Jornal Briefing, 88

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opinião

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Uma superbrand é uma super-marca? De que falamos quando falamos de super-marcas? Nada contra as escolhas, contudo, porquê estas? Que lugar para a rádio mais ouvida ou a televisão que mais pessoas acompanham todos os dias? Ou para o jornal com maior audiência? E a reputação? Como se mede a reputação? Ou a qualidade?

Uma vez mais, os suspeitos do costume: RTP, Sapo, Diário de Notícias, RFM e TSF. Serão estas as nossas super-marcas de media? A Superbrands é uma organização independente que distingue as marcas de excelência em 89 países, num processo de escolha que resulta de um painel constituído por 15 especialistas em marketing e comunicação e de uma consulta ao consumidor. Estas marcas são referenciadas pela sua qualidade, por oferecerem um benefício claro e diferenciador para o público, pelo cumprimento da sua promessa, bem como pela fidelidade aos seus princípios, razão pela qual o público lhes reconhece uma determinada personalidade, ao mesmo tempo que garante uma certa notoriedade. O selo Superbrand garante a excelência da marca. A participação acontece apenas por convite, razão pela qual o estatuto é apreciado tanto pelas marcas como pelos consumidores. Contudo, uma vez que depende de escolhas, e estas envolvem pessoas com a sua natural subjectividade, de que falamos quando falamos de super-marcas? Nada contra as escolhas, contudo, porquê estas? Que lugar para a rádio mais ouvida ou a televisão que mais pessoas acompanham todos os dias? Ou para o jornal com maior audiência? E a reputação? Como se

“Do YouTube ao Spotify, passando pelos sites de redes sociais, com o Live do Facebook à cabeça, o reconhecimento vem da audiência e não dos seus pares no mercado, que observam o crescimento destas plataformas num misto de desafio, desconfiança e desdém, como se o mundo permanecesse fiel aos super-media cujo prefixo mass já nem faz sentido”

mede a reputação? Ou a qualidade? De acordo com a Superbrands, este convite é feito às marcas que mais se destacam num determinado sector. O prémio fortalece a marca, dá-lhe (ainda) mais prestígio e oferece a garantia aos diferentes públicos de

que se trata da melhor marca no seu sector. Escolhas. Escolhas. Escolhas. Não deveria ser o público a escolher, com um painel de especialistas a validar essas escolhas? Talvez. Escolhas. Se o público tem hoje ao seu dispor ferramentas que lhe permitem escolher, qual a razão pela qual lhe apresentamos uma selecção já refinada por um grupo de especialistas? Escolhas. Se há artistas em Portugal que ultrapassam o milhão de visualizações no YouTube sem nunca terem tocado na rádio, sem nunca terem sido referenciados nos jornais ou terem aparecido na televisão; se há artistas internacionais que se tornam virais e atingem os primeiros lugares do top de serviços de streaming, como por exemplo o Spotify, não estará na hora de inverter o processo? Ou estão as marcas ao serviço umas das outras e não tanto ao serviço do público a quem se dirigem? Escolhas. Não me preocupa esta questão porque para uma (quase) maioria do público de media, o conceito de superbrand não equivale ao de super-marca, mas a uma noção pessoal do que é super. O super é individual e individualizado. É conteúdo, quase independente da marca que o apresenta, da mesma forma que, para conteúdos de menor qualidade, é o suporte da marca – superbrand ou não

- 12 Briefing 2016 -

Paula Cordeiro Investigadora

– que dá alguma garantia ao público. Num contexto dominado por serviços online altamente individualizados e personalizáveis, nos quais os conteúdos surgem, vivem e crescem sem qualquer apoio dos meios de comunicação tradicionais, já não podemos olhar para estas plataformas como sistemas alternativos de distribuição e comunicação. Do YouTube ao Spotify, passando pelos sites de redes sociais, com o Live do Facebook à cabeça, o reconhecimento vem da audiência e não dos seus pares no mercado, que observam o crescimento destas plataformas num misto de desafio, desconfiança e desdém, como se o mundo permanecesse fiel aos super-media cujo prefixo mass já nem faz sentido.


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