Ed. 165 - Revista Caros Amigos

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Eduardo Matarazzo Suplicy

porca miséria! Glauco Mattoso

Lula e Dilma

FATAES NATAES [SONETO 3089]

na História

Da sua chaminé! Que ganhe, espero, algum peru carnudo e, pelo vão, lhe venha a pomba! Vão das pernas? Não! Da telha! E agoure sorte á hora zero! Emfim, neste Natal, eu lhe desejo esguichos, gritos, risos! Fique claro, refiro-me à champanhe! E vale o ensejo: Pendure a meia usada! Assim, meu caro, que a noite escurecer, eis o que almejo: trocar por nova, e um mimo eu ganho ao faro! Ja repararam que muita gente dá ou retribue um “Bom dia!” de má vontade? Claro que repararam: acontece todo dia! Mas ja repararam que, mais resmungando que fallando, quem nos cumprimenta parece dizer “Bundinha!”, como si alludisse à parte onde devessemos levar? Toda manhã, quando saio com meu accompanhante para uma caminhada pelo quarteirão, cruzo com meus amigos caninos que, tambem accompanhados dos respectivos donos, fazem festa ao me verem. É verdade que a festa pode ser só por interesse, ja que farejam os biscoitos para cachorro que, casualmente, trago no bolso... Quanto aos donos, tenho a impressão de que a vontade delles era açular os cães para que me attaccassem. Devem pensar: “Mas que cego pentelho! Meu cachorro parece gostar mais delle do que de mim!” Um desses donos, ao cruzar commigo e receber meu “Bom dia!”, responde com um quasi inaudivel “... dia...”, como si quizesse dizer “...dia... bo que o carregue”, honrando aquelle dictado: “Para bom entendedor, meia pa... ba...” Pois é: dessa gente era preferivel nem recebermos um “Feliz Natal!”, considerando que, no intimo, a intenção seria mandar-nos ao Diabo e não ao Filho do Pae. Na resaca das

eleições, muitas trocas de saudações natalinas se resentem desses rancores guardados. O ideal seria que, na hora dos presentes, não fosse cada “amigo secreto” paulista brindado por um “inimigo occulto” carioca, e vice versa, applicada a reciproca a cada estado e respectivo governador, tambem em relação ao governo federal. Mas, por fallar em presentes, será que um papel de embrulhar prego pode embrulhar um picolé de chuchu? Ou será que o picolé, que se derrete, amollece o papel? A partir de janeiro, e até a Coppa, o tempo dirá... Glauco Mattoso é poeta, letrista e ensaísta.

Cumprimento o presidente Lula e a presidenta eleita Dilma pela vitória obtida, em 31 de outubro, com 56% dos votos válidos e pelos pronunciamentos em que ressaltaram a erradicação da pobreza absoluta, como objetivo maior a ser alcançado, em continuação ao bem-sucedido esforço realizado desde 2003. Foi positivo que a Presidenta Dilma Rousseff tenha convidado Ana Maria de Castro, filha de Josué de Castro, para participar em Brasília, em 28 de outubro, do lançamento de seu Programa de Desenvolvimento Social. Ana Maria, ali, expressou seu apoio por Dilma compreender o que seu pai diagnosticou: que a fome e a miséria decorriam de como alguns homens agiam para que outros homens passassem fome e vivessem na pobreza absoluta, mas que seria perfeitamente possível a sociedade se organizar para não haver mais fome e miséria. Em 23 de março de 1956, da tribuna da Câmara dos Deputados, o então deputado Josué de Castro disse: “Eu defendo a necessidade de darmos o mínimo a cada um, de acordo com o direito que têm todos os brasileiros de ter o mínimo para sua sobrevivência”. Portanto, há 47 anos Josué de Castro foi um dos precursores da importância de implantarmos a Renda Básica de Cidadania – RBC de forma efetiva, como dispõe a Lei 10.835/2004, aprovada por consenso de todos os partidos no Congresso Nacional e que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou em 8 de janeiro de 2004. Naquele dia, Lula recebeu do maior economista brasileiro, Celso Furtado, outro precursor da RBC, a seguinte mensagem: “Neste momento em que Vossa Excelência sanciona a Lei da Renda Básica de Cidadania, quero expressar-lhe minha convicção de que, com esta medida, nosso país se coloca na vanguarda daqueles que lutam pela construção de uma sociedade mais solidária. Com frequência o Brasil foi referido como um dos últimos a abolir o trabalho escravo. Agora, com esse ato (...) o Brasil será referido como o primeiro que institui um sistema de solidariedade tão abrangente e, ademais, aprovado pelos representantes do seu povo.” Gostaria de lhes propor que possam definir os passos previstos na Lei 10.835/2004 para a instituição da RBC. Ao lado da universalização das boas oportunidades de educação, a Renda Básica contribuirá de forma eficaz para o objetivo maior de erradicar a miséria. Eduardo Matarazzo Suplicy é senador. dezembro 2010

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Ilustração: koblitz

Natal! Que desejar, sendo sincero, a alguem que considero? Peço então que aquelle homem do sacco vermelhão penetre no buraco, dizer quero...

caros amigos

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