Brasil de Fato RJ -299

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RIO DE JANEIRO Ano 7

edição 299

15 a 20 de fevereiro de 2019

distribuição gratuita

brasildefato.com.br

/brasildefatorj

@Brasil_de_Fato

RJ Mauro Pimentel/AFP

RELATÓRIO APONTA QUE INTERVENÇÃO MILITAR NÃO SURTIU EFEITO

Durante 320 dias o estado do Rio de Janeiro tornou-se um laboratório no setor de segurança pública. Porém, o resultado ficou aquém do esperado. Segundo o relatório final do Observatório da Intervenção a interferência dos militares e a injeção de R$ 1,2 bilhão de recursos federais não produziram mudanças significativas na segurança pública do estado. De acordo com o relatório, o número de mortes violentas teve uma redução apenas de 1,7% em relação a 2017.Saiba mais. GERAL, PÁG 5.

Reprodução

A REBELDIA DE CAETANO E DANIELA MERCURY Dupla lança música que exalta carnaval e contesta o crescimento do conservadorismo. CULTURA & LAZER, PÁG 10. Agência Brasil

APOSENTADORIA NO CHILE COBRE SÓ 30% DO SALÁRIO Modelo chileno é a grande inspiração do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PSL). MUNDO, PÁG 8.

AMBULANTES DORMEM NAS RUAS PARA ATENDER A DEMANDA DO CARNAVAL Estima-se que 6 milhões de pessoas irão desfilar pela cidade do Rio em 2019. GERAL, PÁG 6. Lucas Merçon / Fluminense F.C.

FLUMINENSE SUPERA O FLAMENGO COM GOL SALVADOR DE LUCIANO Em noite de homenagens, partida foi a primeira do rubro negro após incêndio no Ninho do Urubu. ESPORTES, PÁG 12.


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GERAL

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RIO DE JANEIRO, 15 A 20 DE FEVEREIRO DE 2019

Evaristo Sa/AFP

EDITORIAL

NÃO DEIXE BOLSONARO ACABAR COM SUA APOSENTADORIA O Brasil está se atolando em um profundo lamaçal de crimes ambientais sem punição, retirada de direitos, privatizações, corrupção e destruição das leis. Se isso continuar assim, se não nos movermos para evitar que ele se afunde, vamos ficar atolados por um longo período. Os crimes ambientais da mineradora Vale em Mariana (2015) e em Brumadinho são a prova de que as privatizações não são um bom negócio. Essas cenas atuais deixam muito claro que as empresas privadas querem apenas o lucro e não estão nem um pouco preocupadas com a qualidade dos serviços, com o meio ambiente e muito menos com a vida das pessoas.

Nossa luta é pela Previdência, por uma aposentadoria com dignidade Já sabemos que a Vale tem 56 barragens em potencial de alto risco. O Brasil inteiro corre esse risco. A mineração está destruindo nossa água e jogando parte dela fora com o uso dos minerodutos. E para piorar, essas empresas praticamente não

pagam impostos, sendo assim, elas levam nosso minério de graça. E a gente só fica com a destruição, com as crateras (cavas) e com os rejeitos que não passam de lixo tóxico.

LAMA PROFUNDA Mas não estamos falando apenas da lama física. Falamos também da lama profunda que o Brasil está se atolando desde golpe contra Dilma Rousseff (PT) e a entrada de Michel Temer (MDB), que iniciou uma série de ações contra o povo, como a reforma trabalhista. E esse cenário se agrava mais com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL). Em apenas um mês de governo, já anunciou diversas mudanças que vão prejudicar o povo brasileiro, como a proposta de reforma da Previdência, extinção de ministérios importantes, como o do Trabalho. Quer acabar com a Justiça do Trabalho, soterrando os direitos dos trabalhadores. Quer ainda mais privatizações de empresas importantes para a soberania brasileira. Precisamos nos organizar. Lutar pela re-estatização da Vale e contra as privatizações. Nossa luta é pela Previdência, por uma aposentadoria com dignidade. Se não nos unirmos, se a sociedade não se movimentar, protestar e cobrar o poder público, corremos o risco de viver um longo período de trevas.

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Que diferença faz quem é Chico Mendes”

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, sobre o ambientalista e seringueiro Chico Mendes, assassinado em 1988 por fazendeiros que se opunham à sua luta pela preservação da Amazônia.

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ACESSE: brasildefato.com.br/rio-de-janeiro/

CONSELHO EDITORIAL Alexania Rossato, Antonio Neiva (in memoriam), Carolina Dias, Igor Barcellos, Joaquín Piñero, Mario Augusto Jakobskind (in memoriam), Rodrigo Marcelino, Vito Giannotti (in memoriam) | EDIÇÃO Mariana Pitasse e Vivian Virissimo | ADMINISTRAÇÃO Angela Bernardino e Erivan Silva | DISTRIBUIÇÃO Carolina Dias | REDAÇÃO Clívia Mesquista, Denise Viola, Eduardo Miranda, Filipe Cabral, Flora Castro, Luiz Ferreira e Jaqueline Deister | DIAGRAMAÇÃO Aline Ranna e Juliana Braga.


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GERAL

RIO DE JANEIRO, 15 A 20 DE FEVEREIRO DE 2019

Mesmo com a maior bancada, partido não conseguiu formar chapa para concorrer à presidência da Casa parlamentar EDUARDO MIRANDA

RIO DE JANEIRO (RJ)

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aior partido da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), com 12 deputados, o PSL de Jair Bolsonaro não conseguiu formar chapa para concorrer à presidência da Casa legislativa e não vai ocupar nenhuma cadeira na Mesa Diretora - órgão composto por deputados e encarregado de dirigir os trabalhos legislativos e administrativos. A Alerj tem 70 deputados e, na última eleição, o MDB de Sérgio Cabral e Jorge Picciani, tradicionalmente com a maior bancada, perdeu lugares para o PSL. O MDB, que já teve 15 deputados, agora tem cinco. DEM e Psol também têm cinco parlamentares. PSD tem quatro. PT, SDD, PRB e PDT têm três deputados, cada um. Para o deputado estadual Waldeck Carneiro (PT), o PSL é o resultado de uma onda surgida com Bolsonaro e das filiações partidárias que queriam surfar e conquistar um mandato parlamentar. Segundo ele, isso faz com que o partido esteja desarticulado em todas as assembleias legislativas do Brasil e também no Congresso Nacional. “É natural que essas bancadas não sejam orgânicas e confluentes

PRESIDÊNCIA DA ALERJ

»A desarticulação do PSL levou o go-

vernador Wilson Witzel (PSC) a apoiar o candidato do PT à presidência da Alerj, deputado André Ceciliano. Witzel nega que tenha ajudado na vitória do parlamentar. Para a cientista política Clarisse Gurgel, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), o governador pegou carona na pauta de

Partido de Bolsonaro, PSL se desarticula na Assembleia legislativa do Rio Alerj/Divulgação

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FATOS DA SEMANA O Brasil dos latifundiários »Jair Bolsonaro já havia dado sinais de que não está

ao lado dos pequenos agricultores, que produzem alimentos saudáveis e abastecem o país, quando mudou o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para o Ministério da Agricultura e deixou o órgão nas mãos de ruralistas. Agora, o governo nomeou o general da reserva João Carlos Jesus Corrêa para presidir o Instituto. Explicando: “tirar o viés ideológico” do órgão significa manter as terras nas mãos dos poderosos.

Marighella vive! »O filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura,

foi duas vezes aplaudido na última quinta-feira (14), durante o Festival de Berlim. O longa-metragem de ficção conta a história do guerrilheiro e escritor baiano que foi considerado “inimigo número um” da ditadura civil-militar do Brasil. Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, poucos dias antes da estreia, Moura disse que “está preparado para a porrada”.

PSL também não vai ocupar nenhuma cadeira na Mesa Diretora

nas pautas e estratégias, porque são provenientes de uma certa artificialidade em função desse fenômeno eleitoral. Elas representam, ainda que de maneira desarticulada, um pensamento ultraconservador que teve êxito eleitoral em 2018 em uma eleição controvertida pelas razões que nós sabemos – prisão do Lula, fake news através de WhatsApp”. Militante dos direitos humanos e ex-assessora do deputado Marcelo Freixo (Psol) quando o parlamentar tinha a vereadora Marielle Franco (Psol) como coordenadora de ga-

binete, a deputada estadual eleita Renata Souza (Psol) deve assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos. Ela comentou a fragmentação do PSL na Alerj. “Não há a preocupação com a construção e a coerência partidária. Só há disputa entre seus súditos pela preferência do ‘Rei Bolsonaro’ e dos príncipes herdeiros, com demonstrações públicas de lealdade. Mas não estamos em uma monarquia e na Alerj esses interesses individuais fragilizam a lealdade ao rei”, avalia a parlamentar.

militarização para se eleger, mas agora tenta criar uma base de apoio. “Efetivamente, quem está começando a exercer um poder lá dentro é Witzel que, a despeito de não ter sido apoiado diretamente por Jair Bolsonaro, colou sua candidatura à de Flávio Bolsonaro. Com isso, não só foi eleito subitamente, mas demonstrou laços com as forças militares”.

Deputados da frente progressista na Alerj, Waldeck e Renata concordam que, independentemente da falta de sintonia dos deputados do PSL, seus partidos trabalham para impedir a aprovação das pautas ultraconservadoras. Por isso, para eles, é necessário a união dos partidos de esquerda para barrar retrocessos.

O laranjal do PSL »O termo “laranja”, para pessoas que usam seus

nomes e escondem fraudes financeiras e corrupção de uma outra pessoa, nunca esteve tão na moda. Depois do motorista Fabrício Queiroz, agora é a vez do próprio PSL. Segundo a Folha de S.Paulo, Gustavo Bebbiano, que é presidente do partido e ministro de Jair Bolsonaro, usou o nome de uma candidata em Pernambuco para liberar R$ 400 mil de fundo partidário, que é dinheiro público. A candidata a deputada federal recebeu apenas 274 votos. Segundo o deputado Paulo Teixeira (PT), Bebbiano disse a jornalistas: “Eu posso cair. Caso isso aconteça, Bolsonaro cai junto”. AFP

Gustavo Bebbiano e Jair Bolsonaro


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Defensoria Pública do Rio ouve moradores da Favela do Fallet sobre violência policial

Deputado quer homenagear policiais por operação que deixou 15 mortos na última semana

Vizinhos e familiares dos 15 mortos na última operação relataram execuções e tortura

»»O deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL)

Agência Brasil

CLÍVIA MESQUITA

RIO DE JANEIRO (RJ)

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esta semana, uma atividade na Favela do Fallet ouviu os moradores sobre a ação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque (BPChq) que deixou 15 mortos na última sexta (8) em Santa Teresa e no Catumbi, região central do Rio de Janeiro. Uma equipe de defensores públicos do estado e da União prestou assistência aos familiares das vítimas que denunciam execução e torturas. As mortes são alvo de três investigações paralelas, da Divisão de Homicídios da Polícia Civil, que apreendeu as armas dos policiais envolvidos, do Ministério Público, e de um inquérito aberto pela Polícia Militar. “O depoimento dos moradores é muito contundente nesse sentido de mutilações no corpo, facadas, abdômen aberto, traumatismo craniano. Então tem cenários na descrição dos moradores que são muito dramáticos”, disse Pedro Strozenberg, ouvidor-geral da Defensoria Pública do RJ. “O que cabe a nós é acompanhar e as instituições responsáveis apresentarem esses laudos de forma transparente para toda sociedade”, acrescenta. Segundo relatam moradores, 20 pessoas suspeitas de terem envolvimento com o tráfico de drogas fugiram da operação para dentro de um imóvel no Fallet e pretendiam se entregar. Neste local, onde a polícia alega

Ação policial deixou 15 mortos em Santa Teresa e no Catumbi

Segundo relato de moradores, as vítimas pretendiam se entregar que houve confronto, nove pessoas morreram encurraladas. “Entre os feridos, 13 vieram a óbito e dois estão internados. Durante a operação os policiais apreenderam quatro fuzis, 14 pistolas, seis granadas, três radiocomunicadores, além de carregadores e drogas”, informou a PM em nota. Questionada sobre as mortes dentro do imóvel, a corporação se limitou a dizer que instaurou inquérito e disponibiliza canais de comunicação para eventuais denúncias. TESTEMUNHAS Em outras duas casas no mesmo terreno, vizinhos apontam quatro vítimas, além de uma morte na comunidade do Fogueteiro. Dois corpos encontrados na mata do Morro dos Pra-

zeres no sábado (9) aumentam para 15 o número de mortes. No atestado de óbito de um deles, Mateus de Lima, de 22 anos, consta como causa da morte “lesão do polivisceral, ferimento transfixiante do tórax” com “ação perfuro contundente”. A denúncia de tortura bate com a de outras mães. “Ainda por cima quebraram membros, o pescoço dele, crânio fraturado. Como teve troca de tiros do jeito que meu filho tá?”, disse outra que foi ao MPRJ. O corpo de Mateus foi encontrado por parentes enterrado na mata em Santa Teresa. “Se a gente for falar alguma coisa apanha na cara porque nós não prestamos. Esses meninos estão hoje sepultados, mas todos tinham direito à vida e direito de defesa. Eles vêm na comunidade para nos condenar”, disse uma moradora consternada. “A gente até pode ter filho na vida do crime, mas nossos filhos têm direito. Leva preso, mas não faz uma injustiça dessa”.

propôs uma homenagem na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) aos policiais do Batalhão de Choque pela operação nas favelas do Fallet-Fogueteiro, Coroa e Prazeres. A moção de congratulação e aplausos diz que a atuação da Polícia Militar na última sexta-feira (8) foi “irrepreensível e impecável”. Na quarta-feira (13), sete organizações e movimentos sociais protocolaram uma denúncia no Ministério Público Estadual sobre a solicitação do deputado. “A moção visa legitimar e potencializar a política genocida e seletiva em curso no estado do Rio de Janeiro, afirmando que existem pessoas que podem ser mortas e executadas pelo Estado, o que viola nossa constituição federal, que não prevê pena de morte”, assinam o texto o Fórum Grito da Baixada, Rede de Movimentos contra a Violência, Frente Estadual pelo Desencarceramento, Maré 0800, Movimento Candelária Nunca Mais, Eu Sou Eu e Campanha Caveirão Não – Favelas pela Vida e contra as Operações. Durante campanha eleitoral, em outubro do ano passado, Amorim rasgou a placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco. O parlamentar estava em companhia do deputado federal Daniel Silveira (PSL) e o governador do Rio Wilson Witzel (PSC). A atitude gerou grande repercussão e em poucas horas uma vaquinha foi criada na internet pelo site Sensacionalista para a confecção de novas placas de homenagem à vereadora assassinada há 11 meses. Reprodução

Deputados Rodrigo Amorim e Daniel Silveira


RIO DE JANEIRO, 15 A 20 DE FEVEREIRO DE 2019

INTERVENÇÃO MILITAR: INVESTIMENTO DE R$ 1,2 BI NÃO SURTIU EFEITO, APONTA RELATÓRIO Documento produzido pelo Observatório da Intervenção foi lançado nesta quinta-feira (14) JAQUELINE DEISTER

RIO DE JANEIRO (RJ)

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urante 320 dias o estado do Rio de Janeiro tornou-se um laboratório no setor de segurança pública. A intervenção militar trouxe muitas promessas para a população que anseia pela redução das taxas de criminalidade. Contudo, o resultado ficou aquém do esperado, segundo o relatório final do Observatório da Intervenção lançado nesta quinta-feira (14). A iniciativa é do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), formado por uma rede de 20 instituições apoiadoras, públicas e privadas. O documento aponta que a interferência dos militares e a injeção de R$ 1,2 bilhão de recursos federais não produziram mudanças significativas na segurança pública do estado. De acordo com o relatório, o número de mortes violentas teve uma redução apenas de 1,7% em relação a 2017. Entre fevereiro e dezembro de 2018 ocorreram 6.041 mortes violentas, ou

seja, homicídios dolosos (quando há a intenção de matar), latrocínios (roubos seguidos de morte), mortes por intervenção de agentes do estado e lesão corporal seguida de morte. Para o coordenador de pesquisa do Observatório da Intervenção, Pablo Nunes, a ação implementada pelos militares nas forças de segurança no estado do Rio de Janeiro é um exemplo de uma política que não deve ser seguida no território nacional. “O que a intervenção fez e nós chamamos atenção em nosso relatório é apostar em algo que não deu certo no Rio de Janeiro, essa lógica de enfrentar os problemas de segurança pública com operações ostensivas, violência, armamento, tanques de guerra, homens das Forças Armadas, já não deu certo em várias outras oportunidade no Rio de Janeiro”, explica Nunes. O documento, que será distribuído para parlamentares e autoridades, pretende se tornar um documento que traz um “raio-x” dos 10 meses de intervenção no Rio e também um direcionamento para a política pública da área de segurança.

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GERAL

Carl de Souza / AFP

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CASO MARIELLE

»»O baixo índice de resolução dos crimes de ho-

micídio, em torno de 10% no estado do Rio de Janeiro, permanece sendo o “calcanhar de aquiles” das forças de segurança. A deficiência no setor de investigação ganhou repercussão internacional a partir do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes que completa 11 meses sem respostas nesta quinta-feira (14). “Tivemos informações relacionadas a perícia, os corpos não passaram pelo raio-x porque o IML [Instituto Médico Legal] talvez não teria um aparelho em funcionamento naquele momento, o carro de Marielle, que o Anderson dirigia naquela noite, ficou ao relento no pátio da Polícia Civil exposto ao clima. Diversas irregularidades que ocorreram durante a investigação permanecem sem respostas”, destaca Nunes. O Brasil de Fato contatou a Polícia Civil para obter informações sobre a elucidação do crime, a assessoria de imprensa da instituição informou que a investigação está sob sigilo e nenhum dado seria divulgado para a imprensa.

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O relatório chama a VOCÊ SABIA atenção também para os gastos na intervenção. Ao todo, R$ 1,2 bilhão foram destinados a ação, porém, segundo o coordenador de pesquisa do Observatório da Intervenção menos de 11% deste recurso já se reverteu em serviços ou materiais para as policias do Rio de Janeiro e outros órgãos de segurança pública.


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GERAL

JAQUELINE DEISTER

RIO DE JANEIRO (RJ)

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o Rio de Janeiro, os blocos já estão ocupando as ruas da cidade desde o mês de janeiro. Enquanto muitos aproveitam para se divertir, uma grande maioria encontra no Carnaval a possibilidade de aumentar a renda da família. Os vendedores ambulantes são aqueles que abastecem os foliões durante o Carnaval de rua. Um bloco sem os trabalhadores informais significa que não tem água, cerveja e comida. Imaginar isso diante de um calor de 40°C e 24 horas de folia é impossível. Contudo, manter a festa de rua bem servida não é fácil. José Cruz é um dos ambulantes que mantém a rotina intensa de trabalho durante o período do Carnaval. Há 45 anos José atua pelas ruas como ambulante, principalmente com a venda de bebidas, balas e doces. Durante os dias de folia, o ambulante, que mora a cerca de 40 km do Centro do Rio, no bairro de Senador Camará, na zona Oeste, opta por não voltar para casa e dorme pelas ruas da cidade. “A gente vem de longe e não tem condição de sair e voltar para os eventos porque dorme pouco, se cansa. Há quatro anos eu estava tão cansado, parei o triciclo embaixo de uma barraca, peguei uma tábua que era usada como tabuleiro, coloquei no chão e deitei. Para muita gente, camelô ganha fácil e não é assim”, conta José de 53 anos.

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Ambulantes dormem nas ruas para atender a demanda do Carnaval Estima-se que mais de 500 blocos e cerca de 6 milhões de pessoas irão desfilar pela cidade do Rio de Janeiro em 2019 Agência Brasil

A dificuldade para conseguir trabalho com carteira assinada faz com que muitas pessoas migrem para o mercado informal

A CRISE E O AUMENTO DO TRABALHO INFORMAL »A situação vivida por José Cruz é comum para muitos trabalhadores que atuam nas ruas cariocas durante o Carnaval. A crise econômica que ainda afeta o estado do Rio de Janeiro deixou um rastro de desemprego. A dificuldade para se reinserir no trabalho com carteira assinada fez com que muitas pessoas optassem pelo mercado informal. De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada no fim de janeiro, o número de trabalhadores sem carteira assinada no país cresceu 3,8% (mais 427 mil pessoas) no quarto trimestre de 2018, frente ao ano anterior. O estudo revelou ainda que ao final de 2018, o Brasil tinha 33 milhões de pessoas trabalhando com carteira assinada (sem considerar empregados domésticos). Outras 11,5 milhões estavam atuando sem carteira, e outras 23,8 milhões, por conta própria. No Carnaval, o número de ambulantes nas ruas aumenta. Pessoas que já trabalham há mais tempo na atividade e novatos veem a possibilidade de aumentar o rendimento no período da folia. José sustenta a enteada e o neto com o dinheiro das vendas de alimentos e bebidas, a expectativa para março é que o seu rendimento mensal seja dobrado.

LICENÇA PARA TRABALHAR »Além das dificuldades como fadiga e falta de estrutura para o trabalho, os ambulantes de deparam com outro problema que passa ano e entra ano permanece sem solução: a hostilidade dos agentes públicos com os trabalhadores informais que não possuem licença. “A gente sente que quando a prefeitura vem, ela tem o intuito de fazer uma perseguição aos trabalhadores. Você precisa ter um projeto de organização dos camelôs na rua porque a gente não vem para a rua à toa e sim porque precisamos. Por trás de cada tabuleiro vai ter um trabalhador”, ressalta Maria de Lurdes, coordenadora do Movimento Unido dos Camelôs (MUCA). A coordenadora do MUCA afirma também que o sistema de cadastro oferecido pela prefeitura não resolve o problema dos ambulantes, pois limita o trabalho. Além disso, os kits entregues aos camelôs para a venda de bebidas não atendem à demanda do Carnaval. Segundo Lurdes, o isopor, por exemplo, é pequeno demais. Mais de 500 blocos irão desfilar pela cidade do Rio. A prefeitura credenciou 10 mil ambulantes para atuar no período de folia que no último ano colocou 6 milhões de pessoas nas ruas. O Brasil de Fato entrou em contato com a prefeitura para obter respostas sobre o sistema de cadastro dos ambulantes durante o Carnaval e os questionamentos acerca dos kits fornecidos. Sobre o cadastramento apenas informaram que é feito pela Ambev.


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Daniel Ramalho / AFP

ONZE MESES SEM MARIELLE:

Interferência na investigação preocupa Anistia Internacional

“O que já foi divulgado sobre o caso levanta sérias questões sobre possíveis ilegalidades”, afirma diretora da ONG REDAÇÃO

SÃO PAULO (SP)

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m 14 de março de 2018, a vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes, seu motorista, foram brutalmente assassinados. Onze meses depois, não se sabe quem matou e quem mandou matá-los, assim como a motivação para o assassinato – por mais que seja evidente a força e a importância da atuação política de Marielle no Rio de Janeiro. Para marcar a data e seguir pressionando pela resolução do crime, a Anistia Internacional lançou na última quarta-feira (13) o documento “O labirinto do caso Marielle Franco”, que aponta incoerências e o que se sabe sobre o tema. “O que já foi divulgado publicamente sobre o caso levanta questões sérias sobre possíveis ilegaliDouglas Magno / AFP

dades dentro de instituições de segurança no país, já que munições e armas de propriedade do Estado teriam sido desviadas. É de extrema preocupação que um lote de munição da Polícia Federal tenha sido desviado, usado em homicídios, e que depois de tanto tempo as autoridades não tenham dado uma explicação satisfatória”, afirma Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional. INVESTIGAÇÕES O relatório elenca ainda alguns dos pontos mais preocupantes sobre o caso, elaborados a partir de informações divulgadas pelas autoridades e imprensa. Entre eles, estão “a falta de respostas sobre o desligamento das câmeras de segurança do local do crime, dias antes do assassinato, o desaparecimento de submetralhadoras do arsenal da Polícia Ci-

vil do Rio de Janeiro e negligências no armazenamento do carro.” “Em novembro do ano passado, o então ministro de Segurança Pública anunciou que a Polícia Federal iria investigar o assassinato de Marielle Franco diante de denúncias de que haveria um grupo organizado com participação de agentes do Estado agindo para interferir negativamente no andamento das investigações. Precisamos que as novas autoridades federais deem uma resposta”, solicita Werneck. As últimas notícias sobre o caso

apontam a forte suspeita de haver participação do grupo miliciano Escritório do Crime, de Rio das Pedras, zona Oeste do Rio, no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, segundo informações do jornal O Globo. Até novembro do ano passado, o senador e ex-deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) empregava em seu gabinete a esposa e a mãe do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como o comandante do Escritório do Crime.

Parlamentares protocolam pedido de criação de CPMI sobre Brumadinho (MG) CRISTIANE SAMPAIO

BRASÍLIA (DF)

»»Na

Escritório da Vale em Brumadinho (MG) é tomado pela lama

Onze meses depois, não se sabe quem matou e quem mandou matar Marielle e Anderson

última quarta-feira (13), deputados e senadores protocolaram um pedido de criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar o caso do rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho (MG), no dia 25 de janeiro. A articulação partiu de parlamentares da bancada de Minas Gerais. O grupo reuniu 240 assinaturas de deputados e sena-

dores, abarcando as diferentes forças políticas do Congresso Nacional, como PT, PSOL, PSB, PDT, Rede, PSL, PV, MDB, PSDB, Solidariedade, Podemos, entre outras. A criação da CPMI é uma demanda colocada também pela sociedade civil organizada, que participou da comissão geral. É o caso do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). O militante Thiago Alves, da coordenação nacional da organização, disse que a expectativa popular em torno do colegiado é não só de investigação do rompimen-

to da barragem em Brumadinho, mas também de atendimento às diferentes demandas já apresentadas pela população que ainda não foram parcial ou integralmente atendidas pela Vale. Entre elas, ele cita a garantia do abastecimento de água na região atingida; o manejo dos rejeitos não só em terra, mas também nas águas alcançadas pela lama; a remoção das famílias de regiões atingidas que queiram sair do local; e o fornecimento de uma alimentação de qualidade para a população da região.


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CULTURA & LAZER

BAFAFÁ

Sucos, pães e frutas no café da manhã diário Essa refeição é tão importante que também está atrelada a grande parte das dietas; estudiosos da nutrição apontam que tomar café da manhã é um dos primeiros passos para reduzir o peso, justamente por diminuir a ingestão de comida durante o almoço e o jantar. Sendo assim, sua exclusão da dieta diária não é vista como saudável. Também é importante escolher alimentos saudáveis, naturais e ricos em nutrientes. Ovos, frutas, café, iogurtes, aveia, tapiocas e pães são algumas das comidas mais comuns e nutritivas para começar o dia.

ANÚNCIO

FELIPE MARCELINO

Daniela e Caetano lançam música-manifesto para o Carnaval

PULAR O CAFÉ DA MANHÃ NÃO É UMA BOA Reprodução

Divulgação

ALIMENTO É SAÚDE

Muita gente não dá a devida importância ao café da manhã. Sono, atrasos e mesmo a falta de fome são alguns dos fatores que levam as pessoas a pular o primeiro momento de alimentação do dia. No entanto, o café da manhã é considerado a principal refeição do dia porque regula o corpo para garantir mais disposição, apetite e saúde. No entanto, o café da manhã é considerado a principal refeição do dia, porque regula o corpo para garantir mais disposição, apetite e saúde. Justamente por isso, também é chamado de desjejum: por quebrar o tempo que o corpo humano fica sem ingerir alimentos enquanto dorme, durante a noite.

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RIO DE JANEIRO, 15 A 20 DE FEVEREIRO DE 2019

Caetano e Daniela: vestidos de rebeldia e provocando a fantasia

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Carnaval está chegando e com ele os lançamentos de músicas para agitar os foliões nas ruas e avenidas do país. E uma das que prometem levantar a galera é a parceria entre Daniela Mercury e Caetano Veloso, em “Proibido o carnaval”. O clipe mostra os dois cantores bem à vontade, ao ritmo quente da música, num cenário bem colorido, com bailarinos que vez ou outra trocam beijos (héteros e homos) entre si.

Música pode ser considerada um manifesto contra aquilo que podemos chamar de “caretice” A música pode ser considerada um manifesto contra aquilo que podemos chamar de “caretice” ou “onda conservadora” que atinge o Brasil nos últimos tempos. Por exemplo, fica bem clara a referência à fala da ministra dos Direitos Humanos Damares Alves, de que meninos devem vestir azul e meninas rosa; a imposição de padrões de comportamento e sexualidade e a “certas proibições”. No final do vídeo, Daniela dedica o clipe ao ex-deputado federal Jean Wyllys (Psol), exilado na Europa após receber ameaças por sua

militância em prol dos direitos humanos e da população LGBT. Daniela Mercury, autora da música, confirma mais uma vez a sua “militância musical”. Há tempos ela vem se posicionando claramente contra o conservadorismo na sociedade brasileira. Ano passado, por exemplo, a considerada Rainha do Axé esteve à frente de trios elétricos em manifestações da campanha do #Elenão, que levou milhares de mulheres às ruas contra o então candidato Jair Bolsonaro (PSL). Sobre a parceria com Caetano, a cantora disse que ao finalizar a letra da música lembrou-se do cantor, que logo topou a parceria. Ao postar o clipe nas redes sociais, ela o agradeceu: “Obrigada por deixar eu abusar de você nesse clipe”. É fascinante ver a atuação de Caetano que traz à memória seus tempos de Tropicália, com cores e ritmos vibrantes e visual bem à vontade. Que a mensagem de “Proibido o carnaval” invada nossas ruas nessa grande folia que toma conta do nosso Brasil, trazendo alegria, boas energias e muita disposição para a luta contra toda intolerância e ódio. Estejamos, como diz a música, vestidos de rebeldia, provocando a fantasia. Que venha o carnaval!!!


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o Programa

CULTURA & LAZER

RIO DE JANEIRO, 15 A 20 DE FEVEREIRO DE 2019

ENTREVISTA

REDAÇÃO

RIO DE JANEIRO (RJ)

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o ano de 2001, como parte do processo de desconstrução do modelo do Instituto Municipal Nise da Silveira, o bloco carnavalesco Loucura Suburbana rompeu os muros do hospício e resgatou o Carnaval de rua no bairro do Engenho de Dentro, na zona Norte do Rio. Desde então o bloco tem reunido pacientes, familiares e funcionários da rede de saúde mental, além de moradores do bairro e adjacências. A iniciativa já recebeu diversos prêmios e hoje conta também com um ponto de cultura. Num cenário de retrocessos, em que o Ministério da Saúde demonstra interesse em retornar com os manicômios, eletrochoques e internação de crianças, o Programa Brasil de Fato conversou com Ariadne de Moura Mendes, psicóloga e coordenadora do bloco carnavalesco e do ponto de cultura Loucura Suburbana.

Brasil de Fato: Como nasceu o Loucura Suburbana? Ariadne Mendes: Inicialmente não pensamos em fazer um bloco, os pacientes queriam fazer uma festa interna, mas a ideia já era integrar com a sociedade, de quebra do muro do hospício. Vários setores do hospital aderiram à ideia do carnaval e criamos o bloco Loucura Suburbana em dois meses. E foi já um sucesso surpreendente para a gente, com a adesão inclusive dos moradores, não só do bairro, mas de visitantes também.

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ARIADNE MENDES

“Cultura e arte são os melhores remédios” Ariadne Mendes, do bloco Loucura Suburbana, alerta para os retrocessos na saúde mental

Fernando Frazão / Agência Brasil

Nós temos um lema: 'manicômio nunca mais' Aliás, o nome do bloco é maravilhoso e o nome da bateria também. Essa bateria já foi criada exatamente depois que a gente teve a chancela de ponto de cultura. Em 2010, com a profissionalização, passamos a contratar oficineiros e ter aula de percussão, aula de composição musical e foram os clientes (uma forma de chamar os pacientes da rede de saúde mental) que deram esse nome, de “Insandecida”. Antes a gente convidava baterias de escolas de samba porque a gente não tinha. Essa política maravilhosa dos pontos de cultura do Ministério da Cultura, que infelizmente não existe mais, do programa Cultura Viva de então, possibilitou que instituíssemos atividades não só para o desfile, mas também para o dia a dia, que também é fundamental para os pacientes de uma instituição. E não é só o sucesso do bloco no carnaval e das oficinas de percussão. Vocês receberam vários prêmios ao longo do trabalho. É verdade. Esse dia a dia dos usuários, isso que é o mais

Bloco Loucura Suburbana tem 18 anos e já se tornou uma tradição no Engenho de Dentro

importante. Está provado que a cultura e a arte são os melhores remédios que temos, não descartando a necessidade de alguma medicação, de atendimento específicos terapêuticos, mas a cultura e a arte oferecem a possibilidade de criação, de extravasamento, de expressão. São 18 anos de um trabalho muito bacana com o Loucura Suburbana, mas infelizmente parece que hoje estamos dando alguns passos para trás. Temos um tsunami de retrocessos. A reforma psiquiátrica brasileira é admirada no mundo inteiro. E hoje temos uma nova medida do Ministério da Saúde, praticamente o retorno dos manicômios. Nós temos um lema: “manicômio nunca mais”. E é um

retrocesso total inclusive da proposta do eletrochoque, da eletroconvulsoterapia, abolida por nós, ninguém mais usa isso e não precisa. A gente usa o afeto, o acolhimento e o dia a dia partilhado. Absolutamente não precisamos de métodos tradicionais que só levavam à exclusão. E isso que está sendo proposto de novo. É assustador.

BLOCO CARNAVALESCO LOUCURA SUBURBANA

Quando? Quinta-feira (28/2), concentração às 16h, saída às 17h. Onde? Instituto Municipal Nise da Silveira. Rua Ramiro Magalhães, 521 Engenho de Dentro


10 MUNDO

Por que os chilenos lutam contra o modelo de previdência que Bolsonaro quer copiar Organização NO/AFP

Implementado na década de 1980, sistema de capitalização entrega aposentadorias menores que salário mínimo no Chile

H

Os fundos são administrados pelas AFPs [Administradoras de Fundos de Pensão] e investidos em aplicações financeiras. As primeiras gerações chilenas a se aposentar pelo sistema se depararam com o valor de aposentadoria abaixo do salário mínimo. No Chile, apesar de o modelo ter sido implementado pelos militares,

ARGENTINA

»Movimentos sociais foram às ruas de toda a Argentina na última quarta-feira (13) para denunciar o aumento da pobreza no país. Com o lema “Terra, teto e trabalho, contra a fome e os tarifaços”, os manifestantes denunciam que a atual crise econômica na Argentina é uma consequência das políticas que o governo de Maurício Macri tem aplicado nos últimos quatro anos.

RUTE PINA

Aposentados chilenos recebem apenas 30% do salário

Juan Mabromata / AFP

Protestos contra governo de Maurício Macri

SÃO PAULO (SP)

á três anos, o Chile vive um ciclo contínuo de manifestações que coloca milhões de pessoas nas ruas em torno de um tema: o modelo da previdência vigente no país. Quase 40 anos depois de implementada, a previdência chilena enfrenta uma crise profunda. Esse modelo inspira o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL) a propor um sistema semelhante no Brasil. Na década de 1980, período em que o país era conhecido como "laboratório neoliberal" por conta de uma série de políticas privatizantes em áreas como saúde e educação, o Chile instaurou um modelo de previdência baseado em contas individuais, com contribuição obrigatória. A mudança, nunca implementada em nenhum outro lugar do mundo, foi feita por meio de um decreto de lei imposto pelo ditador Augusto Pinochet em 1981.

RJ

RIO DE JANEIRO, 15 A 20 DE FEVEREIRO DE 2019

Presidência da Venezuela

Desde 2015, chilenos tomam as ruas contra modelo privado de aposentadoria

as forças armadas não têm o mesmo sistema de aposentadoria porque se opuseram às contas individuais. EFEITOS RUINS Nos modelos solidários de repartição, como o brasileiro, os trabalhadores que estão no mercado de trabalho financiam, com aporte dos empregadores e do Estado, quem está se aposentando. No sistema de capitalização, lançado pelo Chile, cada pessoa é responsável por sua aposentadoria por meio de uma conta individual. Para o advogado da Defensoria Popular dos Trabalhadores, Javier Piñeda, o modelo privatizado representa um risco para os trabalhadores. “Esta lógica de capitalização individual significa que cada pessoa tem que se salvar sozinha. E com as altas taxas de desemprego e de informalidade, isso

significa que as pessoas estão condenadas a receber uma aposentadoria de miséria”, argumenta. A promessa da ditadura de Pinochet era que os aposentados receberiam um valor que poderia chegar a 80% do seu último salário antes de se aposentar. Mas o que acontece hoje é que os chilenos recebem apenas 30% disso, explica o advogado. Olhando para as discussões no país vizinho, que quer copiar o modelo tão questionado em seu país, o advogado chileno aconselha os brasileiros: “Nesse contexto de privatizações, vocês têm que se opor de maneira contundente porque, uma vez implementado esse sistema, vai ser difícil voltar atrás. Não só pelo governo, mas pelas empresas do grande capital nacional e internacional que serão beneficiados com esses recursos.”

VENEZUELA

"Seria um Vietnã se os EUA nos atacassem”

»Em entrevista exclusiva para o jornal mexicano La Jornada, o presidente da Venezuela Nicolás Maduro negou que a Venezuela seja uma ditadura, com violação dos direitos humanos e crise humanitária. Maduro acredita que caso os Estados Unidos aposte por intervir militarmente em seu país, um novo Vietnã será criado na América Latina. Ele assegura que a Venezuela está moralmente pronta para responder aos ataques, que seu Exército está unido e aliado ao povo.


RJ

ESPORTES

RIO DE JANEIRO, 15 A 20 DE FEVEREIRO DE 2019

Carl de Souza/AFP

Se você é multado 30 vezes, não pode empurrar com a barriga' Zico, maior ídolo rubronegro, comentou a tragédia do Ninho do Urubu: 'Alguma coisa tem que ser feita'.

SURFE Filme vai contar vida de Gabriel Medina

Mark Ralston/AFP

»O bicampeão mundial de surfe, Gabriel Medina, terá sua trajetória de vida contada em um documentário. O filme está sendo produzido pela equipe que acompanha o atleta brasileiro e vai mostrar momentos que marcaram a carreira de Medina desde 2013. Com lançamento para 2020, o longa metragem vai coletar depoimentos de familiares, amigos e de nomes do surfe brasileiro e mundial. ANÚNCIO

ANÁLISE

LUIZ FERREIRA

SOBRE INCÊNDIOS E SONHOS DESTRUÍDOS » Ainda é muito difícil encontrar

palavras para descrever os acontecimentos da última sexta-feira (8). Talvez por se tratarem de dez jovens que tiveram seus sonhos queimados por uma fatalidade sem precedentes. Ou talvez por conta da negligência que causou essa fatalidade. De qualquer maneira, o incêndio nos alojamentos do Ninho do Urubu mexe com o coração de qualquer um. Até de que não gosta de esportes. Famílias choram. Amigos lamentam. Autoridades procuram culpados. O Flamengo (dono do CT) se defende. E a imprensa investiga. Mas nada disso vai apagar o que aconteceu no dia 8 de fevereiro de 2019. E é exatamente por isso que precisamos refletir. Por mais que machuque, por mais que incomode, por mais que revolte. Muito difícil não se enxergar em cada um daqueles jovens. Ou nos pais e amigos deles. Poderia ser um de nós. Ou um de nossos filhos. Ou um de nossos amigos. Sonhos que foram destruídos pelo fogo da negligência e pela cultura do “jeitinho”.

Quem acompanha o esporte há algum tempo deve saber que empatia nunca foi o forte dos nossos dirigentes. Ao mesmo tempo, prevenção também nunca foi o objetivo principal de certas pessoas que estão no poder público. Falta empatia para enxergar em cada um daqueles jovens alguém que poderia ser ligado a nós. Fazer aos outros aquilo que gostaríamos que fizessem conosco. Ou com um daqueles que amamos. Esse é o princípio que deveria nortear toda a sociedade. Mas estamos tomados pela cultura do “jeitinho”. Nos orgulhamos das nossas gambiarras e dos nossos “esquemas”. Se puder tirar uma grana daqui ou dali a gente tira. E não tem poder público que nos impeça. Por mais que as leis estejam ali. Será muito complicado falar de esportes por um bom tempo. A lembrança vai continuar viva em cada toque na bola, em cada gol marcado e em cada jovem que entrar em qualquer categoria de base de qualquer clube do país. Mais empatia e menos gambiarras. Pelo amor de Deus.

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12 ESPORTES

E

PAPO ESPORTIVO

ssa quinta-feira (14) foi marcada por homenagens, solidariedade e reflexões. Afinal, era a primeira partida do Flamengo após o incêndio no Ninho do Urubu. As manifestações de carinho nas arquibancadas e no gramado tomaram conta das redes sociais e, sem dúvida, chegaram aos corações de todos aqueles que foram atingidos pela tragédia da última sexta-feira (8). Mas a bola tinha que rolar no Maracanã. E ela rolou com vontade, com as equipes de Flamengo e Fluminense na briga por uma vaga na final da Taça Guanabara para enfrentar o Vasco na decisão desse domingo (17). Boa parte da imprensa esportiva apontava o time comandado por Abel Braga como o favorito no confronto. Mas a equipe comandada por Fernando Diniz soube como se comportar na partida. O Fluzão controlou as ações na partida, teve mais posse de bola e só se complicou nos contra-ataques e nas bolas levantadas na área. Mesmo assim, seguia sendo superior.

LUIZ FERREIRA

ESSE FLUMINENSE DE FERNANDO DINIZ AINDA VAI LONGE

Lucas Merçon / Fluminense FC

Fluminense enfrentará o Vasco no domingo (17)

Alexandre Vidal / Flamengo

Só faltava o gol. Aquele bendito gol que daria a vaga na final da Taça Guanabara. O empate dava vantagem ao Flamengo e o time parecia bem satisfeito com o resultado apesar de levar perigo em alguns lances. Abel sacou Éverton Ribeiro, Diego e Bruno Henrique (que sentiu a coxa) para as entradas de Arrascaeta, Vitinho e Uribe. A ideia de Abelão era cozinhar ainda mais o jogo e garantir a vaga num con-

E O ADVERSÁRIO NA FINAL SERÁ O VASCO

»Preciso mesmo dizer que teremos um grande jogo nesse final de semana? Se o Fluminense vem surpreendendo muita gente, o mesmo deve ser dito pelo Vasco. Tirando o susto contra a Juazeirense, os comandados de Alberto Valentim jogam um futebol bastante consistente. Essa final promete demais.

(21) 993734327

RJ

RIO DE JANEIRO, 15 A 20 DE FEVEREIRO DE 2019

Partida teve manifestações de carinho às vítimas do Ninho do Urubu

tra-ataque. Mas o Fluminense não abandonou seu estilo de jogo em nenhum momento. Seguiu colocando velocidade no seu toque

Rafael Ribeiro / Vasco

de bola e buscando aquele golzinho salvador. E ele veio. Aos 47 minutos do segundo tempo. Quando a torcida do Flamengo já

E O BOTAFOGO PARECE TER ENTRADO NOS EIXOS

comemorava a classificação para a final. E justo no vacilo de Arrascaeta, que perdeu a bola na intermediária rubro-negra. Aírton viu a arrancada de Yony González pela esquerda e este viu Luciano entrando na área. O chute do camisa 18 saiu seco, forte e no contrapé do goleiro Diego Alves. Era o gol da classificação e o prêmio pela postura ofensiva e agressiva em grande parte dos noventa e poucos minutos. Eu mesmo cheguei a colocar o Fluminense como incógnita no início desse ano por justamente não ter ideia do que esperar desse time com Fernando Diniz. E a minha surpresa não poderia ser maior. Mesmo com todas as limitações, o Tricolor das Laranjeiras joga um futebol ofensivo, de bom toque de bola e com muitas qualidades. Se Luciano, Yony González, Bruno Silva e Aírton são os principais jogadores da equipe, é preciso também destacar as boas atuações de Digão e do goleiro Rodolfo, decisivos nos momentos cruciais. Vítor Silva / SS Press

»A vitória tranquila sobre o Campinense na última quarta-feira (13) nos mostrou um Botafogo mais concentrado e mais ciente de suas limitações. Melhor para a torcida que já estava com medo de tempos difíceis na temporada. Zé Ricardo segue fazendo um ótimo trabalho com o pouco que tem. PARA RECEBER AS MATÉRIAS DO BRASIL DE FATO DIRETAMENTE NO SEU CELULAR,BASTA SALVAR O NÚMERO (21) 993734327 NOS SEUS CONTATOS E ENVIAR UM OI EM NOSSO WHATSAPP.


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