BEM VIVER 10

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Qualquer que seja a situação ou o lugar, o bullying envolve uma estrutura de poder entre o agressor (bully) e a vítima. Mas um terceiro personagem também é fundamental: o espectador. Agressores têm geralmente personalidade autoritária, combinada a uma necessidade de dominar, controlar a vítima para afirmar-se e obter uma boa imagem de si mesmo. A vítima, geralmente, sofre com baixa autoestima, é insegura e tímida. É pouco sociável por, de alguma forma, fugir do padrão da maioria, pela aparência física, pelo comportamento, pela religião, entre outros aspectos. Submissa, dá margem à repetição das agressões. Segundo a psicóloga de Ribeirão Preto Fabíola Augusta J. Martin, pode apresentar como consequência doenças como dores abdominais, diarreia, vômitos, transtorno do pânico, depressão, anorexia, bulimia, fobia escolar, isolamento e, em casos extremos, pode cometer o suicídio, por se considerar merecedora do sofrimento. O espectador, por sua vez, nem sempre reconhecido como atuante na agressão, é fundamental para a continuidade dos conflitos. Pode ser passivo, por temer também a agressão, e, ainda que tenha senso de justiça, não assumir uma posição clara, ou ativo, incentivando e reforçando a agressão. Com os avanços de tecnologias como Internet e celulares, também o bullying avança, ganhando o status de cyberbullying. Como o espaço virtual é ilimitado, torna-se ainda mais perverso, dada a velocidade e a abrangência com que se disseminam mensagens e imagens, facilitando ainda mais a repetição das agressões, característica fundamental do bullying, ainda segundo a psicóloga. E com um grande agravante que estimula a prática: o anonimato. Pode-se assim praticar o bullying sem se expor, e ultrapassar os limites da escola ou do trabalho. E a vítima muitas vezes perde a percepção de como ou de quem se defender. Os bullies sempre existiram, mas a amplitude das formas como vêm atuando exigem, mais que nunca, uma postura correta e firme. Crianças que praticam o bullying em geral não são assim somente na escola. E “se o comportamento agressivo não é desafiado na infância, há o risco de que ele se torne habitual. Há evidência documental que indica que a prática do bullying durante a infância põe a criança em risco de comportamento criminoso e violência doméstica na idade adulta”, alerta o Anti-bullying Center, do Trinity College, em Dublin. Uma pesquisa do IBGE, realizada em 2009, revelou que quase um terço (30,8%) dos estudantes brasileiros informou já ter sofrido bullying, sendo a maioria das vítimas do sexo masculino. E a maior proporção das ocorrências foi registrada em escolas privadas, com 35,9%, enquanto que nas públicas os casos atingiram 29,5%, um dado para se avaliar com atenção. Brasília e Belo Horizonte foram as capitais com maiores índices, ambas em torno de 35% dos estudantes entrevistados. O problema tem sido tão disseminado que até mesmo juristas têm olhado com mais atenção os aspectos legais da questão. De acordo com a psicóloga Fabíola A. J. Martin, na região de Ribeirão Preto alguns casos necessitaram da intervenção do Ministério Público. No caso das escolas, especialistas são incisivos: é preciso encarar com seriedade o problema. “A escola que afirma não ter bullying não sabe o que é ou está negando sua existência”, afirma o médico pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da Abrapia Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência -, e que estuda o problema há dez anos. Segundo ele, o papel da escola começa em admitir que é um local passível de bullying, informar professores e alunos sobre o que é e deixar claro que não se admitirá a prática. E distinguir o sutil limiar entre uma piada aceitável e uma agressão é fundamental. É a prevenção como melhor remédio. Só a escola, no entanto, não consegue resolver o problema. É preciso o envolvimento de todos, principalmente dos pais, tanto na prevenção quanto na solução, caso o problema seja constatado. Ficar atento ao comportamento dos filhos, ensiná-los a olhar para o outro com respeito às diferenças, dar exemplos e mostrar limites, justificando por que devem ser respeitados, são regras básicas e simples. Quanto ao uso das tecnologias, também alertá-los para os riscos da exposição de dados pessoais e intimidades, principalmente em sites de relacionamentos, e prestar atenção aos conteú-

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