Gestão de energia: medidas de utilização racional de enrgia e de eficiência energética

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EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E ENERGIAS RENOVÁVEIS

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o electricista

ARTIGO TÉCNICO

Jorge Almeida Consultor/Formador em Gestão de Energia - {consultor.energia@gmail.com}

gestão de energia {MEDIDAS DE UTILIZAÇÃO RACIONAL DE ENERGIA E DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA}

Resumo: Os grandes problemas sociais e ambientais com que a sociedade se depara, têm como principal causa a enorme pressão existente sobre os recursos naturais. O contexto energético, e as preocupantes previsões, exigem uma resposta por parte de todos os responsáveis por forma a garantir um desenvolvimento global sustentável não comprometendo gerações futuras. Este objectivo só será alcançado se entre outras medidas forem implementadas em larga escala acções de utilização racional de energia e de eficiência energética. Neste artigo são apresentadas algumas medidas que visam a redução do consumo de energia na indústria e no sector terciário. Palavras chave: Intensidade energética, eficiência, gestão energia. 1› PORQUÊ GERIR ENERGIA? Numa altura em que tanto se fala acerca da recessão económica e no preço do barril do petróleo (que já superou os 70 dólares) o consumo de energia tem aumentado em Portugal que já era o país europeu com pior desempenho em termos de intensidade energética1. A ensombrar o panorama nacional estão ainda os compromissos ambientais assumidos no âmbito do Protocolo de Quioto, em que a União Europeia comprometeu-se a reduzir, até 2010, em 8% as emissões de gases com efeito de estufa relativas a 1990 (Portugal acordou limitar o aumento das suas emissões em 27%.). Em 27 de Setembro de 2001, o Parlamento Europeu e o conselho adoptaram a directiva 2001/77/CE relativa à promoção de electricidade a partir de fontes de energia renováveis, na qual são estabelecidas metas para cada Estado Membro (ano de 2010). No caso português 39 % da energia eléctrica produzida deverá ser realizada com energias renováveis. Este objectivo será alcançado mais facilmente e de forma mais económica se forem implementadas em larga escala acções de eficiência energética. Esta conjuntura, associada à crescente competitividade no sector empresarial, levará os utilizadores, particularmente do sector industrial e terciário, a focarem a sua atenção, e investirem cada vez mais, na optimização energética das suas instalações. 1

Razão entre o consumo de energia e um indicador de actividade económica, por

exemplo o Produto Interno Bruto - PIB.

2› MEDIDAS DE UTILIZAÇÃO RACIONAL DE ENERGIA E DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NA INDÚSTRIA 2.1› Motores Eléctricos Os motores eléctricos são responsáveis por aproximadamente metade da electricidade consumida nos países desenvolvidos, representando cerca de 70% do consumo de electricidade na indústria. Os motores são de longe o tipo de carga eléctrica mais importante, sendo utilizados numa gama alargada de aplicações, pelo que apresentam um elevado potencial de economia de electricidade. › Utilizar motores de elevado rendimento A diferença da eficiência entre motores de elevado rendimento e os motores convencionais varia entre 12% para motores de potência nominal inferior a 1 kW e 2% acima de 100 kW. O benefício mais óbvio decorrente da sua utilização é a economia de energia. A aplicação de motores de elevado rendimento usualmente resulta num payback inferior a três. Outros benefícios destes são o aumento da fiabilidade, diminuição do ruído audível e melhoramento do factor de potência. › Correcção do sobredimensionamento Os motores raramente operam à carga nominal. Um estudo recente na União Europeia, mostrou que a maioria dos motores, principalmente os de potência reduzida, estão muito sobredimensionados, o que leva a uma redução na eficiência e do factor de potência. É recomendada a substituição dos motores sobredimensionados,


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2.5. Iluminação

3.2. Elevadores

Considerando as diferentes necessidades na qualidade da iluminação para os distintos processos industriais, as seguintes medidas devem ser tomadas de modo a melhorar a eficiência do sistema de iluminação: › Prever um correcto seccionamento dos circuitos; › Instalação de sistemas automáticos de controlo como temporizadores, sensores de presença, células fotoeléctricas, controlos de iluminação natural, sistemas de gestão de energia; › Substituição de balastros e reactâncias convencionais por balastros e reactâncias electrónicas; › Instalação de lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão em situações em que a restituição de cor não seja essencial; › Correcta manutenção dos sistemas de iluminação; › Utilização de iluminação natural;

Esta é uma área que apresenta enorme potencial para economia de energia. Em alguns edifícios, os elevadores são responsáveis por grande parcela do consumo de energia eléctrica. Recorrendo a tecnologias mais eficientes, como o tipo de motor, controlo do motor, caixa de velocidades e uma gestão de parqueamentos eficiente é possível obter economias de consumo de energia superiores a 80% em relação à tecnologia convencional.

3. MEDIDAS DE UTILIZAÇÃO RACIONAL DE ENERGIA E DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NO SECTOR TERCIÁRIO 3.1. Sistemas de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado (AVAC) › Melhoramentos nos sistemas de ventilação A eficiência de um sistema de ventilação é tipicamente da ordem dos 40 a 60%, podendo ser aumentado para 80% se for bem projectado e correctamente dimensionado. A utilização de ventilação natural pode não só aumentar as economias energéticas bem como proporcionar um melhor conforto. › Free-cooling O princípio de free-cooling reside no aproveitamento do ar exterior para o arrefecimento quando, entre outros parâmetros, este apresenta uma temperatura inferior à temperatura interior. Em edifícios com cargas térmicas elevadas, é possível reduzir significativamente os consumos associados ao ar condicionado.

3.3. Iluminação Um projecto de iluminação deve ser dimensionado de tal modo que a potência instalada proporcione um ambiente esteticamente agradável e com um bom desempenho visual. O nível de projecto deve-se ter em consideração a utilização da luz natural, evitando o sobredimensionamento do sistema de iluminação artificial. Todas as recomendações referidas no ponto 2.5 são também aplicáveis em edifícios.

3.4. Implementação de colectores solares O aproveitamento da energia solar por conversão em energia térmica a baixa temperatura é interessante com períodos mínimos de utilização do equipamento solar de oito a dez meses por ano, sendo as aplicações mais frequentes: › Produção de água quente sanitária, para uso em vivendas, hospitais, hotéis, etc.. › Aquecimento de piscinas. › Aquecimento ambiente com piso radiante. Em geral, estes equipamentos não garantem a totalidade do consumo energético, sendo por isso necessário o apoio de uma instalação convencional, que assegure as necessidades energéticas não cobertas pelo sistema solar. A utilização massiva de colectores solares, pode ser uma importante contribuição para Portugal atingir os objectivos da directiva 2001/77/CE.

4. CONCLUSÕES › Aparelhos de ar condicionado de elevado rendimento Devem ser utilizados equipamentos de ar condicionado que apresentem elevados rendimentos. Deve-se considerar a utilização de variadores electrónicos de velocidade em situações de funcionamento em carga parcial. › Armazenamento de frio O armazenamento de frio é uma técnica utilizada para deslocar parte ou a totalidade das cargas referentes ao arrefecimento de um edifício para fora das horas de ponta. O equipamento de refrigeração funciona tipicamente à noite para produzir gelo ou água arrefecida em tanques isolados assegurando no dia seguinte parte ou mesmo a totalidade dos requisitos de arrefecimento do edifício. Esta tecnologia tira partido da redução dos consumos médios nas horas de ponta e da redução dos preços da electricidade com as tarifas variáveis com a hora do dia.

A manterem-se os valores estimados do Programa Nacional para as Alterações Climáticas, Portugal poderá, em cada ano, do período de 2008-2012, vir a ter de mobilizar cerca de 100 milhões de euros para a aquisição de direitos de emissão no mercado internacional do carbono, o que reflecte a ineficiência do sistema energético nacional e o efeito do domínio dos combustíveis fósseis no "mix" energético nacional. Através da adequada implementação das medidas apresentadas anteriormente é possível reduzir a nossa dependência de recursos energéticos importados, aumentar a nossa eficiência global bem como garantir os compromissos assumidos no Protocolo de Quioto e na directiva 2001/77/CE. REFERÊNCIAS [1] SAVE: " Telemedição - um contributo fundamental para a promução da gestão da procura", 2003; [2] Almeida, Jorge; Lima, Dinis: "Análise e Ensaios Comparativos de Diversos Tipos de Motores Industriais", DEEC - Universidade de Coimbra, 2003; [3] Ferreira, Fernando "Métodos Avançados de Manutenção Curativa e Reabilitação de Motores de Indução Trifásicos de Baixa Tensão", ISR, DEEC - Universidade de Coimbra;


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