Sollicitare n.º 19

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Um deus passeando sobre a brisa da tarde

A teoria geral do esquecimento

de Mário de Carvalho

de José Eduardo Agualusa

“É do homem de sempre, colocado perante os paradoxos da História e da cidade, que eu quero falar” atalha Mário de Carvalho no prefácio que faz do seu livro, que “não é um romance histórico”. Não sendo um romance histórico, é uma reconstrução das características culturais, políticas e quotidianas do Império Romano que conta várias histórias: “a do homem que luta sozinho contra um mundo inteiro; a do homem com um cargo importante que se vê atraiçoado por todos e vê o poder fugirlhe por entre os dedos; a do homem em quem desperta uma paixão impossível à qual ele procura não ceder”. Esse homem é Lúcio Valério Quincío. Um homem justo, honrado, agnóstico e magistrado de Tarcisis, uma cidade romana da Lusitânia no século II d. C., que vive a angústia de ter de decidir e corresponder aos desígnios de Roma numa altura em que certos acontecimentos ameaçam a unidade e equilíbrio de todo o Império. Com um vocabulário elaborado e distintivo, mas com um encadeamento que permite uma leitura fluida, este romance é uma pérola da língua portuguesa.

A Teoria Geral do Esquecimento foi o primeiro livro que li do autor, depois de me apaixonar pela história d’ “O vendedor de passados” a que assisti na grande tela do Cinema São Jorge. Desde então, tenho “devorado” todos os “Agualusas” que encontro. Agualusa tem uma forma de narrar muito particular que seduz de imediato, conduzindo o leitor pelos meandros da história que quer contar a um ritmo original. Em “A Teoria Geral do Esquecimento”, a trama gira em torno de uma mulher portuguesa que foi morar para Luanda quando a irmã se casou com um angolano e que, com o desenrolar da revolução angolana pela independência, se vê sozinha em Angola. É aí que Ludo, aterrorizada com a evolução dos acontecimentos, constrói um muro na porta do seu apartamento para evitar invasões e assim se separa do restante edifício e do resto do mundo. Ao longo de trinta anos Luanda vai crescendo e mudando, já para Ludo os dias são iguais a todos os outros, até que…

A Rainha do Cine Roma

A terra dos homens

de Alejandro Reys

de Antoine de Saint-Exupéry

Sobre este livro não há melhor descrição que a do escritor angolano Pepetela: “Quem tiver peito fraco, é melhor não tocar neste livro. Porque ele é duro, cru, verdadeiro. No entanto, no fim, fica um fiozinho de açúcar, emoldurando uma réstia de esperança”. Maria Aparecida e Betinho são duas crianças de rua na cidade de Salvador da Bahia, no Brasil, que têm em comum um longo historial de abuso por parte dos pais. Um dia cruzam-se e tornam-se inseparáveis, fazendo do cine-teatro abandonado do bairro a sua casa e enfrentando juntos a dura realidade de viver nas profundezas do submundo urbano baiano. Socorrendo-se de um apuradíssimo instinto de sobrevivência, caminham constantemente no fio da navalha até que, um dia, Betinho, mais tarde Roberta, parte para o Rio de Janeiro, deixando Maria Aparecida desamparada e perdida nas entranhas e nos excessos das ruas de Salvador. Contada de forma corriqueira e sem maquilhagem, esta não é apenas uma história triste. É uma história de garra, de fé e de esperança. Esta é a história real de “duas crianças que um dia sonharam ser amadas”.

Caro leitor, prepara-se para descolar! Esta é uma viagem de avião do autor ao longo do globo, relatando os episódios da sua vida de aviador entre 1926 e 1935 e que vai até às profundezas da existência humana, das relações humanas e das reminiscências da vida. Nesta obra septuagenária, Antoine de Saint-Exupéry foca o poder transformador do trabalho e faz transbordar, numa narrativa poética repleta de imagens e sentimentos, a sua paixão pela aviação e as suas ideias sobre amizade, responsabilidade e amor pela vida. A partir de acontecimentos quotidianos ou heróicos, “o principezinho” faz despontar, admirando o planeta visto do céu, uma conceção global sobre a vocação do homem no mundo, a do “homem que se descobre quando se mede com o obstáculo”. : :

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