apenas te dizer o desejo (CIXOUS, 1991). Embora jamais possa te fazer sentir, as palavras te remetem há instantes e momentos que passaram, percepções de um corpo em movimento. E que, se você pudesse ver, provavelmente eu poderia sentir a sua respiração acompanhar a minha, os seus olhos invadindo a minha pele, os seus desejos em relação a esse corpo exposto que dança.
A resistência de ficar parado perante o olhar do outro (espectador), às vezes a sensação de ser obrigado a se mexer perpassa a minha mente. Quem assiste se torna testemunha do diálogo, são voyeres dessa relação e não terão o papel de interferência.
Contudo, a escrita mantém seu mistério, algo que não pode ser totalmente decifrado, um espaço aberto a ser completado pelo leitor. Seu formato possibilita compreender as escolhas de quem a faz, dá pistas das texturas que estão intrínsecas ao autor. Todavia, jamais revela por completo a ideia que passou pelo corpo de quem escreve, sem o leitor seu ato não se concretiza, bem como a experiência do corpo de quem lê determinará a trajetória que as palavras irão seguir. Citando Andrea Zanella sobre o ato de escrever: “Há, portanto, algo que se apresenta como possibilidade de palavras outras, várias, de múltiplos sentidos a seguirem caminhos inesperados” (2012, p. 90). Por mais que, o que é escrito possa retratar as escolhas e os posicionamentos éticos de quem escreve, aquilo que é lido por você escorre pelas bordas de qualquer controle que se possa ter. Sua leitura pode fazer surgir outras palavras; outro texto; uma realidade diferente da que tento recriar através dos fonemas que eu escolhi para comporem esse diálogo. Ou seja, mesmo essa conversa que estamos tendo está aberta ao
264