Plano de Acessibilidade Pedonal Lisboa - Vol 2 - Via Pública

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adquiridos gradualmente até à adolescência. E até que atinjam o mesmo grau de entendimento que o adulto, as crianças não conseguem reagir da mesma forma a situações tão complexas 68 como as geradas pelo trânsito automóvel. As crianças têm mais dificuldade em interpretar sinais, evitar obstáculos, avaliar o tempo que os veículos necessitam para chegar a determinado ponto, ouvir os veículos que se aproximam, decidir se devem atravessar ou não, em orientar-se e avaliar o risco. (*) Editado com base no estudo realizado pela Associação para a Promoção da Segurança Infantil para o Plano de Acessibilidade Pedonal de Lisboa.

Notemos agora alguns princípios para a leitura dos dados: 

Gravidade A gravidade da lesão é, obviamente, questão da maior importância. Deve notar-se, todavia, que a lesão causada no peão pelo atropelamento depende de mais fatores do que a lesão no condutor. A gravidade da lesão no peão depende não apenas da velocidade (é um facto estabelecido) mas também da forma como o peão é atingido, pela forma como cai no solo, pelo eventual arrastamento, etc. Por isso, a gravidade poderá variar substancialmente, e uma situação que poderia originar uma lesão ligeira pode, direta ou indiretamente, conduzir à morte. Nestes termos pode valorizar-se a variável lesão quando necessário, mas deve ser tido cuidado para não desvalorizar os atropelamentos que causaram danos ligeiros. Todos os dados usados na presente análise pressupõem o registo do tipo de lesão à data do atropelamento, não considerando a evolução da lesão nos 30 dias subsequentes (e ignorando portanto qualquer agravamento). Os registos que estavam disponíveis para o Plano à data da elaboração do presente estudo não incluem a contagem a 30 dias.

Aleatoriedade Uma análise da distribuição espacial dos atropelamentos em Lisboa revela claramente locais de acumulação, os quais, por sua vez, apontam claramente para problemas de caráter estrutural. Da mesma forma podemos encontrar, quer ao nível dos peões, quer ao nível dos condutores, traços e tendências marcantes. O uso da expressão “acidente”, que remete para o domínio do aleatório, designando um fenómeno que não se podia prever, e que da mesma forma não se podia evitar, não é, por isso, correto. A palavra colisão (ou atropelamento) indica de uma forma simples e factual o que é observado, enquanto a palavra “acidente” parece sugerir, adicionalmente, uma explicação genérica sobre o que 69 aconteceu, sem qualquer tipo de prova a fundamentar essa explicação .

Responsabilidade A dimensão jurídica do atropelamento, sendo obviamente importante, tem grandes limitações em matéria de análise estatística e espacial do fenómeno. Deve notar-se que os

68

Keeping Children Safe in Traffic. OCDE: 2004

69

Davis, Ronald M. e Pless, Barry (2001): “Editorial: Accidents are not unpredictable”, www.BMJ.com

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