filmes, fotografias, ou arquivos históricos.
A edição de Marcelo Masagão busca criar narrativas através da reutilização e ressignificação (algo essencial na prática do found footage) dessas imagens, por meio de legendas e textos que suprem a falta de narração e ajudam a guiar a compreensão do espectador.
Brasil
N ó s q u e a q u i e s t a m o s , p o r v ó s e s p e r a m o s M a r c e l o M a s a g ã o , 1 9 9 9 P. 9
Yamamoto
Por Eduarda Garcia
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Uma cena de uma mulher sendo agredida em um jornal sensacionalista, um episódio da novela Paraíso, um cirurgião esteticista dando dicas de como valorizar o corpo da mulher brasileira e Ana Maria Braga tocando uma guitarra fizeram parte do entretenimento televisivo em um dia de 2009. Entre a manhã do dia primeiro de outubro até a madrugada do dia dois, Eduardo Coutinho captou imagens de 8 canais televisivos durante a programação para produzir um found footage.
“Um dia na vida” consiste num compilado de imagens que a mídia brasileira exibiu num dia de programação.
Coutinho, em sua curadoria cuidadosa das 19 horas de imagens captadas para seu longa metragem, permite criar um paralelo entre o que víamos na televisão no passado e o que vemos hoje. Assim, levanta uma reflexão a respeito das transformações culturais ao longo desses mais de 10 anos. Além disso, sua obra nos presenteia com um elaborado mix de diferentes sentidos que as imagens combinadas podem representar e propõe mais uma reflexão: o quão absurdo pode ser o que consumimos na TV.
Brasil
U m d i
a v i d a E d u a r d o C o u t i n h o , 2 0 1 0
P. 10
s t ó r i a s q u e n o s s o
a
Por Júlia Carbone
O documentário visita os anos 1970 no Brasil através de filmes populares da época, as chamadas “pornochanchadas”, gênero mais visto e produzido no período. O filme não é sobre o conjunto heterogêneo de filmes do gênero, mas se utiliza deste fenômeno para pensar temas da história do país naquele período, como o chamado “milagre econômico”, as consequências diretas do êxodo rural e a expansão das favelas.
H
A Pornochanchada, foi vista, através dos anos, como um gênero alienante, porém no longa, Fernanda Pessoa, exibe o contrário, ressalta que os cineastas e roteiristas da época incluíam comentários a respeito do momento brasileiro.
O viés cômico ajudava a transmitir a mensagem e passar despercebido pelos aparelhos de repressão do governo. Com 80 minutos de duração, personagens de filmes distintos praticamente conversando entre si, e o modo como as temáticas são divididas, o longa é um resgate necessário sobre a produção cinematográfica realizada no Brasil.
Brasil
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c i n e m a n ã o c o n t
v a F e r n a n d a P e s s o a , 2 0 1 7
P. 11
Por Stefany Nicolin
“Mr Sganzerla Os Signos da Luz” (2012), é um documentário de Joel Pizzini, realizado a partir de imagens de arquivo sobre o notório cineasta brasileiro Rogério Sganzerla, diretor de obras como “O Bandido da luz vermelha”, “Copacabana Mon Amour”, entre outros.
De caráter ensaístico, o filme investiga a genialidade do diretor e suas inspirações. Através de imagens e registros raros de depoimentos, somos convidados às obsessões de Sganzerla e seu olhar admirado para artistas que o influenciaram, como Noel Rosa, Jimi Hendrix, Oswald de Andrade e, especialmente, Orson Welles.
Por meio da montagem, Pizzini defende a forma singular e poética com que Sganzerla encara o cinema e suas qualidades de confronto e resistência, que integram essa poderosa arma contra o comodismo comercial e dominante.
Brasil
M r . S g a n z e r l a J o e l P i z z i n i , 2 0 1 2
P. 12
caráter
construído
n
fragmentos
mais de cem filmes feitos na grande metrópole de São Paulo,
apresentam os paradoxos sentimentos de prazer
angústia da vida na cidade.
primeiro momento,
objetivo
montado
resgatar
cineasta
“São Paulo Sinfonia e Cacofonia” apresenta um trabalho inovador e perspicaz do cineasta, pois consegue mostrar a cidade de São Paulo integralmente por meio de imagens de outros filmes e, mesmo assim, não deixa de ser um projeto totalmente inédito e que surpreende o público do começo ao fim. A trilha sonora das cenas também colabora para a ideia paradoxal da vida em São Paulo, uma mistura de prazer e caos, que pode ser percebida pelo espectador no filme de Bernardet.
Brasil O found footage de
documental, é
com
de
que
e
Num
foi
pelo
com
de
e promover o material audiovisual da capital. S ã o P a u l oS i
f o n i a e C a c o f o n i a J e a nC l a u d e B e r n a r d e t , 1 9 9 4
P. 13 Por Isadora Hamamoto
povos
muitas
estereótipos,
ideais
As cenas selecionadas mostram que, mesmo das produções mais antigas até as mais recentes, o indígena, quando interpretado por um ator é constantemente representado de maneira extremamente estereotipada, longe da realidade. Além da crítica, o documentário também mostra a vastidão e a beleza da cultura indígena.
Brasil O documentário reúne cenas de diversos materiais que retratam o indígena brasileiro, demonstrando as representações sobre os
indígenas,
vezes repletas de
preconceitos e
deturpados. Y n d i o d o B r a s i l S y l v i o B a c k , 1 9 9 5
P. 14 Por Thaiany Vedovato
Por Matheus Hernandes
A produção de Carlos Adriano foi premiada no 36º Festival Internacional de Cinema de Chicago (2000) como melhor curta documental, e reexibida na 9ª edição do Festival É Tudo Verdade (2004) como um dos principais documentários sobre música brasileira.
Ao som dos sucessos do jovem músico, Adriano conta a história a partir de imagens de arquivo, principalmente com recortes, sejam de documentos, pedaços de jornal e fotos. Do início ao sucesso até o falecimento, as músicas conduzem o espectador à experiência audiovisual que a produção proporciona, apresentando o artista e fazendo com que o que se resta de memória seja de alguma forma imortalizado. O pouco do que se tem registro sobre Vassourinha também faz parte da história da música brasileira.
Brasil O filme experimental em Found Footage recorda a história do sambista paulistano Vassourinha que faleceu aos 19 anos, em 1942. Em seu período como artista, deixou apenas 12 músicas gravadas em seis discos de 78 rpm. A V o z e o V a z i o : A V e z d e V a s s o u r i n h a C a r l o s A d r i a n o , 1 9 9 8
P. 15
Por Matheus Yamamoto
O longa “Ato, Atalho e Vento”, de Marcelo Masagão, se apresenta como uma união entre o livro “O Mal Estar na Civilização”, de Sigmund Freud, e trechos de 143 filmes realizados em diferentes épocas e lugares do mundo.
A busca do cineasta é pelas relações afetivas e sensoriais geradas pelos fragmentos dos filmes apresentados e, para potencializá-las, divide o longa em blocos subtemáticos.
Assim, temos conjuntos de filmes distintos, muitas vezes sem uma ligação inicial aparente entre si, que se unem através de uma associação de tópicos pré estabelecidos: pessoas dormindo, correndo, olhares femininos, etc.
Brasil
A t o , A t a l h o e V e n t o M a r c e l o M a s a g ã o , 2 0 1 4
P. 16
Por Matheus Hernandes
r a é r e o
d a s d e v o o
“Mar aéreo: ondas ve voo” (2017) é um curta em Found Footage desenvolvido pelo cineasta e pesquisador Carlos Adriano, a partir de imagens de “Santoscópio = Dumontagem e de Sem título # 2: la mer larme" deste último é reapropriado o filme La vague (1891), de Étienne Jules Marey.
“Constituídos de um único plano, sem cortes, estes dois filmes são articulados em Mar Aéreo em função das figuras de seus protagonistas, ambos cientistas um deles diante da câmera, no filme de 1901; o outro detrás da câmera, no filme de 1891. Foi possível promover aproximações entre Santos Dumont e Marey por conta do interesse comum que ambos tiveram pelas pesquisas ao redor do voo e da aviação”, explica Adriano (2014).
Brasil
M a
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C a r l o s A d r i a n o , 2 0 1 7
P. 17
Por Stefany Nicolin
De caráter elegíaco, o curta consiste em uma montagem de fragmentos de filmes estrelados pela atriz Glauce Rocha, em suas duas décadas de carreira no cinema brasileiro. Um tributo admirado à atriz, todas as suas faces e versáteis personagens, que, em certos momentos, através de uma edição metódica, parecem conversar
interagir
Possui cenas sem ordem cronológica específica, que ocasionalmente acabam se completando. O poema “Glauces”, de Pizzini e José Ricardo, lido em off durante uma passagem do curta, cumpre uma breve função de sintetizar a grandiosidade da atriz e o que contemplamos na tela. A versatilidade de suas expressões e a forma como se doa para cada papel, nos faz admirar não apenas a sua habilidade teatral, mas Glauce como mulher e pessoa. Glauce como arte pura.
Brasil
e
entre si. G l a u c e s , e s t u d o s d e u m r o s t o J o e l P i z z i n i , 2 0 0 2
P. 18
Por Júlia Carbone
"Mar de fogo" é um filme ensaio sobre o filme Limite (1930) de Mário Peixoto, clássico da vanguarda latino-americana. Concebido a partir de cenas do making of do filme e relatos do autor, recria livremente a visão visionária de Peixoto
experimentar as sensações
os limites
uma aventura artística.
Utilizando diferentes planos do longa, transcorre imagens do que seria a intuição de Peixoto. A voz do diretor de "Limite" frequentemente descreve a emoção, paisagem e a natureza. Optando por palavras, versos, recortes do mundo, Pizzini altera os planos do filme original, por meio de uma montagem exploratória, que o permite transitar com liberdade pelo rico material de arquivo que tem a sua disposição.
Brasil
para
e
de
M a r d e F o g o J o e l P i z z i n i , 2 0 1 4
P. 19
Por Rodrigo Gontijo
H
Em 1999, Ivan Cardoso realiza, como ele mesmo afirmou, um “cine-poemapop-concreto para cine-cubistas”. Com 8 minutos de duração, assistimos a uma sequência de acontecimentos sonoros e visuais que prestam homenagens a Augusto de Campos. Riscos na película perambulam pela tela sobre palavras e muitas imagens de arquivo. Em um determinado momento Campos recita: “Tudo está visto, tudo está dito, nada é perdido, nada é perfeito, eis o imprevisto”. Tal frase pode ser considerada como a síntese do próprio trabalho.
O que presenciamos em HI FI é a tentativa em dar forma aos pensamentos na tela, onde se apresentam ideias no lugar de representações de acontecimentos, num esforço em tornar visível o mundo invisível dos conceitos.
Os riscos sobre as imagens de arquivo partem para a ocupação do espaço do frame fílmico, assim como a poesia concreta procura estruturar o texto de maneira visual na página em branco. Buscando por uma Alta Fidelidade à poesia dos irmãos Campos, Ivan Cardoso investiga a relação meta-dialógica da unidade rítmico-formal para se chegar a uma estrutura-conteúdo.
Brasil
I F I I v a n C a r d o s o , 1 9 9 9
P. 20
Por Matheus Yamamoto
A n a b a z y s
“Anabazys”, de Paloma Rocha e Joel Pizzini, é um documentário em longametragem centrado na origem e história de “Idade da Terra”, último filme de Glauber Rocha, cineasta importante.
“Anabazys” busca mostrar o íntimo do próprio Glauber Rocha, com imagens raras e até mostrando seu período de exílio, além de mostrar também as relações entre seu posicionamento político e sua obra, e como e como suas motivações e luta por liberdade de expressão durante a ditadura militar influenciaram seu trabalho e especialmente em último filme.
Brasil
P a l o m a R o c h a e J o e l P i z z i n i , 2 0 0 7
P. 21
ESTADOS UNIDOS
R o s e H o b a r t
o s e p h C
O poema elegíaco é aquele que possui a característica de realizar uma homenagem. É a partir desta ideia que Nicole Brenez e Pip Chodorov, no texto "Cartografia do Found Footage” (2014), listam o curta “Rose Hobart” (1936-1939), de Joseph Cornell, como pertencente ao uso elegíaco da técnica cinematográfica.
A produção é um tributo à atriz Rose Hobart. Cornell fragmenta o filme “A leste de Bornéu” (George Melford, 1931) e pega somente os planos em que Rose aparece.
Transforma um medíocre filme de gênero em um retrato feminino onírico (BRENEZ, CHODOROV, 2014)
Abrindo caminho a uma longa descendência (BRENEZ, CHODOROV, 2014).
J
o r n e l l , 1 9 3 6 P. 23 " Por Matheus Hernandes " Estados Unidos
A M o v i e
Um equilibrista fazendo uma travessia entre dois prédios carregando uma mulher em suas costas, um homem numa motocicleta, explosões, aviões, carros, um oceano, pessoas em bicicletas. Tudo isso pode soar estranho à primeira vista, mas são dessas imagens que “A Movie” é constituído.O curta é uma combinação de fragmentos de imagens selecionadas pelo diretor que resultam em uma das obras mais importantes de found footage já criadas.
Referência para quem estuda a combinação de imagens já existentes como forma de criação audiovisual, a obra cativa pela sua montagem e trilha sonora, deixando, no final, o seguinte questionamento: o que a combinação de imagens pode significar?
Uma combinação de fragmentos de imagens selecionadas pelo diretor que resultam em uma das obras mais importantes de found footage já criadas
Deixando, no final,o seguinte questionamento: o que a combinação de imagens pode significar?
Estados Unidos
B r u c e C o n n e r , 1 9 5 8 P. 24 Por Eduarda Garcia
t F i l m
P e r f e c
Neste found footage, Ken Jacobs compila trechos de entrevistas realizadas após a morte de Malcolm X, bem como cenas do local após o acontecimento. Durante os 21 minutos do filme, ouvimos relatos de personagens que estavam presentes no momento do assassinato do líder político.
Em seus trabalhos, Jacobs costuma manipular imagens para recriar uma nova forma de se observar um acontecimento. O Ready-Made transforma trechos de entrevistas reais em uma obra de arte que nos leva ao ano de 1965. Sentimos a tensão política da época por meio dos relatos dos personagens, de seu tom de voz e, principalmente, devido a sua montagem.
“Perfect Film” parece mostrar sua indignação por meio da descoberta dos detalhes do crime.
Jacobs tenta descontruir a visão do assassinato contada pela mídia mostrando o ponto de vista daqueles que estiveram presente no momomento.
K e n J a c o b s , 1 9 8 6 Estados Unidos P. 25 Por Eduarda Garcia
Por Matheus Hernandes
T o m T o m
s S o n
t h e P i p e r
A partir do filme de 1905, “Tom Tom the Piper’s Son” (Billy Bitzer), Ken Jacobs produz o longa de 1969 de mesmo nome. Considerado um dos principais filmes experimentais, de toda história, o autor propõe uma análise a partir do curto trecho do início do século XX.
De acordo com a análise de Lois Mendelson e Bill Simon, publicada na revista Artforum, “Jacobs monta um vocabulário extremamente rico e passa a empregá lo exaustivamente, usando o princípio básico da montagem..."
Cria uma obra completamente nova (MENDELSON, LOI;SIMON,BIL L S.D).
Jacobs desconfigura a peça original, remonta e ressignifica as imagens do ladrão fugindo de um celeiro. O curta silencioso é baseado numa rima infantil do mesmo nome.
’
K e n J a c o b s , 1 9 6 9 " Estados Unidos P. 26
R e p o r t
Por Bruce Jenkis
Traduzido do original em inglês por Calac Nogueira
"O filme que conhecemos hoje como Report foi a oitava e derradeira versão da obra que Conner terminou e lançou em 1967. A obra é dividida em duas partes desiguais, a primeira, mais longa, chamada por Conner de “A morte do presidente Kennedy” e um ”epílogo” que desmonta imaginativamente o mito de Kennedy."
"A primeira parte de Report recria vividamente o assassinato enquanto evento ao vivo através do uso extensivo por Conner de transmissões de rádio produzidas por uma estação local de Dallas, que cobria a chegada do presidente e da primeira dama."
Ele trabalhou, retrabalhou e tornou a trabalhar em Report por mais de três anos, criando oito versões diferentes do filme".
(JENKIS, BRUCE
"No filme, o diretor utiliza a montagem e uma estrutura fortemente articulada para analisar as forças atuantes no assassinato do presidente.
B r u c e C o n n e r , 1 9 6 7 P. 27 Estados Unidos
2014).
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CINEMA DE EXPOSIÇÃO
Hamamoto
Em “Gravity”, Provost se utiliza de um dos elementos mais importantes das histórias de cinema para construir seu filme: o beijo. Diversas cenas de beijo clássicas do cinema estadunidense e europeu são editadas e sobrepostas para montar a narrativa do Found Footage do cineasta belga. Porém, a aparente calma transmitida por um beijo é confrontada e contrasta com a rapidez em que as imagens aparecem em tela.
Ao retirar as cenas de beijo do contexto melancólico dos seus respectivos filmes, com doces e suaves trilhas sonoras, “Gravity” transforma a ternura do beijo em um campo de batalha frenético e cheio de ação, que retrata bem os intensos sentimentos que acompanham a paixão.
Transforma a ternura do beijo em um campo de batalha frenético e cheio de ação
Por se tratar de cenas conhecidas, o espectador também é instigado a resgatar na memória as diferentes produções cinematográficas que compõem o Found Footage, o que também agrega à interpretação do filme.
G r a v i t y N i c o l a s P r o v o s t , 2 0 0 7
Cinema de Exposição P. 29 Por Isadora
Por Isadora Hamamoto
t
s
t h e
O filme found footage de Jafa, que tem como inspiração a canção do cantor e compositor Kanye West “Ultralight Beam”, utiliza-se de diversos fragmentos de imagens autorais e apropriadas da contemporaneidade, que vão desde eventos históricos e personagens conhecidos, a indivíduos anônimos nos mais diversos cenários, para refletir diferentes experiências e aspectos da identidade afro americana, tais como a violência policial e expressões culturais.
WHATISTHEMESSAGE?
Com a trilha sonora de Kanye West, “Love is the message, the message is death” proporciona ao espectador uma experiência audiovisual sinestésica e profunda, visto que, ao decorrer do filme, a letra da canção se mescla com as imagens do found footage, o que complementa e soma às cenas, que são intensas e marcantes por retratarem tanto os momentos de luta e sofrimento da comunidade afroamericana, mas também, momentos de euforia e forte apelo cultural.
L o v e i s
m e
s a g e ,
h e m e s s a g e i s d e a t h A r t h u r J a f f a , 2 0 1 7
Cinema de Exposição P. 30
Por Júlia Carbone
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A d d i c t i v e
l o w
partir do longa produzido por Michelangelo Antonioni, Blow Up (1966) no qual o enredo segue um fotógrafo profissional, Thomas, cujas ampliações de fotos que ele tirou secretamente de um casal revelam (ou parecem revelar) um assassinato em progresso.
BLOW
BLOW
Os artistas digitais 'Addictive TV" conhecidos por seus super cortes de filmes e criação de remixes audiovisuais, remixa as imagens do filme, no ritmo da música "Groove is in the Heart", de Deee Lite, que é utilizada na trilha sonora do longa original. Com uma montagem divertida e dinâmica, o grupo cria uma releitura do clássico.
T V
B
U p A d d i c t i v e T V , 2 0 1 3 A
Cinema de Exposição
P. 31
UP
UP
Por Stefany Nicolin
L i g h t i s C a l l i n g
l l M o r r i s o n , 2 0 0 4 “Light is Calling” (2004), é um curta-metragem de Bill Morrison, realizado a partir de imagens deterioradas da película “The Bells” (Jaymes Young), filme silencioso, de 1926. Através das imagens em decomposição, acompanhamos o nascimento de um suposto relacionamento, a partir do
encontro inesperado entre um soldado e uma donzela em uma campina. O tom dramático do curta é definido pela combinação melódica da trilha melancólica e onírica de Michael Gordon.
As cenas abstratas, devido a desfiguração do material, instigam, a princípio, uma procura por maior nitidez. Quando deixamos de lado nossos olhos acostumados com a figuratividade, contemplamos a plasticidade singular do trabalho realizado. Essas últimas, semelhantes a brasas, queimam e dançam em harmonia com o casal representado. Reféns do tempo e suas ameaças, também estão caindo no esquecimento, se tornando vestígio e névoa do que foram.
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Cinema de Exposição
P. 32
Por Thayany Vedovato
e
a
o b y
curta-metragem apresenta cenas de passageiros de um navio, prestes a partir. A trilha sonora pulsante, acompanha as imagens de arquivo que mostram personagens de várias classes sociais, que olham diretamente para a câmera, alguns com sorrisos, outros com um ar de seriedade, ou até mesmo interagindo entre si.
outros
de
As imagens transmitem a ansiedade de conhecer um novo destino e um novo desafio pela frente. O contexto das famosas histórias de naufrágios e somado à trilha sonora, dão a sensação de insegurança, como se os tripulantes estivessem embarcando em direção ao perigo. Observar os viajantes partindo para o seu destino, nos faz questionar nossos próprios objetivos.
[...] alguns com sorriso,
com ar
seriedade [...] W h
W
t
r B i l l M o r r i s o n , 2 0 0 7 O
Cinema de Exposição
P. 33
AMÉRICA LATINA
“Now!” é um curta em Found Footage, de 1965, do cineasta cubano Santiago Álvarez. As imagens são compostas de fotografias e de telejornais falando sobre a batalha pela igualdade racial travada pelos negros nos Estados Unidos nesse período. A produção denuncia a violência, a tortura e a morte promovidas pela polícia e por grupos de supremacistas brancos.
Enough with the quoting/ Put those words into action/ And we mean action now - "Now!", Lena Horne, 1963 NOW!NOW! América Latina N o w ! S a n t i a g o Á l v a r e z , 1 9 6 5 P. 35 Por Matheus Hernandes "
Por Eduarda Garcia
a t
y
i g r e S a l
O filme consiste num relato em quatro canções elaborado como uma homenagem às vítimas da ditadura fascista que as forças armadas e a C.I.A. praticaram no Chile em setembro de 1973. A obra apresenta cenas de violência da ditadura chilena, que perdurou até 1990, acompanhadas pela música de Victor Jara, cantor chileno assassinado na ditadura de Augusto Pinochet. O audiovisual conta com fotografias e vídeos, registros reais que, acompanhados das composições, possuem uma nova significação para os acontecimentos da época. Ainda, o curta tem um tom melancólico e sentimos o que as imagens querem nos dizer.
Álvarez, em seu Found Footage, acerta ao escolher sabiamente imagens em toda a sua potência.
Além das cenas da ditadura no Chile, o Found Footage traz registros de outras ditaduras na américa latina, como a do Brasil, da Colômbia, e no mundo. Tudo isso feito como uma forma crítica a violência e opressão sofridas.
América Latina E l T
t ó
M
ó , P e r o M o r i r á , M o r i r á S a n t i a g o Á l v a r e z , 1 9 7 3
P. 36
Por Matheus Hernandes
Santiago Álvarez é um cineasta cubano que utiliza muito da anamnese em suas produções. A técnica reúne imagens de mesma natureza para mostrar algo que não está necessariamente explícito, mas a junção delas evidencia algum discurso.
L.B.J. L.B.J.
“L”, de Martin Luther King Jr., “B” e “J” dos irmãos Kennedy, Bobby e John.
Uma das produções desta vertente é “L.B.J.” (1968), que satiriza o presidente dos Estados Unidos, Lyndon B. Johnson, que era conhecido pelas iniciais que são nome ao curta, e toda questão de violência histórica do país norteamericano. A sigla também remete a outros três nomes políticos que haviam sido assassinados: “L”, de Martin Luther King Jr., “B” e “J” dos irmãos Kennedy, Bobby e John.
América Latina P. 37 L . B . J . S a n t i a g o Á l v a r e z , 1 9 6 8
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Por Isadora Hamamoto
e n t r o d e d o s
Neste curta-metragem, Cecilia Barriga orquestra o encontro entre as estrelas do cinema hollywoodiano Greta Garbo e Marlene Dietrich. Por meio da manipulação de cenas icônicas das duas atrizes, o filme trata de duas rainhas que se apaixonam. Para contar essa história, a cineasta chilena tem sua narrativa baseada em cenas que envolvem ações do cotidiano, mas que, por meio da edição, adquirem um novo caráter.
Outro destaque, também, é a trilha sonora, que, por se tratar de um filme silencioso, representa um importante papel na trama, com inserções de efeitos sonoros certeiros, que acrescentam informação às cenas.
A montagem, portanto, conduz o filme de maneira tão sutil que o romance entre as personagens se torna agradável do ponto de vista tanto narrativo quanto estético, pois é possível criar conexões juntamente com as personagens.
América Latina
P. 38 E n c u
R e
s C e c i l i a B a r r i g a , ( 1 9 9 1 )
A produção utiliza de imagens do documentário "Images d'une dictature" (1999, Patricio Henriquez), separadas em duas seções, invertendo o áudio e a imagem de dois momentos: a premiação de Cecilia Bolocco, primeira chilena a vencer o Miss Universe, e o depoimento de Carmen Gloria Quintana, a qual foi incendiada após ser presa durante uma manifestação contra a ditadura de Pinochet.
Young Chilean, Cecilia Bolloco.
O c im e fa u d p e s América Latina L a s m u j e r e s d e P i n o c h e t E d u a r d o M e n z , 1 9 6 5 P. 39 Por Thayany Vedovato
Por Matheus Yamamoto
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"The Big Whack", realizado em 2002 por Ricardo Nicolayevsky, apresenta, em apenas 2 minutos e 30 segundos, uma sucessão de imagens e sons, aparentemente desconexos (incluindo sons humanos de falas e gritos), em uma sequência extremamente rápida e confusa de cortes, que fazem o espectador questionar o que conecta todo esse material e o que dá sentido a essa obra.
América Latina P. 40 T
g w h
c k R i c a r d o N i c o l a y e v s k y , 2 0 0 2
Por Stefany Nicolin
“Las ruinas de Bahía Blanca" (2012), é um curta-metragem produzido a partir do trabalho de montagem de oito sequências de arquivo, para a série documental “La Escuelita. Historias del terrorismo de Estado en Bahía Blanca”.
Um manifesto e protesto em formato audiovisual que continua atual até hoje.
O compilado mistura imagens cotidianas de famílias em contraste com cenas que retratam a repressão durante a época de terrorismo de Estado na cidade de Bahía Blanca, Argentina.
Nicolás expressa o horror que permeava o país e sua população através de uma edição sombria de cenas até então inocentes e pacíficas, em choque com outras radicalmente violentas. As onomatopeias, cortes rápidos e sobreposições com estética envelhecida, trazem um peso dramático e misterioso às imagens. Uma denúncia à desigualdade, consumismo, exploração e abuso de poder governamental e religioso.
América Latina P. 41 L a s r u i n a s d e B a h í a B l a n c a N i c o l á s T e s t o n i , 2 0 1 2
Por Thayany Vedovato
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T i e r r a s d e l
Acompanhando os carpinteiros e pescadores da costa de Valparaíso, no Chile, a construírem um barco seguindo a tradição quase extinta dos barcos artesanais de madeira, a produção apresenta as reclamações dos personagens em relação às burocracias e os desafios causados pela indústria na área da pesca.
Os temas abordados são totalmente atuais e fazem um paralelo com a realidade ainda vivida hoje em dia, como por exemplo, as dificuldades que um pequeno produtor enfrenta.
As cenas dos pescadores levando auto-falantes para o mar revelam a necessidade da comunicação até mesmo em alto-mar.
América Latina
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A z u c e n a L o s a n a , 2 0 1 9
O documentário "El Eco de las Canciones" (2010), da diretora Antonia Rossi, retrata a vida dos chilenos que foram exilados por questões políticas após o Golpe de Estado em 1973. Alguns deles encontraram refúgio em Roma e constituíram família, onde várias crianças nasceram como italianas. Uma dessas famílias é a da diretora do documentário Antonia Rossi. Em 1989, com o retorno da democracia, algumas famílias decidiram voltar junto com seus filhos que nunca haviam conhecido a pátria sem ser por histórias e fotos. Com uma perspectiva do Chile atual, o documentário explora os sonhos e memórias sobre o exílio e o retorno desses jovens.
Nesta obra sensorial ela tenta descobrir-se em meio a suas próprias lembranças e ao contexto da época.
A diretora personificada na voz off da protagonista se lembra de boa parte de sua infância. Rossi abre seu álbum de família tentando encontrar sua identidade no turbilhão de imagens, sons e sentimentos que vão surgindo em seus sonhos e sua memória. Com VHSs familiares, desenhos animados e telejornais de época mesclados a imagens captadas de um Chile revisitado compõem o mosaico deste onírico documentário.
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E l E c o d e l a s C a n c i o n e s A n t o n i a R o s s i , 2 0 1 0 Por Júlia Carbone
Por Stefany Nicolin
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"79 Primaveras" (1969), é um curta metragem documental de Santiago Álvarez. A partir de material de arquivo, o diretor resgata e homenageia a trajetória de Ho Chi Minh, ex-presidente vietnamita e um dos líderes no processo de libertação do Vietnã do colonialismo francês e na luta contra japoneses fascistas e o imperialismo norte-americano.
De forma artística e metafórica, a representação da militância e resistência de Ho recebe um valor poético. Por meio de uma edição e montagem criativas, as imagens fortes e cruas, da violência, guerra, opressão e massacre, nos fisgam. Chocam, inspiram, causam repulsa, impulso para agir. Um retrato transparente, da importância de cultivar o pensar (individual e coletivo), reivindicar o que é seu por direito, ter esperança e utilizar a força da raiva e do amor com sabedoria.
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v e r a s S a n t i a g o Á l v a r e z , 1 9 6 9
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"História(s) do Cinema" consiste em uma série produzida por Jean-Luc Godard que aglutina trechos de filmes que marcaram a história do cinema. Mas não pense que a obra é só uma união de fragmentos de cenas. Dividido em 8 capítulos, a combinação dos trechos vem como uma forma de pensar a imagem. Com suas associações sagazes, Godard nos apresenta sua tese no que viria a ser um de seus maiores trabalhos.
É uma obra em que um dos mais famosos expoentes da Nouvelle Vague demonstra sua paixão pela memória do cinema e levanta um questionamento a respeito do cinema tradicional.
Repleto de referências, o found footage explora diversos movimentos, dentre eles os gêneros cinematográficos norte americanos. Além disso, conta com uma crítica ao cinema hollywoodiano, resultado da perspicaz montagem do diretor que, com seus cortes abruptos e montagem inteligente, consegue ressignificar as imagens que fazem parte de sua obra. Ainda, a série conta com narração do próprio diretor que deixa a obra de cinema-ensaio ainda mais poética e reflexiva.
H i s t ó r i a ( s ) d o C i n e m a J e a nL u c G o d a r d , 1 9 8 81 9 9 8 P. 46 Por Eduarda Garcia Europa
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“Pièce Touchée” é um curta de 15’ de Martin Arnold de 1989, produzido a partir de 18” de uma cena de beijo entre um homem e uma mulher no filme hollywoodiano “The Human Jungle” (1954), de Joseph M. Newman. Arnold desmonta o trecho frame a frame e a remontagem resulta no Found Footage.
A reconstrução é feita a partir da encenação e emoções entre os personagens, evidenciando partes escondidas no filme original, como gestos e movimentos.
De acordo com Mariana Delgado (2022) em seu artigo, Arnold disse uma vez que “o cinema de Hollywood é um cinema de exclusão, redução e negação, um cinema de repressão. Há sempre algo por trás do que é representado, que não foi representado. E é exatamente isso que é mais interessante considerar”.
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u c h é e M a r t i n A r n o l d , 1 9 8 9 P. 47 Por Matheus Hernandes Europa
Por Matheus Hernandes
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“Berlin Horse” (1970) é um curta do britânico Malcolm Le Grice. A produção é composta pela combinação de duas cenas, uma de um cavalo correndo em loop num vilarejo em Berlim e outra de fragmentos do “The Burning Stable” (James White, 1896), registro de cavalos sendo conduzidos em um celeiro em chamas.
Foram feitas diversas regravações da tela com a primeira cena, mudando a velocidade e seus ângulos.
trabalho de colorização da película notável e o curta é marcado por seu mo frenético, quase numa hipnose codélica. Vale ressaltar a trilha ginal do filme, composta por Brian o, que também se repete em loop. m e imagem se combinam em ovimento, ação e continuidade para ma experiência única no reemprego imagens.
B e r
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M a l c o l m L e G r i c e , 1 9 7 0
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Europa
No curta “ A saída dos operários da fábrica” (1995) dirigido por Harun Farocki, o diretor, a partir de uma cena do filme “A Saída da Fábrica” (1985) dos irmãos Lumière, cria um ensaio documental com cenas que mostram a mesma situação ao longo da história do cinema.
Assim, o diretor destaca a contradição entre a liberdade de sair do local de trabalho e essa espécie de coreografia do controle, no qual os operários saem todos iguais, em fileiras, no mesmo horário, salientando o controle que as fábricas possuiam perante os funcionários. O resultado é uma reflexão sobre a sociedade do trabalho, com a repetição constante das imagens, o uso de imagens congeladas, imagens em câmera lenta, e o foco detalhado em pontos específicos das imagens que normalmente não seriam notados.
S a í d a d o s O p e r á r i o s d a F á b r i c a H a r u n F a r o c k i , 1 9 9 5 P. 49 Por Júlia Carbone Europa
Por Stefany Nicolin
O u t e r S p a c e
h e r k a s s k y
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“Outer Space” (1999), é um curtametragem experimental realizado pelo cineasta autríaco Peter Tscherkassky, com imagens de arquivo da atriz Barbara Hershey. Em uma noite ameaçadora, uma mulher adentra, apreensiva, uma casa.
De forma abstrata, através da montagem que valoriza a experiência sensorial, despertada pelos fluxos visuais da película corrompida e sobreposta, somos reféns dos delírios e pânico que envolvem a personagem.
O curta é um concentrado de estímulos assustadores e hipnotizantes ao mesmo tempo. Desperta reações físicas com seu trabalho ágil e inusitado de som e imagens já intensas.
Os flashes, gritos, sussurros, corrosões, somados à mulher possuída e fragmentada, trazem à flor da pele uma prazerosa (e levemente viciante) náusea no espectador. Vale ressaltar que pode ser um gatilho para pessoas com epilepsia fotossensível.
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Europa
O filme experimental Found Footage de Cécile Fontaine com aproximadamente 8 minutos de duração, apresenta uma sobreposição de imagens unidas por uma única temática: a natureza. São cenas que envolvem uma garota pronta para começar a pintar, enquanto observa um homem que dorme embaixo de uma árvore, árvores estas que são cortadas por lenhadores uma a uma, ao passo que os insetos se deparam com essa situação e se dispersam pela floresta.
Neste trabalho de Cécile Fontaine, é possível notar o caráter artesanal da montagem do material, com destaque para as sobreposições que ditam o ritmo do curta-metragem, que, por mais que tenha uma estética e enredo mais vanguardistas, consegue transmitir a mensagem de preocupação com os efeitos do homem com o meio ambiente, assunto que se atualiza constantemente e se torna cada mais importante nesta era do Antropoceno.
H o l y w o o d s C é c i l e F o n t a i n e , 2 0 0 8 P. 51 Por Isadora Hamamoto Europa
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Por Matheus Hernandes
i a l e c t i q u e
“La dialectique peut-elle casser des briques ?” (1973) é um filme em Found Footage presente no campo crítico, de acordo com a Cartografia do Found Footage, proposta por Nicole Brenez e Pip Chodorov. A técnica usada seria o desvio. O ponto principal, neste caso, é a dublagem. As imagens originais são do filme “Crush” (Tu Kuang-chi, 1972), produção chinesa que explora a invasão japonesa, envolvendo praticantes de kung fu.
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Viénet remonta o filme por meio do diálogo. Um novo roteiro, com novas falas. Geralmente, este tipo de filmes é reconstruído com um tom humorístico
A produção francesa propõe uma trama em que proletários se unem contra autoritários corruptos, por meio de um imaginário social da época como conflitos sindicais, igualdade de gênero, maio de 1968, entre outros temas que evocam um pensamento anticapitalista. O nome do filme é parte da crítica: “A dialética pode quebrar tijolos?”.
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c a s s e r d e s b r i q u e s ? R e n é V i é n e t , 1 9 7 3
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No Found Footage “Dellamorte Dellamorte Dellamore”, David Matarasso revisita o filme “Dellamorte Dellamore” (1994) e faz uma decupagem, recorta e remonta o trailer da obra de Michèle Soave, filmada em 35mm. Para isso, o cineasta utilizou tinta, cola, entre outros materiais para trabalhar com os fragmentos de imagens, e, após esse processo de montagem, refilmou o resultado final, quadro a quadro, em 16mm.
A produção de Matarasso chama atenção pelo apelo vanguardista em sua estética, principalmente, pelo fato do cineasta explorar bastante a colagem no processo de montagem de seu curta-metragem, de pouco mais de 2 minutos. O Found Footage parece fazer uma alusão à pop-art ao apresentar imagens coloridas e recortes geométricos irregulares no decorrer das cenas, o que proporciona ao espectador uma experiência visual sem precedentes.
D e l l a m o r t e D e l l a m o r t e D e l l a m o r e D a v i d M a t a r a s s o , 2 0 0 0 P. 53 Por Isadora Hamamoto Europa
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Por Stefany Nicolin
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“Standard Gauge” (1984), é um curta metragem documental que tem como tema o próprio filme, mais especificamente os rolos de formato 35mm. Eles eram conhecidos como standard gauge (medida padrão), por serem mais utilizados no começo do cinema, desde o cinetoscópio. Com imagens de arquivo e uma narração em off, o curta navega pelos trabalhos realizados pelo diretor no início de sua carreira na indústria cinematográfica.
O diretor compartilha conosco sua coleção de 35 mm, recortes e imagens de teste e conta a história por trás de cada um.
avés de um relato pessoal e álgico sobre as películas ntradas e muitas vezes não zadas na versão final de seus ectivos filmes, Fisher expõe um desconhecido da indústria pelos ctadores comuns. O foco volta os restos, frames que sobraram filmes perdidos, histórias que reram atrás das câmeras e uma e explicação de como o uso do nicolor era realizado.
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"GHOST: IMAGE" engloba a tradição de filmes "fantásticos", que precedem tematicamente ao Horror, incluindo também, o Dadaismo, Cubismo, Surrealismo, Expresionismo, Realismo Poético, Simbolismo e, eventualmente, o gênero de terror. Em seu desenho formal, a imagem espelhada, cria uma negação do eixo e da direção da tela, com o resultado de que o espectador deve ler "através das imagens".
Às vezes, as imagens são reduzidas e complementadas pela presença de poesia fragmentada, um reino metonímico que sugere "divulgações automáticas" e correspondências inconscientes no discurso em desenvolvimento. Os mitos familiares da mulher como 'madonna' / 'vítima atravé ciência 'medo sinais
G h o s t : I m a g e A l R a z u t i s , 1 9 7 61 9 7 9 P. 55 Por Mariana Guarnieri Europa
Thayany Vedovato
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A história mostra, por meio de um filme-diário, uma expedição fracassada, com tom de comédia e estilo de cinema mudo. A trilha sonora e os trocadilhos nos textos entre as cenas agregam o tom sarcástico para a produção, como por exemplo, na apresentação e o nome dos exploradores: Home, Sweet e Homeless.
A representação dos personagens, de forma muito caricata, pode ser comparada com a imagem que temos atualmente dos personagens reais da sociedade e da política brasileira, como aqueles que se colocam como “heróis” e “salvadores”, mas que ao fim, não agregam em nada.
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P. 56 Por
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A obra consiste na reflexão sobre um registro de um cenário de guerra urbano acompanhado por um texto narrado pelo próprio Godard. A imagem que gerou todo um vídeo-ensaio é um registro de uma ação violenta de um grupo paramilitar sérvio, que ocorreu durante a Guerra da Bósnia. A fotografia foi tirada no exato momento em que um soldado chuta violentamente a cabeça de uma senhora muçulmana. Nela, há também três pessoas deitadas, impotentes, diante dos soldados armados.
Nesse sentido, a obra do diretor vem como uma denuncia a violência humana, dissecando uma das fotografias mais representativas das guerras que ocorreram nas últimas décadas. A fotografia é um registro da opressão e da crueldade que o h é d li A imagem diz po narrativa e sim Assim, ao nav evidencia cada mais nela. Além reflexão em seu mais impactant
J e v o u s s a l u e S a r a j e v o J e a nL u c G o d a r d , 1 9 9 3 P. 57 Por Eduarda Garcia Europa
Matheus
O filme de 1998 de William E. Jones se utiliza de trechos de filmes pornográficos gays dos primeiros anos da chegada do capitalismo no leste europeu para contar sobre a queda do comunismo na União Soviética. Este curta é uma das inspirações do longa brasileiro “Histórias que nosso cinema (não) contava” (2017), de Fernanda Pessoa, que conta a história da ditadura cívico-militar brasileira por meio das pornochanchadas.
Jones seleciona trechos em que os garotos falam sobre suas motivações para estarem fazendo aquele trabalho.
Para além do dinheiro, a uriosidade dos jovens em ntender sobre a perversão dos apitalistas e talvez, quem sabe, ncontrar um sugar daddy. O urta em Found Footage funciona omo um documentário de um ecorte espaço temporal ao juntar ais trechos em uma mesma rodução.
T h e f a l l o f c o m m u n i s m a s s e e n i n g a y p o r n o g r a p h y W i l l i a m E . J o n e s , 1 9 9 8
P. 58 Por
Hernandes Europa
O longa metragem "Videogramas de uma Revolução" (1992) é um documentário dirigido por Harun Farocki e Andrei Ujica sobre a rebelião popular que derrotou a ditadura de Nicolau Ceausescu pondo fim ao regime comunista na Romênia. Durante cinco dias, manifestantes ocuparam a estação de televisão estatal em Bucareste e transmitiram 120 horas contínuas de programação, levando aos espectadores uma cobertura da revolução em tempo real. No longa, os diretores combinam imagens de transmissão televisiva com materiais produzidos por cinegrafistas amadores e reconstituem os eventos que resultaram na queda e execução do ditador. Como resultado, obtemos um panorama complexo do começo da revolução até o seu momento simbólico final.
No final dos anos 80, com a disseminação das câmeras portáteis, possibilitou uma pluralidade de produções, e representações, democratizando a produção audiovisual, sendo a partir desse pilar que a obra é pautada. Através de uma narração em off, os diretores analisam o próprio f e
N u p s c r V i d e o g r a m a s d e u m a r e v o l u ç ã o H a r u n F a r o c k i , 1 9 9 2 P. 59 Por Júlia Carbone Europa
imagens foram
amadores de Nándor
capitão de
dos barcos, que filmou seus passageiros
eles rezavam, dormiam e até mesmo
casavam.
Grande parte das
extraídas dos filmes
Andrásovits,
um
enquanto
se
O Ê x o d o d o D a n ú b i o P e t e r F o r g á c s , 1 9 9 8 O documentário "O Êxodo do Danúbio", (1998) dirigido por Péter Forgács, registra o êxodo dos judeus da Eslováquia pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial P. 60 Por Júlia Carbone Europa
Documentário A Arte do Found Footage
SINOPSE
O Cine UEM apresenta
Arte do Found Footage",
documentário sobre a utilização de
de arquivo, reemprego e apropriação de imagens no campo do cinema
documental.
FICHA TÉCNICA
IDEALIZAÇÃO:
ENTREVISTAS:
https://youtu.be/WhuQNlvsk30 Assista P. 61
"A
um
material
experimental e
Matheus Hernandes e Rodrigo Gontijo PRODUÇÃO: Rodrigo Gontijo
Matheus Hernandes e Rodrigo Gontijo EDIÇÃO: Matheus Yamamoto ENTREVISTADOS: Fernanda Pessoa, Jane de Almeida, Marcelo Masagão, Priscyla Bettim e Sérgio Basbaum
Referências
ADRIANO, Carlos. “Mar Aéreo: ondas de voo”,Vivomatografías. Revista de estudios sobre precine y cine silente en Latinoamérica, n. 4, dezembro de 2018, pp. 129-135. Disponível em <http://www.vivomatografias.com/index.php/vmfs/arti cle/view/165> Acesso em: 07 de jun. de 2022.
DELGADO, Mónica. Piéce Touchée de Martin Arnold. Desistfilm. Disponível em <https://desistfilm.com/piece touchee de martin arnold/ >. Acesso em 2 de agosto de 2022.
AMARAL, Ivan. Mr. Sganzerla Os Signos da Luz (Joel Pizzini, 2011). RUA, 2012. Disponível em: <https://www.rua.ufscar.br/mr-sganzerla-os-signos-da-luz-joelpizzini 2011/>. Acesso em: 6 de ago. de 2022.
JENKIS, Bruce. Report, de Bruce Conner: Contestando Camelot. Revista Laika. V.3, n.6, p. (1-18). Dez. 2014. Disponível em https://www.revistas.usp.br/revistalaika/article/view/137213/1 32999/ >. Acesso em 2 de agosto de 2022.
CHODOROV Pip, BRENEZ Nicole. Cartografia do Found Footage. Revista Laika,v.3 n.5 (2014): Dossiê "Found Footage I". Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/revistalaika/article/view/137202>. Acesso em: 07 de jun. de 2022.
MENDELSON LOIS, Simon Bill. Tom Tom, the Piper´s son. ArtForum. Disponível em <https://www.artforum.com/print/197107/tom-tom-the-pipers son 37058 >. Acesso em: 07 jun. de 2022
RIBEIRO, Leornardo. Ato atalho e vento. Papo de Cinema. Disponível em <https://www.papodecinema.com.br/filmes/ato-atalho-evento/ >. Acesso em 5 de agosto de 2022.
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