Revista clepul 28 out2017

Page 1

CL E P U L em Revista 28 Outubro de 2017


9

Mercedes Blasco

Por ocasião da passagem do 150o aniversário de nascimento de Mercedes Blasco Assinalou-se no passado dia 4 de Setembro, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, a passagem dos 150 anos de nascimento de Mercedes Blasco na Mina de São Domingos. Com o nome de baptismo Conceição Vitória Marques, a Mulher que outrora fez furor pelos mais belos palcos do mundo com a sua arte de bem representar e de se fazer ouvir com a sua belíssima e brilhante voz, com as mais belas operetas, fados portugueses e muitas outras formas de representação, foi evocada. Pelas palavras e imagem que levou e projectou do seu país além-fronteiras, pela sua dedicação incondicional à pátria amada, por todos os méritos alcançados como artista, escritora, tradutora, professora, enfermeira, entre

!"#$%&#!$&

outros . . . Mercedes Blasco foi homenageada na sua última morada, passando a ter uma «identidade», passando a emergir para a actualidade depois de mais de meio século de esquecimento. A memória desta Grande Mulher foi resgatada à luz dos nossos dias, assim como a do seu filho amado Marcelo, que se encontra na mesma morada, passando igualmente a ter uma identidade. Este foi um momento inicial organizado no âmbito de um ciclo de iniciativas a terem lugar num futuro próximo, tendo como parceiros um conjunto de pessoas que integram algumas instituições/organizações que se lhes/nos associam, nomeadamente: Centro de Estudos da Mina de São

Domingos, Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas (AMONET), Câmara Municipal de Lisboa, Câmara Municipal de Mértola, Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (CICS.NOVA FCSH), Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CLEPUL), Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC), Fundação Serrão Martins, Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (IHC-NOVA FCSH) e Museu Internacional da Mulher – Associação (MIMA)


24

Recensões

Mercedes Blasco, Vagabunda. Seguimento às Memórias de Uma Atriz 1908-1915, edição revista, aumentada e atualizada, coordenação de Fátima Mariano, Isabel Lousada, João Miguel Palma Serrão Martins, Mértola, Câmara Municipal de Mértola, Fundação Serrão Martins, 2017. ISBN: 978-989-8640-07-9 «Espero que o meu país, cuja opinião prezo, acima de todas, fará um dia inteira justiça ao meu devotado esforço. E se os meus contemporâneos não souberem fazê-lo, ainda assim morrerei contente, levando comigo a certeza de que as gerações futuras reabilitarão a minha memória. (Mercedes Blasco)

Elegemos esta afirmação de Mercedes Blasco para epígrafe introduzindo o espírito da homenagem que no século XXI, assinalando a passagem dos 150 anos de seu nascimento (às 14h, a 4 de setembro de 1867, na Mina de São Domingos, Mértola), integrará um vasto conjunto de iniciativas, da qual faz parte a reedição do livro Vagabunda que agora vem à luz, precisamente de onde foi extraída. Não seria possível, apesar da menção feita no conjunto dos agradecimentos, deixar de salientar a dedicação, empenho e carinho com que o Centro de Estudos da Mina de São Domingos, na pessoa do entusiasta António Pacheco, impulsionou a celebração em curso. Também a Câmara

Municipal de Mértola, na pessoa do Sr. Vereador da Cultura, Dr. João Serrão, merece especial nota, desde logo por viabilizar a edição da obra em apreço. Poderá questionar-se a razão pela qual, ao fim de tantos anos, entendemos falar da escritora e atriz, natural da Mina de São Domingos, procurando trazê-la de novo à ribalta onde, em vida, chegou. O que estranhamos é precisamente o contrário. Como foi possível deixar de manter viva a memória de uma filha da terra, que ao país tanto deu e tanto divulgou da cultura de Portugal no estrangeiro. Não podia pois deixar de ser prestada a digna, senão justa, homenagem, que em 2017 honramos. Porém não esquecemos ensaios como os que o

Professor Doutor António Ventura publicou em 2004, na revista História, “portuguesinha atrevida”, a Dr.a Júlia Coutinho, em 2013, no catálogo da exposição O Fado e o Teatro, a Professora Doutora Ana Isabel Vasconcelos “Mercedes Blasco e as memórias biográficas de uma época”, em 2014, António Pacheco, em 2014 e 2015, na revista Gasómetro, e mais recentemente o artigo de Fátima Mariano, em 2017, resultante de uma comunicação no âmbito do Colóquio dedicado à escritora Cláudia de Campos. Animadas por esses artigos, procurámos conhecer mais, investigando, dado que bem documentado estava também o verbete do Dicionário no Feminino (2005), depois acrescentado no Feminae (2013),

!"#$%&#!$&


25

Recensões desta feita assinado por Ilda Soares de Abreu. Ainda assim, passar para o grande público a dimensão que Conceição Vitória Marques (nome de batismo de Mercedes Blasco) alcançou, não só nos palcos, nacionais e internacionais mas, sobretudo, na sua vida e com a sua obra, passavam por ler o que escrevera. Assina cerca de quarenta títulos, tendo começado a publicar ainda no século XIX, com o título Tagarelices, editado pela Bertrand (que a reedita em 1925), debaixo do pseudónimo que viria a sobrepor-se ao seu nome de batismo, entre tantos outros que utilizou. Mercedes Blasco, entre 1907 e 1944, vê grande parte da sua obra publicada e diversos títulos, dentre os quais Memórias de uma atriz: apreciações e críticas, reeditados. De todos os editores que viabilizaram a sua produção escrita – prosa, poesia, teatro – aquele que mais se destaca é J. Rodrigues & C.a Editores, nomeadamente nas décadas de 20, 30 e 40 do século XX. Tal como outras escritoras

!"#$%&#!$&

suas contemporâneas, foi tradutora e lecionou. Testemunha ocular do flagelo da I Guerra Mundial na Bélgica, onde então se encontrava, em Liège, escreve Vagabunda, continuação de Memórias de uma atriz, como nos deixa saber, porquanto a 2.a parte das suas memórias já são redigidas em solo nacional. Embora o título possa ser provocador, está documentado em várias passagens da obra, pois a si mesma se intitula “vagabunda”, como mais adiante “vagabunda da arte” (p. 95) em resposta à carta dirigida a Albino Forjaz Sampaio, pois que correra mais de metade do mundo até a encontrar, ou por fim, deixando bem explícita a razão pela qual decidiu sair de Portugal: “Saí daí, porque o espaço em que debatia a minha ânsia de trabalho e de glória era estreito, tornado ainda mais estreito pelas invejas e malquerenças que pululavam a cada canto, teimando em fazer de mim vagabunda. . . à força.” (p. 97). Não deixa de ser curioso que a capa, com cliché,

de Alberto Sousa, a apresente de um modo muito convencional, de chapéu, colar e livro debaixo do braço, contrastando francamente com o termo “vagabunda”. Optámos por iniciar a reedição da obra de Mercedes Blasco não pelo título que parecia mais lógico, Memórias de uma atriz, visto que Vagabunda é a continuação desse, devido a uma razão de força maior, isto é, o facto de se evocar, entretanto, o centenário da Grande Guerra. Este livro afigura-se-nos com um valor documental e histórico para além das memórias de uma mulher de convicções e idiossincrasias que porventura terão determinado algum ostracismo a que foi votada por alguns dos seus contemporâneos. O facto de se ter afirmado contra o regicídio, em defesa da Rainha Dona Amélia, relevando a dor da mãe e da esposa em 1908, durante a Monarquia Constitucional, não a impediu, contudo, de alinhar com as feministas mais destacadas no que aos direitos das mulheres diz respeito.


26

Recensões

Lembremos, por exemplo, o capítulo “Um pouco de feminismo” no qual defende o direito ao voto e, mais do que isso, a possibilidade de as mulheres serem eleitas. Pensamento que se compagina com o de Carolina Beatriz Ângelo também na primeira década do século XX. A rede de contactos é expressa através da correspondência que o livro contém, mas para além dessa, através do conhecimento que demonstra ter, nalguns casos chegando a ser familiaridade, com Madame Juliette Adam, com quem se deixou fotografar. Os holofotes do palco cedo a seduziram à reve-

lia dos ensejos familiares que a gostariam de ter visto formada em medicina. Todavia, a luz que irradia através da vida e obra vivida e legada justificam as suas opções. O lema escolhido para o seu ex-líbris espelha bem a natureza da escritora, atriz, mulher de palcos com sentidos claros: “de corpo e alma”, expressão equivalente à que usa em Vagabunda: “de alma e coração”, modo como enfrentou os palcos do teatro e da vida. Pretendemos, dentro em breve, poder trazer à luz outros títulos que façam jus à memória de uma escritora de obra profícua, assim como recordar

toda a sua vida e obra, numa fotobiografia.» Isabel Lousada e Fátima Mariano

Anália Vieira do Nascimento: 1854-1911, estudo e antologia de Beatriz Weigert, Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal, 2017. ISBN: 978-972-565-616-4 «Este volume inscreve-se no projeto desenvolvido pelo Grupo de Investigação 6 (Brasil-Portugal: cultura, literatura, memória) do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade

de Lisboa (CLEPUL), em parceria com o Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (CICS.NOVA) e a Biblioteca Nacional de Portu-

gal (BNP), para o estudo e a divulgação da produção de autoria feminina do Almanaque de lembranças/Almanaque de lembranças luso-brasileiro/Novo almanaque de lembranças luso-brasileiro, de que os primeiros

!"#$%&#!$&


37

Comunicações

COMUNICAÇÕES 23 de Agosto Salão de Leitura da Biblioteca Rio-Grandense: Isabel Lousada, «Evolução ou revolução. Opções de/para mulheres no Estado Novo»; Francisco das Neves Alves, «Instauração do Estado Novo e a imprensa rio-grandina: o caso do jornal O Tempo», no âmbito do IV Seminário Internacional para Pensar a Pesquisa Histórica

ves Alves, Isabel Lousada e Elias Justino Bartolomeu Binja participaram na mesa-redonda dedicada ao tema «O mundo lusófono: Europa, África e América» no âmbito do II Simpósio Internacional História, Cultura e Relações de Poder Cemitério dos Prazeres: homenagem a Mercedes Blasco por ocasião do 150o aniversário do seu nascimento

2 de Setembro Museu Militar de Elvas: Nuno Grancho, «São Paulo: da dessacralização da arquitetura à dinâmica dos bens móveis», no âmbito do ciclo de conferências História, Arte e Património da Raia Alentejana. Novas perspectivas para o estudo do edificado da cidade de Elvas

6 de Setembro Teatro Municipal Baltazar Dias: Cristina Trindade, «Dia Mundial do Sonho: Sebastianismo»; Graça Alves, «Dia Internacional do Sexo: Prostituição»; José Luís Sousa, «Dia Mundial do Mar: Navios do porto do Funchal», no âmbito das Conferências do Teatro. Encontros de investigadores culturais, académicos e comunidade em geral. Madeira de A a Z 2017

4 de Setembro Universidade Federal do Rio Grande: Fabio Mario da Silva, Marlize Vaz Bridi e Michelle Vasconcelos participaram na mesa-redonda subordinada à temática Maria Teresa Horta, vida e obra; Francisco das Ne-

!"#$%&#!$&

9 de Setembro Auditório do Convento do Espírito Santo: Joana Balsa de Pinho, «Dinâmicas confraternais seiscentistas na Misericórdia de

Loulé: assistência, culto e cultura», no âmbito do Encontro de História de Loulé 13 de Setembro Biblioteca da Imprensa Nacional-Casa da Moeda: Adriano Moreira, «Conciliar o Mundo», no âmbito do Seminário Permanente de Estudos Globais 14 de Setembro Universidade Johannes Gutenberg Mogúncia: Ana Maria Delgado, «Requiem (1991) de Antonio Tabucchi e a reflexão sobre escrever numa outra língua: ‘Um universo numa sílaba’», no âmbito do 12.o Congresso Alemão dos Lusitanistas subordinado à temática «Polifonia – Uma Língua, Muitas Vozes» 15 de Setembro Universidade Johannes Gutenberg Mogúncia: Anne Burgert, «Memórias de guerra em família: silêncio e confidência intergeracional no romance Estranha guerra de uso comum de Paulo Faria»; recital de poesia de Ana Paula Tavares, no âm-


47

Seminários à Hora do Almoço a participação de José Pedro Paiva e Nicolau Santos 29 de Setembro Armazéns do Castelo (Livraria Lello): Poèmes Photographiques | Poemas Fotográficos | Photographic Poems, de Katia Andrade, apresentado por Isabel Ponce de Leão 30 de Setembro A Casa da Boavista: Alice no país dos livros, de Maria Antónia Jardim, apresentado por Nassalete Miranda 3 de Outubro Pavilhão das Galeotas do Museu de Marinha: Almirante Pioneiro com Alma de Tenente. Memórias

de Gago Coutinho, de Rui Costa Pinto 4 de Outubro Edifício Musical, Mina de São Domingos: Vagabunda, de Mercedes Blasco 7 de Outubro Auditório da Escola Secundária Padre António Vieira: Duo Mundi, de Luís Vendeirinho, apresentado por Isabel Lousada 9 de Outubro Salão Nobre da Reitoria da Universidade Aberta: A Grande Rutura: Olhares Cruzados sobre Lutero e a Reforma Protestante, coordenado por Porfírio Pinto, apresentado por

Adérito Fernandes Marques, Eduardo Lourenço, Joaquim Franco e Paulo Mendes Pinto 13 de Outubro Auditório do Convento dos Dominicanos de Cristo-Rei (Porto): Obra Seleta do Professor José Augusto Mourão: O Vento e o Fogo | A Palavra e o Sopro | O Espelho e o Eco, apresentada por Maria Augusta Babo, Moisés de Lemos Martins, Isabel Morujão de Beires e Frei Bernardo Domingues Associação Caboverdeana: Cartas de um Sempalhudo, de João Lopes Filho, apresentado por Henrique Coutinho Gouveia

SEMINÁRIOS À HORA DO ALMOÇO 5 de Setembro Sessão CLV: Assunção Cristas, «Uma visão para a “Nossa Lisboa”». 8 de Setembro Sessão CLVI: Paulo Pinto de Albuquerque, «A universalidade dos Direitos Humanos» 18 de Setembro Sessão CLVIII: José Manuel Pureza, «Economia e política: desafios globais» www.clepul.eu

29 de Setembro Sessão CLIX: Paula Teles, «A utopia da acessibilidade plena: para a construção de cidades felizes» 2 de Outubro Sessão CLX: Fernando Marques, «Da inexistência de Deus, segundo Shakespeare, Machado de Assis e Drummond» 9 de Outubro Sessão CLXI: Carlos Filipe, «Mármore Global:

antiga e duradoura indústria global portuguesa» 11 de Outubro Sessão CLXII: Pedro Gil, «O que é o Opus Dei: mito e história» 18 de Outubro Sessão CLXIII: Alexandre Honrado, «Novas missões; utopia e distopias; a experiência messiânica. O ano de 1917 a especificidade portuguesa»


48

FOLIO 2017

22 de Outubro Espaço Livro – Praça da Criatividade 15H30 Folio Mais Lançamento de livro Viagem ao Mundo em Quarenta e Cinco Dias de João d’Ávila Apresentação de Teresa Martins Marques e Jorge Maximino Espaço Livro – Praça da Criatividade 17H00 Palestra // Folio Mais Onde, quando e como começa a recepção mundial de Cervantes?, por Ernesto Rodrigues Programação CLEPUL Jardim do Solar – Praça de Santa Maria 23 de Outubro 10H30 – 17H30 Folio Mais Literaturas africanas de

língua portuguesa A Revolução e o Ensino – Ensinar Germano Almeida, Ondjaki e Mia Couto Coordenação Ana Paula Tavares Programação CLEPUL Escola Josefa d’Óbidos 26 de Outubro 16H30 Aula // Folia António Nobre, Camilo Pessanha, Raúl Brandão, por Ernesto Rodrigues Programação CLEPUL Jardim do Solar – Praça de Santa Maria 18H30 Folio Mais Revolução tecnológica aplicada (género/cidadania) Jogo – «Jose e José» Com Valéria Andrade e Marcelo Alves de Barros Centro de Formação do

Oeste Programação CLEPUL Museu Municipal 19H00 Apresentação de obra e Debate /// Folio Mais Sandra Patrício e Isabel Lousada Cláudia de Campos, Mercedes Blasco e Adelaide Cabete – três autoras feministas do séc XIX Programação CLEPUL Museu Municipal 27 de Outubro 15H00 Mesa-Redonda /// Folio Mais 100 Futurismo com Isabel Ponce de Leão e Miguel Real Moderação: Dionísio Vila Maior Programação CLEPUL Museu Municipal

Edição: Ernesto Rodrigues e Luís Pinheiro www.clepul.eu


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.