A formula de Deus

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e aprumado, de gestos tranquilos e com um certo ar de mórmon. O americano conduziu-o pelos corredores da embaixada e introduziu-o numa sala luminosa, a larga janela aberta para um jardim solarengo. Um rapaz de camisa branca e gravata vermelha encontrava-se sentado na longa mesa da sala, a atenção mergulhada num lap-top aberto sobre o mogno, e ergueu-se quando Sullivan entrou com o seu convidado. "Don", anunciou. "This is professor Tomás Noronha." "Howdy!" Cumprimentaram-se os dois. "Este é Don Snyder", disse, sempre em inglês, apresentando o rapaz, cuja face muito pálida contrastava com o seu cabelo preto e liso. Sentaram-se os três, com o adido cultural ainda a conduzir as operações como se fosse um rotinado mestre-de-cerimônias. Sullivan falava alto, mas tinha o olhar preso em Tomás, tornando evidente que as suas palavras se destinavam exclusivamente ao português. "Esta conversa não está a ocorrer. Tudo o que aqui for dito é informação reservada e permanecerá entre nós." Inclinou a cabeça na direção do convidado. "Compreendido?" "Sim." Sullivan esfregou as mãos. "Muito bem", exclamou. Virou-se para o rapaz engravatado de cabelo preto. "Don, se calhar é melhor começar." "Okay", assentiu Don, puxando as mangas da camisa para cima. "Mister Norona, tal como..." "Noronha", corrigiu Tomás. "Norona?" "Esqueça", riu-se o historiador, apercebendo-se de que o americano jamais conseguiria pronunciar corretamente o seu apelido. "Chame-me Tom." "Ah, Tom!", repetiu o rapaz do cabelo preto, satisfeito por encontrar um nome mais familiar. "Muito bem, Tom. Tal como o Greg disse, o meu nome é Don Snyder. O que ele não lhe revelou é que eu trabalho para a CIA em Langley, onde sou analista de contraterrorismo, integrado num gabinete pertencente ao Directorate of Operations, uma das quatro direções da agência." "Operações, é? Assim como o... James Bond?" Snyder e Sullivan riram-se. "Sim, é no Directorate of Operations que trabalham os 007 americanos", assentiu Don. "Embora eu não seja propriamente um deles. O meu trabalho, receio bem, não tem tanta graça quanto as aventuras do meu parceiro fictício do MI6. Raramente tenho raparigas bonitas à minha volta e, na maior parte das vezes, as minhas tarefas não passam de coisas de rotina, sem graça nenhuma. O Directorate of Operations é uma direção cuja responsabilidade principal radica na recolha clandestina de informação, muitas vezes com recurso a HUMINT, ou seja, human intelligence, fontes humanas que utilizam técnicas encobertas."


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