Edição 1649 de 2 a 8 de dezembro de 2015

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2 a 8 de dezembro de 2015

Edição 1649 –

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Um amigo divertido

C

élio Dimas Cordeiro da Silva: esse é o nome impresso na certidão. Nasceu em Governador Valadares, e por lá deve estar vivendo. Para sua mãe ele era Célio Dimas, e parecia sempre à beira de lhe passar um cerimonioso sabão: Para a turma na rua, no entanto, ele era Celim, um dos sujeitos mais divertidos que a vida já produziu. Ficamos amigos no início dos oitenta, jovens e ingênuos. Nosso encontro era religiosamente dominical e, como tal, era chamado de missa. – Te vejo na missa, domingo que vem. – Combinado, o outro respondia. O padre eu não sei quem era, mas os santos de nossa devoção eram São Rafael e São João da Barra, aquele “milagroso”. Eu era um dos viajantes na maionese de um certo Varal de Poesias, que acontecia todos os domingos na Feira Hippie. Celim, por sua vez, vendia umas ‘tabuínhas’ em que desenhava a pirógrafo, motivos infantis e nomes de crianças. Nós gritávamos “Óia o Varal”; ele respondia “Óia a ‘talbinha’”. Na saída, talbinhas (ou seria tabuínhas?) e varais saiam para beber cerveja. E ficava-se ali no Bar Pedrão, as pernas esticadas na calçada, comendo pipoca com queijo ralado, olhando as moças, as horas definhando na preguiça da tarde. A medida que o tempo passava, a cerveja minguava nos copos, e apenas a incerteza de melhores dias transbordava das conversações. Muito injusto, aquele Brasil.

E aquele moço tinha muito talento. Desenhava maravilhosamente bem. Era mestre da caricatura e do cartum, e criava personagens que dava pra montar uma Disneylândia só dele. Ficávamos espantados com a firmeza de seus traços, levando em conta que tremia muito, como se sofresse do Mal de Parkinson. Devia ser a cachaça. – Bom dia Mohamed Ali! E ele ria. Naquele tempo ainda não existia a palavra Bullying. Vim pros Estados Unidos e ele ficou lá no Vale do Rio Doce assinando uma charge no DRD, diagramando textos e propagandas numa agência de publicidade. Aos domingos, continuava vendendo ‘talbinhas’ na feira da Praça Serra Lima. Anos depois recebi uma carta dele aqui em New Jersey. Estava vivendo na Califórnia, trabalhando com chicanos numa fábrica de fios de cobre. Mandei uma resposta falando que queria fundar um jornal brasileiro. Dois meses depois ele aparecia por aqui, sócio da empresa, trazendo à tiracolo um esdrúxulo guarda-roupas, uma coleção de óculos de grau comprada num brechó e vinte e tantos bonés de beisebol. Com a turma da República do Babujo vivemos dias e noites inesquecíveis, numa época em que esbanjávamos saúde e nossos fígados ainda resistiam. Era o período do Scorpio’s, do grupo Brazilian Energy e dos shows de MPB na cidade. Fomos em todos eles: Gonzaguinha, Gilberto Gil, Alceu Valença, Sá & Guarabyra, Elba Ra-

malho, Fagner, Beto Guedes e Zé Ramalho. Celim, como sempre, protagonizou estórias engraçadíssimas, várias delas não publicáveis e hoje temas de retóricas sentimentais, toda vez que dois ou mais pensionistas do Babujo se encontram pela vida. Era hilário vê-lo “traduzindo os diálogos da televisão para brazucas recém-chegados. Ele, que não sabia nadíssima de inglês, sentia-se na obrigação de traduzir a língua para os neófitos. E a todos enganava com seu falso inglês. Recordo-me de que certa noite ele não estava conosco no bar. Havia ficado em casa dormindo. De vez em quando fazia isto. Duas da manhã resolvemos retornar e, quando entramos na cozinha, o encontramos com uma cara meio insone, de pijama e debruçado sobre um prato contendo uma gororoba estranha. Sabedores de sua total inabilidade para cozinhar, tratamos de desvendar o que ele comia com uma boca tão boa. Encontramos a resposta na lata de lixo. Celim tinha esquentatado a comida de Rocky, o pastor alemão que meu irmão Toninho criava no quintal. Fomos ao delírio. Para não perder o rebolado, Celim – que não perdia o amigo e nem a piada -, continuou jantando. Na sequência, passou a noite inteira bebendo cerveja sentado no parapeito da janela da casa. Entre um gole e outro de budweiser, latia e uivava para a lua. evocando o goleiro Rauuuuuuuuuuuuuulllllllll....


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