22ª Bienal de São Paulo (1994) - Catálogo Geral / General Catalogue

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AlEMANHA GERMANY CU~ADO~ CU~AíO~ eVelYN Wel~~ A escolha de artistas para uma bienal sempre foi um grande desafio, pois está em jogo estabelecer, através da mostra, uma marca temporal em relação ao presente e sobretudo ao futuro. Muito mais que as exposições habituais, as grandes mostras e bienais de Kassel, São Paulo, Sydney e Veneza são legítimas herdeiras das exposições mundiais do século XIX, em que a arte, a cultura, o panorama nacional, a tecnologia e as invenções recentes podiam se reunir em uma simbiose. E ainda que a escolha geral dos artistas pareça subjetiva e às vezes aleatória, quando observados de perto esses acontecimentos revelam-se realizações elucidativas do mais alto nível e precisas em relação à sua época. Muito mais difícil para os organizadores e curadores da mostra é determinar critérios seguros. Deve-se apresentar apenas trabalhos recentes, inovadores? Deve-se buscar obras grandiosas que chamem a atenção dentro de um panorama geral? Deve-se tentar representar um determinado grupo ou movimento, ou mostrar discursos artísticos completamente distintos, que espelhem a pluralidade do mundo das artes? Todas essas soluções podem ser corretas numa determinada época e erradas em outra. Assim foi em 1975, quando predominavam a arte conceitual e a arte povera. Convém esclarecer que existia então na Alemanha uma atividade pictórica muito forte e de extrema importância, como ficou evidente na obra de Baselitz, Palermo e Polke. Também foi correta a decisão de concentrar a seleção da Alemanha no final dos anos 70 apenas em Josef Beuys, de modo a proporcionar maior aproximação entre a multiplicidade dessa complexa personalidade artística e o grande público das bienais. Também parece acertada a decisão de mostrar, através da obra de Antes, Penck e Uhlig, uma geração mais madura, que pela primeira vez podia ser vista sob a marca da reunificação das duas Alemanhas. Em 1994, Gerhard Richter, Rosemarie Trockel e Asta Grõting, três artistas de gerações diferentes, representam de modo exemplar as diversas posturas artísticas. Nüm primeiro momento, parece estranho que Gerhard Richter, hoje com mais de sessenta anos de idade e reconhecidamente um dos maiores pintores alemães da atualidade, seja apresentado apenas nesta Bienal. Conhecido na Europa desde o início dos anos 70, em exposições como as Dokumenta de Kassel e as Bienais de Veneza, e também nos Estados Unidos por suas retrospectivas, Richte'r é um artista que sempre lutou de modo reservado e silencioso por seu espaço, e com grande sucesso. Evitou tanto quanto pôde a agitação da mídia e a total dependência de galeristas voltados para uma estratégia de marketing. Hoje ele é cada vez mais importante para a nova geração de artistas. A criação de Richter caracteriza-se por um trabalho serial, desenvolvido aparentemente em fases separadas. Durante décadas, sua obra provocou irritação no meio artístico com o realismo e a fotografia, a fotografia pintada, a pintura fotografada, , as estruturas minimalistas, a monocromia e as formulações imagéticas abstratas. Só agora seu trabalho aparece em sua total coerência, na qual as diferentes posturas pictóricas não se mostram como fases sucessivas de um processo, mas como possibilidades simultâneas de uma única praxis que se repetem, mencionam a si mesmas e desprendem-se em ondulações. Os quadros abstratos de Richter transportam quem os contempla a um estado de êxtase. 106

Selecting artists to participa te in a biennial has always been a great challenge for its curators and organizers beca use their objective with an exhibition is to leave an imprint of both present and future. Much more than usual exhibitions, large shows and biennials such as Kassell, São Paulo, Sidneyand Venice are the heirs of the 19th century world exhibitions, in which art, culture, national scenery, technology and recent inventions could meet in symbiosis. Even when the choice of the artists tend to be subjective and some times casual, at a closer look, these events are elucidating and important accomplishments, representatives of their times. It is extremely difficult for organizers and curators to determine a safe criteria. Should they present only recent and innovative works? Should they exhibit only magnificent works which call the public's attention? Should they present a certa in group ar movement ar show totally different artistic trends which reflect plurality in art? Ali these solutions can be either right ar wrong depending on the occasion. As an example, we can mention the predominance of conceptual art and arte povera in 1975. Paral/el to them, Germany had a very important pictorial activity seen in the works of Baselitz, Palerma and Polke. Selecting Josef Beuys to represent Germany in the late seventies was also correct as it allowed the public to better grasp the multiple facets of this complex artistic personality. Another important decision was to show the profile of a new undivided Germany, through the works of a more mature generation represented by Antes, Penck and Uhlig. In this Biennial, Germany will be represented by Gerhard Richter, Rosemarie Trockel and Asta GrOting, artists of different generations and different art schools. It is rather strange that Gerhard Richter has not been chosen to participa te in the Bienal Internacional de São Paulo before. He is now more than 60 years old and since the beginning of the seventies became well known through exhibitions such as Kassel Dokumenta, Venice Biennials, and retrospectives in the United States. Very discreet and reserved, Richter imposed himself in silence, avoiding the media turmoil and marketing strategies of gal/ery owners. Richter's creation, characterized by serial works developed in separated phases. During decades the realism in his work, the photos, photographed painting, minimalist structures, monochromatic and abstract formulations caused irritation. Only now his work is shown with its total coherence, his different pictorial postures are not presented as succeding phases of his development, but as simultaneous possibilities of a single praxis, that repeats, interacts, and detach themselves in an ondulating movement. Richter's abstract canvases can carry those who watch them to ecstasy.


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