Bleit - Boa Leitura - n°1

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EDITORIAL Há três anos nascera a ideia de desenvolver uma revista, logo o projeto foi concebido e sustentado por meio de uma palavra chave para nós: CONFIANÇA. A proposta esteve focada durante um breve período nos seguintes temas: Cultura, artes, entretenimento, viagens, negócios, marketing cultural, sustentabilidade, meio ambiente e incentivo à cultura. Os temas que por ora estavam sendo analisados foram definitivamente escolhidos logo após a conclusão dos estudos que constataram, por meio de resultados de pesquisas, o anseio do mercado por um veículo de comunicação com perfil cultural e artístico mais segmentado e direcionado em Ribeirão Preto e região. O nome da revista deveria ser sugestivo, impactante e de fácil fonética, diante desta necessidade foi criado o nome BLEIT, que vem da junção das palavras Boa Leitura. O nome fala-se como realmente se lê, BLEIT, Boa Leitura. Para a capa da primeira edição, a Revista Bleit convidou o gênio da música brasileira, o brilhante multi-instrumentista HERMETO PASCOAL, o maior incentivador da cultura livre no Brasil. Para nós é uma honra tê-lo conosco, obrigado Hermeto! Vale ressaltar que toda matéria de capa será bilíngue, em português e inglês. Queremos mostrar com isso, que a nossa concepção é genuinamente incentivadora e multi-cultural. Não estranhe se encontrar nas próximas edições da Bleit além das matérias de capa em português/inglês, artigos em espanhol, francês e italiano. Nós estamos antenados com o mundo... Aliás, temos correspondentes e colaboradores na Alemanha, Portugal, Itália, EUA e Argentina. É com muita satisfação que trazemos aos leitores de Ribeirão Preto e região a primeira edição da Revista Bleit. Agradecemos primordialmente a DEUS, o domínio supremo. Também a toda a nossa equipe, aos nossos colaboradores e aos nossos investidores, que de forma nobre inclinaram-se e dispuseram-se a compreender nossa proposta, participando fundamentalmente nesta primeira edição. Muito obrigado pela CONFIANÇA e por pactuarem conosco a mesma visão. Temos plena convicção de que podemos, difundindo cultura, educação e informação com conteúdo, compreender o passado para viver melhor o presente e transformar o futuro, vislumbrando melhorias sociais, culturais e ambientais.

Mais uma vez muito obrigado, e Bleit para vocês.

EXPEDIENTE Revista Bleit Julho/Agosto 2012 - Ano 01 – Número 01 A revista Bleit é uma produção das empresas MES MARKETING E SUI GENERIS CULTURAL Diretor de Criação e Editor MARCELO ROCHA SUI GENERIS CULTURAL suigenerisgroup.eventos@gmail.com Jornalista Responsável ÉRICA AMENDÔLA - MTB 13.815 Editoria fotografica e fotografia THOR CRESPI Diagramação FERNANDO PORSANI E IVAN DURIGAN Revisão - IHA COMUNICAÇÃO www.ihacomunicacao.com.br

Capa

Hermeto e Aline Morena Foto: Rudy Bonadese

Diretor Comercial e Adiminstrativo SERGINHO ALMEIDA MES MARKETING mes@mdbrasil.com.br Ferreira e Marcondes e Associados. Assessoria Jurídica Auditores e Consultores www.blbbrasil.com.br

Auditoria de tiragem

Tiragem: 10.000 und

Gráfica e Editora São Francisco Impressão

PARA ENTRAR EM CONTATO COM A BLEIT bleit@bleit.com.br - 17 81573448 - 17 81210370 A revista Bleit é uma publicação Bimestral com distribuição gratuita. www.bleit.com.br


COLABORADORES

SUMÁRIO

6 Dr Beatle 10 Brasil para exportação. E daí? 12 Julio Camarero Adriana Silva Jornalista e Secretária de Cultura de Ribeirão Preto.

Cordeiro de Sá ilustrador e animador. Formado em Arquitetura e Urbanismo, professor universitário das áreas de criação e planejamento gráfico e coordeno projetos culturais e sociais.

Murilo Barbosa Murilo Barbosa é músico e jornalista, e mantém um blog sobre música – principalmente jazz – em www.etcjazz.blogspot.com.

Jurandir Malerba – Berlin – Alemanha Historiador, ensaísta e professor; doutor em História (USP), ocupou visiting postions nas Universidades de Oxford (UK) e Georgetown (EUA). É professor da PUCRS e atualmente vive em Berlim, onde inaugurou a Sergio Buarque de Holanda Chair of Brazilian Studies no Lateinameika Institut da Freie Univesität

26 Instituto Figueiro Ferraz 34 Usina da Dança

40 Capa - Hermeto Pascoal

Patrícia Nascimento Residiu durante 10 anos EUA. Cursou Inglês no Instituto Harvest em New Jersey, Estados Unidos. Introdução a Tradução na NYU, (New York University) - EUA

Márcia Rosseto Jornalista com especialização em história, política e sociedade Nilo Ayer – New York – EUA - Jornalista brasileiro radicado em NY, Nilo Ayer é também músico e escritor informal. Mestrado em Artes e Ciencias do Jornalismo na Universidade de Columbia, em NY. Foi colaborador da revista Rolling Stone americana, MTV Buzz, Fuse TV, Examiner, NYC Art Scene e outros. Formado em ingles pela International Language School of Canada, em Toronto (2004). Como jornalista já cobriu mais de 400 shows em NY.

22 O poder fazer cultural e a teoria crítica

54 Milão: Sustentabilidade x Sistemas de transporte

Helder Lourenço Ilha da Madera Portugal Professor de Filosofia pela Universidade Humboldt de Berlim, Universidade de Lisboa e Universidade Católica de Lisboa

Francisco Alexandre Neto Formado em Artes Plásticas pela USP e pós graduado em Arte Educação e Tecnologias Contemporâneas pela UNB.

51 Arte para uma cultura humanizante

56 Cuba 62 Europa: Para onde vais? 66 Lições do Oriente Mário Agusto Bággio MILÃO ITÁLIA - Engenheiro Hidráulico, Consultor em Gestão para assuntos de Conservação da Água e de Energia.

68 Ribeirão Preto, a cidade virou HQ 70 Quadrinhos 72 Biblioteca 74 Mira la foto



música 6.7

Com vocês o

aficionado por Beatles, oftalmologista José Miguel Kfouri. Para os íntimos, Por Érica Amêndola Fotos: Thor Crespi Ele tem toda a cronologia de shows, lançamentos, fatos históricos, e fatos correlacionados aos Beatles na ponta da língua, demonstrando uma memória absolutamente seletiva. A vida dele é toda relacionada ao sonho, que jamais acabou! Oftalmologista, o Dr Beatle, também conhecido como José Miguel Kfouri, passou a observar os primeiros acordes do jovem grupo de Leverpool, quando se mudou de Bebedouro para Ribeirão Preto, em 1974, para fazer cursinho e tentar o vestibular. Na pensão onde morava, conheceu uns rapazes que formavam uma banda e tocavam Beatles. Pronto, estabeleceu-se o elo.

Um dia, sem grandes pretensões, assistiu ao filme “Concerto para Bangladesh”, evento beneficente organizado pelo músico hindu, Ravi Shankar, e pelo ex-beatle, George Harrison, com a participação de músicos de grande sucesso. Todo o dinheiro arrecadado foi enviado para o Unicef. “Não consegui sair do cinema, fiquei quieto, sentado na poltrona e já engatei uma segunda sessão. De lá para cá, minha vida não faz mais sentido sem a música e tudo que envolve os Beatles”, relata o médico. Os passos de George, Paul, Ringo e John já foram devidamente rastreados pelo Dr. Beatle. Ele esteve em Leverpool

quando conheceu o local onde funcionou o Cavern Club, primeira casa noturna onde os Beatles se apresentavam, esteve na casa dos quatro membros do grupo, fez fotos em frente ao portão do “Strawberry Fields, parque ao lado da casa de John Lennon que abrigava pessoas do Exército da Salvação e onde o pequeno John brincava com os tios – inspiração da música “Strawberry Fields forever”. Quer mais? Atravessou a Abbey Road e esteve nos estúdios, do mesmo nome, onde os garotos de Leverpool gravavam seus eternos sucessos.


música 8.9

Dr. Miguel, por que tanta paixão assim? “É uma música que envolve a gente, nos coloca dentro do mundo com todas as faces que a vida tem”, diz, apaixonado. Dr. Miguel, Beatles tem música para namorar, para conversar, para as tristezas e alegrias? “Eles fizeram músicas para cada fase da vida da gente, para cada momento por que passamos, vivenciamos. Tem uma música que nos remete àquela lembrança, àquele momento”, confirma. A paixão é tão grande que na ocasião da morte de John Lennon, em 8 de dezembro de 1980, o Dr. Beatle estava se formando em medicina e não tinha dinheiro para acompanhar ao vivo o cortejo, mas fez uma promessa: “Daqui a dez anos estarei, na mesma data, em frente ao edifício Dakota, em Nova York”, jurou. E lá estava ele, dez anos depois, no dia 8 de dezembro de 1990, com a esposa, Paula. “Foi uma emoção muito grande e uma tristeza também, estar ali, exatamente onde ele levou os tiros do fã, que o aguardava sentado na sarjeta, em frente ao edifício”, conta. O registro do aniversário de morte

do ídolo continuou com uma homenagem ao depositar flores no memorial a John Lennon, no Central Park. Mas com o passar dos anos, os Beatles, ainda que em sua carreirasolo, fizeram o movimento contrário e em todos os shows realizados no Brasil, a partir da década de 1990, Ringo Star, Paul McCartney e George Harrison tiveram o médico José Miguel Kfouri na platéia. Conta, feliz da vida, que já conseguiu infiltrar-se nas coletivas de imprensa e obteve autógrafos de alguns músicos da banda de Paul e o viu, bem de perto, na companhia da esposa, Linda McCartney. E ainda é possível alimentar sonhos quando se fala em Beatles? “Claro que sim. Em 2011 paguei um ingresso para a ala vip para ver Paul McCartney no Engenhão, no Rio de Janeiro. Assisti à passagem de som, tive acesso a uma área com coquetel para os vips e assisti ao show a quatro metros do meu ídolo. Acredito que ele faça mais um show ainda no Brasil, e este é meu sonho, estarei lá, vou pagar caro, mas repetirei a dose”, garante o sonhador, que tem todo o apoio da família!



Etc & Jazz 10.11

Meses atrás, um escândalo (mais um) era alardeado pela TV: contêineres de lixo hospitalar chegavam dos Estados Unidos, comprados por comerciantes do norte do Brasil e transformados em bolsos para calças jeans, revendidas a todo o País. Esse é apenas um lado perverso da economia global e sua lei simples: a mercadoria chega, pelo menor preço possível, aonde há procura – mesmo que seja lixo. A cultura de massa do século XXI segue a mesma lógica. A música americana é consumida na Europa desde o fim da 2ª Guerra Mundial. No pós-guerra, o jazz – o melhor produto cultural americano – lá encontrou sua plateia mais encorajadora. Os beboppers eram vistos como malucos nos EUA, mas o existencialismo francês e sua filosofia de liberdade radical adoraram as experimentações harmônicas do jazz moderno. Já o mercado cultural brasileiro sempre foi um grande fã das tendências francesas – desde 1900 a 1960, tudo era copiado de Paris. Mas passamos a consumir música popular americana desde que Elvis Presley chegou pela TV e conquistou a juventude bossa-nova. Do rock da Jovem Guarda nos anos 1960 ao hip-hop e as bandas indies nos anos 2000, consumimos por anos a fio a música de massa dos EUA, “superproduzidíssima” para aparecer bem na telinha do canal jovem de videoclipes. E, mesmo assim, as rádios, as novelas de TV e os programas de auditório nunca deixaram de tocar música feita aqui. Talvez isso mostre a força da nossa cultura, mas ao custo de uma certa

perda da inocência, da criatividade, e do elã antropofágico e tropicalista exibido por grupos baianos, mutantes, secos e molhados – haja vista o surgimento de estilos de origem regional que foram adaptados à grandiloquência da cultura de massa, como o axé, o pagode romântico e o sertanejo universitário. As técnicas para se produzir um sucesso, entretanto, continuaram tão antigas como a das marchinhas de carnaval: basta criar uma dancinha, um trocadilho de apelo sexual, um refrão-pílula, que pode ser um “tchê”, um “tcha”, e esperar que a música pegue. Apesar de achar que a música pode ser mais que um eterno baile de carnaval regado a “vou te pegar” e “dar uma fugidinha”, não vejo problema algum nesse tipo de diversão ligeira. A perversidade está mesmo é no aparato de comunicação e marketing voltado a espalhar essa música, oferecendo a nossos ouvidos apenas um canto monótono de vibratos em terça e rebolismos vulgares. A verdade é que, de tanto consumir fast-foods culturais, hoje o Brasil aprendeu a fazer sua própria cultura enlatada. Os megashows brasileiros não devem nada ao showbusiness americano – igualmente povoado por artistas apelativos e cheios de rimas fáceis. Por isso, agora somos nós que mandamos para o mundo contêineres cheios de “produtos” musicais. E a Europa, em plena crise econômica, canta e dança ao som do vanerão brasileiro dos neo-sertanejos Gustavo Lima e Michel Teló – música bem mais leve e divertida que o jazz refinado do pós-guerra.

por

Murilo Barbosa

As plateias mais requintadas dos Estados Unidos e Japão até que consumiam a música brasileira, com suas sofisticadas composições da bossa-nova, chorinho e samba-jazz. O que não se via – desde Carmem Miranda, mantidas as proporções – era um artista brasileiro bombando nas pistas, nos programas de auditório, em aeroportos, rádios e até em escolas, como acontece com Michel Teló e Gustavo Lima – feito digno de uma Shakira ou Ricky Martin, artistas latinos que conquistaram as paradas mundiais. Ok, então somos “exportadores” de cultura. Os americanos, que começaram toda essa história de globalização econômica, serão os próximos a receber nossos contêineres. Mas eles têm um patrimônio cultural protegido e valorizado: o jazz, ensinado em faculdades e até em escolas públicas. Na Europa, a arte de Mozart e Beethoven é tratada como disciplina escolar há séculos. Esses povos sabem a diferença entre música de verdade e mero entretenimento. Enquanto isso, no Brasil, o lixo cultural importado encontra ouvidos despreparados e um mercado consumidor em franco crescimento. A continuar assim, seremos apenas uns infelizes orgulhosos vendedores de nosso refugo musical, mas dançando ao som do baile americano e vestindo nossas calças jeans com bolsos feitos de lixo.


Foto: Andri de Oliveira



JULIO CAMARERO A história da moda brasileira passa por aqui. Desenhista nato, traço sofisticado, puro requinte. Alquimia perfeita que fez deste estilista sênior um dos pioneiros do design de moda no Brasil. Por Érica Amêndola Fotos: Thor Crespi

arte e moda 12.13


arte e moda 14.15

Diretor de arte, moda e fotografia das primeiras edições das revistas Cláudia e Manequim, da Editora Abril, Julio Camarero tem na cadeia genética o dom do desenho e da criação. Nasceu em São José do Rio Preto, em 1933, e, em meio a tecidos, tesouras e desenhos, cresceu vendo a mãe, a modista, Cotinha Camarero, criando figurinos para as vedetes do memorável Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, mas a morte precoce da mãe, aos 33 anos, não impediu que o menino seguisse o traçado genético. Mudou-se para Jaboticabal e, aos 15 anos de idade, junto com a avó, abriu sua primeira loja de moda onde vendia confecções regionais e já desenhava arrojados vestidos de noiva e de festas para a sociedade local, além de decorar ambientes e retratar as elegantes senhoras da cidade. Nome da loja? “Vierde que te quiero vierde”, uma homenagem ao primo distante, o

escritor Federico Garcia Lorca! Finalmente, em 1953 foi para a Capital. Tentou medicina, tentou direito, tentou engenharia e, nesse meio tempo, o dom dos desenhos não aquietava, fazia para o irmão, então estudante de engenharia da Politécnica da Universidade de São Paulo, os projetos da faculdade, e os professores, encantados com o traço, passaram a pedir ao desenhista que fizesse mais projetos. Mas foi um dia, em frente a dois diretores de arte da editora Abril, Luiz Carta e Attilio Baschera Netto, que o encantamento aconteceu. “Apresentei-me de maneira elegante, num terno azulmarinho que chamou a atenção dos homens que pensavam moda, fiz testes e em pouco tempo já estava contratado como assistente de direção de moda da Revista Cláudia. E lá estava eu, na primeira edição de Cláudia, em 1961, ícone e instrumento que dita a moda no país até os dias de hoje”, conta Julio.


“Também sou jornalista e desenvolvi um trabalho ímpar na imprensa brasileira quando fui contratado pelo Grupo O Estado de S. Paulo como ilustrador.”


Ele sempre foi um homem interessado na complexidade de um segmento que envolve mercado e comportamento.

arte e moda 16.17



Do início de 1960 até os dias atuais, um turbilhão de oportunidades e trabalho se alinhavaram à vida de Julio Camarero. Desenhista, estilista, criou figurinos para Bibi Ferreira, Eva Wilma, Marília Gabriela, entre tantas outras atrizes, dirigiu coleções Prêt-à-Porter e Alta Costura para a histórica Fenit, desenhou inúmeras coleções para a Levi’s do Brasil, criou diversas coleções Prêt-à-Porter para a Rhodia em desfiles por todo o Brasil e a Europa, desenvolveu incontáveis projetos de criação de estamparias para confecções de roupas, papel de parede e tecidos para decoração. Estudou profundamente tendências e matérias-primas exclusivamente brasileiras para promover o que se pode chamar de produto genuinamente nacional. “Também sou jornalista e desenvolvi um trabalho ímpar na imprensa brasileira quando fui contratado pelo Grupo O Estado de S. Paulo como ilustrador. Na época, sob o comando de Mino Carta, dava cobertura aos eventos sociais mais importantes

Julio Camarero e Bibi Ferreira

da cidade. Homens de smoking e mulheres sofisticadas eram retratados por mim e as ilustrações publicadas juntamente com as informações sobre os eventos e, numa dessas oportunidades, desenhei a esposa do empresário norte-americano, Henry Ford. Ele se encantou com o desenho quando se deparou no dia seguinte, pela manhã, com a publicação nas bancas de jornal e mandou comprar, imediatamente, mais de mil exemplares do jornal para levar como recordação do Brasil”, relembra Julio. Porém a vida de Julio Camarero nunca se resumiu ao glamour da moda, mas aos estudos. Ele sempre foi um homem interessado na complexidade de um segmento que envolve mercado e comportamento. Realizou mais de 100 seminários de moda no Brasil e no Exterior sobre tendência, criação e desenvolvimento de produto, fez wokshops por todo o país, incluindo o Senai Fashion, também sobre tendências e gerenciamento de produtos.


arte e moda 18.19

Memória preservada Curioso, Julio sempre estudou a moda e seu tempo, desenhou como ninguém vestimentas de homens e mulheres, relacionando o estilo e suas décadas e, hoje, com a cabeça fervilhando de informações e ideias, quer mais! “Estou em Jaboticabal, mas preciso trabalhar, quero passar adiante o volume de informações que agreguei ao longo de tantos anos dedicados à moda, à pesquisa e ao desenvolvimento de produto. Sinto-me em plena forma para passar adiante o pulo do gato. Não há no Brasil quem desenhe como eu e preciso ensinar isso tudo”, reconhece, sem pudores, o estilista. Julio Camarero é mesmo uma preciosidade. Vive só, num apartamento no centro da cidade de Jaboticabal, onde guarda relíquias que serviriam ao museu de moda em qualquer cidade civilizada do mundo! Quem se habilita?


JULIO CAMARERO O artista é de uma época em que o lay out das páginas da revista era feito à mão, no fino traço do desenho e quando mostra os lay outs originais das páginas de Cláudia, que ainda guarda com muito zelo, é possível reconhecer o trabalho artesanal e minucioso que somente as mãos de um verdadeiro artista alcançariam. arte e moda 20.21



O PODER FAZER CULTURAL E A TEORIA CRÍTICA Por Adriana Silva

Uma experiência maravilhosa, mas limitadora. Estar no lugar do poder fazer não significa imediatamente poder fazer. O universo de considerações parece infinito quanto mais o que se projeta destoa do que desejam os grupos organizados, ve não estou fazendo referência à maioria, ela é quantitativamente importante, mas nem sempre, em especial na área cultural, organizada. Como secretária da Cultura de Ribeirão Preto levar para o dia a dia todo um referencial teórico acadêmico é um grande risco quando se tem a pretensão de se fazer simpática. O academicismo é inevitavelmente pedante quando fora de seu habitat. Ele não consegue se estabelecer enquanto diálogo por falta de interlocutores e se perpetua na condição de monólogo. O presidente Lula, por exemplo, irritado com o academicismo do então ministro da Educação, Cristovam Buarque, o demitiu. Ele disse em um jornal que não tem lugar para teorias acadêmicas na política. Obviamente não concordo com o presidente. É preciso ter muito claro que as teorias acadêmicas, na maioria das vezes, são leituras elaboradas da prática social, por isso podem coexistir sem maiores

conflitos. O importante, neste caso, é a compreensão de que o acadêmico não só explica realidades, mas fundamentalmente deve ser aplicado para transformá-las. Talvez este descompasso cause impressões como a do presidente Lula. Infelizmente para todos nós. A Teoria Crítica, enquanto uma corrente que organiza o pensamento, em sua essência, propõe a crítica como a base para a formação de uma sociedade sem medo do conhecimento libertador. E aí então surgem as primeiras perguntas: - Como estar no lugar do poder fazer e dialogar constantemente com conceitos como reificação ou coisificação, semicultura, cultura de massa, indústria cultural? - Como incentivar a crítica, enquanto uma teórica e ter que contê-la ao mesmo tempo enquanto uma política? A “mentalidade do ticket”, conceito formulado principalmente para explicar o movimento facista, desnuda as intenções, explica o consumidor desatento que compra algo sem precisar, simplesmente para estar em conexão com o mundo, explica quando o cidadão tem como sendo

dele a opinião que é do outro e se faz seguidor de ideias, nunca criador das suas próprias convicções e tenta explicar, não sei se consegue, o “ai se eu te pego”. Então surge nova pergunta: - Como escolher uma programação cultural sendo uma teórica crítica devendo ser popular como deve ser todo político? Sabendo o que propõe a Teoria Crítica, principalmente em relação ao papel da cultura enquanto instrumento para a formação de uma sociedade menos coisificada, como seguir em frente, sem ter como meta contribuir, mesmo que o minimamente para fazer a diferença? Termino como comecei. Estar no lugar do poder fazer não significa imediatamente poder fazer. Mas para não ser definitivamente conformista, é preciso tentar, mesmo que os resultados sejam mínimos, é nossa única chance em ver a Cultura como o centro das transformações sociais.


“O presidente Lula, por exemplo, irritado com o academicismo do então ministro da Educação, Cristovam Buarque, o demitiu.”

incentivo à cultura 22.23


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Onde a arte se mistura com a vida num ato de generosidade e passa a ser requisito båsico aos olhos comuns. Por Érica Amêndola

Fotos: Instituto Figueiredo Ferraz


Foto: Thor Crespi

Já dizia o sábio: “A educação pela arte liberta o

homem da tirania”! De autoria duvidosa, a frase traduz exatamente o espírito de libertação e democracia que percorre o espaço de 2.500 metros quadrados de área, milimetricamente pensada, para oferecer ao público um acervo indescritível de obras de arte contemporânea. O Instituto Figueiredo Ferraz é uma daquelas atitudes inusitadas quando alguém tem muito a oferecer e, generosamente, divide! Essa é a história do casal, Dulce e João Carlos Figueiredo Ferraz, que ao longo do tempo foi reunindo obras de arte, muitas obras de arte, instalações, esculturas, pinturas, desenhos e, com o passar dos anos, as obras de artistas renomados ficaram empilhadas, embaladas e em caixas cuidadosamente guardadas em espaços improvisados, como galpões em fazendas, à espera de uma oportunidade para serem expostas.

museu 26.27


Foto: Thor Crespi

pelo exercício da arte, profundo respeito pelo operário que dorme pensando arte, elabora suas obras e, mesmo sem considerar a questão financeira, não faria outra coisa na vida, a não ser suas obras de arte”, diz Ferraz. O instituto, aberto desde outubro de 2011, reúne obras de jovens artistas, como Leandro Lima e museu 28.29

Gisela Motta e de muitos gigantes das artes plásticas, como Leda Catunda, Nuno Ramos, Vick Muniz, Tunga, Iole de Freitas, entre tantos outros. Promove palestras e cursos com especialistas de renome que falam sobre artes plásticas, literatura, cinema, tem biblioteca para pesquisas com catálogos de importantes exposições nacionais

e internacionais. “Não fiz isso tudo pensando em responsabilidades, gosto de compartilhar, e estamos extremamente felizes em perceber o interesse de tantas escolas, jovens e crianças de oito, dez anos, que chegam aqui com olhos imensos, ávidos e isso tudo é uma grata surpresa”, observa. O espaço, projeto arquitetônico


Já não se tratava mais de uma simples coleção particular, de aproximadamente mil obras de arte, e sim de uma pinacoteca sem precedentes. Depois de receber uma oferta sedutora, aquele que era único dono vislumbrou a oportunidade de abrir tudo ao público, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, no ano de 2001.

“Recebi um convite da professora de História da Arte e diretora do Departamento de Artes Plásticas do Centro Cultural São Paulo, Stella Teixeira de Barros, para fazer uma mostra de uma pequena parte da minha coleção em São Paulo. Foi quando tive a oportunidade de tirar muitas coisas das caixas e me

surpreendi com a unidade que encontrei em obras diferentes, mas que formavam uma mostra coerente. Entendi que tudo o que reuni ao longo dos anos era resultado de um de uma proposta voltada à arte moderna, num mesmo idioma”, coloca Figueiredo Ferraz. O colecionador confessa uma paixão pelo ofício da arte. “Tenho fascínio

de Dulce Figueiredo Ferraz, foi construído estrategicamente para acolher grandes obras, instalações e a iniciativa do casal lembra muito o projeto de Inhotim, em Minas Gerais, onde também um colecionador particular abriu para o público um acervo de centenas de obras, porém num grande jardim.

“Só temos notícia de apenas dois acervos privados, disponibilizados para o público no Brasil, o de Inhotim, em Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte, que tem cerca de 500 obras de arte contemporâneas que convivem com uma exuberante natureza local e o Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto, com um acervo de aproximadamente mil obras

de arte, entre pinturas, esculturas, instalações, que despertam todo tipo de provocação”, informa o diretor administrativo do instituto, Bibi Junqueira.


Fotos: Instituto Figueiredo Ferraz


museu 30.31


Fotos: Instituto Figueiredo Ferraz

Figueiredo Ferraz se ressente por nunca ter tido apoio de qualquer ação do poder público para, em parceria, fazer a gestão de um projeto que nasceu há tantos anos e só foi mesmo realizado pelo esforço pessoal. “Cultura não é entretenimento e o Estado não tem interesse em cultura, luto há 10 anos

para trazer a Pinacoteca do Estado para a cidade, mas é muito difícil ter ressonância, então, prefiro fazer assim, como fiz!”! O colecionador insiste em dizer que a boa arte não precisa de bula para ser compreendida, lembra que o público, por mais que não entenda


museu 32.33

a emoção, reconhece a beleza, e um estranhamento mediante uma obra exposta o leva à reflexão. “O público faz a leitura”, reconhece! Para ver as obras do Instituto Figueiredo Ferraz, basta comparecer ao endereço, na Rua Maestro Ignácio

Stábile, 200, de terça a sábado, das 14h às 18h, ou agendar visitas monitoradas, pelos telefones (16) 3623-2261 / 3623-2262 , em Ribeirão Preto. A entrada é grátis.


Na dança um exercício generoso de cidadania Por Érica Amêndola Fotos: Thor Crespi e Marcelo Rocha

Atividade socioeducativa mexe com corações e corpos e faz da dança uma extensão dos sonhos de jovens e crianças.

dança 34.35



dança 36.37

Usina da Dança Uma iniciativa de inclusão social pelas artes está presente em cidades do interior de São Paulo, levando propostas de participação de jovens e crianças por meio de atividades artísticas e esportivas. Centenas de crianças se movimentam hoje, diariamente, provocadas pelos livros, pelas artes cênicas, pela música, por ações esportivas e, principalmente, pela dança, o que vem acontecendo em Guaíra, Miguelópolis e Orlândia. Trata-se de uma história que pode ser contada de muitas maneiras, por envolver tantas manifestações artísticas e muitos colaboradores e jovens, que dificilmente teriam oportunidade de obter instruções com tamanha qualidade e comprometimento, como no caso de um dos braços do projeto denominado “Usina da Dança”, que atua nas cidades de Orlândia e Miguelópolis.

“Oferecemos uma gama de atividades artísticas não somente em favor da inclusão social dos nossos jovens, mas, por meio de toda essa oferta, promover uma descoberta e fazer com que ele possa se encontrar e seguir uma carreira profissional”.

A Usina da Dança, projeto iniciado em 2000, pelo Instituto Oswaldo Ribeiro Mendonça, com sede em Orlândia, atinge hoje um público de mais de 300 crianças e jovens com idades entre 7 e 17 anos. Sob a batuta da coordenadora artística, Valéria Pazeto, vem ganhando destaque nos grandes festivais de dança e tem recebido um olhar especial de instituições que escolhem e premiam ações socioeducativas como alternativas de propostas de responsabilidade social promovidas por empresas preocupadas em sustentabilidade. Estamos falando de reconhecimentos do porte como o Prêmio Itaú Unicef Regional, que qualificou o Usina da Dança como um dos melhores projetos socioeducativos e também

como a premiação dos primeiro e segundo lugares no Barcelona Dance Awards, em 2008, considerado um dos mais importantes festivais de dança da Europa. Na ocasião, o Usina da Dança competiu com grupos de 64 países. A rotina dos jovens que frequentam as aulas é apertada, assim como o de qualquer adolescente ou criança


que têm hoje seus dias repletos de atividades. Entre a carga horária das aulas normais, os alunos do projeto se organizam para uma apertada rotina de aulas e ensaios, por ocasião das apresentações e a grande maioria se aperta ainda mais

para fazer todas as modalidades que o instituto oferece, como o Balé Clássico, o Contemporâneo, o jazz e até o teatro e a música. “Oferecemos uma gama de atividades artísticas não somente em favor da inclusão social dos nossos jovens, mas, por meio

de toda essa oferta, promover uma descoberta e fazer com que ele possa se encontrar e seguir uma carreira profissional”, conta a coordenadora da Usina da Dança, Valéria Pazeto.


dança 38.39

Sonho de bailarina Todas as ações sociais, socioeducativas e socioambientais do Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça, criado pelo Grupo Colorado, de Orlândia, estão centradas numa citação do ex-vicepresidente dos Estados Unidos, Al Gore, quando escreveu algo que chamou de Verdade Inconveniente. “Precisamos de uma explosão de consciência das pessoas... É um fenômeno mundial. Cada um de nós é a causa do problema e cada um de nós é a solução do problema”, colocou durante um discurso. Sob esse olhar está centrada a filosofia do instituto, gestor do trabalho da Usina da Dança e que tem como presidente a empresária Josimara Ribeiro de Mendonça Camargo. E é ela que aponta as manifestações culturais como uma das melhores maneiras de se desenvolver políticas desenvolvimentistas. “Inicialmente a Usina da Dança, assim como nossos

demais projetos, foi encarado pelos empresários do grupo como um risco, já que estávamos falando em educação de crianças e jovens, mas hoje é nossa bandeira”, afirma a presidente. “A dança, além de tudo, é uma grande paixão, considerando que fui bailarina e alimento um grande apego pela dança”, reforça. A Usina da Dança vem galgando conquistas a passos largos. Também recebeu o Prêmio Master Cana em 2010, criado pelas empresas do setor do agronegócio como destaque da área cultural e teve, mais uma vez, o

reconhecimento dos críticos, ao ser aprovado pelo júri do 14º Festival Nacional de Dança de Ribeirão Preto, promovido pela Prefeitura do município. Para Mariane, Paula, Matheus, Laís, Ricardo, entre tantas outras crianças e jovens do projeto, estar na ponta, na barra, no centro, em roda, em diagonal, não são apenas expressões da dança, mas uma oportunidade única de levar adiante um sonho que pode ser a concretização de olhar no espelho e se sentir em dia com a auto-estima.


“Inicialmente a Usina da Dança, assim como nossos demais projetos, foi encarado pelos empresários do grupo como um risco, já que estávamos falando em educação de crianças e jovens, mas hoje é nossa bandeira” Josimara Ribeiro de Mendonça Camargo Presidente


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HERMETO PASCOAL Mais que um gênio, um incentivador de Cultura Livre. Hermeto nunca importou-se com a pirataria de sua obra. Generosa e desprendida a sua atitude em disponibilizar toda sua discografia para download em seu site, bem como, a liberação dos direitos autorais de sua obra como compositor. Esta postura é de quem esta certo de que existe na música, em sua essência, valiosíssimos fatores que vão além dos interesses financeiros e comerciais. Isso explica seu incondicional amor a arte e a música. Piracy doesn’t bother Hermeto when it comes to your work. Your decision of making your discography available for download in your web site is very generous and altruistic, as well as the copyright release of your work as a composer. This is the attitude of someone who is certain that in music, in its essence, there are valuable factors which go beyond financial and commercial interests. That explains your unconditional love for art and music. Texto de abertura e entrevista - Marcelo Rocha / Texto - Murilo Barbosa Fotos - Zach Ingbretsen - Rudy Bonadese - Kevin Yatarola


Expressão pura + Liberdade total

=

MÚSICA UNIVERSAL

Era pra ser só um sanfoneiro numa rádio nos confins de Alagoas. Mas seu forró era mais universal e sua música interior bem maior que a pequena chácara de Olho d’Água. Quando menino, transformava talo de jerimum em pífano, reproduzia o canto dos pássaros, e já retorcia a pequena sanfona de 8 baixos de seu pai, buscando as primeiras notas que brotavam de sua cabecinha branca e inquieta. Nos anos 1950, desafiava o lugar comum com um trio ao lado de Sivuca e do irmão, José Neto. Chegando a São Paulo, tocou em boates e night clubs, até se aproximar dos sons do jazz e montar o revolucionário “Quarteto Novo”, grupo que explorava as sonoridades brasileiras com um clássico formato jazzístico de piano-baixo-bateriaguitarra – no caso, a viola caipira, usada pela primeira vez nesse

tipo de música. De lá pra cá, sua carreira atingiu reconhecimento internacional, principalmente entre os artistas do jazz. Hermeto tem um ouvido que capta nuances do som que a maioria de nós não percebe. Talvez seja a visão fraca, devido ao seu albinismo, que lhe tenha aguçado a audição; talvez seja apenas a grandiosidade de sua alma, livre de preconceitos e aberta a dimensões sonoras que só os grandes percebem. Por isso é que seu nome se tornou sinônimo da “música universal”, termo criado por ele para classificar suas composições. Liberdade, talvez, seja a palavra mais apropriada para descrever esse mestre da música que a revista Bleit teve a honra de entrevistar.

Pure expression + Total freedom

= UNIVERSAL MUSIC

He was supposed to be just an accordionist for a radio station in a remote area of Alagoas. But his Forró (a popular Brazilian celebration that originated in the northeast of the country) was universal and his interior music a lot bigger than the small farm in Ollho d’Água. As a young boy he’d pretend a pumpkin stem was a fife, he’d reproduce the songs of the birds, and he’d already squeeze his father’s eight-bass button accordion in search for the first notes that were blooming from his white head and restless mind. In the 1950’s he challenged cliché with a Trio alongside Sivuca and his brother José Neto. Once in São Paulo he played in night clubs until he became close to the sounds of jazz and started the revolutionary “Quarteto Novo” (New Quartet), a group that explored the Brazilian sounds in a classic jazz format of piano-bass-drums-guitar - in this

case, the viola caipira (Brazilian country guitar). Used for the first time to play this kind of music. From there until now his career has reached international acknowledgement, especially among Jazz artists. Hermeto has an ear for music that captures sound nuances that most of us wouldn’t even notice. Maybe his poor sight, since he is an albino, made his hearing so sharp; maybe it’s simply the greatness of his soul, free from prejudice and open to sound dimensions that only the great notice. That’s why his name became a synonym of “universal music”, term he created to classify his compositions. Freedom, perhaps, would be the most appropriate word to describe this master of music, who Bleit Magazine has the honor to interview.

“Eu não ponho o saber e sim o sentir na frente das coisas que faço na vida”


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“Foi uma linda surpresa quando vimos a declaração de que havia um brasileiro que conseguiu fazer uma música que superasse o jazz sem perder a essência brasileira”

Sobre seu show em Londres 2004 que foi considerado o show da década pela imprensa inglesa.

Bl - Sobre sua relação com as gravadoras. Sempre houve compreensão e concordância das gravadoras com sua visão artística e mentalidade musical? Ou queriam de alguma forma moldar-te aos padrões e necessidades do mercado fonográfico da época? Hermeto - Se fosse pelas gravadoras, elas não aceitariam jamais a música que eu faço. Mas eu nunca deixei me levar por elas. Elas pensam no povo pejorativamente. Mas eu sou uma prova de que não é bem assim pois estou tocando em todo o lugar com a casa cheia.. Bl - When it comes to your relationship with the record labels; was there always comprehension and agreement between the record companies and your artistic point of view and musical mentality? Or did they want, somehow, to mold you to their standards and to the needs of the phonographic market at the time? Hermeto - If it were up to the Record labels, they would never accept the music I make. But I’ve never let them influence me. They think about people in a pejorative way. I am living proof that it’s not always like that; I play for a full house everywhere I go. Bl - Sivuca em sua extrema inteligência, generosidade e nobreza acreditou na sua música, no seu talento e na sua luz. Fale sobre alguma experiência que imprima esta fina generosidade e carinho do mestre Sivuca para com o

Hermeto Pascoal. Hermeto - Uma das passagens com o Sivuca é de quando eu tocava na Rádio Difusora de Caruaru, em Pernambuco. O Sivuca esteve por lá visitando a Rádio e me ouviu tocar. Eu estava lá como refugo, apenas para cumprir o prazo do contrato, pois tinha sido mandado embora da Rádio Jornal do Comércio com a afirmação de que eu não dava para a música. Quando o Sivuca me ouviu, perguntou para o gerente Luis Torres quem era aquele sanfoneiro que estava tocando tão bem. Em seguida disse que ele deveria dobrar o meu salário senão iriam me perder logo logo para outra Rádio. Assim, passei a ganhar o dobro. Esse foi só um dos momentos com que me deparei com a generosidade do meu irmão Sivuca. Bl - In his extreme intelligence, generosity and nobility, Sivuca, believed in your music, talent and brightness. Tell us about an experience involving this fine generosity and caring from the Master Sivuca to Hermeto Pascoal. Hermeto – One of the moments with Sivuca dates back to when I played at Difusora Radio Station in Caruaru, Pernambuco. Sivuca was there visiting the Station and heard me play. I was there as a nobody, just to obey the contract since I had already been fired from the station under the claim that I was not good for music. When Sivuca heard me, he asked the manager, Luis Torres, about the accordionist who was playing so well. Following that, Sivuca told the manager he should double my pay or they would lose me really soon to another radio station. So I started to

earn a double salary. That was just one of the moments I came face to face with the generosity of my brother Sivuca. Bl - Sua obra é majestosa! De toda a sua discografia qual o disco que mais te emociona ao ouvir hoje e porque? Hermeto - Os meus discos são como uma escada e como minha família. Não saberia escolher o que gosto mais porque sem o primeiro degrau não se vai para o segundo e amo cada um como um filho. É uma evolução constante. Bl – Your work is magnificent! Of all your discography, which album touches you the most when you listen to it today? Why? Hermeto - My albums are as a stairway and as my family. I wouldn’t know which one I like most because without the first step you can’t get to the second and because I love each one of them as my own child. It is a constant evolution. Bl – Você classifica seu estilo musical e sua música como “Música Universal”. Como explicar esta classificação? Hermeto - Música Univiersal é uma junção de várias tendências, vários estilos. É a confraternização de todos os povos através da música feita sem preconceitos, primando pela qualidade. Bl – You classify your musical style and your music as “Universal Music”. How do you explain that classification?


Hermeto é o Multi-instrumentista mais genial que existe no mundo!

Hermeto - Universal Music is the junction of various trends and styles. It’s the fraternization of all people through music made without prejudice, music that excels in quality. Bl - De onde surgiu a ideia e a inspiração para criar o livro “Calendário do Som”, concebendo uma musica para cada dia do ano durante 12 meses? Hermeto - A ideia do Calendário do Som foi uma grande intuição que tive viajando de avião. Na hora em que eu ia pegando no sono vinha essa voz na minha mente dizendo que eu deveria fazer uma música por dia durante um ano. Eu retrucava dizendo que já fazia isso, mas na cabeça. Mas a voz dizia dizia que eu deveria fazer na pauta. E eu respondia que não gostava de premeditar. Então, tive que deixar fluir a intuição e esperei até me dar vontade para começar a escrever, que corresponde à primeira música do livro. Bl –You created Calendario do Som, a book where you conceived one song for each day of the year during 12 months.

How did the idea and inspiration for that come up in the first place? Hermeto – The Idea for Calendário do Som was a major intuition I had while traveling on an airplane. As I started falling asleep I would hear a voice inside my mind telling me I should make a song for each day of the year. I replied by saying I already did that, but only in my mind. But the voice would insist I should make a staff notation. No, I like to premeditate, I’d reply. So I had to let intuition flow, I waited until I felt like writing, that corresponds to the first song in the book. Bl - Nas suas entrevistas vemos palavras recorrentes como, evolução, infinito, desenvolvimento, futuro, espiritualidade, alma, dádiva, dom, liberdade, simplicidade, sentir e modernismo. Existe um positivismo presente não só na música, mas também na figura artística, o fazendo uma pessoa incrivelmente simpática e querida por todos os fãs e admiradores. Do que é feito o Hermeto Pascoal? O que é essencial e fundamental para o bem viver do Hermeto?

Hermeto - Eu sou uma alma que está dentro de um aparelho chamado corpo. A minha alma é o meu eu. Através da música eu sou esse Hermeto que as pessoas acham. Não adianta se preparar para ser bom. Tudo tem que ser natural. Lindo eu sei que sou demais! E isso me faz ser alegre e amigo das pessoas! Bl – In your interviews we see recurring words such as evolution, infinite, development, future, spiritualism, soul, talent, gift, freedom, simplicity, to feel and modernism. There is a present positivism, not only in your music, but also in your artistic character that makes you an incredibly captivating person, loved by all your fans and admirers. What is Hermeto Pascoal made of? What is essential and fundamental for Hermeto’s well being? Hermeto – I am a soul inside this instrument called body. My soul is the self. Through music I am the Hermeto people know. One can’t prepare to be good. It has to be natural. Dear, I know I’m it. That makes me happy and friendly to people.


Bl - São mais de 4000 composições, escritas e arquivadas. Como funciona este processo natural e espontâneo de criação? Hermeto - Eu não premedito. Vim aprender teoria com 42 anos de idade. Já tinha o dom de compor, mas foi com a teoria que eu passei a registrar as minhas composições. Foi bom demorar porque aí vi que a teoria é uma alfabetização que serve para ser usada. Ela não ajuda a ter ideias, nem a criatividade. Isso não se aprende na escola. Bl - You have more than 4000 compositions, written and archived. How does this natural and spontaneous process of creation happen? Hermeto – I don’t premeditate, I only learned music theory when I was 42 years old. I already had the gift to compose but it took theory to start registering my compositions. It was good it took me this time since that helped me see theory as literacy that should be put to use. It doesn’t help you to have ideas nor creativity. Those can’t be learned in school.

Universidade de Dartmouth New Hampshire – EUA Hermeto constantemente é convidado para realizar Workshops por todo o mundo.

Bl - Você destaca em várias entrevistas a gratidão à Deus pela dádiva e pelo dom musical. Por ser o seu um talento genuíno, genial e extremamente natural, você acredita que seu primeiro contato com a música acontecera ainda antes, no ventre de sua mãe?

Bl- Como é tocar em 5 configurações de shows ? Sua forma criativa de atuar não muda mesmo em meio as diferentes agrupações (Big Band, Orquestra Sinfônica, Solo, Duo, Septeto) e concepções de arranjos, fale um pouco sobre como funcionam estes 5 Shows.

Hermeto - Sim. Eu sinto que vim já com essa musicalidade toda, tanto que considero a minha primeira música o momento do meu nascimento em Olho d’Água da Canoa, no dia 22 de junho de 1936.

Hermeto - Cada formação vai ter sempre a minha essência, mas eu respeito muito as pessoas com quem toco. Cada uma dá a sua contribuição e eu não me sinto uma estrela, mas alguém que está junto com os outros.

Bl – In various interviews you highlight your gratitude to God for your musical talent and gift. Since you have a genuine, genious and extremely natural talent, do you believe you first came in touch with music back when you were still in your mother’s womb?

Bl –How is it, to play in 5 different formats? Your creative way of performing doesn’t change even among different ensembles (Big Band, Symphony Orchestra, Solo, Duet, Septet) and arrangements conceptions. Tell us a little about how these 5 performances work.

Hermeto – Yes, I feel I already came with all this musicality; therefore I consider my first song the moment of my birth in Olho d’Agua da Canoa on June 22, 1936.

Hermeto – Each ensemble will always have my essence, but I respect the people I play with. Everyone contributes and I don’t feel like the Star of the show rather than someone who is playing among others.


Bl – O Sr. Pascoal(Seu Pai) foi sua influência musical direta? Hermeto- Minha primeira influência foram os animais. Em seguida o papai. Com sete para oito anos peguei o oito baixos dele, juntamente com meu irmão José Neto, e comecei a tocar. Com dois meses, papai praticamente parou de tocar para nos acompanhar nas festas, bailes, forrós onde íamos tocar...

Hermeto - Como a música que faço é universal, não dá para diferenciar o público dos lugares em que toco. Os países onde mais tocamos são França, Alemanha, Portugal, Dinamarca, Holanda e assim por diante. Já toquei em toda a Europa, nos Eua, Canadá, Africa do Sul, América Latina e Central, Japão e Austrália.

Bl – Was Mr. Pascoal (your father) your direct influence in music?

Bl- Hermeto Pascoal & Group were in France in May of 2012. How is your relationship with the international public? Are there international presentations on your agenda every year?

Hermeto - My first influences were the animals, followed by my father. Around seven or eight years old I got his eightbass button accordion, along with my brother José Neto, and started playing it. In two months my father practically stopped playing to go with us to parties, dances and forrós (a popular Brazilian celebration) where we played.

Hermeto – Since the music I play is universal, there is no way to differentiate the public in the places where I play. The countries where we play the most are France, Germany, Portugal, Denmark, the Netherlands and so on. I’ve played in all Europe, United States, Canada, South Africa, Latin and Central America, Japan and Australia.

Bl - Seu primeiro show em 2004 na Inglaterra com a Big Band Local foi considerado o Show da Década pela imprensa inglesa. Diga-nos algo sobre esta experiência e repercussão. Hermeto - Foi uma linda surpresa quando vimos a declaração de que havia um brasileiro que conseguiu fazer uma música que superasse o jazz sem perder a essência brasileira. Bl – Your first performance in England, in 2004, with the Local Big Band was considered by the English press The Performance of the Decade. Tell us about this experience and its repercussion. Hermeto – It was a wonderful surprise to see the statement that there was a Brazilian who could play a kind of music that surpassed Jazz without losing the Brazilian essence.

Bl - Hermeto Pascoal & Grupo estiveram na França em maio de 2012. Como é sua relação com o publico internacional? Todo ano há apresentações internacionais em sua agenda? capa 46.47

Bl - Seu trabalho com a Aline Morena intitulado Bodas de Latão( em comemoração aos sete anos juntos na vida e na música) tem além de suas composições e as de Aline Morena uma música de Astor Piazzolla, Fale desta adimiração por Astor Piazzolla e sobre a escolha desta composição em especial. Hermeto - Conheço o Piazzolla de muitos anos. Ele é uma grande alma. Mas a Aline foi quem escolheu essa música. Achamos que poderíamos dar um colorido novo para ela. A família do Piazzolla liberou os direitos da gravação e gostou muito do resultado. Bl – Your work Bodas de Latão, with Aline Morena, (in commemoration of your seventh anniversary of marriage and of music) has, besides your compositions and Aline Morena’s, one song by Astor Piazzolla. Tell us about this admiration for Astor Piazzolla and about the choice of that particular piece. Hermeto – I’ve known Piazzolla for many years. He is a great soul. It was Aline who chose the song. We thought we could give it a new color, so Piazzolla’s family released us the copyrights and they liked the end result.

Bl - O QUARTETO NOVO, fundado em 1966 com Hermeto ao piano e flauta, Heraldo do Monte na viola e guitarra, Théo de Barros no baixo e violão e Airto Moreira na bateria e percussão. O grupo foi muito premiado na época pela renovação e originalidade. Há noticias de que o grupo influênciou diretaente os Beatles, como foi isso? Hermeto - Sim, os Beatles estavam no auge, mas não usavam viola no grupo deles e depois de ouvir o Quarteto Novo, eles passaram a usá-la. A prova é o som! O Heraldo foi o primeiro músico a tocar viola em outros estilos que não só o caipira. Bl – O QUARTETO NOVO (NEW QUARTET), established in 1996 had Hermeto on the piano, Heraldo do Monte playing viola (country guitar) and guitar, Théo de Barros playing acoustic guitar and Airto Moreira on the drums and percussion. The group was well awarded back then for its offset and originality. We’ve heard that the group influenced The Beatles, how was that? Hermeto – Yes, the Beatles were at their peak but they didn’t use a viola in the band, after they heard Quarteto Novo, they started using one. The proof is the sound! Heraldo was the first musician to play the viola in different styles, not only country.

Bl - Uma das características do albinismo é justamente o não desenvolvimento total da visão. Na sua opinião, a audição teria sido favorecida neste caso, colaborando diretamente para desenvolvimento diferenciado de sua percepção musical? Hermeto - Eu acredito, mas acho que antes de tudo vem a nossa alma. E é bom que eu não veja muito mesmo para fazer o que é mais importante. Eu cheguei até quase a pedir a Deus, com 50 anos de idade, para ficar por um tempo cego porque com os olhos fechados vejo tantas cores que queria aprofundar mesmo minha percepção. Mas Deus me disse que eu poderia ficar pra sempre cego, e que vim para esse mundo não para ver aquilo que


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queria ver internamente. Então, desisti da ideia. E foi muito bom porque sem ficar cego eu consigo fazer tudo com os olhos abertos e fechados. Bl – One of the characteristics of albinism is the underdevelopment of sight. In your opinion, did this favor your hearing and therefore helped directly with a distinct development of your musical perception? Hermeto - I believe so, but before anything else comes our soul. It’s good that I can’t see well so I can do what really matters. I almost asked God, at the age of 50, to make me blind for a while for I can see so many colors with my eyes shut that I wanted to deepen my perception. But God told me I could be blind forever and that I didn’t come to this world to see what I wanted. So I gave up the idea and it’s great because not being blind allows me to do everything, eyes open or closed.

people. It was a wonderful spiritual force. About the music being contagious, I compare to what I feel exists but I can’t find adjectives to describe. All I do is what I feel and what I like. That’s why people feel it is true.

Bl - Quais suas metas e projetos para os próximos anos? muitas novidades porvir? Hermeto - Estou lançando a partir do meu aniversário meu novo dvd, chamado Hermeto Brincando de Corpo e Alma, onde gravei doze músicas sem nenhum instrumento além do meu próprio corpo. Não sei o que vai ser daqui pra frente porque o amanhã a Deus pertence. Só sei que será bom porque o hoje sendo bom faz o amanhã também ser Bl – What are your goal and projects for the upcoming years? Are there many new things coming?

Bl - Miles Davis dirigiu-se até ao Hermeto pela primeira vez dizendo que sentiu necessidade em falar contigo sem te conhecer e sem saber o que falar exatamente na ocasião, algo simplesmente o moveu. O que pode ter movido ele? A sua música que contagia tudo e todos?

Hermeto – I’ll be releasing my new DVD starting from my birthday, it’s called Hermeto Brincando de Corpo e Alma (Hermeto playing body and soul) in which I recorded 12 songs with no instruments but my own body. I don’t know what will happen from

Hermeto - O que eu senti foi uma dádiva porque o Miles não costumava abordar as pessoas. Foi uma força maravilhosa espiritual. Sobre a música contagiar, comparo com o que sinto que existe mas não tenho adjetivos para dizer. Eu só faço o que sinto e que gosto. Por isso, as pessoas sentem que é verdadeiro.

Bl - Você acredita que a música pode transformar algo na vida das pessoas, em seu interior(Alma, caráter e Intelecto)?

Bl – Miles Davis went up to you for the first time stating that he felt the need to talk to you without really knowing you and not knowing exactly what to say at the occasion, something simply moved him. What could have moved him? Was it your music which is so contagious to everything and everyone? Hermeto – What I felt was a blessing because Miles didn’t use to approach

Hermeto - Tenho certeza de que a verdadeira música pode nos transformar e o mundo para melhor. Bl – Do you believe music can alter people’s lives and their interior (soul, character and mind)? Hermeto – I am sure that real music can change us and the world, for the better.

www.hermetopascoal.com.br


“Minha primeira influência musical foram os animais, em seguida o papai”



educação e arte 51

Qual a importância da Arte no mundo atual? Qual a utilidade do ensino da Arte? Estes pensamentos estão sempre presentes nas reflexões daqueles que ensinam Arte.

ARTE PARA UMA CULTURA

Vivemos em uma sociedade que prima pela necessidade do consumo e disponibiliza, de uma maneira fácil, esse consumo. Tudo vem pronto, é só pagar e levar. Nesse ambiente, a realidade cotidiana dos indivíduos está rigidamente programada. O sujeito é um consumidor mecanizado. O espaço em torno é percebido e concebido somente como uma série de objetos com fins utilitários e para uso imediato. As relações afetivas são muitas vezes mediadas por processos virtuais e, a existência, torna-se um simulacro. Dentro deste contexto, os gostos e os valores estéticos são homogeneizados.

massificação. Ela promove a ampliação da percepção, permitindo observar e vivenciar a realidade sobre vários ângulos. Nesse processo, surgem novas inquietações, incentivando e possibilitando criar nossas próprias respostas frente ao imprevisível, munindo-nos da capacidade de transformar e inovar constantemente. Sendo assim, podemos distinguir com maior clareza aquilo que há de efêmero e superficial na sociedade, abrindo espaço para o que é essencial e fundamental, criando valores mais sólidos, despertando no indivíduo um olhar crítico sobre a realidade que o cerca.

A Arte Contemporânea está inserida nesta cultura de massas e os artistas se apropriam dos mesmos juízos de valores e, utilizam para se expressar, os mesmos códigos artificiais inseridos nestes meios. Essa Arte desperta mais o desejo de incomodar que de agradar, sugerir é mais importante do que evidenciar. O ensino de Arte possibilita resgatar as necessidades interiores do individuo em detrimento da

Com freqüência, a Arte está associada a um modo de “fazer” mais do que a um modo de “pensar”. Dessa maneira, valoriza-se apenas o caráter artesanal, em detrimento do seu caráter intelectual. Como forma de conhecimento, a Arte possui conteúdos que lhes são específicos. E isto não significa que somente a pessoa que possui habilidade técnica pode tornar-se artista. O conhecimento possibilita o fazer.

Por Francisco Alexandre Neto

HUMANIZANTE O ato de executar modifica esse conhecimento que, por sua vez, altera o modo de fazer. Para se ensinar Arte, como para se aprender, é necessário entendê-la como uma forma de pensar associada ao fazer. Teoria e prática, emoção e razão, pesquisa e reflexão. Não se pode ignorar que, mesmo de uma forma inconsciente, a Arte está inserida no cotidiano de todas as pessoas. Vivenciamos uma cultura eminentemente visual. A preocupação estética, a criatividade e o interesse em transcender são itens fundamentais da nossa existência. O papel da Arte, mais importante que encontrar as respostas corretas, deve ser o de criar novos questionamentos e seu estudo permite o acesso ao novo, ao inusitado, resgata as tradições e os valores esquecidos. Valoriza nossa capacidade de expressão e comunicação. Renova a capacidade de nos emocionarmos. Contempla uma sociedade plural e tolerante. Enfim, uma sociedade mais humana.


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sustentabilidade 54

Milão mostra ao mundo soluções para o dilema Sustentabilidade x Sistemas de transportes

A experiência de Milão começa com a classificação dos mais diversos sistemas de transportes na busca mitigar a poluição e o resultado está no centro da cidade, onde a população volta a respirar aliviada! Por Mário Baggio Classificar, segundo o Dicionário Michaelis, significa “1 - distribuir em classes e nos grupos respectivos, de acordo com um método ou sistema de classificação. 2 Determinar a classe, ordem, família, gênero e espécie de. 3 - Pôr em ordem (coleções, documentos etc.); arrumar. 4 – Qualificar. 5 Selecionar segundo qualidade, tamanho, ou outras propriedades ou qualidades: Classificar carvão, lã, ovos. 6 - Preencher, em competição ou concurso, as condições

Vamos ao conceito:

preestabelecidas para aprovação”. Os sistemas urbanos de transporte estão em crise e em momentos de RIO+20, onde a questão de sustentabilidade se faz muito presente, pregando o equilíbrio harmônico entre o SOCIAL, o AMBIENTAL e o ECONÔMICO, além de temas centrais sobre a Economia Verde, associada à Governança que os países, estados, cidades e empresas devem ter e respeitar, é preciso buscar soluções.

2. Os veículos, segundo seu tipo de combustível, foram classificados em:

1. A cidade foi classificada em REGIÕES

Região Central

POLUÍDAS e REGIÕES NÃO POLUÍDAS: Poluída por veículo com Diesel mais poluente

Milão

(diesel EURO 0,1, 2, 3)

Altos índices de poluição

Baixos índices de poluição

Região Central

Região Periférica

Experiências no Norte da Itália, particularmente na bela cidade de Milão, com extrema poluição atmosférica, lançaram-se mão da CLASSIFICAÇÃO para iniciar solução do grave problema de poluição ambiental. Um cruzamento de informações sobre veículos mais ou menos poluentes, com regiões muito ou pouco poluídas, foi a mola mestra para iniciar o processo de classificar quem combina com o quê!

Proibido transitar de seg a sex na zona central, das 7h30 às 19h30

Poluída por veículo com Diesel menos poluente (diesel EURO 4, 5)

Permitido transitar mediante pedágio

Poluída por veículo com Gasolina mais poluente (diesel EURO 0)

Proibido transitar de seg a sex na zona central, das 7h30 às 19h30

Poluída por veículo com Gasolina menos poluente

(diesel EURO 1, 2, 3, 4, 5)

Permitido transitar mediante pedágio

3. Proibidos de transitar na região central os

E o programa não parou por aí, já que

veículos com combustíveis poluentes passaram

decidiram comprar 20 mil carros elétricos

a dar lugar aos BONDES ELÉTRICOS (Trans), aos

para aluguel, além de dotar cada vendedor

TAXIS, aos ÔNIBUS DE TRANSPORTE COLETIVO,

de um carro elétrico, consolidando o conceito

enquanto aos menos poluentes foi facultado

demonstração. É a experiência de Milão dando

entrarem mediante pedágio cobrado através de

frutos; quem sabe, São Paulo, Recife, Rio de

câmeras instaladas em toda a malha central;

Janeiro etc. sigam esses passos inovadores. A classificação demonstra ser útil, pois ordena as ideias e ajuda na solução dos problemas, agindo-se localmente e pensando-se Da proibição à inovação. Da inovação à

globalmente, frase essa fruto da Rio 92.

4. Mas o melhor estava por vir; a AMEAÇA

salvaguarda dos princípios do desenvolvimento

Estamos distantes da sustentabilidade

começou a se transformar em OPORTUNIDADE,

sustentável. E começaram chegar as

plena que prega um mundo melhor para as

pois o centro começou a contar com veículos

bicicletas e os carros elétricos. A título de

gerações futuras. Porém nos aproximamos

pouco comuns: VEÍCULOS ELÉTRICOS,

ilustração, segundo a diretora de Marketing

de soluções mais inteligentes, estimulando

BICICLETAS NAS SUAS CICLOVIAS CENTRAIS,

da GE de Thomas Edison e Jack Welch,

as lideranças mundiais e, nós, habitantes

PESSOAS CAMINHANDO E ANDANDO DE

Sra. Beth Comstock, foram criadas, via

desse belo planeta Terra, a pensarmos mais; a

METRÔ, conforme foto a seguir:

Programa ECOIMAGINATION , as estações de

inovarmos mais.

carregamento de bateria de carro elétrico.

O planeta agradece.


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CUBA SINGULAR E REVOLUCIONÁRIA Estar em Cuba é, certamente, viver uma experiência singular. Trata-se do único país socialista das Américas na atualidade, com rica arquitetura, vida cultural intensa. Texto: Márcia Rosseto - Fotos: Marcelo Rocha


viagens 56.57


Com seus teatros, suas danças, músicas irreverentes, praias famosas (como Varadero, Isla de la Juventud, opção de lazer de muitos astros hollywoodianos e milhares de europeus, latinos, canadenses, mas também americanos). Cuba oferece aos turistas, espaços públicos transformados pela Revolução Cubana, ocorrida em 1959, quando o exército comandado por Fidel Castro e Ernesto Ché Guevara depuseram o governo do ditador Fulgêncio Baptista, homem forte, apoiado pelo governo americano. Antigos cassinos, onde a jogatina corria solta, foram transformados em escolas, centros culturais e embaixadas. A história está por todos os lados desta ilha, que tem Havana como a capital do país. Santiago de Cuba é a segunda maior cidade. Ao norte de Cuba, se encontram os Estados Unidos e as Bahamas; a oeste, está o México; ao sul, estão as Ilhas Cayman e a Jamaica; enquanto que a sudeste estão situados a Ilha de Navassa e o Haiti. A ilha foi descoberta, em 1492, por Cristóvão Colombo, que a reivindicou para domínio da Espanha. Cuba permaneceu como um

território espanhol até 1898, sendo reconhecida com um país independente pela maioria dos países no início do século XX. Cuba é o lar de mais de 11 milhões de pessoas. Socialista, no quintal dos Estados Unidos, apenas a China, o Laos, o Vietnã e a Coréia do Norte seguem adotando esta forma de governo. Esse modelo socialista tem atraído a cada ano mais turistas que chegam

aos milhares para conhecer o país de Fidel Castro, que luta para garantir os ideais socialistas, apesar do bloqueio norte-americano, ainda mantido por Barack Obama. Devido a essa sanção política e econômica, o povo convive com sérias restrições, seja na vida e na manutenção da estrutura cubana. Em Havana Vieja, por exemplo, essas condições ficam evidentes, ao se

A catedral de Havana (1748 -1777), que domina a “Plaza de la Catedral” (1749) é o melhor do Barroco cubano.


observar prédios caindo aos pedaços por falta de material para reformálos ou restaurá-los. São poucos os países que fazem transações comerciais com o governo Cubano, independentemente do bloqueio econômico. Falta quase tudo na Ilha de Fidel. A luta para acabar com essa política de restrição, com o passar dos tempos, ganhou milhares de adesões, incluindo artistas, intelectuais, governos, mas não prosperou. Daí a necessidade do controle do Estado para garantir que todo cidadão tenha

Máquina fotográfica de 1902, em perfeito funcionamento.

uma boa cesta básica para a sua subsistência. Entretanto, os ideais da revolução Cubana são importantes bens do povo e eles estão espalhados por toda a Ilha, como a Praça da Revolução, Teatro Karl Marx, Praça José Martir, espaços de convivência, todos com frases e lemas de apoio às reformas realizadas e que têm um grande apoio popular. Aliás, o cubano tem uma grande noção do processo histórico que viveram e fazem questão de falar e defender essas bandeiras. Mesmo assim, o país de Fidel e

Che Guevara enfrenta uma séria crise econômica desde o fim da União Soviética (URSS), da qual era dependente, situação agravada pelo embargo comercial norte-americano, que continua sendo mantido pelo presidente Barack Obama. Para enfrentá-la, o governo abre limitadamente sua economia, tendo como mote a exportação de açúcar e o incentivo ao turismo, cujo grande apelo são as praias de clima tropical. O modelo socialista de educação e saúde implantado pela Revolução Cubana melhorou significativamente o padrão de vida dos habitantes hoje todos têm acesso a serviços de saúde e a taxa de analfabetismo é de 3,6%, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Por causa da origem africana de grande parte da população, a cultura cubana possui vários elementos em comum com a brasileira, como o carnaval e a santería, religião semelhante ao candomblé. Também é forte a influência espanhola - visível nos edifícios coloniais de Havana, considerados patrimônios da humanidade - e a norte-americana, representada pelo beisebol, o esporte nacional cubano. Beleza e fortaleza: Um dos maiores cartões postais Cubano é, sem dúvida, o Malecón. Os oito quilômetros da avenida que se estendem de Havana Vieja e Vedado, expõem um mar nervoso que se quebra em lindas em enormes paredes de pedras, molhando carros e pedestres que passam pelo local. O local é glamoroso e, certamente revolucionário. Ele inicia junto ao Paseo del Prado, na parte antiga da cidade e, além dos cubanos, é o destino principal dos turismos que visitam a Ilha e se encantam com a beleza deste local que nos remete à nostalgia, onde muitos aguardam, deslumbradas, o belíssimo por do sol.

viagens 58.59


viagens 60.61


Predio do MinistĂŠrio do Interior. Arte com a imagem do comandante Ernesto Guevara.


EUROPA:

PARA ONDE

VAIS?

por Helder Lourenço

Perguntar para onde se vai, significa perguntar primeiro de onde se vem. A atual União Europeia nasceu da vontade dos europeus em acabar com a guerra para resolverem as suas diferenças. A miséria, a destruição e a dor causadas pelas I e II Guerras Mundiais, originadas na Europa, levaram os europeus à necessidade da cooperação. A cooperação surgiu da necessidade econômica, mas também da necessidade política, de modo a que se pudesse evitar a ascensão hegemônica de regimes totalitários que conduzissem a uma nova guerra. Os fundadores das estruturas que levaram à fundação da União Europeia perseguiam objetivos econômicos, mas compreenderam que estes só seriam realizáveis, se simultaneamente fossem alcançados objetivos políticos, sem exclusões de nenhum povo nem de nenhuma cultura ou nação da Europa. Contudo, foram colocadas condições para a realização da sua inclusão num regime de cooperação. A primeira começava pela participação no Conselho da Europa, um verdadeiro estágio de adaptação aos novos valores da Europa do pósguerra, uma organização criada em 1949 e estabelecida como símbolo desta nova vontade na cidade mártir de Estrasburgo, múltiplas vezes destruída nos confrontos entre a França e a Alemanha. Os


artigo 62.63

Em 2004, entraram mais 10 países: valores que nela foram alicerçados Eslováquia, República Checa, incluíam, como âncora, os valores Hungria, Polônia, Estônia, Lituânia, da Declaração Universal dos Letônia, Eslovênia, Malta e Chipre. Direitos Humanos da ONU (1948). Em 2007, entraram a Romênia e a Todos os países que participassem Bulgária. na reconstrução europeia, com vistas a uma futura e mais estreita Mas os alargamentos sucessivos cooperação, teriam, primeiro, de se a partir de 1.995, com a queda constituir em sólidas democracias do Muro de Berlim em 1989 e políticas, sociais e econômicas, a reconversão democrática dos salvaguardadas na respectivas países da Europa Central e Oriental, constituições, só depois poderiam obrigaram a uma reformulação das avançar para uma união. Em 1951, instituições de regulação da União arrancou a Comunidade Europeia Europeia. Não era mais possível do Carvão e do Aço (CECA), fundada tomar decisões por unanimidade, pela França, a Alemanha, a Itália, o como acontecia desde 1.951 com Luxemburgo, a Bélgica e os Países a CECA, numa UE com 12 ou 15 Baixos (Holanda). Em 1957, a partir países, tratando-se de sociedades do sucesso da CECA, foi fundada com níveis de a Comunidade desenvolvimento Econômica Os partidos do parlamento das suas Europeia (CEE) europeu devem tornar-se economias e com o Tratado de democracias tão Roma, alargando transnacionais e tanto o profundamente a circulação governo da UE como a sua diferentes. Foi livre de carvão presidência devem passar a nesse sentido e aço a todos os outros produtos ser eleitos diretamente por que surgiu o projeto de uma produzidos nos todos os cidadãos europeus. Constituição países fundadores. para a Europa Em seguida, a em 2.004, aprovado pelo Conselho CEE foi-se alargando, tanto em Europeu, mas todavia derrotado número de países, como em termos pelos referendos populares na de objetivos de integração. Em Holanda e na França. Assim, sem 1973, entraram o Reino Unido, a uma constituição que reformasse Irlanda e a Dinamarca. Em 1981, profundamente os modos de entrou a Grécia. Em 1986, entraram decisão política da UE, 12 países da Portugal e Espanha. Em 1986, Europa Central e Oriental entraram foram estabelecidos os princípios na União entre 2.004 e 2.007 sem de construção de um mercado que houvesse os instrumentos comum, preparando para o futuro necessários para a sua efetiva e a livre circulação de pessoas funcional integração. e capitais. Em 1992, depois da Esta situação, de rápido e massivo unificação da Alemanha em 1990, alargamento a países muito com o Tratado de Maastricht, a pobres, gerou justificados medos CEE alterou a sua designação para nas populações dos países mais União Europeia (UE), criou-se uma desenvolvidos, que temiam vir cidadania da União Europeia e a sofrer perdas significativas de foram estabelecidas as bases de qualidade de vida e de investimento, uma real e efetiva União Econômica tanto público como privado. e Monetária, abrindo caminho à Criaram-se receios de diminuição criação do Euro como uma moeda do emprego com a deslocalização única comum. Em 1995, entraram de empresas das suas nações a Áustria, a Suécia e a Finlândia.

para países de mão-de-obra barata e qualificada e aumentos desmesurados dos fundos de coesão, reduzindo os orçamentos dos seus Estados. A ausência de uma Constituição foi de algum modo compensada pelo Tratado de Lisboa de 2.009. Mas este Tratado fortalece e blinda o poder de decisão e os interesses dos países com maior população e economias mais desenvolvidas, como a Alemanha, a França e o Reino Unido. Surgiu, assim, um clima generalizado de desconfiança recíproca entre parentes ricos e pobres da UE, que se veio a revelar destruidor para os mais pobres na atual crise das dívidas soberanas. O principal problema da Europa é o da indefinição e inconsequência da sua união política. Os muitos passos dados economicamente no sentido da integração da Europa não estão a ser acompanhados pelas vontades políticas dos seus povos em abdicar de velhos hábitos, culturas, tradições e mentalidades enraizados de séculos, que impedem o desenvolvimento de uma visão autenticamente solidária e despreconceituosa do outro. Desconfianças de guerras e injustiças seculares têm impedido o desenvolvimento de uma mentalidade aberta e franca de aceitação do outro tal como ele é, tanto nos vícios como nas virtudes. Um grego, espanhol, italiano, irlandês ou português tem permanecido sempre um preguiçoso no norte, independentemente de no sul da Europa se ter menos férias, se ganhar menos pelo mesmo trabalho e diariamente se trabalhar mais horas, quantas vezes, em alguns setores de ponta, até com mais qualidade e produtividade. As diferentes regras de aposentação e algumas prestações sociais, aparentemente mais favoráveis no sul, têm sido ridicularizadas no norte, sem se


atender à sua constituição histórica nem às suas razões objetivas em geral. Mas também os países do sul não têm conseguido alterar, com a profundidade necessária, mentalidades e preconceitos em relação aos países do norte. Os cidadãos dos países do sul não podem querer viver como os cidadãos dos países do norte sem se esforçar, estudar e trabalhar com a mesma qualidade que eles, esperando usufruir eternamente de fundos de ajuda e desenvolvimento pagos por eles. Por outro lado, há núcleos de interesses financeiros localizados no norte da Europa que não têm revelado verdadeiro interesse num desenvolvimento harmonioso e sustentado do sul. Não foi, seguramente, por acaso que surgiu a designação PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha – em inglês: “Spain”), à qual, mais recentemente, se acrescentou um “I”, para PIIGS, juntando-lhe a Itália. O sul da Europa recebeu créditos baratos, em condições muito favoráveis, desde o surgimento do Euro (1999 – para transações internas na UE; 2002 – com moedas e notas reais) e a abertura do mercado comum europeu à livre circulação de capitais. Todavia, os créditos baratos foram aceitos nos países do sul na expectativa de que as condições de assistência mútua entre países da União Europeia se manteriam, se as condições favoráveis de concessão de dívida pelos mercados mundiais se alterassem, revelando verdadeira solidariedade e coesão. Ora, dado o fracasso do demorado processo da união política, isso não tem vindo a acontecer desde o deflagrar da atual crise financeira mundial, despoletada inicialmente pela crise do crédito imobiliário nos EUA (“subprime”) a partir de 2.007 e depois pelas dívidas soberanas na Europa, em virtude daquela, a partir de 2.008.

Se as presentes condições de assistência financeira, ineficazes, não se alterarem, na medida em que garantem negócios lucrativos aos países e estados com uma já muito boa situação financeira, em detrimento dos países em dificuldades, os países europeus do sul, incluindo Portugal, estarão condenados ao subdesenvolvimento e à dependência externa desigual. As medidas de assistência não poderão ser eficazes, pois contribuem para a eliminação da livre concorrência no espaço da UE em setores tecnológicos de ponta nos países do sul, na medida em que as jovens empresas “start-ups” desta área não receberão os necessários financiamentos para se expandir. O agravamento destas desigualdades no tempo só poderá conduzir necessariamente à eclosão de conflitos de muito difícil resolução. Porque também no sul toda esta desconfiança do norte está a abrir feridas difíceis de voltar a fechar. E o resultado final poderá vir a ser aquilo que os europeus com tanto custo procuraram superar nos últimos 67 anos, a guerra, contradizendo a razão de ser da própria constituição da União Europeia, evitá-la! Reside todavia esperança. À alternativa de um bloco românico (Portugal, Espanha, Itália e França), de um bloco germânico (Alemanha, Áustria e Europa Central e Oriental) e de um bloco britânico (Reino Unido, Irlanda, eventualmente parte da Escandinávia), com a eventual potenciação de conflitos e guerra, pode contrapor-se uma discussão genuína nos povos da União Europeia sobre o futuro da União. A alternativa não seria exatamente idêntica à dos Estados Unidos da América do Norte, mas seguramente muito próxima, com uma constituição federal, um Parlamento, um Senado (em

que o voto de cada nação tenha o mesmo valor independentemente da sua dimensão) e a eleição conjunta dos principais órgãos de governo central por sufrágio universal dos 500 milhões de cidadãos da união. Atualmente, apenas o Parlamento Europeu é eleito por sufrágio universal. A Comissão Europeia, o governo da UE, é simplesmente nomeada pelos Chefes de Estado e de Governo dos países da União Europeia reunidos em Conselho Europeu. O poder de fiscalização do Parlamento Europeu é mais consultivo que efetivo, condicionando apenas a nomeação e o orçamento da Comissão. Também o presidente do Conselho Europeu é nomeado pelos Chefes de Estado e de Governo por 2 anos e meio. Não sendo eleito pelos povos da União Europeia por sufrágio universal, não corresponde à figura de um autêntico Presidente da União Europeia nem é reconhecido nem considerado como tal pelos cidadãos. Para que se ultrapasse a crise de legitimidade democrática dos órgãos da atual União Europeia junto dos cidadãos e os preconceitos históricos entre a Europa do Norte e a Europa do Sul, bem como entre a Europa Ocidental e a Europa Oriental, é necessário que entre os seus cidadãos se gerem discussões autênticas sobre o futuro da comunidade das nações europeias. Os partidos do parlamento europeu devem tornar-se transnacionais e tanto o governo da UE como a sua presidência devem passar a ser eleitos diretamente por todos os cidadãos europeus. As campanhas presidenciais, assim como as campanhas para o Parlamento Europeu, eleito a cada 5 anos, poderiam vir a transformar-se em poderosos motores catalisadores desse processo. Poderá vir a suceder assim, sobretudo se a União Europeia não esquecer os



artigo 66.67

Lições do Oriente por Jurandir Malerba O mundo nunca foi um lugar lá muito seguro para se viver. A rigor, a história da humanidade é uma história de barbárie. Impregnados do ranço judaicocristão que ecoava do medievo, os filósofos iluministas quiseram crer que se tratava de um caminho seguro, da barbárie à civilização, da ignorância à ciência, das trevas à luz. O século XIX, embebido de otimismo, da emergência dos Estados nacionais soberanos, da industrialização, da liberação dos mercados, da ciência e das teorias evolucionistas, pareceria caminhar para o desfecho triunfal anunciado no Século das Luzes. Mas veio o século XX para botar por terra toda vã esperança de progresso anterior. Os físicos dominaram a matéria e a energia? Mas delas se fizeram bombas. Os biólogos catalogaram e estudaram os microorganismos? Mas com eles vieram doenças. Os laboratórios produziram melhores sementes? Diz-se que também as pragas mais resistentes. Os remédios? Mais doentes. Os capitalistas aumentaram a produção de mercadorias? Criaram também a massa dos não consumidores (os que estão fora do mercado de trabalho e de consumo) e de consumidores de massa. Produzimos tanto hoje que nem paramos para pensar se precisamos de tudo que produzimos. Produção como fim, não como meio, à custa da sustentabilidade do planeta. Chegamos sozinhos nesta sinuca de bico.

Mas não estamos absolutamente sozinhos. Havia muito que os ocidentais inventaram o “outro”, o herege, o infiel, o bárbaro que fala outra língua e tem outro credo. Este outro, que já existia muito antes de nós, continuou a existir e a prosperar, de acordo com seus hábitos e sua cultura. Há milênios, dezenas, senão centenas de povos que habitam o Norte da África, a Sahariana e a SubSahariana, e o Oriente Médio, estão ali, aqueles beduínos, nômades, eternos trânsfugas do deserto. Sabe-se que alguns deles são de culturas muito ricas, sofisticadas. Enquanto a Europa se destruía em guerras religiosas, doenças venéreas, desnutrição e ignorância, aqueles povos acumulavam inestimável acervo de cultura e ciência, senhores das álgebras, da astronomia, da medicina, da literatura – esses povos que George Bush Filho chamou de “bárbaros” quando justificou a invasão do Iraque. Dando um longo salto einsteiniano na história, esses “povos bárbaros” iam muito bem, enquanto proviam as potências ocidentais da mais valiosa e letal fonte de energia produzida e consumida ao longo do século XX e até hoje: o petróleo. Ninguém por aqui se importava se sua organização social era clânica, se suas mulheres não se sentavam à mesa com os homens, se tinham que cobrir a cabeça para sair à rua, se eram apedrejadas à morte por

infidelidade conjugal. De repente, Hosni Mubarak, Ben Ali, Muammar Kadhafi et caterva já não são bons líderes. Acontecimentos isolados, como os piro-suicidas egípcios levam multidões às ruas, em obstinada vigília. Começou ali na virada para 2011, mas a Síria ainda arde em chamas. “Primavera dos povos árabes!” Essa é a metáfora predileta dos incentivadores de cá, aludindo ao movimento revolucionário suportado pelo proletariado industrial organizado que abalou a Europa em 1848. E agora há o fator decisivo da tecnologia: IPhones, câmeras digitais, telefones celulares banais inundam a rede mundial de computadores (e a imprensa). A instantaneidade. Assistimos a tudo praticamente ao vivo. São imagens muitas vezes dúbias, das quais não se pode identificar o lugar, as pessoas, quem são ou quantas são, o que de fato sucede: um correndo aqui, outros se escondendo de rajadas ali; uns carros blindados acolá, em meio à correria. Ruínas. A rigor, é muito difícil fazer a triagem e a interpretação dessas imagens sem enredo. Mas as legendas são postas, postadas, nas manchetes, nos heads dos jornais. Há outra guerra muito sutil em curso, em nada menos violenta: a guerra de informação. As imagens são dúbias, porém pretexto suficiente ao presidente norte-americano, junto com seus fiéis escudeiros Sarkosy


(recentemente defenestrado pela esquerda) e Cameron, para formar a “liga da justiça”, prontamente atendido. Difícil esquecer que os Estados Unidos chafurdam em sua crise estrutural mais duradoura da história; que o presidente francês, de olho nas eleições presidenciais, lutava contra seu mais baixo nível de popularidade; e que o premier britânico assistiu à maior manifestação dos trabalhistas em 20 anos semanas atrás (250 mil londrinos nas ruas), agora ainda mais fragilizado pelo escândalo dos grampos ilegais dos jornais britânicos, que respinga em seus assessores diretos. Na London Conference on Libya, em março de 2011, ouvimos a secretária de Estado norteamericana, Hillary Clinton, exultante, saudar os “revolucionários” e defender que os aliados devem continuar bombardeando Trípoli e ajudar a armar os insurgentes. Sensação de “já vi este filme”. Para libertar os pobres afegãos da tirania

soviética, os EEUU um dia armaram até os dentes os talibãs, entre eles um jovem desconhecido chamado Osama Bin Laden. Deu no que deu e ainda está dando. Não é preciso ser antropólogo ou historiador profissional para saber que aquelas linhas retas absurdas que compõem o desenho da África nada tem de “naturais” (como qualquer fronteira), mas são o resultado do butim, da divisão das conquistas pelos aliados do Ocidente, ao longo das várias guerras que marcam o século XX. Essas falsas fronteiras formaram falsos países que, na verdade, congregam uma infinidade de grupos étnicos e religiosos. Pelos menos quatro grandes na Líbia, ainda mais cindidos por fortes identidades e tradições tribais, alimentadas por décadas por Kadhafi, para evitar a possibilidade de um golpe de Estado. Mas vamos armar esses revolucionários, esses paladinos da democracia. Com isso

derrubaremos os tiranos, os regimes autocráticos, abriremos caminho para a “democracia”, libertaremos os povos oprimidos. Ou pelo menos evitaremos uma vaga de imigração em massa de povos árabes para a Europa (que, potencializado pela bancarrota financeira dos países do Euro, manifesta a maior onda de xenofobia desde o Nazismo) e teremos chance de um maior controle sobre suas jazidas de petróleo. Kadhafi definitivamente nunca foi o mocinho da história, mas há dúvidas de que fosse o único bandido. Derrubado o regime, restam agora as milícias e gangues armadas até os dentes. Quem sofre é o povo, que continuará sofrendo. Mas os ditadores montados em poços de petróleo que coloquem suas barbas de molho. O recado já foi abertamente dado a Ahmadinejad. Chávez que fique esperto; pode demorar, mas ainda sobra para ele. Se lhe permitir sua saúde.



artigo 68.69

Ribeirão Preto, a cidade virou HQ Contar um pouco da história de uma cidade por meio do olhar e do traço de cartunistas, ilustradores e artistas gráficos se torna uma experiência inédita no interior e dá visibilidade ao trabalho de quem ganha a vida na prancheta!v Por Cordeiro de Sá O álbum Ribeirão Preto em Quadrinhos, RPHQ 1, é uma coletânea de histórias em quadrinhos e ilustrações que retrata lugares, casos e tipos da cidade. Para essa primeira parte (sim, o projeto é realizar uma trilogia) foram reunidos cerca de 30 designers, redatores, roteiristas, quadrinistas e ilustradores locais. Durante sua elaboração, o projeto ainda promoveu uma oficina para 15 crianças do Centro Cultural Isègun, cuja ilustração também participa do álbum. Com tiragem já esgotada de 2.000 exemplares distribuídos gratuitamente e com mais de 650 downloads até o fechamento desta edição, a RPHQ 1 foi lançada no começo de 2012, na Fnac Ribeirão e relançada durante a Virada Cultural Paulista na livraria HQ Mix, uma referência nacional do gênero. O projeto é uma produção da Atômica Filmes, que selecionou os participantes, buscando formar um grupo representativo e heterogêneo. “Reunimos artistas consagrados e iniciantes, elegemos uma série de temas, lugares e personagens, para depois sorteá-los entre os participantes. A partir daí, argumentos e roteiros de uns foram finalizados por outros, produzindo esse belo documento artístico e até

antropológico!”, explica Cordeiro de Sá, coordenador dos trabalhos. Para o artista Fred Nuti, o álbum prima pela diversidade: “a RPHQ é rica em técnicas e estilos artísticos, vai do Mangá ao Underground, navegando do terror ao drama, da ficção científica à comédia, da lendária serpentina de chope à fantástica Sorveteria do Geraldo”. Segundo o quadrinista Saulo Michellin, esse tipo de ação valoriza a auto-estima das pessoas e é um ponto a favor do turismo: “é muito bom poder reconhecer nossa própria cidade nas histórias, que agora pode até ser visitada a partir do álbum. Estamos cansados de só ver Nova York e Tóquio no universo pop, não é mesmo?”. Essa primeira parte da trilogia foi premiada pelo Programa de Incentivo Cultural da Secretaria Municipal da Cultura de Ribeirão Preto, contou com patrocínio do Senac e com o apoio da Thomate Cartuns, RumbaBar, Instituto do Livro, Pontão de Cultura Sibipiruna, Centro Cultural Isègun e Ideatore Comunicação. Por suas contribuições ao cenário cultural e social da cidade, o resultado foi dedicado ao roteirista Rubens Luchetti, ao cartunista Pelicano e ao sr. Nelson Stefanelli, que

voluntariamente sinaliza as ruas de Ribeirão Preto com centenas de plaquinhas. Curiosidades sobre o processo de trabalho, a repercussão dos eventos de lançamento, perfis e obras dos artistas e o link para download da RPHQ 1 podem ser acessados no Facebook - fb/ ribeiraopretoemquadrinhos. “Essa fanpage é uma forma de registrar a história do projeto e de viabilizar sua continuidade. Além disso, as informações disponibilizadas podem servir de apoio para quem está ingressando nesse universo ou se interessa em saber mais sobre artes visuais e sequenciais.”, afirma Sá. Dessa primeira edição do projeto, participaram os artistas: Adilson Terrível, Ana Márcia Zago, Beto Candia, Cako Facioli, Cordeiro de Sá, Chris Lee, Daré, Dino Bernardi, Dud, Francisco Gimenes, Fred Nuti, Fulvio Setti, Gandolpho, Geraldo Lara, Gustavo Russo, Graziela Protti, Graziela Adorno, Lubasa, Marcela Calura, Marcelo Dias, Quico Soares, Renato Andrade, Ruy Marx, Saulo Michelin, Thomate, Ubirajara Jr, Valnei Andrade e Yuri Chamoun. O texto de apresentação é de Stella Crotti. Agora, é esperar pelo número 2.


Quadrinhos 70.71



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TEIMOSIA DA IMAGINAÇÃO - DEZ ARTISTAS BRASILEIROS Maria Lucia Montes, Germana Monte-Mór Este livro veio para confundir e, talvez, para ficar. Mais: talvez fique justamente porque veio para confundir. Em outras palavras: há aqui um material que ajuda a colocar em xeque a concepção generosa (e pouco realista) que vê na produção artística das camadas mais pobres de nossa população um caráter exclusivamente singelo e lírico, porque sua arte teria origem numa relação amistosa com a natureza. Teimosia da imaginação - dez artistas brasileiros mostram que as coisas são bem mais complexas. Aqui os artistas, suas obras e seus relatos - porque as autoras decidiram dar voz aos próprios homens e mulheres que aparecem no livro - apontam para uma trama bem menos homogênea. Cidade e campo, ensinamento e experiência, loucura e relação serena com o meio, procedimentos modernos e técnicas tradicionais deixam de se pautar por parâmetros claros e excludentes. No mais das vezes eles se encavalam de maneira mais ou menos violenta, dando origem a trabalhos de arte que guardam a lembrança dessas relações complicadas e imperfeitas.

O PODER DOS QUIETOS - COMO OS TÍMIDOS E INTROVERTIDOS PODEM MUDAR UM MUNDO QUE NÃO PARA DE FALAR Suzan Cain Fenômeno de vendas, o livro de Susan Cain mostra que a introversão, atualmente encarada como um traço de personalidade de segunda classe pode ser extremamente produtiva e foi essencial para ideias que impulsionaram o desenvolvimento de nossa sociedade. Um dos livros mais vendidos do ano nos Estados Unidos segundo o jornal The New York Times, O poder dos quietos, da americana Susan Cain, lançado no Brasil pela Editora Agir, mostra que a introversão é ingrediente fundamental para a criatividade e a inovação. Embasada por estudos científicos, além de ter realizado um extenso trabalho de pesquisa, a autora afirma que nossa sociedade vem transformando escolas e escritórios em instituições dedicadas a extrovertidos — arquétipo que tem se revelado um grande desperdício de talento, energia e felicidade.

CINEMA BRASILEIRO NO SÉCULO 21 Franthiesco Ballerini Esta é a obra definitiva sobre o cinema brasileiro. Baseado em dois anos de entrevistas com os mais importantes nomes do cinema nacional, em pesquisas e em dados da indústria, Franthiesco Ballerini faz um retrato da produção cinematográfica hoje nas áreas de atuação, direção, roteiro, exibição, distribuição e legislação, entre outras. Mais do que fornecer dados, defender teses ou aprofundar questões, este livro apresenta reflexões, às vezes de modo conflitante, de profissionais atuantes no cinema brasileiro. Pois somente conhecendo a fundo nossa história audiovisual, bem como refletindo intensamente sobre os rumos da cinematografia contemporânea, conseguiremos fazer com que, no século 21, o cinema brasileiro seja, realmente, visto pelos brasileiros.


GETÚLIO 1982 - 1930 - DOS ANOS DE FORMAÇÃO À CONQUISTA DO PODER Lira Neto Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954) é a figura histórica sobre a qual mais se escreveu no Brasil. No entanto, na copiosa bibliografia dedicada a ele, não havia até agora uma biografia completa, de cunho jornalístico e objetivo, que procurasse reconstituir em minúcias a trajetória pessoal e política do personagem do modo mais isento possível. A monumental trilogia Getúlio, de Lira Neto, da qual se lança agora o primeiro volume, vem suprir com sobras essa lacuna. Ao longo de dois anos e meio, o autor se debruçou sobre uma vastíssima gama de documentos — muitos deles inéditos ou pouco explorados — para ajudar a decifrar a “esfinge Getúlio” e mostrar como foi possível que convivessem no mesmo indivíduo o revolucionário, o ditador, o reformador social e o demagogo.’

SENTIMENTO DO MUNDO Carlos Drummond de Andrade Leitura obrigatória da Fuvest-2013, Sentimento do mundo mostra o poeta mineiro atento aos acontecimentos políticos de sua época. O livro mostra o Drummond humanista que lamenta que as pessoas mantenham olhos cerrados para o mundo, a ponto de permitir a violência — a Segunda Guerra Mundial e a ditadura getulista — e de trocar a compaixão pelo egoísmo de quem vive fechado em si mesmo ou em um “terraço mediocremente confortável” (“Privilégio do mar”).

FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA - COMO OS LUTADORES BRASILEIROS TRANSFORMARAM O MMA EM UM FENÔMENO MUNDIAL Fellipe Awi Filho teu não foge à luta, livro de estreia do jornalista Fellipe Awi e primeiro lançamento nacional da Intrínseca, teve menção generosa e elogiosa na matéria de capa sobre o UFC da revista Veja. Sucesso de alcance global, o MMA (do inglês mixed martial arts – artes marciais mistas) tem milhões de fãs. Filho teu não foge à luta é a história definitiva do MMA, o esporte que mais cresce no mundo. Tudo sobre as artes marciais mistas, desde os primórdios, com o desenvolvimento do jiu-jítsu pela família Gracie, até as conquistas internacionais de nomes como Anderson Silva, Rodrigo Minotauro, Junior Cigano e Wanderlei Silva.

OS CEM MELHORES CONTOS BRASILEIROS DO SÉCULO Italo Moriconi

TUDO OU NADA Luiz Edurado Soares Um avião decola com dezenas de caixas de cigarro, pesando 25 quilos cada uma, e as lança em alto mar, onde são recuperadas por pequenas embarcações e levadas a alguma ilha do Caribe. De lá seguem num veleiro, acima de qualquer suspeita, para Londres. É desta forma que toneladas de cocaína são transportadas da selva colombiana até a Inglaterra. Luiz Eduardo Soares descreve os bastidores dessa trama, ao relatar a história de um brasileiro que foi preso em Londres com 2 toneladas de cocaína e condenado a 24 anos de prisão por associação ao tráfico internacional de drogas.

Nesta antologia, o professor Italo Moriconi apresenta os cem melhores textos do gênero produzidos no Brasil ao longo do século 20. Seguindo rígidos critérios acadêmicos e pautado somente pela qualidade e pelo sabor dessas pequenas obras-primas, esta coletânea faz um passeio pela mais deliciosa e contundente ficção curta produzida no Brasil entre 1900 e o fim dos anos 90. Uma antologia capaz de traduzir as mudanças do país e as inquietações de várias gerações de brasileiros, em cem anos de produção literária. Para ilustrar esse instigante e rico panorama, Moriconi escalou craques como João do Rio, Clarice Lispector, Lima Barreto, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade, Dinah Silveira de Queiroz, J.J.Veiga, Rubem Fonseca, Ana C. César, Otto Lara Resende, Fernando Sabino, Hilda Hilst, Dalton Trevisan, Moacyr Scliar, Lygia Fagundes Telles, Victor Giudice, João Antônio, Luiz Fernando Veríssimo, Raduan Nassar e Nélida Piñon, entre outros.

30 MINUTOS E PRONTO Jamie Oliver ‘ Sucesso absoluto, com mais de 2 milhões de exemplares vendidos no mundo, a Globo Livros lança no Brasil 30 Minutos e Pronto, do chef britânico Jamie Oliver. Conhecido por seus mais de 10 livros escritos e programas de TV que ensinam as pessoas a sentir prazer pela cozinha e pelo ato de cozinhar, Jamie desafia os leitores a criar refeições completas em 30 minutos. Além dos 50 diferentes cardápios, o chef dá dicas de como ter e manter uma cozinha organizada, e incentiva o consumo de alimentos naturais e orgânicos: cada uma das refeições foi preparada com alimentos que combinam uns com os outros e testadas por ele e por sua equipe.


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BAOBÁ

Muitos são os nomes desta linda árvore, baobá, embondeiro, imbondeiro ou calabaceira. Tipo de árvore com oito espécies nativas da ilha de Madagascar (o maior centro de diversidade, com seis espécies). Para uns, considerada uma árvore sagrada, fonte de inspiração para poesias, ritos e lendas, para outros, representa principal fonte de renda e até mesmo a cura para vários tipos de doenças. Sua madeira serve para a construção de casas e instrumentos musicais e o seu cerne rende uma fibra forte usada na fabricação de cordas e linhas. A polpa e a fibra de seus frutos são capazes de combater a diarreia, a desinteria e o sarampo. A fruta também combate a febre e inflamações no tubo digestivo; as sementes estão repletas de óleo vegetal, podendo ser assadas, moídas e consumidas como bebida que pode substituir o bom e velho cafézinho. Curiosamente, essa árvore tem uma vida muito longa, podendo chegar até seis mil anos, e o mais Incrível é que, sua altura pode chegar aos 30 metros e seu tronco até 11 metros de comprimento, podendo armazenar até 120.000 litros de água, sendo utilizado como cisterna comunitária. O Baobá foi muito divulgado através da obra O Pequeno Príncipe, do escritor francês Antoine de Saint-Éxupery. Esta foto foi tirada de dentro de um carro em movimento, na cidade de Libolo, município da província do CuanzaSul, em Angola em Julho de 2010.




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