Da teoria crítica de Adorno ao cinema crítico de Kluge - educação, história e estética

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tem pela profissão de professor. Para tanto, entende que isso só pode ser feito quando se contextualiza, de forma histórica, a educação e a formação dos professores na Alemanha e se expõem os tabus acerca do magistério. Adorno sublinha que, na Alemanha, os universitários mais talentosos, ao concluírem o exame oficial para a carreira de professor, escolhiam a futura profissão muitas vezes como uma imposição por falta de alternativas (ADORNO, 1995f, p. 98). A repulsa dos candidatos ao magistério teria motivações psicológicas conscientes e inconscientes. Na acepção de Adorno (1995f), os tabus são representações inconscientes ou pré-conscientes não apenas dos eventuais candidatos ao magistério, mas também do próprio alvo da educação, que são as crianças. Estas tenderiam a vincular a profissão de professor a uma espécie de interdição psíquica que as submete a dificuldades quase nunca esclarecidas. Em linhas gerais, para Adorno (1995f, p. 98), tabu significa [...] sedimentação coletiva de representações que, de um modo semelhante àquelas referentes à economia [...] em grande parte perderam sua base real [...] conservando-se porém com muita tenacidade como preconceitos psicológicos e sociais, que por sua vez retroagem sobre a realidade convertendo-se em forças reais.

Como ocorreu a formação desses tabus? Para responder a isso, Adorno destaca que a profissão docente se entrelaçou com outras atividades e instituições sociais. Ele lembra que o professor é herdeiro do escrivão, mas também do escravo, do monge e dos guerreiros. Segundo Adorno (1995f, p. 101), o menosprezo à profissão de magistério tem raízes feudais e, por isso, seus fundamentos remontam à Idade Média e ao início do Renascimento. Adorno recorda que “O professor é herdeiro do monge; depois que este perde a maior parte de suas funções, o ódio ou a ambigüidade que caracterizava o ofício do monge é transferido para o professor” (ADORNO, 1995f, p. 102-103). Um outro aspecto que Adorno considera diz respeito à imagem negativa que se criou no imaginário coletivo acerca do professor como aquele que castiga. Mesmo após a proibição dos castigos corporais, este era um fato considerável e concebido por Adorno como determinante no que se refere aos tabus sobre o magistério. Adorno (1995f, p. 106) alude à crença de que “[...] nos séculos XVII e XVIII soldados veteranos eram aproveitados como professores nas escolas primárias [...]”.


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