Agenda Cultural de Lisboa | novembro 2019

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25 ANOS ZDB Até parece ter sido noutro tempo e noutro lugar que nasceu uma associação cultural que haveria de marcar indelevelmente as décadas seguintes. A Galeria Zé dos Bois, ou simplesmente ZDB, acaba de soprar 25 velas na certeza de ter cumprido uma missão de intensa atividade dedicada à criação, à produção e à programação de iniciativas culturais, e crente num futuro como entidade viva em permanente questionamento. Uma “casa dos artistas” que é, ao mesmo tempo, um centro cultural situado em pleno Bairro Alto, e onde entrámos guiados por Natxo Checa, Marta Furtado e Sérgio Hydalgo, os atuais responsáveis pela “instituição” (ao fim de todo este tempo, não há como fugir ao termo) que continua a marcar o panorama cultural da cidade nas áreas das artes visuais e performativas e da música.

UM BANDO DE IRREVERENTES

Quando a 29 de outubro a ZDB abriu as suas portas, num “espaço de cerca de 100 metro quadrados, na Rua da Vinha” ao Bairro Alto, poucos arriscariam supor que um grupo de 15 jovens recém-formados em artes acabava de lançar a semente para aquela que viria a ser uma das mais influentes estruturas artísticas do país. Um desses jovens era o catalão Natxo Checa, então com 25 anos, que lembra a criação da ZDB como “uma questão de sobrevivência”. Estávamos em 1994, o ano de Lisboa Capital Europeia da Cultura, da abertura do Centro Cultural de Belém e da Culturgest, da Casa de Serralves, no Porto, “e eu, juntamente com outros artistas acabados de se formarem nas mais diversas áreas, das belas artes à música, passando pela arquitetura, pelo teatro ou pelo cinema, víamos a Cultura ser tomada pela geração que nos antecedia. Foi preciso tomar a iniciativa, pois só assim o nosso trabalho poderia tornar-se visível.”

COM A “BÊNÇÃO” DE BEUYS

Cada um dos artistas associados pagava a parcela correspondente da renda do imóvel da Rua da Vinha com o compromisso de se manter por um ano. “O que pretendíamos era mostrar o nosso trabalho, e até final desse ano programámos quatro exposições, vários concertos, um festival de performance e um outro de vídeo internacional”, lembra Natxo. Com a irreverência da juventude, à associação seria dado o nome de Zé dos Bois, uma corruptela do nome do influente artista experimental alemão Joseph Beuys. “Julgo que foi o Tiago Gomes, da revista Biblía, que o sugeriu e, como foi moda nos anos 90 as galerias serem rebatizadas com o nome dos galeristas, pareceu-nos perfeito.” Aqueles intensos meses iniciais de ZDB acabaram por ser marcantes. “Muito naturalmente, sem pensarmos nisso, definimos com grande clareza o que haveria de ser a ZDB, uma entidade em que a comunidade artística se revê, sejam aqueles que apoiamos, sejam os outros.” Juntar tornou-se o verbo que ainda hoje a atual direção artística conjuga com orgulho quando tem de tomar decisões. “Criámos a ZDB para viabilizar projetos artísticos num espírito de comunidade, com uma ideologia e um pensar próprio e isso mantem-se: a priori, nunca fechamos a porta a nenhum artista.”

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