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Encontro Nacional de Psicólogos(as) Negros (as) e Pesquisadores (as) sobre Relações Interraciais e Subjetividade no Brasil

Carta de São Paulo Nós, par ticipantes do I Encontro Nacional de Psicólogos(as) Negros(as) e Pesquisadores(as) sobre Relações Interraciais e Subjetividade no Brasil (I PSINEP), reunidas(os) nos dias 13, 14 e 15 de outubro de 2010, na Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo, reaf irmamos nosso entendimento de que o racismo constitui uma das questões mais fundamentais para a compreensão dos processos de exploração e dominação instalados na sociedade brasileira. Tal condição exige que todos os esforços sejam empreendidos no sentido de elucidar seus mecanismos, que, engendrados em uma história marcada por séculos de escravização, resultaram em padrões de relações raciais que ocultam per versamente a violência sistemática imposta historicamente à população negra. O racismo à moda brasileira constitui um dos mais sof isticados e enigmáticos mecanismos, que, operando por meio da violência sistemática e silenciada, produz e torna cada vez mais agudas as desigualdades sociais, que no Brasil têm também um viés eminentemente racial. Estes aspectos se encontram for temente inscritos nas dinâmicas institucionais que regem o funcionamento da sociedade brasileira, marcada em seu imaginário pelo mito da democracia racial, condição responsável pela conf iguração de formas de subjetivação social que naturalizam práticas correntes pautadas no racismo, na discriminação e no preconceito. A psicologia brasileira, em seus processos históricos de institucionalização, não fugiu a essa regra. Originalmente pautada na epistemologia das concepções eugenistas e racistas, em seu desenvolvimento posterior suas práticas mantêm a cumplicidade com o mito da democracia racial, caracterizando-se por uma impor tante omissão frente à temática das relações interraciais. Em função disso, a psicologia negligencia o estudo dos aspectos subjetivos envolvidos nos processos identitários, auto-valorativos e no sofrimento psíquico decorrentes das práticas racistas vigentes na sociedade brasileira. Com raras e honrosas exceções, a produção científ ica e prof issional da psicologia brasileira não se interessou pela temática das relações raciais e não reconheceu essa dimensão trágica do racismo, 83


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