Relato Mauritania 2004

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E tivémo-la! No deserto do Sahara! Em barda! Três dias enfiados! As pessoas que fomos encontrando foram uma parte muito gratificante da viagem. Acabámos por não comunicar muito, até porque temos uma barreira linguística importante. Ao contrário de nós, a maior parte dos mauritanos fala bom francês. Mas os contactos fugazes que se fazem naquelas condições têm um grande sabor de autenticidade. Não conseguimos ficar a saber como vivem aquelas pessoas, mas conseguimos intuir, suspeitar... e quando as nossas intuições se comprovam, dá um gozo reforçado. Foi espectacular uma meia hora de conversa que tivemos com a Isabel, a portuguesa que descobrimos por acaso no albergue da Zaida em Ouadâne. Anda na estrada há cerca de três meses, gostou da Zaida e abancou-se para aprender o Hassaniya (a variante do árabe que fala a maior parte dos Mauritanos). Parece perfeitamente integrada em Ouadâne, onde toda a gente a conhece e toda a gente a cumprimenta com o complicado ritual Mauritano: são sete ou mais frases encadeadas, tipo pergunta resposta que se proferem sem olhar o interlocutor directamente. Vagamente: -

Salam Aleikoum! Aleikoum Salam. Eiec Labés? Al hamdoulilah. Mash Allah! …. ….

E por aí a fora. Parece que quanto mais velhos mais perguntas respostas vão acrescentando. É divertido de ver, garanto-vos. A Isabel deu-nos a sua visão de algumas características que imputava aos Mauritanos. São simples, alegres, delicados, maliciosos, brincalhões... conservam aquela delicadeza árabe que nos dedicam os Marroquinos, mas adoram uma chalaça, um trocadilho, uma brincadeira. Não têm televisão, logo, são pessoas simples. A religião rege parte importante do seu modo de viver. Mas são indubitavelmente humanos e sensíveis. As mulheres trabalham e muitas são auto-suficientes. São islâmicos, logo a poligamia faz parte. O divórcio é admitido e muito frequente, e ao invés de estigmatizar as mulheres, aumenta-lhe a cotação! As mulheres com mais divórcios são mais desejadas. As relações são entabuladas sem o objectivo de durarem para sempre. Quanto à poligamia, parece que após o primeiro casamento as mulheres podem impôr exclusividade! A mim parece-me que eles flirtam e se divertem à grande a despeito das limitações impostas pela religião. São racialmente muito variados, do tipo árabe/berbere (mais numeroso) ao negro, há de tudo. E as mulheres têm rostos


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