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raças

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Marcelo Gaeta

Susana Salvador

Até alguns anos atrás, participar e, mais do que isso, ser campeão em uma exposição que valesse pontos para o ranking nacional era o sonho de praticamente todos os pecuaristas. Afinal, tanto os animais vitoriosos se valorizavam quanto o nome do criatório e o resultado vinha na forma de preços altos de sua genética nos eventos comerciais. Essa realidade mudou. Hoje, os julgamentos de animais chamados elite recebem poucas dezenas de animais – contra centenas no passado – e algumas tradicionais exposições agropecuárias nem julgamentos mais fazem devido à falta de interesse dos criadores em levar sua genética. Numa outra ponta da cadeia da pecuária, quase que simultaneamente começaram a ganhar força os dados zootécnicos como ferramenta de avaliação dos bovinos. Centrais de genética, grupos de criadores e até projetos pecuários independentes passaram a medir os atributos produtivos e reprodutivos dos seus planteis. Esses indicadores viraram sumários e passaram a pesar no momento da escolha dos animais – inclusive nos leilões. Atualmente, essa é a regra mais usual. O fato é que o fortalecimento dos programas de melhoramento genético ocorre no mesmo momento em que os julgamentos de animais nas exposições perdem relevância.

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Mas um é a causa do enfraquecimento do outro? “Não necessariamente. A pecuária é uma atividade dinâmica. O mercado é dinâmico. Essa transformação resulta de um processo muito maior: a busca incansável pelo aumento da produtividade em detrimento do animal belo, porém com indicadores ruins ou pouco conhecidos”, explica Fabio Miziara, especialista em Brahman e experiente jurado em importantes exposições da raça. Marcelo Gaeta, outro experiente jurado da raça Simental, concorda. Para ele, não há surpresa nessa transformação. “Porém, isso não significa que a pista perdeu importância no processo de seleção. O fato é que o julgamento precisa avaliar a funcionalidade, os atributos produtivos e reprodutivos”, diz Gaeta. Susana Salvador, criadora de Angus e ex-presidente do Conselho Técnico da Associação Brasileira de Angus, vai na mesma linha. “Os julgamentos têm uma importante contribuição a dar à seleção, mas é importante que os animais também tenham a chancela da produção”. Fábio Miziara concorda que os julgamentos contribuem, e muito, para mostrar a evolução do trabalho feito nas fazendas, inclusive em comparação com outros projetos pecuários. “Avaliar as características reprodutivas é essencial, assim como mensurar as características econômicas dos bovinos. O fato é

que a exigência do mercado aponta para uma linha de conduta a ser seguida. Nenhum jurado e nenhum criador valorizam mais os animais com indicadores ruins. Aí está, na verdade, um ponto central na avaliação na pista. É preciso valorizar a conformação, a musculatura, os aprumos, a estrutura corporal, a conformação de carcaça, a longevidade”. Funcionalidade é o conceito que mais atenção merece de Marcelo Gaeta nos julgamentos. “A busca por características econômicas representa a própria razão de ser da pecuária moderna. Afinal, estamos falando em desenvolvimento, em precocidade sexual e de acabamento, em terminação rápida. Não se pode conceber mais criar sem o objetivo de buscar mais produtividade”. Susana Salvador chama a atenção para um ponto perfeitamente integrado a esse novo momento da pecuária. “Não há animal perfeito”, ela diz. “O pecuarista precisa buscar os melhores animais para o seu projeto. E isso depende de uma série de fatores, incluindo os seus objetivos. Um animal pode se ajustar muito bem ao meu projeto e não agregar a outro”. Nesse sentido, um componente que no passado pesou muito, mas hoje precisa ser evitado, é a emoção no momento de definir a escolha de um animal. “Apesar de fazer parte da atividade, pode ser positivo para

Fábio Miziara

um criador ter determinado animal do plantel não premiado. Afinal, ele poderia estar indo em determinada direção, mas o mercado aponta para outra. Com esse alerta, o selecionador pode ‘acordar’ e mudar de rota”, assinala Fabio Miziara. Susana, Gaeta e Miziara concordam que a prova a campo dos animais campeões em pista é desejada. “É sempre muito positivo quando os programas de melhoramento genético classificam bem um touro campeão em exposição. Isso comprova a sintonia desejada entre pista e campo”, destaca Marcelo Gaeta. Susana Salvador recomenda que os jurados deixem claros os seus critérios, desde o início dos julgamentos. E que os sigam até o fim. Ela destaca a importância de avaliar o padrão racial, fazer avaliação visual apurada, considerar as características funcionais e as características produtivas. Para a especialista em Angus, a exposição é a vitrine da raça, mas a confirmação da qualidade produtiva e reprodutiva dos animais deve ser comprovada nos programas de melhoramento genético. “Não há mágica na pecuária. E acredito que nenhum criador invista por diversão ou para perder dinheiro. Esta é uma atividade econômica e tem de ser gerenciada como tal. Nesse sentido, é preciso oferecer o produto desejado pelo mercado”.

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