Construção Magazine 58

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58 N° 58 . novembro/dezembro 2013 . 6.50

DOSSIER Construção em África na Atualidade

ENTREVISTAS Augusto Sousa Fernando | Vítor Cóias



ficha técnica diretor Eduardo Júlio

diretora executiva Carla Santos Silva carla.silva@engenhoemedia.pt

conselho científico Abel Henriques (UP), Albano Neves e Sousa (UTL), Álvaro Cunha (UP), Álvaro Seco (UC), Aníbal Costa (UA), António Pais Antunes (UC), António Pinheiro (UTL), António Reis (UTL), António Tadeu (UC), Armando Rito, Carlos Borrego (UA), Carlos Pina (LNEC), Conceição Cunha (UC), Daniel Dias da Costa (UC), Dinar Camotim (UTL), Diogo Mateus (UC), Elsa Caetano (UP), Elton Bauer (UnB, Brasil), Emanuel Maranha das Neves (UTL), Fernando Branco (UTL), Fernando Garrido Branco (UC), Fernando Sanchez Salvador (UTL), Fernando Seabra Santos (UC), Francisco Nunes Correia (UTL), Francisco Taveira Pinto (UP), Helder Araújo (UC), Helena Cruz (LNEC), Helena Gervásio (UC), Helena Sousa (IPL), Hipólito de Sousa (UP), Humberto Varum (UA), João Almeida (UTL), João Mendes Ribeiro (UC), João Pedroso de Lima (UC), João Ramôa Correia (UTL), Joaquim Barros (UM), Joaquim Figueiras (UP), Jorge Alfaiate (UTL), Jorge Almeida e Sousa (UC), Jorge Coelho (UC), Jorge de Brito (UTL), Jorge Lourenço (IPC), José Aguiar (UTL), José Amorim Faria (UP), José António Bandeirinha (UC), José Câmara (UTL), José Luís Câncio Martins, José Pinto Duarte (UTL), Júlio Appleton (UTL), Laura Caldeira (LNEC), Luciano Lima (UERJ, Brasil), Luis Calado (UTL), Luís Canhoto Neves (UNL), Luís Godinho (UC), Luís Guerreiro (UTL), Luís Juvandes (UP), Luís Lemos (UC), Luís Oliveira Santos (LNEC), Luís Picado Santos (UTL), Luís Simões da Silva (UC), Maria Cecilia A. Teixeira da Silva (UNICAMP, Brasil), Mário Krüger (UC), Manuel Pipa (LNEC), Maria do Rosário Veiga (LNEC), Nuno Silvestre (UTL), Paulo Coelho (UC), Paulo Cruz (UM), Paulo Lourenço (UM), Paulo M. Pimenta (USP, Brasil), Paulo Maranha Tiago (IPC), Paulo Providência (UC), Pedro Vellasco (UERJ, Brasil), Paulo Vila Real (UA), Raimundo Mendes da Silva (UC), Rui Faria (UP), Said Jalali (UM), Sérgio Lopes (UC), Teresa Valsassina Heitor (UTL), Valter Lúcio (UNL), Vasco Freitas (UP), Vítor Abrantes (UP), Walter Rossa (UC)

redação Cátia Vilaça redaccao@engenhoemedia.pt

marketing e publicidade Pedro Braga pbraga@engenhoemedia.pt

editor António Malheiro

grafismo avawise

assinaturas Tel. 22 589 96 25 construcaomagazine@engenhoemedia.pt

redação e edição Engenho e Média, Lda. Grupo Publindústria

propriedade Publindústria, Lda. Praça da Corujeira, 38 - 4300-144 PORTO Tel. 22 589 96 20, Fax 22 589 96 29 geral@publindustria.pt | www.publindustria.pt

publicação periódica Registo n.o 123.765

tiragem 6.500 exemplares

issn 1645 – 1767

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editorial

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dossier | construção em áfrica na atualidade

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entrevista

Ordem dos Engenheiros de Moçambique

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entrevista Vítor Cóias

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A experiência de fiscalizar a construção de habitação social em Cabo Verde – paulo palhinha e joão catartino santos

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A construção metálica em Angola – filipe santos

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Engenharia em África – jorge meneses, eduardo monteiro, manuel pera e carlos lopes

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Soluções geotécnicas em edifícios de grande altura em áfrica – alexandre pinto, xavier pita , rui tomásio e rute coelho

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vias de comunicação

Aplicação a Portugal do novo método de dimensionamento de pavimentos rodoviários da aashto – adelino ferreira e fábio simões

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alvenaria e construções antigas

As paredes tradicionais de madeira como elementos de construção sismo-resistente

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betão estrutural

Reforço de fundações de betão armado com micro-estacas seladas

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térmica

Diretiva transposta e nova legislação de eficiência energética dos edifícios

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notícias

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mercado

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projeto pessoal

Maria da Conceição Cunha

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eventos

depósito legal 164 778/01

capa

Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos autores.

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© Rui Romão – Soares da Costa

Próxima edição > Dossier Coberturas


editorial

No seguimento do N.º 55 da Construção Magazine, dedicado à ‘Construção no Brasil na Actualidade’, dedicamos o presente número à ‘Construção em África na Actualidade’. O objectivo é apoiar a internacionalização da Engenharia portuguesa e dar a conhecer, através de casos concretos, o contributo que técnicos e empresas nacionais estão a dar ao desenvolvimento deste continente, privilegiando os países de língua oficial portuguesa, embora não se esgotando nestes. O dossier temático inclui uma entrevista ao Eng.º Augusto Sousa Fernando, Bastonário da Ordem dos Engenheiros de Moçambique, com a participação do Eng.º Abdul Fakir, Vice-Presidente do Conselho Directivo, e ainda uma entrevista ao Eng.º Vítor Cóias, uma referência nacional na área da reabilitação, com obras desta natureza no Norte de África. O dossier conta ainda com os habituais artigos técnicos, da autoria de vários engenheiros portugueses a elaborar projectos e/ou a fiscalizar obras para Angola, Moçambique, Cabo Verde, Tunísia e Marrocos: Eng.º Alexandre Pinto (JetSJ); Eng.º Eduardo Monteiro (Profico); Eng.º Filipe Santos (Vesam); e Eng.º João Catarino (Central Projectos). Aproveito para desejar aos nossos leitores, e respectivas famílias, um Feliz Natal e que 2014 seja o início da tão desejada e anunciada retoma económica, a qual só será possível com a participação do sector da Construção, podendo o País contar com o empenhamento dos técnicos, das empresas e das universidades, no cumprimento deste desígnio. Eduardo Júlio Director

*O Professor Eduardo Júlio escreve de acordo com a antiga ortografia.

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© Ordem dos Engenheiros de Moçambique

entrevista

Bastonário da Ordem dos Engenheiros de Moçambique, Augusto Sousa Fernando (à direita) e a economista Luísa Diogo, Primeira Ministra de Moçambique 2004-2010 (à esquerda)

Numa entrevista cedida pelo Bastonário da Ordem dos Engenheiros de Moçambique, Augusto Sousa Fernando, em colaboração com o Vice-Presidente do Conselho Diretivo da Ordem, Abdul Fakir, Moçambique é destacado como um país onde há lugar para todos os que queiram partilhar os seus conhecimentos, de forma ética e profissional, e com vontade de criar valor.

ordem dos engenheiros de moçambique

Como caracteriza o atual panorama da Construção Civil em Moçambique? Moçambique é um país extenso e com vastas carências de infraestruturas. É um país que teve que, desde a sua independência, criar as suas próprias infraestruturas básicas para satisfazer necessidades básicas sociais como o abastecimento de água às populações urbanas e rurais, saneamento, vias de comunicação, energia, escolas, hospitais e habitação, infraestruturas inexistentes no período antes da independência. Assim, nota-se que há um grande potencial para o desenvolvimento dessas infraestruturas, associado às novas potencialidades de exploração de recursos minerais e energéticos como o carvão, o gás, o petróleo e a geração de energia hidoelétrica. Existe défice de quadros técnicos no setor em Moçambique? Nesta perspetiva de desenvolvimento acelerado e admitindo vários projetos a decorrer simultaneamente, e ainda à baixa escolaridade que se pretende combater, somos de opinião de que existe défice de quadros técnicos em Moçambique. Contudo, cabe-nos reafirmar que existe um pensamento estratégico quanto à necessidade de formação acelerada e quão importante é a educação para o desenvolvimento do País. Temos consciência que é importante a formação

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de técnicos de nível médio e superior para superação dos desafios que nos impõe o desenvolvimento. Após a vaga de emigração portuguesa e de outros países, ainda há saída profissional para estrangeiros em Moçambique? As vagas de imigração em Moçambique são percebidas e caracterizadas pelas dificuldades que os imigrantes enfrentam nos seus locais de origem, bem como pelas oportunidades que Moçambique oferece, fruto de um pragmatismo que sempre foi apanágio das autoridades moçambicanas e do bem receber do seu Povo. Moçambique não é propriamente um país para saídas profissionais. É sim um espaço para quem pretenda partilhar os seus conhecimentos de forma ética e profissional, e com vontade de criar valor. Eu diria que é um país onde há lugar para todos desde que sejam obedecidos os regimentos em vigor e, quiçá a vontade de poder participar na construção de um País que foi severamente castigado pela ocupação estrangeira. Que contributo pode a Engenharia Civil dar para melhorar as condições de vida da população moçambicana? Como afirmamos antes, as condições de vida da população moçambicana caracteriza-se por


orientado a formação para níveis diferentes. Achamos que este método era baseado numa conjuntura diferente de Moçambique, pelo que a mesma tem os seus méritos e deméritos. A justa avaliação resultará da avaliação da qualidade dos projetos e obras dos engenheiros. Que diferenças identifica entre Portugal e Moçambique ao nível de processos construtivos, técnicas e materiais? Portugal, por se inserir num espaço comunitário, teve de assimilar processos, normas, técnicas e materiais mais comuns usados nesse espaço. Moçambique, por se inserir num espaço comunitário diferente, SADC [Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral – Southern African Development Community, no original], tem tendência a assimilar processos, normas, técnicas e materiais desse espaço. No entanto, eu diria que a Engenharia é universal e ela tem que responder com soluções

económicas de qualidade e eficiência para o benefício das populações. Como se dá o processo de acreditação de engenheiros portugueses em Moçambique? É um processo pacífico, devendo os engenheiros que apresentam a sua candidatura, obedecer aos pressupostos exigidos pela Ordem dos Engenheiros de Moçambique. Ademais, existem protocolos entre as duas Ordens, bem como com as Associações de Engenheiros Civis de Países de Língua Portuguesa e Castelhana, sobre princípios básicos que norteiam essa acreditação. Quais as prioridades de construção em Moçambique neste momento? As prioridades são inumeráveis quer ao nível dos investimentos do Estado quer ao nível dos investimentos privados. Cabe a cada interessado investigar as suas oportunidades e atuar dentro do quadro legal existente no País.

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elevadas carências ao nível do desenvolvimento urbano, abastecimento de água potável, saneamento, soluções de transporte de massas, vias de comunicação, energia, irrigação, etc. Nestas áreas existe um campo ilimitado para a Engenharia Civil atuar. Embora fora do âmbito da Engenharia Civil, eu diria que Moçambique está minimamente apetrechado ao nível das telecomunicações. Quais as principais diferenças, em termos de formação base, que identifica entre os engenheiros portugueses e moçambicanos? Existem momentos marcantes que definem períodos chave na formação de engenheiros de ambos os Países: (i) após a independência, Moçambique seguiu paulatinamente a mesma formação de base instituída na formação de Engenheiros em Portugal, isto é, os mesmos curricula e a mesma carga horária; (ii) entretanto, há mudanças na Europa que fazem com que Portugal adira ao Processo de Bolonha,

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entrevista

Nesta entrevista, Vítor Cóias, CEO da Stap, descreve o caminho que o levou à reabilitação de estruturas, elencando as razões que devem levar à opção pela reabilitação em detrimento da construção nova, sem esquecer a exigência técnica da primeira. São também abordadas as principais diferenças entre o mercado nacional e o do norte de África, com o qual o entrevistado está familiarizado, e as oportunidades que os países desta região podem oferecer.

engenheiro vítor cóias

Construção Magazine (CM) – O seu percurso profissional tem estado intrinsecamente ligado à reabilitação. O que o levou a enveredar por aqui? Vítor Cóias (VC) – O meu primeiro emprego foi no LNEC, onde trabalhei primeiro como estudante e, depois de acabar o curso de Civil do IST, como engenheiro estagiário para especialista. Isso deixou-me alguma sensibilidade para a análise do comportamento das estruturas, no caso, as barragens. Trabalhei depois, durante alguns anos, com dois grandes empreiteiros, primeiro em Luanda e, depois, em Lisboa. Num caso e noutro tive a meu cargo a direção de estudos e era frequentemente confrontado com os problemas que nos eram colocados envolvendo construções existentes ou surgidos nas obras das próprias empresas. Por outro lado, também cometi, eu próprio, como projetista, alguns erros, com os quais também aprendi. Quando resolvi deixar o emprego e formar a minha própria empresa, achei que ser apenas mais um projetista ou mais um empreiteiro de obra nova não tinha grande interesse. Por isso, resolvi que a Stap iria privilegiar a patologia das construções existentes, e, em particular, o modo de diagnosticar e tratar os seus problemas. Mas antes disso, quando vim de Angola para estudar, em 1961, mudei de uma cidade que tinha nascido do nada 50 anos antes, o Huambo (então Nova Lisboa), para uma cidade como a “velha” Lisboa, cuja origem se perde na penumbra dos tempos. Fiquei fascinado com a cidade antiga, as ruelas, as calçadas, os velhos edifícios e monumentos. Mais tarde, também funcionou a minha “costela ambientalista” e custava-me assistir à urbanização galopante e à destruição da paisagem e do património natural do País com mais e mais construções. CM – Que desafios se colocam à reabilitação de estruturas? VC – A reabilitação estrutural exige, sobretudo, qualificação da parte de quem concebe e de quem executa as intervenções. Este é o grande desafio que se coloca a quem quer trabalhar nesta área. Vimos dum longo período em que a construção nova era a principal atividade das empresas. Projetar ou executar uma intervenção de reabilitação estrutural é muito diferente de fazer uma nova estrutura, e é, em geral, mais complexo. Por outro lado, ao contrário da reabilitação de outros âmbitos, por exemplo, a funcional ou a meramente estética, em que a falta de qualidade se traduz apenas (e não

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Reparação e reforço das torres do clínquer e do recozido – Ciments Jebel, Oust, Zaghouan, Tunísia

é pouco) em dinheiro mal gasto, da eficácia duma intervenção estrutural depende muitas vezes, também a segurança de pessoas e bens! Os decisores devem ter este facto em consideração e valorizar a organização e a competência técnica dos concorrentes. As intervenções de reabilitação estrutural utilizam, frequentemente, tecnologias “emergentes”, isto é, não tradicionais, logo, de eficácia não confirmada pelo uso corrente. Além disso, no domínio das intervenções estruturais, nem sempre é possível fazer provas de carga para confirmar a eficácia da intervenção, nem monitorizá-la, para confirmar que essa eficácia se mantém ao longo do tempo. Por isso, estas intervenções devem ser consideradas “processos especiais” que obrigam a requisitos específicos em termos de gestão da qualidade. Um dos requisitos básicos é a exigência de certificação dos operadores que aplicam estas técnicas. A metodologia seguida também é mais complexa na reabilitação, que é, desde logo, muito condicionada pela fiabilidade de quem caracteriza a construção e/ou diagnostica os seus problemas. Um doente cuja doença é mal diagnosticada pode piorar com o tratamento ou morrer durante a operação! Em todas estas áreas as empresas devem possuir a necessária qualificação, o que pressupõe a posse, nos seus quadros, de recursos humanos qualificados, a todos os níveis: desde o engenheiro ao desenhador projetista ou ao oficial executante, passando pelos quadros

intermédios. E encontrar profissionais qualificados, hoje, não é fácil. Outro desafio é a inovação e a forma como deve ser encarada. Na maior parte das vezes, a inovação permite resolver os problemas estruturais de modo mais eficaz e eficiente. Mas não é sempre assim. Esta área está constantemente sob a mira de fornecedores de produtos, sistemas, equipamentos e instrumentos, oferecendo avanços tecnológicos por vezes radicais. Certos novos sistemas e produtos acabam, por vezes, por originar novas anomalias. CM – Tendo em conta a estagnação da construção nova, acha que o Estado devia ter um papel mais ativo no que toca aos incentivos à reabilitação? Em termos de legislação, considera que deveria haver alguma revisão? VC – Em termos financeiros, as necessidades da reabilitação urbana são astronómicas. Por exemplo, só para a cidade de Lisboa, a estimativa é de 8 mil milhões de euros. Para o País, ultrapassa os 70 mil milhões, verbas só para os edifícios habitacionais. Endividado o como está, o Estado não pode alocar nada que se pareça, mesmo a prazo. Mas podia fazer muito através da legislação. Por exemplo: bastava tornar obrigatória a avaliação sísmica dos edifícios, tal como se faz para o desempenho energético, e que se obrigasse à sua reabilitação estrutural sempre que fosse transacionado ou mudasse de uso. Por outro lado, sempre que um edifício fosse reabilitado em termos funcionais ou energéti-

cos, devia incluir-se obrigatoriamente na intervenção a reabilitação estrutural, sobretudo em zonas sísmicas do País. A reabilitação dum edifício aumenta a exposição ao risco sísmico e está provado que a consideração da vertente estrutural não aumenta significativamente o custo da intervenção: uma centena de euros por metro quadrado, ou menos, como ordem de grandeza. Devido à completa mudança de paradigma que o setor da construção está a viver, em que a construção nova praticamente cessou (e bem), passando a atividade a centrar-se na reabilitação e na manutenção, a legislação da construção precisa de ser revista de alto a baixo: desde o DL 555/99, regime jurídico da urbanização e edificação, até à classificação das atividades económicas, onde atividades como “conservação e restauro do património” ou “reabilitação” não existem, mas existem atividades como “tauromaquia” e “cestaria”! CM – Crê que as imposições europeias ao nível da eficiência energética nos edifícios podem estimular o mercado da reabilitação? VC – Podem e já estão a estimular. Os edifícios são responsáveis por um terço do consumo de energia final e sessenta por cento da energia elétrica. A melhoria do desempenho energético dos edifícios permite reduções substanciais dos consumos. Basta, por exemplo, melhorar o isolamento do envelope (a “pele”) do edifício, as paredes exteriores e a cobertura, bem como a caixilharia, para reduzir substancialmente o consumo de energia,

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conversas conversas

ao mesmo tempo que se tornam as casas mais confortáveis. Agora, é necessário que a mesma abordagem seja seguida no que toca à segurança estrutural dos edifícios, em particular nas zonas sísmicas do País. Seria uma ironia e uma tragédia termos um edificado muito bem isolado e com fachadas muito bonitas que nos caísse em cima em caso de sismo. CM – A reabilitação tem em conta a funcionalidade dos edifícios ou tem estado mais voltada para a vertente estética, ou ainda, no caso dos edifícios habitacionais, para o certificado energético? VC – As obras que temos tido no norte de África são exclusivamente de reabilitação, mas têm tido a ver com construções industriais, em particular fábricas de cimento pertencentes a grupos portugueses e brasileiros. Trata-se de executar reforços estruturais tornados necessários por alterações do processo de fabrico, como a instalação de novos equipamentos, ou da reparação de unidades sujeitas a desgaste intenso. Temos também apresentado propostas muito desenvolvidas para intervenções de maior fôlego para as próprias autoridades de alguns desses países, envolvendo intervenções de reabilitação de áreas históricas de cidades. Aqui estaríamos já no domínio da reabilitação do edificado. As rápidas mudanças de caráter político que têm ocorrido em alguns desses países têm atrasado a tomada de decisões de fundo, mas as perspetivas continuam a ser boas. CM – Que diferenças identifica entre estes mercados e o português ao nível dos processos construtivos e quadros técnicos? VC – As grandes diferenças entre o nosso mercado e o do norte de África resultam do facto de o contexto cultural e religioso daqueles países ser muito diferente do nosso. São mercados com uma elevada dose de informalismo, o que aumenta o risco da atividade de empresas estrangeiras. Por outro lado, os processos decisórios são mais lentos e mais burocratizados, não sendo fácil ganhar a confiança dos decisores. CM – Que oportunidades existem para os profissionais portugueses nestes mercados? VC – Eu diria que as oportunidades são mais para as empresas do que para profissionais, a título individual. E, mesmo para as empresas, enquanto entidades prestadoras de serviços de construção, as oportunidades existem para aquelas dotadas de saber-fazer que lhes permita prestar serviços relativamente avançados. Porque, para construir casinhas, há lá quem saiba.

“só para a cidade de lisboa, a estimativa [para as necessidades de reabilitação] é de mil milhões de euros. para o país, ultrapassa os mil milhões, verbas só para os edifícios habitacionais.“ 8_ construção magazine 57

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construção em áfrica na atualidade a experiência de fiscalizar a construção de habitação social em cabo verde Paulo Palhinha, Mestre em Engenharia Civil, Chefe Missão de Fiscalização Central Projetos/FPS em Cabo Verde, ppalhinha@centralprojectos.pt João Catarino Santos, Mestre em Engenharia Civil, Coordenador de Fiscalização Central Projetos/FPS em Cabo Verde, jc@centralprojectos.pt

1. Cabo Verde: o país e a economia Cabo Verde é um país constituído por 10 ilhas, sendo apenas 9 delas povoadas por cerca de 500 mil habitantes, numa área total correspondente a apenas 5% do território português, localizado na costa africana a cerca de 500km a oeste do Senegal. O arquipélago está localizado na zona sub-saheliana, com um clima árido ou semiárido, sendo a ocorrência de chuva muito irregular e geralmente com fraca pluviosidade (média anual equivalente a um décimo do registado no Alentejo) e anos seguidos de seca em algumas ilhas. Cabo Verde possui uma economia subdesenvolvida que sofre com uma carência persistente de recursos naturais e com o crescimento populacional. Os principais meios económicos são a agricultura (ainda que pouco desenvolvida), o aproveitamento da riqueza marinha do arquipélago, a prestação de serviços (que globalmente corresponde a 80% do PIB) e, mais recentemente, o turismo, que tem ganhado crescente relevância, sendo o motor da atual economia e representando um quarto da riqueza produzida. Os fluxos gerados pela economia foram, desde sempre, insuficientes para financiar o seu desenvolvimento, devido aos constrangimentos relativos à referida falta de recursos, ao défice da balança comercial e à dimensão e fragmen-

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tação do território. A pequena e aberta economia cabo-verdiana é estruturalmente vulnerável, dado o seu elevado grau de abertura e a dependência da ajuda financeira externa, sendo suportada pelas remessas dos imigrantes e pela cooperação estrangeira, destacando-se o apoio à manutenção da paridade fixa entre o escudo cabo-verdiano e o euro e o programa do governo norte-americano que se destina a combater a pobreza mundial – Millenium Challenge Account. Mesmo assim, e apesar do contexto económico desfavorável internacional, a economia caboverdiana desenvolveu-se significativamente, crescendo, em média, na última década, 6%. Esta transformação foi sustentada por um vasto programa de infraestruturas por parte do governo em domínios vitais como os transportes terrestres, marítimos e aéreos, o abastecimento de água, o fornecimento de energia elétrica e as comunicações. Todavia, no início de 2013, um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontou que a dívida externa já se cifrava nos 81% em 2012, número que deveria subir para os 88,6%, em 2013, e, continuando em sentido ascendente em 2014, para os 92,2%. O FMI encorajava fortemente o Governo para a contenção de gastos de capital e centrar o seu trabalho na melhoria da qualidade do investimento público.

2. As relações entre Portugal e Cabo Verde A descoberta das primeiras ilhas de Cabo Verde pelos navegadores portugueses ocorreu em 1460, começando aí, apesar dos condicionalismos, o povoamento da região para, aproveitando a sua posição geoestratégica, servir de entreposto comercial, inicialmente, com a costa africana e, depois, com a Europa e a América. A situação da colónia portuguesa manteve-se durante cinco séculos sem que nunca tivesse havido uma verdadeira luta armada contra a presença portuguesa. Aquando da independência, a 5 de julho de 1975, Cabo Verde encontrava-se numa situação de subdesenvolvimento humano com uma grave crise alimentar, económica e social, resultante, sobretudo, da não introdução pela administração portuguesa de um sistema de melhoria das condições de vida, limitando-se a suportar alguma ajuda alimentar em épocas mais prejudicadas pelas secas persistentes. Das várias desgraças que assolaram o território, destaca-se, na década de 40, a ocorrência de dois períodos de seca e consequente fome que matou 55 000 pessoas. Para escapar a esse apocalipse, os cabo-verdianos, sobretudo os habitantes de Santiago, recorrem à imigração para S. Tomé e Príncipe como forma de escapar à miséria, à fome e à morte. Em


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grande parte, esses emigrantes deixaram o arquipélago são-tomense, partindo para Portugal nos anos setenta. É nesse período que são lançadas as bases para o estabelecimento de uma cadeia migratória consolidada entre Cabo Verde e Portugal resultante da promoção, pelo Presidente do Conselho, Marcello Caetano, da vinda de mão-de-obra não qualificada das colónias para fazer face à partida de muitos portugueses para a França e República Federal da Alemanha. Desde a independência e até à atualidade que as visitas recíprocas dos altos representantes dos estados são muito frequentes, sendo sempre destacada a amizade recíproca que une as nações, alicerçada na história e língua comuns e numa partilha de valores éticos e sociais. A viagem do Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, em 2010, a Cabo Verde, assim como a do seu homólogo cabo-verdiano em 2012, evidencia precisamente a solidez, bem como a vontade política de continuar a incutir aos laços bilaterais uma dinâmica de crescente aprofundamento. Aquando da visita do Primeiro-Ministro português a Cabo Verde, em 2012, este destacou que “Cabo Verde pode funcionar como uma interessante plataforma para vários países da costa ocidental africana, que têm níveis de crescimento bastante importantes e uma necessidade de investimento em áreas para as quais as empresas por tugueses têm know-how e um grande expertise”, apontando, como exemplo, a área da construção civil. Já o homólogo cabo-verdiano admitiu que Cabo Verde tem “alguns constrangimentos”, sendo o principal o acesso ao financiamento, razão pela qual as parcerias com empresas portuguesas poderiam ser um veículo de ligação à Europa e ao resto do mundo. Cabo Verde aparece sempre como um parceiro previsível e uma aposta segura para a internacionalização das empresas portuguesas, sendo um mercado apetecível pela proximidade geográfica e pela estabilidade política e social, que tem sido sustentada desde o período pós independência pelas referidas boas relações político-económicas e proximidade e intimidade entre as sociedades. O arquipélago, estruturalmente, é um país de desenvolvimento médio com carências habi-

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tacionais e lacunas apreciáveis nas infraestruturas básicas de abastecimento de água e de drenagem de águas residuais e nos sistemas de produção e distribuição de energia elétrica à população. Mesmo os principais instrumentos de criação de riqueza continuam a necessitar de uma melhoria significativa das condições de apoio ao desenvolvimento, particularmente o setor do turismo, as infraestruturas para a produção agropecuária e um sistema portuário que permita o acesso e comercialização eficiente de bens. As exportações portuguesas para Cabo Verde, mesmo conhecendo um ligeiro retrocesso nos últimos anos, resultado também da abertura do mercado à entrada de produtos asiáticos, representaram, em 2012, cerca de 40% das importações do país, ascendendo, aproximadamente, a 250 milhões de euros. Já o investimento direto de Portugal em Cabo Verde tem registado subidas e descidas abruptas ao longo dos anos: subindo de 21,3 milhões de euros, em 2007, para 28 milhões de euros em 2008, descendo para 10,8 milhões de euros em 2009, voltando a subir em 2010, para o valor mais alto, 49,6 milhões de euros, e descendo novamente em 2011 para 17,3 milhões de euros.

3. O Mercado da Construção O mercado da construção em Cabo Verde conheceu um franco crescimento na década passada, até conhecer alguma estagnação, desde 2008, para um valor a rondar os 11% do PIB, que representa mais de 100 milhões de euros. A expectativa face à conjuntura internacional (e consequente diminuição dos apoios e financiamento externos) e às dificuldades da economia local é que no atual e próximos anos exista um abrandamento, subsistindo apenas alguma expectativa pelo início da construção de uma nova fase de empreendimentos do Programa Casa Para Todos para criar um pequeno estímulo ao setor. Este abrandamento vai ter forte impacto nas empresas portuguesas existentes no mercado, assim como na importação de produtos oriundos de Portugal, principalmente máquinas e materiais de construção, que

representam mais de 20% do total exportado. A dimensão reduzida do setor da construção cabo-verdiana abarca um número elevado de empresas, várias delas oriundas da Europa e da proveniência de programas de cooperação para o investimento em infraestruturas, criando grandes dificuldades às empresas locais devido à forte competitividade, melhores meios e condições na obtenção de financiamento. Assim como em outras áreas, o setor da construção também está aberto à entrada de empresas estrangeiras, existindo alguma facilidade na sua formação e condições simplificadas para obtenção de alvará. Algumas das principais dificuldades com que estas se deparam resultam da insularidade, originando dificuldades e custos elevados de transporte e logística, a necessidade de importação da quase totalidade dos equipamentos e materiais de construção (incluindo alguns inertes) e a dificuldade em encontrar mão-de-obra capaz de responder aos desafios que se lhes colocam. Uma parte dos técnicos superiores – Engenheiros e Arquitetos – locais com experiência frequentaram o ensino superior na Europa ou América Latina e desempenham sobretudo funções no estado ou empresas públicas; existindo atualmente um número significativo de técnicos sem colocação, com pouca experiência, que tiraram o curso no exterior ou nos cursos superiores lecionados em Cabo Verde (Universidade de Cabo Verde e Universidade Jean Piaget). Os técnicos profissionais mais especializados (eletricistas, canalizadores, serralheiros, entre outros) recebem formação na área nas várias instituições locais para o efeito mas apresentam carências de diversa ordem. A mão-de-obra não qualificada não é maioritariamente cabo-verdiana, mas proveniente de países africanos vizinhos, principalmente, Guiné Bissau. Porém, existem grandes vantagens para as empresas portuguesas presentes no mercado, designadamente: a ausência de barreiras linguísticas (inclusive o crioulo cabo-verdiano é de compreensão bastante acessível para os portugueses); a existência de uma forte ligação histórico-cultural entre povos; a habituação e sentimento de qualidade relativamente às marcas e produtos; a forte presença das empresas nacionais no mercado; as boas relações


institucionais; a existência de vários acordos de cooperação; o sistema de transportes e logística mais favorável e a ligação e estabilidade do Escudo Cabo de Verde face ao Euro.

4. O Caso da Habitação Social >1

Em 2005 foi elaborado um estudo do problema habitacional em Cabo Verde, estabelecendo um défice em torno de 40 000 habitações. Como forma de combater o problema, o Governo de Cabo Verde declarou o ano de 2009 como ano da Habitação e lançou o Programa Casa para Todos, que se traduzia num conjunto de estratégias, medidas e programas para promover a construção de cerca de 8000 habitações de interesse social. Como uma das fórmulas de concretização do programa, o Governo de Cabo Verde negociou uma linha de crédito (através da Caixa Geral dos Depósitos) junto ao Governo Português (garante do financiamento) de 200 milhões de euros, para o financiamento da construção, assinado a 29 de janeiro de 2010. O prazo de execução previsto na Linha de Crédito era de 5 anos, sendo previsível que não consiga ser implementado na totalidade nesse período devido a atrasos quer em algumas obras quer nas imputações de alguns projetos. O financiamento português prevê a cobertura de 90% dos custos, cabendo o restante ao Governo de Cabo Verde, através do Ministério do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território. O acordo estabelece também que: – A construção e a fiscalização estejam a cargo de consórcios de empresas portuguesas e locais, com comparticipação maioritária nacional de 51% e o restante cabo-verdiano; – 80% dos materiais a incorporar na construção têm que ter origem portuguesa e o restante em Cabo Verde. As empreitadas, objeto dos concursos, são realizadas em regime de ConceçãoConstrução, tipo “Chave-na-mão”, cabendo aos concorrentes a elaboração da proposta com o anteprojeto (este já deve abranger a

elaboração de estudo geotécnico, contacto com as concessionárias de abastecimento de água, drenagem de esgoto, fornecimento de energia e rede de telecomunicações para saber as condições existentes e todas as instalações a dotar no empreendimento). Com este acordo, o Estado Português criava um impulso para a internacionalização de um número significativo de empresas nacionais ligadas ao setor da construção: empreiteiros, empresas de fiscalização, gabinetes de projeto, fabricantes de materiais e empresas de transporte e comercialização. Já Cabo Verde conseguia financiamento em condições muito vantajosas para suprir uma parte das suas necessidades habitacionais com condições condignas, assim como: impulsionar a criação de um número significativo de empregos diretos e indiretos na realização dos empreendimentos; salvaguardar a participação das empresas locais em todo o processo, ainda que com uma posição minoritária (mas ao contrário de outros que apenas permitem o acesso ao concurso a empresas do país financiador); dinamizar o mercado da construção num período de crise acentuada; revitalizar zonas degradadas e criação de novos polos urbanos; e, troca de conhecimentos através da cooperação entre os intervenientes dos consórcios (figura 1). Além dos ganhos diretos conseguidos pelo programa, é esperado um conjunto de ganhos indiretos, designadamente, a criação de um novo paradigma para populações menos favorecidas e com pouca experiência de viver em comunidade, assimilando novos hábitos de cidadania. Os empreiteiros portugueses, que deposita-

vam esperanças fundamentadas na existência de uma oportunidade de negócio neste programa, depararam-se com três grandes adversidades: desde logo o facto de terem que concorrer num processo de conceçãoconstrução com um investimento inicial significativo sem garantia de obter qualquer retorno. Segundo, a enorme afluência que se verificou ao concurso, em grande parte gerada pela crise existente no mercado nacional. Por fim, os preços base estipulados muito baixos para a construção, considerando incluídos os custos da totalidade do projeto e a execução da infraestruturação básica no empreendimento, pois, em grande parte das localidades esta não existia, obrigando à sua construção (designadamente: equipamentos urbanos de abastecimento de água, escoamento de esgotos e fornecimento de energia elétrica; iluminação pública; drenagem de águas pluviais; vias de circulação; e, arranjos exteriores), os custos médios globais por cada uma das habitações cifra-se nos 27 500 euros. Calculando os preços base previstos por metro quadro de área bruta em cadernos encargos de concurso para a apresentação propostas para construção da habitação, quase exclusivamente tipologias T2 e T3, obtém-se valores inferiores a 300 euros.

5. A Experiência da Fiscalização Assim como para os empreiteiros, este programa revelou-se uma excelente oportunidade para a internacionalização das empresas portuguesas de fiscalização permitindo colmatar a redução significativa do mercado nacional e

> Figura 1: Construção de habitação social na Praia, Ilha de Santiago.

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construção em áfrica na atualidade

>2

>3

servir de base para a procura de novos clientes, quer em Cabo Verde, quer aproveitando futuramente a posição geoestratégica do país. Todavia, a atratividade do programa originou uma procura massiva, desencadeando uma concorrência excessiva e preços para a prestação de serviços muito reduzidos, pondo em causa, inclusive, requisitos de qualidade fundamentais. A fiscalização de habitação social, associada a uma menor complexidade técnica, revela-se mais problemática do que o esperado, além da existência de um conjunto de requisitos, tecnologias e metodologias locais a implementar, salientando-se, sobretudo, a gestão do cumprimento de prazos de execução das obras, muitos deles irrealistas (fundamentados na necessidade de reduzir custos, designadamente, de estaleiro e da afetação de técnicos e equipamento de apoio à obra) e do controlo dos custos baseados em valores previstos em proposta que não permitem a sua materialização. O controlo pela fiscalização do clausulado em caderno de encargos apresenta um grau de dificuldade acrescido devido à insuficiente qualidade de alguns dos projetos de execução, assim como: empreiteiros selecionados apresentarem lacunas graves na preparação e planeamento da obra; desconhecimento da realidade local, particularmente, na gestão logística para ultrapassar a insularidade; o desconhecimento

do desempenho da mão-de-obra; e, a pouca disponibilidade de equipamento de apoio. A equipa de fiscalização, além do coordenador, engenheiros civis e eletrotécnicos e equipa de topografia, inclui forçosamente um conjunto de fiscais residentes locais, que em muitos casos possuem algumas carências nos conhecimentos técnicos e pouca experiência nesta função, tendo desempenhado anteriormente apenas as funções de encarregados de obra. Algo que é unânime para as empresas de fiscalização são as preocupações relacionadas com as falhas graves no cumprimento pelos empreiteiros de requisitos mínimos de segurança e saúde no trabalho, e que não são salvaguardadas adequadamente pela lei nem pelo concurso, sendo difícil uma atuação sem fundamentação aplicável e, assim como, contra a prática corrente no território. Uma realidade que não deve ser esquecida é a disparidade entre ilhas do arquipélago, existindo, principalmente, em Santiago e S. Vicente, uma maior disponibilidade e facilidade de angariação de mão-de-obra com alguma experiência, a possibilidade de recorrer a equipamentos de apoio à construção e facilidade em aquisição ou importação de materiais devido à existência das principais ligações portuárias diretas (figura 2). Nestas ilhas, assim como, Sal e Boa Vista, onde tem existido uma vasta edificação hoteleira e para habitação,

> Figura 2: Fiscalização do Projeto PRAIA 2-04/ST/2010 Achada Grande Trás, Praia, Ilha de Santiago. > Figura 3: Estaleiro do Projeto MOSTEIROS 1 – 03/FG/2010, Mosteiros, Ilha do Fogo.

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os processos e recursos implementados na construção não variam muito do que se faz em Portugal, ainda que com uma maior escassez de meios. Todavia, nas outras ilhas, mais periféricas, ou em algumas zonas mais remotas das “principais” ilhas, as contrariedades são muito superiores, além da dificuldade em fazer transitar os materiais e equipamentos, existe uma quase obrigatoriedade de recurso a técnicas tradicionais locais, sendo natural a produção em obra de produtos como betão ou alvenaria de bloco, abobadilhas, vigotas ou lancis. A mão-de-obra disponível é pouco qualificada, alternando as funções no estaleiro com as atividades agrícolas, e com alguma experiência apenas nos processos construtivos tradicionais cabo-verdianos, designadamente, alvenaria de bloco ou pedra, dita estrutural, com apenas alguns elementos horizontais de betão armado. Uma das principais dificuldades é o recrutamento de trabalhadores com conhecimento na execução de acabamentos ou atividades com necessidade de formação mais especializada, nomeadamente, eletricistas, canalizadores, serralheiros, carpinteiros ou soldadores. Nestes estaleiros existe pouca disponibilidade de equipamentos de apoio, sendo os meios mecânicos para transporte e elevação de cargas muito reduzidos, isto, agravado pela muita dificuldade na sua manutenção ou reparação (figura 3).


Este afastamento também é sentido na relação com a gestão de projeto e representação do dono de obra, a cargo da IFH – Imobiliária, Fundiária e Habitat, S.A. (sociedade anónima de capitais públicos cabo-verdianos), que se encontra sediada e com toda a sua equipa técnica na cidade da Praia, muitas vezes demasiado afastada dos estaleiros.

6. Notas Finais

– –

Bibliografia – BANCO AFRICANO DE DESENVOLVIMENTO, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Comissão Económica para África. Perspectivas Económicas em África 2012 – Países Africanos da CPLP-Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Cabo Verde, 2012 – BANCO DE PORTUGAL. Evolução das Economias dos PALOP e de Timor-Leste 2011/2012. Lisboa, novembro 2012 – CARVALHO, Alberto. Sobre diáspora e emigração caboverdianas. Revista Via Atlântica n.º 10. Publicação da Área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Universidade de São Paulo. São Paulo, Brasil, dezembro 2006 – INTERNATIONAL MONETARY FUND. Executive Board Conclu-

des 2012 Article IV Consultation with Cape Verde. Public Information Notice No. 13/46, April 23. Washington, EUA, abril 2013 INTERNATIONAL MONETARY FUND. Statement at the Conclusion of an IMF Staff Visit to Cape Verde. Press Release No. 13/203, June 7. Washington, EUA, junho 2013 LEITE, Isabel. Entre África e Europa: Cabo Verde e a sua estratégia de desenvolvimento. Conferência Internacional Ásia/África. Universidade Fernando Pessoa. Porto, novembro 2004 MARTINS, Amarilis. Relações entre Portugal e Cabo Verde Antes e Depois da Independência. Dissertação para obtenção do Grau de Mestre do Curso de Mestrado em Espaço Lusófono: Lusofonia e Relações Internacionais. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Lisboa2009 MARTINS, Manuel M. F.; Loureiro, João; Ribeiro, Ana Paula. Avaliação do Acordo de Cooperação Cambial Cabo Verde-Portugal. Centro de Estudos Macroeconómicos e Previsão. Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Porto, outubro 2008 MINISTÉRIO DA QUALIFICAÇÃO E EMPREGO. Estudo/ Diagnóstico Sobre o Mercado de Emprego em Cabo Verde. Praia, Cabo Verde, fevereiro 2008 MONTEIRO, Vladimir. Portugal/Crioulo. ICLD – Instituto Caboverdiano do Livro e do Disco. Praia, Cabo Verde, 1995 NASCIMENTO, Lidiane. Investimento Direto Estrangeiro em Cabo Verde. Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Gestão de Empresas. Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa. Lisboa, outubro 2008 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Relatório do Desenvolvimento Humano 2013 – A Ascensão do Sul: Progresso Humano num Mundo Diversificado. Camões - Instituto da Cooperação e da Língua. Lisboa, 2013 REIS, Victor – A dependência alimentar e energética de Cabo Verde: A instabilidade dos mercados e as suas principais questões económicas e sociais. XI Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais: Diversidades e (des) igualdades. Salvador, Brasil, agosto 2011 REPÚBLICA DE CABO VERDE. Lei nº 90/IV/93 - Condições gerais para a realização do investimento externo em Cabo Verde. Praia, Cabo Verde, dezembro 2013.

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Cabo Verde é um dos países que mantêm relações seguras e duradoras a vários níveis com Portugal, mantendo-se como um dos destinos mais atrativos, além do lazer, para a internacionalização das empresas de construção e fiscalização. Nestes últimos anos tem sido implementado um amplo programa de investimento em infraestruturas para dotar o país de melhores condições para a criação de riqueza e melhoria da qualidade de vida da população, na sua maioria recorrendo à cooperação estrangeira. O Programa Casa Para Todos, financiado em grande parte por Portugal, visa a criação de 8000 habitações de interesse social, construídas e fiscalizadas, obrigatoriamente, por consórcios de empresas maioritariamente portugueses, assim como, a origem de 80% dos materiais a aplicar. Esta oportunidade permite a internacionalização e o aumento do volume de negócio de um número significativo

de empresas nacionais em tempos de crise no mercado nacional. Todavia, verificou-se um elevado número de concorrentes que, fugindo à conjuntura, desencadeou valores de edificação e prestação de serviços muito reduzidos. Muitas das empresas, mesmo as já conhecedoras do mercado, continuam a deparar-se com dificuldades acrescidas pelas particulares deste arquipélago africano e pelos necessários planeamento e gestão logística para o desempenho da atividade. Os investimentos futuros em Cabo Verde não são expectáveis ao ritmo que se verificaram nos últimos anos, face, designadamente, à conjuntura internacional, aos problemas de endividamento externo existentes, à reduzida capacidade em gerar novas receitas e à carência de recursos naturais.

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14_19

construção em áfrica na atualidade a construção metálica em angola

Este trabalho tenta descrever o PRESENTE estado da construção metálica em Angola através de uma comparação económica de uma ponte mista e de uma ponte executada com vigas de betão. Para cada uma delas é também apresentado o grau de incorporação de mão-de-obra, uma vez que é objetivo do governo Angolano diminuir as importações. Posteriormente, são apresentadas as principais alterações a realizar no FUTURO de forma a tornar a construção metálica ainda mais económica.

1. O presente da construção metálica em Angola A África Austral é uma das zonas com maior crescimento económico do mundo. Angola continua a apresentar, ao longo dos anos, taxas de crescimento muito significativas, graças à exploração das suas reservas naturais (petróleo e diamantes), tendo um aumento do PIB de 6,8% no ano de 2013. Assim, é natural que a construção metálica esteja em grande crescimento neste país. Para entender o estado da construção metálica em Angola apresenta-se a análise resumida de parte de um artigo apresentado no 1º Congresso Luso Africano de Construção Metálica Sustentável que decorreu em Luanda e que foi co-elaborado pela VESAM [1], e onde é descrita uma comparação económica entre a solução de ponte totalmente em betão e de uma solução mista.

1.1. Breve descrição do estudo Pretendeu-se, com este estudo, conhecer o sistema estrutural mais económico para uma ponte contínua de 3 tramos, conhecer o grau de incorporação de produtos locais no custo final da solução e, com isto, identificar a solução que mais desenvolvia a economia local. Esta é uma

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grande preocupação do governo de Angola. Na análise de custos entre uma solução em vigas de betão prefabricadas com incorporação de pré-esforço e uma solução mista, foi utilizada uma ponte fictícia localizada em Saurimo – Angola, com 3 vãos de 20m cada. A solução estrutural resultante do dimensionamento foi uma viga contínua com 8 longarinas e carlingas sobre os apoios, ambas em betão. No caso da solução mista, foram dimensionadas 3 longarinas e carlingas metálicas espaçadas de 4 a 6 metros, ver figura 1. O tabuleiro para a solução em vigas betão seria executado com pré-lajes e uma laje com 25cm de espessura. O tabuleiro, no caso da solução mista, tinha 25cm de espessura e era executado com recurso a chapa colaborante e uma viga de bordo, o que evita qualquer cofragem. 1.1.1. Considerações iniciais Todos os custos apresentados são custos “sem lucro” e foram obtidos, consultando várias empresas a trabalhar no mercado das pontes, nesta localidade. O custo do aço para pré-esforço já engloba o tensionamento. O custo do aço da estrutura metálica já engloba o fabrico, pintura e montagem Foi considerada uma grua de 80 ton. para elevar uma viga de betão de 14ton. e uma grua de 50ton. para elevar uma viga metálica

Filipe Santos Presidente do Conselho de Administração da VESAM Engenharia, S.A.

de 10 ton. Refira-se que o facto de se utilizar os cobrejuntas reduz significativamente o comprimento do troço da longarina a montar. Os custos de estaleiro englobam os custos com pessoal, durante a montagem das longarinas, a colocação da cofragem, a armação de ferro e a betonagem. O pessoal afeto à obra inclui 15 operários especializados, 2 encarregados e 1 diretor de obra. 1.1.2. Distribuição de custos Na Tabela 1 são apresentados os mapas de quantidades e orçamentos para cada solução, podendo concluir-se que a solução em vigas de betão é cerca de 30% mais onerosa que uma solução mista. Da análise do Gráfico 1 podemos concluir que, embora o custo do aço, na solução em vigas de betão, seja significativamente menor, devido ao facto de, no mercado angolano, ainda existirem poucos fabricantes de construção soldada, o tempo despendido para a execução da obra é maior, agravando significativamente os custos de estaleiro afetos à obra, não só pelo tempo despendido na colocação das vigas de betão como, também, na montagem das pré-lajes e, ainda, na execução da cofragem e armadura em obra. Em Angola, os custos de estaleiro, incluindo expatriados e máquinas, são bastante expressivos, uma vez que ainda não existe muita


a) Vista lateral.

b) Corte Transversal SM.

b) Corte Transversal SB.

>1

> Tabela 1: Mapa de quantidades e orçamento para a Solução em vigas de Betão – S.B. e a Solução Mista – S.M. Art.º Designação

Quant. (S. B.)

Custo Unitário (S.B.)

Custo Total (S.B.)

Quant. (S. M.)

Custo Unitário (S.M.)

Custo Total (S.M.)

Cofragem

1.1.

Vigas

m2

1245

$35,00

$43.575,00

1.2.

Pré -Laje

m2

510

$35,00

$17.850,00

1.3.

In situ

m2

315

$35,00

$11.025,00

1.4.

Chapa Cofragem

m

2.

2

660 $72.450,00

$25,00

$16.500,00

Subtotal

$16.500,00 $84.375,00

Aço

2.1.

Aço A400

kg 105000

2.2.

Aço para pré-esforço

kg

7500

2.3.

Estrutura Metálica

kg

3.

– Subtotal $2,50

$262.500,00

33750

$2,50

$10,00

$75.000,00

Subtotal

$337.500,00

120000

$5,00

$600.000,00

Subtotal

$684.375,00 $61.250,00

Betão C25/30

3.1.

Vigas

m3

145

$350,00

$50.750,00

175

$350,00

3.2.

Pré -Laje

m3

98

$350,00

$34.300,00

3.3.

in situ

m

113

$350,00

$39.550,00

Subtotal

$124.600,00 $180.000,00

3

4.

Meios de Elevação

4.1.

Grua (80 ton)

Dia

45

3000

4.2

Grua (50 ton)

Dia

5.

Custo de Estaleiro

Dia

70

Subtotal

$180.000,00

6000

$540.000,00

Subtotal

Subtotal –

15

1500

> Gráfico 1: Distribuição de custos. Sol. Betão S. Mista

$61.250,00

Milhares

1.

Un.

mão-de-obra nacional qualificada e máquinas. Assim, soluções que recorram a prefabricação, reduzindo os tempos em obra e evitando não-conformidades no terreno, são as mais económicas. O custo dos meios de elevação também aumenta significativamente, pois são necessários meios de maior capacidade, por mais tempo. É de referir que o custo do betão em Angola é significativamente mais elevado do que na Europa, sendo esse mais um dos fatores que tornam a solução metálica tão competitiva. Fica, assim, justificada a preferência que os donos de obra têm pela construção metálica e a razão pela qual a construção metálica tem

$800,00 $700,00 $600,00

$22.500,00

$500,00 $400,00

Subtotal

$22.500,00

$300,00

6000

$180.000,00

$200,00

$540.000,00

Subtotal

$180.000,00

$100,00

Total $1.254.550,00

Total

$964.625,00

$0,00

30

Cofragem

Aço

Betão C25/30

Meios de Elevação

Custos de Estaleiro

> Figura 1: Ponte contínua de 3 vãos.

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construção em áfrica na atualidade

Entre elas está uma das 50 pontes já realizadas em Angola.

a) Aspeto final da ponte sobre o Rio Luachimo em Angola, alçado.

b) Superfície comercial com asna de 33m, Luanda.

c) Estrutura torres do Carmo montada a 100m de altura, Luanda.

>2

registado um crescimento tão acentuado. Refira-se ainda, que não só as pontes e os edifícios comerciais/industriais são executados em aço, sendo comum, em Luanda, a estrutura

principal dos edifícios com 15 ou 20 pisos executada em estrutura metálica. Na figura 2 podemos verificar algumas das obras projetadas e executadas pela VESAM.

> Tabela 2: Mapa de Quantidades (importação) e orçamento para a Solução em vigas de Betão – S.B. e a Solução Mista – S.M.. Designação

Un.

Custo Unitário (S.B.)

Quant. (S. B.)

Custo Total (S.B.)

Quant. (S. M.)

Custo Unitário (S.M.)

Custo Total (S.M.)

Cofragem Madeira

m2

2070

$10,00

Chapa Cofragem

m2

$20.700,00

Subtotal

$20.700,00

660

$10,00

$6.600,00

Subtotal

$6.600,00 $50.625,00

1.1.3. Distribuição de custos de importação A Tabela 2 é apresentada uma análise do custo de cada artigo e a sua proveniência, tentandose determinar a quantidade de produto importado, à data do trabalho. Assim, para a execução da cofragem é necessário importar a madeira ou a chapa de cofragem. Quer o aço para as armaduras, quer o aço para o pré-esforço, todo ele é importado, pois não existem siderurgias em Angola. No caso das longarinas e carlingas executadas em estrutura metálica, também são importadas, mas apenas com a aplicação de um primário. Posteriormente, são transportadas para a obra, pintadas e aparafusadas. Os meios de elevação também são importados. Da análise da tabela 2 podemos concluir que os custos de importação da solução mista e da solução em vigas betão são idênticos. Este facto é devido não só à falta de betão neste país, como também ao elevado custo do aço para armaduras que prejudicam a solução de vigas em betão. O custo dos meios de elevação favorece a solução em estrutura mista, ver gráfico 2. Refira-se que já existem em Angola empresas metalomecânicas e, num futuro próximo, passará a existir maior capacidade produtiva destas estruturas, gerando uma diminuição da importação na ordem dos 30 a 40%.

Aço Aço A400

kg

105000

$1,50

$157.500,00

33750

$1,50

Aço para pré-esforço

kg

7500

$8,00

$60.000,00

Estrutura Metálica

kg

120000

$3,00

$360.000,00

Subtotal

$410.625,00

$217.500,00

Betão C25/30 Estrutura

m3

356

$150,00

$53.400,00

Subtotal

$53.400,00

175

$150,00

$26.250,00

Subtotal

$26.250,00

Sol. Betão S. Mista

$450,00 $400,00 $350,00 $300,00 $250,00

Meios de Elevação

$200,00

Grua (80 ton)

Dia

45

3000

Grua (50 ton)

Dia

$180.000,00

construção magazine 58

15

1500

$22.500,00

$150,00

Subtotal

$180.000,00

Subtotal

$22.500,00

Total

$471.600,00

Total

$465.975,00

> Figura 2: Exemplos de algumas obras projetadas e executadas pela VESAM

16

Milhares

Subtotal

> Gráfico 2: Distribuição de custos.

NOVEMBRO/DEZEMBRO 2013

$100,00 $50,00 $0,00

Cofragem

Aço

Betão C25/30

Meios de Elevação


2. O futuro da construção metálica em Angola Prevê-se que o crescimento da construção no setor público seja bastante grande, uma vez que o país está bastante carenciado de infraestruturas, nomeadamente rodoviárias. Refira-se que o governo de Angola anunciou, em dezembro de 2013, a pretensão de reabilitar mais 17.000kms de estradas nos próximos anos. No entanto, é seu objetivo também desenvolver as infraestruturas ferroviárias, marítimas e energéticas, e seguramente que em todas elas as estruturas metálicas estão muito presentes. Por seu lado, o setor privado está em franco crescimento. O governo pretende diminuir o peso das importações. Assim, terão de se construir, localmente, mais unidades industriais e mais habitação para que se possa dar resposta a uma produção nacional crescente. Nos cinco pontos seguintes, será apresentado aquilo que serão as grandes alterações futuras no processo produtivo da construção metálica, de forma a torná-lo mais rentável. Um dos denominadores comuns são as pessoas. Angola ainda não tem mão-de-obra qualificada e o recurso a mão-de-obra expatriada não é uma solução de longo prazo, pois tem custos elevados. Toda a estratégia futura de crescimento deve estar, por um lado, no reconhecimento desta dificuldade presente e, por outro lado, na transferência de conhecimento para os nacionais. Outro dos denominadores é a distância. Angola é um país com dimensão elevada, pelo que qualquer deslocação da unidade de produção

>3

à obra tem custos significativos, que devem ser minimizados.

2.1. Gestão de obra A necessidade de gerir estes processos produtivos obrigou as empresas a desenvolver ou adquirir aplicações informáticas adaptadas ao seu processo de fabrico [2],[3]. No entanto, estas ferramentas gerem, normalmente, o trabalho realizado nas suas próprias fábricas e, muitas vezes, apenas são utilizadas pelos intervenientes diretos da empresa. A internacionalização das empresas para África tornou estas aplicações informáticas desadequadas. Por um lado, as empresas começaram a ter obras de diferentes tipologias e escalas. Ora se executam estruturas treliçadas, ora se fazem vigas em construção soldada, ora se fazem escadas metálicas. Por outro lado, as obras são em zonas remotas, sendo grande a distância entre as áreas de fabrico e de montagem, o que nem sempre permite o controlo efetivo de produção e de qualidade. Por outro lado ainda, se na Europa, ao nível local, a interligação de processos é fundamental; em África é imprescindível, tanto pela dificuldade na obtenção de meios, como também pela forma de os interligar, tornando a programação dos processos fundamental ao ciclo produtivo. Para colmatar esta falha, a VESAM desenvolveu o MERP – Metallic Enterprise Resource Planning, uma aplicação informática que permite a gestão centralizada de todo o processo pro-

dutivo da empresa, desde o aprovisionamento até à montagem, com controlo de custos e rendimentos de vários tipos. Permite, ainda, a gestão de subempreiteiros, através da introdução simples e rápida do seu planeamento e da sua execução e, também, a visualização, on-line, de planeamento e execução. 2.1.2. Fabrico O fabrico de estrutura metálica é uma atividade que deve ser realizada em Angola e não importada, pelas razões invocadas anteriormente. Para produzir estrutura metálica, são necessárias máquinas. Algumas empresas optam por ter em Angola máquinas usadas. Essa pode ser uma decisão errada. A reparação de equipamento, para além de muito onerosa, é muito demorada. Assim, o equipamento deve ser novo e bastante robusto, devendo existir uma política de manutenção rigorosa. As estruturas devem ser totalmente executadas por prefabricação em fábrica, evitando erros em obra e garantindo o aumento de qualidade da solução final, ver figura 3. Refira-se que a pré-montagem deve ser executada em fábrica sempre que possível, onde apesar de tudo é menos onerosa a reparação. 2.1.3. Transporte O transporte é uma fase crítica do processo produtivo. A rede viária Angolana está em construção, não apresentando, em alguns casos, boas condições de circulação. É bastante importante que as cargas sejam bem executadas e planeado o tempo de transporte. Conforme referido anteriormente, os custos de transporte são bastante significativos. Assim, as cargas devem ser bastante otimizadas. Uma das formas de realizar é através da utilização de software de otimização volúmica de carregamentos, que está neste momento em fase de desenvolvimento. 2.1.4. Montagem A eficiência da solução estrutural pode ser medida pelo “rácio densidade” (kg/m2), quanto maior menos eficiente. Como exemplo, refirase o caso das pontes onde a solução estrutural

> Figura 3: Pré-Montagem das longarinas.

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construção em áfrica na atualidade

a) Soluções multi-viga.

b) Meios de elevação de baixa capacidade.

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do tipo multi-viga com 3 longarinas, com uma largura ate 12m, tem sempre um rácio de densidade pior que uma solução bi-viga. No entanto, face aos meios de elevação de baixa capacidade e onerosos, a solução multiviga torna-se globalmente mais económica, ver figura 4.

A montagem de estruturas em Angola possui singularizes específicas que a tornam bastante diferente da que é realizada na Europa, e que devem ser tidas em linha de conta de forma a tornar este tipo de soluções ainda mais económicas quando comparadas com soluções prefabricadas em betão armado.

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a) Alma com parafusos HRC.

b) Diferentes parafusos HRC.

>6 > Figura 4: Aspetos de Montagem. > Figura 5: Aspeto da montagem da chapa colaborante e viga de bordo. > Figura 6: Parafusos HRC.

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Como exemplo, refira-se o caso de um tabuleiro de uma ponte realizado com chapa de cofragem interrompida sobre as longarinas [4], inclusivamente a zona lateral do tabuleiro que, normalmente, é em consola e que nesta solução é executada com chapa de cofragem graças a uma viga de bordadura. Esta viga tem três funções: elemento estrutural em fase metálica e em fase composta, elemento de cofragem durante a betonagem do tabuleiro e efeito estético, ver figura. 5. Outro exemplo é a utilização de parafusos HRC “High Resistance Calibrated”, que permitem uma economia no tempo despendido para aplicação e controlo do momento de aperto, sem agravamento do custo da solução [5]. O parafuso possui, na extremidade, uma zona que “parte” quando é atingido o momento de aperto correto, ver figura. 6. 2.1.5. Montagem Outro dos fatores de sucesso é o I&D. O mercado Angolano tem uma grande apetência para o consumo de inovação. E esta é considerada, pelos agentes locais, como diferenciadora. Assim, tudo o que traga valor acrescentado ao produto é bem-vindo. Um dos grandes problemas em Angola é a falta de política de manutenção. É fundamental a criação de sistemas que possam prever a realização desta atividade, uma vez que não existem inspeções periódicas. A VESAM encontra-se, atualmente, a desenvolver um novo sistema de monitorização que apresenta características únicas mas fundamentais: 1) baixo custo; 2) elevada autonomia energética; 3) capacidade de dissimulação na estrutura para evitar furto e atos de vandalismo; 4) capacidade de expansão ilimitada do número de canais; e 5) possibilidade de utilizar novos e diferentes tipos de sensores devido à modularidade da solução desenvolvida. Este sistema será integrado em qualquer estrutura realizada pela VESAM A corrosão é um dos parâmetros que mais influenciam o comportamento da estrutura metálica. Apesar de se desenvolver, em geral, de forma lenta e gradual ao longo do tempo, é


3. Sumário Foram apresentadas as principais razões pelo qual as estruturas metálicas em Angola são uma solução estrutural bastante competitiva perante outras alternativas, nomeadamente o betão armado. Tendo, neste momento, um grau de incorporação de mão-de-obra local idêntico à solução de betão armado, prevê-se que, futuramente, esse valor aumente significativamente, tornado a solução estrutural ideal para o desenvolvimento local. Foram ainda descritos os principais melhoramentos a realizar no futuro em cada uma das áreas funcionais, para que a construção metálica se torne ainda mais rentável em Angola – Gestão de Obra, Fabrico, Transporte, Montagem e I&D. É de salientar o papel fundamental que a CMA – Construção Metálica em África enquanto de-

partamento da CMM – Associação Portuguesa de Construção Metálica, tem realizado. Um dos seus objetivos é promover a divulgação técnico-científica da construção metálica em África através da organização de congressos, ações de formação e consultoria a empresas.

Referências [1] Santos F., Vieira J., Silva S. “Luembe: Um caso prático do projecto Africa Bridge”, I CLAEMS, II 171-180, CMM, 2012. [2] Pannoni, F.D, “Projecto e Durabilidade”, C.B.C.A, Rio de Janeiro, 1ª Edição, 2009. [3] Dowling, P., Bassam, B. and Owens, G. – “Developments in European Steel Constru-tion”. Steel Structures, 2001, N.1, pp. 75-90. [4] CMM, VIII congresso de estruturas metálicas e mistas, “África Bridge, novos desen-volvimentos em pontes mistas”, Santos F., Silva L. S. e Carmona R., Guimarães, 2011; [5] CMM, Manual de execução de estruturas metálicas, Santos F., Silva L. S., Coimbra, 2011.

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fundamental monitorizar a corrosão devido à sua influência na segurança estrutural, nomeadamente pela ocultação de outras possíveis anomalias, como por exemplo a fissuração por fadiga em estruturas metálicas, devido à formação de uma camada de óxido da superfície do elemento metálico. Não existindo no mercado um sensor de corrosão com as características pretendidas pela VESAM, decidiu-se produzir o próprio sensor. Este foi desenvolvido de modo a permitir obter, à semelhança do sistema de monitorização, um sensor de baixo custo; pequena dimensão; elevado tempo de vida útil; e capacidade de adaptabilidade para monitorizar, simultaneamente, múltiplos sistemas de proteção anti-corrosão. Este novo sensor encontra-se, atualmente, em processo de registo de propriedade industrial devido às suas características únicas e inovadoras perante os existentes no mercado.

CURSOS DE FORMAÇÃO AVANÇADA EM ENGENHARIA INSPECÇÃO, MANUTENÇÃO E REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS E PONTES

PROJECTO DE OBRAS MARÍTIMAS

PROJECTO DE ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO

ANGOLA 2014

SANEAMENTO URBANO

(APLICAÇÃO DO EUROCÓDIGO 2)

PROJECTO DE ESTRUTURAS METÁLICAS E MISTAS (APLICAÇÃO DOS EUROCÓDIGOS 3 E 4)

CONCEPÇÃO E CONSERVAÇÃO DE PAVIMENTOS RODOVIÁRIOS

C

M

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CM

MY

10 a 14 de Fevereiro Prof. Fernando Branco (IST) Engª. Rita Moura (TD)

CY

7 a 11 de Abril

19 a 23 de Maio

23 a 27 de Junho

21 a 25 de Julho

Prof. Eduardo Júlio (IST) Engª. Rita Moura (TD)

Prof. José Saldanha Matos (IST) Engª. Rita Moura (TD)

Prof. Luís Calado (IST) Engº Nuno Gonçalves (TD)

Prof. Luís de Picado Santos Engª. Rita Moura (TD)

17 a 21 de Março Prof. António Trigo Teixeira (IST) Eng. Fernando Oliveira (TD/OFM) Eng. João Vasco (TD/OFM)

CMY

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Tendo em vista os grandes desafios que actualmente se colocam à construção em ANGOLA, a TEIXEIRA DUARTE, o INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO (IST) e a FUNDEC, com o apoio da ordem dos Engenheiros de Angola, estão a organizar Cursos de Formação Avançada no domínio da Engenharia Civil.

Teixeira Duarte, Engenharia e Construções, S.A. Alameda Manuel Van-Dúnem, nº318 a 320 - Luanda

Tel.: +244 222 641 500/501 Tlm.: +244 917 315 669

LOCAL: Os cursos decorrerão no Hotel Alvalade, em Luanda - Av. Comandante Gika. CERTIFICAÇÃO: Certificado de Frequência de Formação Profissional emitido pela FUNDEC-IST.

INFORMAÇÕES . INSCRIÇÕES Dr. Paulo Falcão Teixeira

DURAÇÃO / HORÁRIO: Cada Curso de Formação Avançada terá a duração de 5 dias, de segunda a quinta-feira, das 8h30 às12h e sexta das 8h30 às 17h30.

Fax: +244 222 641 560/620 Email: pft@tduarte.co.ao

Iniciativa

Formação

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Certificação

Apoio

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construção em áfrica na atualidade engenharia em áfrica Jorge Meneses, Diretor Geral da PROFICO Eduardo Monteiro, Diretor da PROFICO, responsável para Angola Manuel Pera, Diretor da PROFICO, responsável para Moçambique Carlos Lopes, Diretor da PROFICO

1. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO A partir do final dos anos 80, os fortes apoios comunitários, associados ao fraco desenvolvimento das infraestruturas portuguesas de todo o tipo, conduziram a importantes programas de desenvolvimento do setor da construção e, naturalmente, do subsetor dos projetos de engenharia. Esta situação prolongou-se para os primeiros anos do novo século, tendo-se assistido, nestes períodos, à entrada no mercado português de inúmeras empresas estrangeiras que ganharam uma significativa quota de mercado, como é o caso do setor ferroviário, que adjudicou a modernização da Linha do Norte a um conjunto de empresas de origem britânica. A tradicional abertura e recetividade dos portugueses potenciou a vinda dessas empresas estrangeiras que encontraram um mercado aberto e fértil para os seus negócios. Após 2007, com uma enorme capacidade instalada, de origem interna e externa, Portugal sofreu, como todo o mundo, o embate da crise do subprime, logo seguida pela crise da dívida soberana, com o setor da construção a sentir o impacto com maior acuidade devido ao grande número de agentes no mercado e à sua forte e rápida contração. As empresas de consultoria de engenharia, que, entre outras debilidades, estavam descapitalizadas, tiveram de reagir à situação adversa criada, em pouco tempo, com poucos capitais próprios e sem apoios da banca ou do estado. Como ativos importantes tinham a sua

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competência, bons quadros, experiência e uma postura muito portuguesa de capacidade de lutar na adversidade, com muita improvisação mas também inovação e pragmatismo. Deste modo, as empresas viraram-se para o mercado dos PALOP, com especial foco em Angola que, pela sua riqueza petrolífera, imensidão de infraestruturas por executar, grandes carências habitacionais e falta de mão-de-obra qualificada, correspondia à súbita necessidade quer das empresas de construção, quer das empresas de estudos e projetos de engenharia e arquitetura. Esta simbiose entre algumas das necessidades dum país e todo um setor de outro, teve como catalisador os recursos humanos portugueses que, para além da língua, tinham competência, experiência e bom conhecimento do território. Acrescente-se a circunstância de utilizarmos a mesma regulamentação técnica e jurídica, fruto do facto de muitos quadros angolanos terem estudado em Portugal, e estamos perante um enquadramento competitivo muito favorável face a outros países africanos. Com algum desfasamento temporal, e cingindo-nos apenas a África, também Moçambique se tornou um país atrativo para as empresas portuguesas, apesar de alguns dos fatores apresentados para Angola não se cumprirem neste país. Moçambique é um país cujas potenciais riquezas primárias ainda não proporcionaram o retorno expectável. Por outro lado está sob forte influência sul africana nomeadamente na área legislativa, o que dificulta a penetração das empresas portuguesas.

Seria injusto esquecer algumas presenças portuguesas no Magreb, remontando aos anos 70, que, embora fazendo-se sentir em áreas muito específicas como as barragens, deram uma boa imagem da engenharia portuguesa nesta região africana. Estamos, portanto, numa situação de forte presença portuguesa em África, com realce para os PALOP, mas sem esquecer a região do Magreb. A nossa concorrência têm sido as empresas francesas nos países de influência francófona, espanholas no Magreb e, mais recentemente, as empresas chinesas, que representam uma alteração da última década. Com efeito, a China elegeu África como o seu “território de expansão”, pelo que se encontram empresas chinesas na generalidade dos países africanos que conhecemos. Com os seus preços baixos e falta de condições a todos os níveis para os seus trabalhadores, as empresas de origem chinesa são hoje um “player” nestes mercados, impossível de ignorar e bastante difícil de superar em termos económico-financeiros.

2. ESTRATÉGIA DE INTERNACIONALIZAÇÃO – AMEAÇAS E OPORTUNIDADES 2.1. Introdução A estratégia da instalação da Profico em Angola e Moçambique passou pela criação de empresas locais, em parceria de capital, de recursos humanos e “know-how” com outras empresas portuguesas do setor da consultoria de enge-


nharia, partilhando investimento, recursos, competências, custos e benefícios. Por outro lado, em vez de primar pela entrada nestes mercados através de baixo preço, a que fatalmente corresponde um mau serviço ou pelo menos incompleto, as empresas CENGA (Angola) e ECM (Moçambique) têm procurado firmar a sua presença através da prestação de serviços de qualidade, com preços adequados ao serviço prestado. A CENGA e a ECM vão procurando, em cada situação, estabelecer parcerias pontuais com empresas locais a fim de fazerem uma adequada integração técnica no tecido local. Este modelo de internacionalização, com presença de recursos humanos portugueses a dirigirem localmente a atividade, tem naturalmente custos de investimento significativos e requer quadros fiáveis, pelo que a expansão da Profico para estes mercados tem sido feita com moderação e sustentação, sob pena de os recursos de todo o tipo não serem suficientes e adequados para uma presença local competente.

Riscos e ameaças: – Mercados pouco amadurecidos que não privilegiam a qualidade de serviços; – Dificuldades de cobrança de créditos; – Dificuldade legal de permanência no território de técnicos expatriados; – Dificuldade de transferência de capitais; – Gestão da empresa local ameaçada pela legislação; – Transposição de normas e regras dificultada; – Fraco conhecimento inicial do enquadramento legal; – Concorrência em preço de outras empresas sem presença física no local; – Dimensão da empresa; – Barreiras à entrada (vistos, certificados de habilitação). Nas oportunidades identificamos: – É possível fazer diferente e fazer melhor; – Partindo duma base neutra, respondemos pelo que mostrarmos que somos capazes; – Escassez de técnicos locais com boa formação.

2.2. Aspetos específicos da estratégia 3. EXPERIÊNCIA DA EMPRESA EM ÁFRICA A estratégia de internacionalização da Profico em Angola e Moçambique apresenta como pontos fortes: – Presença efetiva e permanente no território; – Distribuição de riscos através de parcerias; – Qualidade técnica idêntica à fornecida em Portugal; – Incremento das áreas de atividade; – Preços equilibrados; – Estabilidade dos recursos humanos alocados; – Domínio da legislação técnica; – Independência em relação ao histórico de um hipotético sócio local. Como pontos fracos podemos identificar: – Ausência de parceiro local no capital e dos benefícios que isso poderia potenciar; – Dificuldades de contexto; – Tempo longo de adaptação ao mercado; – Atividade comercial mais difícil; – Experiência técnica no território nula, no início da atividade da nova empresa; – Custos de produção afetados pelos encargos de estrutura.

3.1. A CENGA em Angola A necessidade de encontrar novos mercados, contando com um corpo técnico próprio experiente e bem preparado, encontrou em Angola, um país em forte crescimento e com disponibilidade para absorver “know-how” exterior. Esta situação potenciou, em 2007, a criação da CENGA, Consultores de Engenharia de Angola, empresa participada da Profico. O processo de integração da empresa no mercado angolano foi decorrendo lentamente, ganhando continuamente a confiança dos clientes e apostando na qualidade da prestação de serviços, para potenciar o crescimento da empresa, olhando para o futuro promissor do país. Em Angola, estamos neste momento com equipas de trabalho em várias vertentes da engenharia, nomeadamente no projeto, fiscalização e/ou gestão de empreendimentos, em Luanda, Kuito, Malanje, Saurimo e Huambo. No campo logístico sentem-se grandes

dificuldades, embora exista uma diferença substancial entre Luanda e as restantes localidades. Em Luanda estão instaladas empresas de construção de grande dimensão, com meios de produção próprios e capazes de concretizar obras de grande porte e exigência técnica. Em Luanda também estão disponíveis grande parte dos materiais e equipamentos necessários à construção, sendo frequente a utilização do porto de Luanda ou Lobito para o seu transporte. Fora dos meios urbanos de grande dimensão, temos encontrado grandes dificuldades, sendo notória a falta de meios, tanto materiais como humanos, revelando-se as empresas e fornecedores no geral subdimensionados para as solicitações que surgem. Claramente, se olharmos para o modelo simples da lei da oferta e da procura e se a ela associarmos as visíveis necessidades e anseios da população e o elevado poder de compra que proporcionam as riquezas naturais do país, entendemos a origem das dificuldades em encontrar bens e serviços no mercado, especialmente no interior, e quando os encontramos é a preços significativamente elevados à nossa escala. Tudo isto é válido para o mercado angolano em geral e, naturalmente, também para a Construção e Engenharia em particular.

3.2. A ECM em Moçambique Volvidos quatro anos após o início da experiência em Angola, decidimos, em 2011, estabelecer-nos em Moçambique. A estratégia seguida foi semelhante à que já tínhamos adotado em Angola i.e., associámo-nos a outras empresas de engenharia portuguesas, que garantiam abrangência e complementaridade ao domínio de atuação da Profico. Assim, foi criada a ECM Engenheiros e consultores de Moçambique, uma empresa de direito moçambicano, integrando, também, na sua estrutura acionista, um sócio local. A atração por Moçambique baseia-se no potencial libertado pela desejada paz que pôs fim a 16 anos de guerra civil. Desde o início deste século, a taxa média de crescimento foi próxima dos 8%, perspetivando-se, para o pre-

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sente ano, uma taxa de 8,5%. As descobertas de importantes recursos naturais e o início da exploração dos mesmos nos anos mais recentes vieram dar um contributo essencial para tornar esse crescimento sustentável e dar confiança aos agentes económicos e aos potenciais investidores estrangeiros. Existem, no entanto, grandes constrangimentos aos investimentos em curso, principalmente para os que se situam longe dos três portos do país, como é o caso das jazidas carboníferas de Moatize, na província de Tete, e que se prendem com a falta de infraestruturas em geral e de vias rodoviárias e ferroviárias fiáveis em particular. Para os solucionar foi iniciado um programa de investimento em infraestruturas, perspetivando-se o seu incremento nos próximos anos. Especial relevância assume o investimento no setor ferroviário, fundamental para estabelecer ligações do interior para os portos. O porto da Beira, para além de fundamental para os investimentos carboníferos de Tete, é uma porta de entrada para o Botswana, o Zimbabué, a Zâmbia, o Malawi e o Zaire. O sistema ferroviário que o suporta (Linha de Sena, ligação ao Malawi e Linha de Machipanda) tem em curso ou programados elevados investimentos na sua reabilitação e incremento de capacidade. No Norte, a mineradora Vale está a reabilitar o Corredor Ferroviário de Nacala, com travessia através do Malawi. Também o sistema ferroviário associado ao porto de Maputo, porta de entrada para a Swazilândia e o norte da África do Sul e o Zimbabué através das Linhas de Goba, Ressano Garcia e Limpopo, tem programadas obras de reabilitação e melhoramento. A engenharia portuguesa, apesar da crise que se vive em Portugal, tem grande capacidade técnica instalada, pelo que viu nestes investimentos uma janela alternativa de oportunidades. Existem, contudo, vários condicionantes, principalmente para as empresas de consultoria em engenharia como a nossa. A burocracia em Moçambique é elevada; as instalações, habitação e transportes são caros e os custos de logística assumem um papel preponderante nas estruturas de custos dos investimentos, muitas vezes imprevisíveis devido aos riscos

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associados ao estado das infraestruturas. A mão-de-obra local tem custos baixos, mas escasseiam os quadros técnicos qualificados. Apesar das boas taxas de crescimento, Moçambique possui ainda uma capacidade económica muito limitada, sendo o Orçamento Geral do Estado dependente em cerca de 40% de donativos internacionais, pelo que as decisões de investimento são condicionadas por esta realidade. As empresas de consultoria em engenharia têm ainda outros obstáculos a transpor. Apesar de a língua oficial ser o português, Moçambique tem uma grande influência anglófila, tendo a África do Sul um papel económico determinante, atenuando a vantagem competitiva da língua. Os materiais e equipamentos de valor acrescentado são fornecidos por este país, pelo que os estudos e projetos em investimentos de maior vulto são normalmente desenvolvidos em inglês. Também a legislação e regulamentação associada aos trabalhos de engenharia tem pouca influência portuguesa ou europeia, adotando, em geral, as normas da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), liderada pela África do Sul, contribuindo para a vantagem competitiva deste país. Finalmente, as recentes alterações em matéria de concessão de vistos trouxeram uma dificuldade acrescida para as empresas que rumaram a este país. As particularidades do território e do mercado moçambicano influenciam também, de forma determinante, as soluções de engenharia a conceber. O que é adequado em Portugal pode ser impraticável numa dada zona de Moçambique. Excetuando nos grandes centros urbanos, próximos dos três portos principais do país, existem poucos recursos instalados (materiais, equipamentos, mão-de-obra qualificada, etc.). Isso significa que a realização e conceção, a nível de projeto, de qualquer nova infraestrutura, implica a criação de condições logísticas que garantam a sua viabilidade. O início da atividade da ECM em Moçambique foi um processo lento de afirmação contínua no mercado. Vencidos os aspetos burocráticos de constituição e colocação em funcionamento da empresa, desenvolveram-se contactos com os diversos intervenientes no mercado, cobrindo a generalidade dos

domínios da engenharia e afirmando-se no mercado através da qualidade dos serviços prestados. Tendo em conta as perspetivas futuras de desenvolvimento do país atrás referidas, centrámos uma boa parte do esforço comercial no setor das infraestruturas rodoviárias e ferroviárias associadas aos grandes investimentos em curso no país. A ECM está envolvida em estudos e projetos em áreas como projeto, inspeção e reabilitação de pontes, estudos e projetos de infraestruturas rodoviárias e ferroviárias, serviços de geologia e geotecnia, projeto de edifícios e instalações técnicas, entre outros, realçando um conjunto relevante de serviços e projetos ligado ao Corredor Ferroviário de Nacala.

3.3. Norte de África Os países do norte de África têm como prioridade, no seu desenvolvimento estratégico, a construção e modernização das respetivas infraestruturas rodoviárias, ferroviárias, portuárias e aeroportuárias, bem como a habitação social e os trabalhos de reabilitação urbana. Nesse sentido, as políticas governamentais destes países têm destinado grandes investimentos na vertente da construção civil, mas apesar de estes mercados representarem grandes oportunidades para as empresas de construção, as atividades de projeto e consultoria de engenharia e arquitetura encontramse ainda pouco presentes. Entre outras dificuldades para a entrada nestes mercados, notamos o protecionismo existente no setor, evidenciado por exemplo pela majoração até 15% do valor das propostas apresentadas por empresas projetistas estrangeiras, pela exigência de cauções de valor significativo ou pela exigência de inscrição dos técnicos nas ordens profissionais dos países em questão. Estes aspetos levam à quase obrigatoriedade de associação com parceiros locais, de modo a tornar as propostas competitivas e a respeitar as exigências em termos de qualificação das equipas técnicas. A língua da regulamentação e da legislação, bem como as diferenças culturais e de comunicação, constituem igualmente dificul-


dades para o desenvolvimento das atividades das empresas. Porém, associado aos grandes investimentos no setor da construção realizados atualmente pelos países do Norte de África, que poderão ajudar a suprir as dificuldades do setor em Portugal, estes mercados apresentam a proximidade geográfica com Portugal como forte atrativo para as empresas de consultoria de engenharia e arquitetura, facilitando as deslocações, que nesta atividade são, em geral, frequentes e de curta duração. Estas vantagens foram importantes para nós na elaboração de estudos e projetos que desenvolvemos na área ferroviária em Marrocos e na área aeroportuária na Argélia. Todavia, o mercado do Norte de África não constitui, para a Profico, uma aposta forte no curto prazo.

engenharia portuguesa com algum significado e a tendência será, seguramente, a de crescer nestes mercados. Contudo, a pequena dimensão das empresas portuguesas, bem como a sua dificuldade em criar estruturas maiores através de fusões, aquisições ou mesmo simples “joint-ventures” com alguma longevidade, dificultam a consolidação da presença da engenharia portuguesa nos mercados estrangeiros, sejam eles quais forem. Temos como certo que há limites para a internacionalização e que não é possível uma PME vender 100% da sua atividade no estrangeiro. Se tal acontecesse, seria caso para perguntar, afinal, o que faz a empresa em Portugal! Esta observação conduz-nos

a uma reflexão mais delicada sobre o futuro das empresas portuguesas de engenharia, sobreviventes por agora desta hecatombe: Sem dimensão, pouco capitalizadas, sem apoios do estado e sem trabalho no país, ou com muito pouco mas mal remunerado, é possível imaginar algum futuro para as empresas de engenharia que não seja o da mera sobrevivência? Talvez sim, mas apenas se alguns dos atributos atrás referidos mudarem e isso não depende apenas das empresas, mas também da alteração do contexto em Portugal. Ainda assim, pensamos que vale a pena lutar pela mudança de atitudes de todos para que a engenharia portuguesa tenha futuro.

Por opção estratégica atempadamente tomada, ou por necessidade percebida mais ou menos tardiamente, as empresas portuguesas ligadas ao setor da construção elegeram África como o continente prioritário de procura de negócios e atividade, face ao afunilamento do mercado doméstico. As empresas de consultoria, gestão de empreendimentos e projeto seguiram as construtoras que foram pioneiras neste movimento. Nos próximos anos, com a estagnação da atividade em Portugal, onde infelizmente não se vislumbram sinais de alteração da situação de crise instalada no setor da construção, as empresas sobreviventes serão unicamente as que se internacionalizarem e evidenciarem capacidade financeira para suportar muitas adversidades. Ao contrário do que pensa quem não vive, no dia-adia, o esforço de internacionalização duma empresa (não confundir com exportação de bens), é muito significativo estar representado em vários países simultaneamente. O continente africano vai continuar a ser interessante, havendo diversos países atrativos, como a Namíbia ou a Guiné Equatorial. Muito relevante neste continente continuará a ser a concorrência Chinesa, que acrescenta à sua agressividade laboral no terreno todo o poderio estratégico dos centros de decisão chineses, que canalizam apoios e trocas comerciais de dimensão impossível de igualar. A América Latina e o Médio Oriente parecem ser duas regiões onde se começa a sentir a presença da

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4. PERSPETIVAS FUTURAS

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construção em áfrica na atualidade soluções geotécnicas em edifícios de grande altura em áfrica No âmbito das oportunidades para o desenvolvimento de projetos geotécnicos de que a JetSJ Geotecnia, Lda. tem vindo a dispor em África, no presente artigo são descritos alguns exemplos de soluções de fundações especiais, escavação e contenção periférica, adotadas em edifícios de grande altura. Destacam-se os principais critérios de conceção e execução adotados, no sentido de permitir a superação dos principais condicionamentos existentes, alguns deles intrínsecos do mercado africano, como os aspetos relacionados com as condições geológicas e geotécnicas dos solos tropicais e, por vezes, com o apoio logístico à obra.

1. O mercado africano de engenharia civil

2. EDIFÍCIO BAÍA EM LUANDA

O mercado africano de engenharia civil encontra-se em franca expansão, determinando a adoção de soluções exigentes em todas as áreas, com especial ênfase para a geotecnia, onde os condicionamentos, como os de natureza geológica, geotécnica e de logística, influenciam as soluções estudadas e executadas em obra. Neste enquadramento, no presente artigo são apresentados casos de obras de fundações especiais e de escavação e contenção periférica executados, ou em execução, em edifícios de grande altura, localizados no centro das cidades de Luanda e de Maputo, onde foram estudadas e adotadas soluções integradas entre si, particularmente adequadas aos condicionamentos existentes. Como exemplo, sublinha-se a dispensa de execução de ancoragens no terreno, substituindo-as por quadros fechados materializados por bandas de laje, o recurso a lajes de tampão de fundo em colunas de jet grouting, integradas em soluções do tipo “combined pile raft foundation (CPRF)”, bem como a realização de injeções na base das estacas de fundação, de forma a incrementar as condições de segurança e de economia das soluções.

2.1. Enquadramento

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Neste capítulo são apresentadas as soluções executadas para os trabalhos de escavação, contenção periférica e fundações, adotadas no âmbito da execução dos quatro pisos enterrados e dos vinte e quatro pisos elevados do edifício Baía, localizado na Av. Major Kanyangulo, junto ao Largo do Ambiente e bastante próximo da baía de Luanda (Figura 1). A área de construção dispunha de uma configuração retangular, perfazendo cerca de 970m2 e uma altura de escavação máxima de cerca de 12m. A informação geológico-geotécnica relativa aos terrenos ocorrentes no local da escavação revelou a presença de solos arenosos, de compacidade média e baixa e de média a alta permeabilidade, associados à presença de nível freático quase superficial. A experiência menos positiva recolhida em trabalhos com características semelhantes, na mesma zona da baixa de Luanda, vinha confirmando a dificuldade associada à realização de ancoragens no ambiente hidrogeológico referido, bem como a dificuldade de controlar o afluxo de água pelo fundo da escavação. No sentido de facilitar

Alexandre Pinto, JetSJ Geotecnia, Lda. apinto@jetsj.pt Xavier Pita, JetSJ Geotecnia, Lda. xpita@jetsj.pt Rui Tomásio, JetSJ Geotecnia, Lda. rtomasio@jetsj.pt Rute Coelho, JetSJ Geotecnia, Lda. rcoelho@jetsj.pt

os trabalhos de escavação abaixo do nível de água, procurou-se conceber uma solução de contenção periférica e de fundações que resultasse num processo construtivo integrado e menos suscetível de ser afetado pelo complexo cenário hidrogeológico, tendo-se definido, em conjunto com o Dono de Obra, os seguintes princípios de conceção das soluções a propor: – Não realização de ancoragens abaixo da cota do nível freático; – Limitação e eventual eliminação do fluxo de água afluente pelo fundo da escavação, nas fases de escavação e de exploração do edifício. No enquadramento descrito, optou-se por executar uma parede de contenção periférica, realizada pela tecnologia de paredes moldadas, travada, durante a fase de escavação, por meio de diafragmas, constituídos por bandas de laje e por treliças metálicas, assim como através uma laje de tampão de fundo em colunas de jet grouting. Esta última dispunha, ainda, do objetivo de limitar a afluência de água ao interior da escavação (Figura 2). As fundações foram materializadas por barretas, em betão armado, encabeçadas por uma laje de ensoleiramento geral, betonada contra a laje de tampão de


fundo em colunas de jet grouting, permitindo, o conjunto, a materialização de uma solução do tipo “combined pile raft foundation (CPRF)”. Todos os elementos de contenção periférica, fundação e laje de tampão de fundo, foram executados a partir da superfície, previamente a qualquer trabalho de escavação.

2.2. Principais Condicionamentos Condições Geológicas e Geotécnicas As soluções desenvolvidas foram apoiadas no conhecimento das condições geológicas e geotécnicas da zona, confirmadas pelos resultados do estudo geológico - geotécnico realizado, que incluiu a execução de furos de sondagem à percussão, acompanhados da realização de ensaios SPT e de permeabilidade tipo Lefranc. Devido à proximidade da baía de Luanda, foi efetuada igualmente a leitura dos níveis de água numa das sondagens, durante vários dias consecutivos, de modo a aferir a influência das marés no nível freático. Os elementos obtidos com os trabalhos de prospeção permitiram definir o zonamento geotécnico indicado na Figura 2. Condições de Vizinhança O recinto de construção localizava-se no cruzamento do Largo do Ambiente com a Av. Major Kanyangulo, próximo da baía de Luanda, confrontando ainda com o edifício da Clinica da Sonangol (Figura 1). Assim sendo, procurou-se que as soluções estudadas e implementadas assegurassem o adequado funcionamento de todas as importantes estruturas e infraestruturas vizinhas.

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armado, com 0.60m de espessura mínima, assumindo assim três funções simultâneas (Figuras 2 a 4): a) Elemento de contenção, de forma a permitir a realização da escavação na vertical, preservando a estabilidade das estruturas e infraestruturas localizadas a tardoz do perímetro da escavação (Figura 1); b) Elemento de fundação dos elementos estruturais verticais, localizados sobre a mesma parede periférica; c) Elemento de limitação da afluência de água ao interior da escavação, nas fases de construção e de exploração, em conjunto

com o tampão de fundo. Por motivos de estabilidade da contenção e de fundação dos elementos que descarregam sobre a mesma, a ficha dos painéis foi prolongada, no mínimo, 8,0m abaixo da cota final da escavação. Sistema de Travamento da Contenção Periférica durante a Fase de Escavação Face à já referida posição do nível freático, quase superficial, e à dificuldade que a execução de ancoragens em terrenos saturados e de elevada permeabilidade certamente iria oferecer, optou-se por conceber uma solução

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2.3. Principais Soluções Geotécnicas Contenção Periférica Como já referido e de acordo com os condicionalismos descritos, foi estudada e executada uma contenção periférica, constituída por uma solução de parede moldada, em betão

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> Figura 1: Perspetiva do edifício Baía após conclusão da construção e vista de diferentes fases dos trabalhos de obra. > Figura 2: Corte tipo da solução e correspondência com o zonamento geotécnico. > Figura 3: Planta dos travamentos da laje, do tampão de fundo e das fundações.

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em que o travamento da contenção fosse conseguido à custa do tampão de fundo e de diafragmas de travamento, constituídos por troços de laje horizontais e por treliças metálicas onde, por razões arquitetónicas, não puderam ser executadas as lajes horizontais. Procurou-se, com a referida redução dos trabalhos de execução de ancoragens, bem como com a realização do tampão de fundo, garantir uma maior previsibilidade do comportamento da obra e, sobretudo, um maior controlo sobre o processo de escavação e da programação da obra [Pinto & Pita, 2011]. Os diafragmas referidos consistiram, assim, num conjunto de vigas que, na globalidade, formaram um quadro fechado e rígido, à mesma cota, e desta forma resistiram aos impulsos atuantes na contenção. De modo a facilitar o processo construtivo e a permitir uma maior economia, adotaram-se, no referido quadro fechado, sempre que possível, elementos estruturais que integraram, na fase definitiva, a estrutura dos pisos enterrados do edifício. Em particular, adotaram-se troços das lajes dos pisos enterrados funcionamento como vigas do travamento provisório da contenção (Figuras 2 a 6). A laje de tampão de fundo, para além da função de limitação da permeabilidade do fundo da escavação, desempenhou ainda a função de travamento da contenção, materializando um apoio elástico, localizado ao nível do fundo da escavação, e equilibrando, assim, parte do impulso hidrostático vertical e do impulso do terreno contido pela parede de contenção. No enquadramento descrito, o travamento tipo da contenção consistiu num quadro fechado, constituído, em geral, por troços de laje com 0,30m de espessura e largura de 6,00m nos alçados de maior dimensão e de 4,0m nos restantes. Os troços de laje foram apoiados, durante a fase de escavação, na parede de contenção e em perfis metálicos do tipo HEB, os quais foram instalados em conjunto com a execução das barretas de fundação, ficando embebidos no interior destas. Porém, no alçado confrontante com o edifício vizinho, considerou-se importante a realiza-

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ção de um nível de ancoragens, localizado na viga de coroamento e acima do nível freático, de modo a melhor controlar as deformações da parede. Em fase definitiva, no que toca ao equilíbrio das paredes de contenção, a própria estrutura das lajes das caves foi responsável

> Figura 4: Perspetivas do sistema de travamentos da parede de contenção periférica. > Figura 5: Vistas da execução das barretas de fundação e evolução da escavação para a cota do piso -4. > Figura 6: Vista da escavação à cota do piso -5 e do início da construção da estrutura dos pisos enterrados.

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pela estabilidade das referidas paredes, face aos impulsos provocados pelo terreno, pelos edifícios vizinhos e pelas sobrecargas rodoviárias, sendo os sistemas de escoramento provisórios, com exceção dos troços de laje de travamento, desativados após conclusão


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da referida estrutura. Os impulsos verticais ascendentes devidos à pressão hidrostática, atuantes ao nível da laje de fundo, foram equilibrados pela laje de fundo, apoiada nas barretas de fundação, transmitindo a carga para estas (Figuras 2 a 6). Laje de Tampão de Fundo Face à presença de nível freático elevado, Fernando Seabra Santos (UC) instalado em terrenos arenosos, de média e baixa compacidade e de média a alta permeabilidade, até cerca de 20m de profundidade, seria de esperar, à partida, um elevado caudal afluente ao interior do recinto de escavação. Como já referido, com vista a garantir uma maior previsibilidade e controlo sobre o processo de escavação, optou-se por estudar e executar uma laje de tampão de fundo em colunas de jet grouting, de modo a limitar o afluxo de água ao interior da obra, nas fases de obra e de exploração, e a garantir um travamento rígido das paredes imediatamente abaixo da cota final da escavação [Pinto & Pita, 2011]. O tampão de fundo foi definido de modo a equilibrar os impulsos hidrostáticos ascendentes devidos à cota elevada do nível freático. Em virtude das elevadas pressões hidrostáticas atuantes sob o tampão, previu-se que este fosse “pregado”, tirando partido, para tal efeito, das barretas de fundação previstas para a laje de fundo e para a superstrutura. Previu-se inicialmente que o tampão fosse constituído por colunas de 1100mm de diâmetro mínimo e 3,00m de comprimento (espessura do tampão), dispostas numa malha

em quincôncio com 0,80m de afastamento, de forma a acomodar um desvio de verticalidade máximo de 1% durante a respetiva execução. Porém, especificou-se que este diâmetro poderia ser incrementado, caso os resultados das colunas de teste assim o indicassem. Efetivamente, tal aconteceu, tendo a empresa adjudicatária dos trabalhos de jet-grouting conseguido confirmar a realização de colunas de diâmetro 1500mm, o que veio traduzir-se num aumento do rendimento e da economia da obra. De forma a melhorar a eficácia das juntas dos painéis de parede moldada em termos de limitação da afluência de água, foram, sempre que possível, executadas colunas de jet-grouting como elemento de selagem das referidas juntas (Figuras 2 a 6). Fundações Atendendo ao cenário geológico da obra, assim como ao valor e tipo de cargas a transmitir pela superstrutura às fundações, foi estudada e adotada uma solução de fundações dos pilares e paredes interiores através de barretas de betão armado, encabeçadas por uma laje de ensoleiramento geral, maciça com 0.60m de espessura e com capitéis invertidos, correspondentes aos maciços de encabeçamento das estacas. Esta solução permitiu a racionalização dos equipamentos mobilizados para a obra, uma vez que as barretas de fundação foram executadas pela mesma tecnologia das paredes moldadas. A disposição, dimensões e profundidade das barretas foi definida de modo a assegurar a eficaz transferências das cargas da estrutura

do edifício aos estratos de fundação competentes, bem como a limitação das deformações do mesmo. Nesse sentido, foi adotada uma entrega mínima de 5,0m no interior do estrato competente C2B (NSPT superior a 60 pancadas). Salienta-se novamente que, durante a fase de escavação, as barretas desempenharam, ainda, o papel de elementos de pregagem do tampão de fundo, resistindo aos impulsos hidrostáticos atuantes na base deste (Figuras 2 a 6).

2.4. Comportamento da Obra de Escavação e Contenção Periférica Atendendo às características e localização da obra, foi adotado, durante os trabalhos de escavação, um Plano de Instrumentação e Observação, que incluiu a instalação de alvos topográficos, células de carga e inclinómetros. Os resultados do referido Plano permitiram a comprovação do excelente comportamento da solução adotada, em particular na limitação do valor dos deslocamentos horizontais, mobilizados na parede moldada e no edifício vizinho, os quais não chegaram a atingir os 15mm (Figura 7).

3. EDIFÍCIO KILAMBA EM LUANDA 3.1. Enquadramento No presente capítulo são descritas as soluções estudadas e executadas no âmbito dos

> Figura 7: Planta do Plano de Instrumentação e Observação da obra e deformações horizontais registadas no inclinómetro instalado no interior da parede moldada no alçado que confronta para o edifício vizinho.

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trabalhos de escavação, contenção periférica e fundação, necessários à execução dos três pisos enterrados do edifício Kilamba, uma construção de grande altura, vinte e sete pisos elevados, em edificação na baixa de Luanda. O recinto da escavação, com cerca de 12m de profundidade, dispunha de uma área em planta com cerca de 1800m 2 e apresentava confrontações com diversos arruamentos, incluindo a Av. Marginal 4 de Fevereiro, uma das principais vias da baixa de Luanda (Figura 8). De modo a cumprir os objetivos definidos e atendendo às características geomecânicas e de grande permeabilidade dos terrenos existentes no local da escavação, assim como à presença de nível freático próximo da superfície do terreno, optou-se por propor e por conceber uma solução de contenção periférica, em paredes moldadas, e uma solução de fundações indiretas por estacas moldadas, igualmente em betão armado, encabeçadas por uma laje de ensoleiramento geral, permitindo a materialização de uma solução do tipo “combined pile raft foundation (CPRF)”. Todos os elementos de contenção periférica, fundação e laje de tampão de fundo, foram executados a partir da superfície, previamente a qualquer trabalho de escavação. Devido aos condicionamentos de vizinhança e à presença de nível freático, quase superficial, associado à presença de solos arenosos, que poderia colocar grandes dificuldades na execução de ancoragens, optou-se por conceber uma solução que evitasse a execução destes elementos de travamento abaixo da cota estimada para o nível freático do local. Assim, foi proposto que a parede de contenção fosse travada por três níveis de diafragmas, constituídos por troços de laje, localizados ao nível do piso 0, piso -1 e piso -2. Estes elementos foram, posteriormente, integrados na estrutura definitiva das lajes dos pisos enterrados. Por outro lado, de modo a reduzir substancialmente a afluência de água ao interior da escavação durante as fases de construção e de exploração, foi proposto e executada uma laje de tampão de

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fundo em colunas de jet-grouting, localizada cerca de 8.5m abaixo da cota final de escavação (Figura 9).

3.2. Principais Condicionamentos Condições Geológicas e Geotécnicas As soluções desenvolvidas foram apoiadas no conhecimento das condições geológicas locais, constituídas, essencialmente, por materiais arenosos, cujas características de resistência e de rigidez aumentavam, em geral, com a profundidade. Estas características foram confirmadas com base nos resultados do estudo geológico e geotécnico, o qual consistiu na realização de sondagens mecânicas à rotação com execução de ensaios Standard Penetration Test (SPT). No que se refere ao nível freático, confirmou-se a respetiva localização a cerca de 1.0m abaixo

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> Figura 8: Localização da obra e perspetivas do edifício após construção. > Figura 9: Corte transversal da solução, com dispositivo geotécnico, e planta do sistema de travamento.

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da cota da superfície do terreno, condicionado pelo nível das marés na baia de Luanda. Condições de Vizinhança O recinto de construção localizava-se na Av. Marginal 4 de Fevereiro, marginal à baía de Luanda, confrontando, em todos os alçados, com arruamentos. Assim sendo, procurou-se que as soluções a desenvolver assegurassem o adequado funcionamento destas vias, não interferindo com a segurança da circulação, bem como com as suas infraestruturas (Figura 8).

3.3. Principais Soluções Geotécnicas Contenção Periférica De acordo com os condicionamentos descritos, e atendendo aos objetivos desta intervenção, foi proposta e executada uma contenção periférica, constituída por uma parede moldada,


em betão armado, com 0.6m de espessura (Figuras 9 a 11). Com esta solução de contenção, foram visadas três funções simultâneas: – Elemento de contenção: de forma a permitir a realização da escavação na vertical, preservando a estabilidade das estruturas e infraestruturas localizadas a tardoz do perímetro da escavação; – Elemento de fundação de pilares e paredes, localizados sobre a mesma parede periférica; – Elemento de limitação da afluência de água ao interior da escavação, nas fases de construção e de exploração, em conjunto com a laje de tampão de fundo, em colunas de jet-grouting. Por motivos de estabilidade, quer da contenção, quer do tampão de fundo, foi proposto que a ficha dos painéis se prolongasse, no mínimo, 8.0m abaixo do fundo da escavação. Sistema de Travamento da Contenção Periférica durante a Fase de Escavação Atendendo à cota do nível freático, quase superficial, e à dificuldade que, à partida, a execução de ancoragens em terrenos saturados e de elevada permeabilidade ofereceria, foi, tal como havia sucedido no edifício Baía [Pinto & Pita, 2011], concebida uma solução em que o travamento da contenção seria conseguido à custa de diafragmas, constituídos por troços de laje. Desta forma, procurou-se evitar quaisquer trabalhos de execução de ancoragens e, em consequência, reduzir ao máximo os condicionamentos que poderiam resultar da execução destas. Os diafragmas propostos consistiram, novamente, num conjunto de vigas que, na globalidade, formavam um quadro fechado e rígido, à mesma cota, e, desta forma, resistiam aos impulsos atuantes na contenção. De modo a facilitar o processo construtivo e a permitir uma maior economia, utilizou-se, no referido quadro fechado e sempre que possível, elementos estruturais que, na fase definitiva, foram integrados na estrutura dos pisos enterrados do edifício. Mais concretamente, utilizaram-se troços das lajes dos pisos enterrados para materializar as

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vigas do travamento provisório da contenção. Os troços de laje integrantes do quadro foram executados através de betonagem contra o terreno, devidamente compatibilizada com o faseamento dos trabalhos de escavação. Estes elementos ficaram apoiados na parede moldada e em perfis metálicos, selados no interior de colunas de jet-grouting (Figuras 9 a 11). Laje de Tampão de Fundo Dada a proximidade do oceano Atlântico e a consequente presença de nível freático elevado, instalado em terrenos arenosos, de média a alta permeabilidade, até cerca de 1m de profundidade, considerou-se fundamental limitar o elevado caudal que poderia afluir ao interior do recinto da escavação. Neste enquadramento, foi executado um tampão de fundo em colunas de jet-grouting em toda a área da escavação, cerca de 8.5m abaixo da cota final de escavação, concebido de modo a equilibrar os impulsos hidrostáticos ascendentes, devidos ao nível freático elevado. Ao contrário do que havia sucedido no edifício

Baía, o tampão de fundo foi localizado a uma profundidade tal que o seu peso e o peso do solo sobrejacente pudesse equilibrar parcialmente o impulso hidrostático ascendente, durante e após os trabalhos de escavação. Foi previsto, então, que o tampão fosse constituído por colunas de 1500mm de diâmetro mínimo e 3m de comprimento (espessura do tampão), dispostas numa malha em quincôncio com 1m de afastamento de forma a acomodar um desvio de verticalidade máximo de 1% (Figuras 9 a 11). Fundações Atendendo ao cenário geológico da obra, assim como ao valor e tipo de cargas a transmitir pela superstrutura às fundações, foi executada uma solução de fundações dos pilares e paredes interiores através de estacas moldadas em betão armado com diâmetro de 1000mm. Em função do nível de carga dos elementos a fundar e das características mecânicas dos materiais ocorrentes, foram executadas estacas com comprimentos de 20,0m, 25,0m e de 30,0m,

> Figura 10: Planta das fundações e da laje do tampão de fundo. > Figura 11: Vista da execução das paredes moldadas e dos trabalhos finais de escavação.

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abaixo da cota final de escavação. De modo a validar as estimativas da capacidade de carga das estacas, foram executados ensaios de carga, previamente ao início dos trabalhos. As estacas foram encabeçadas por uma laje de ensoleiramento geral com uma malha de apoios materializada pelas referidas estacas, possibilitando a adoção de uma laje maciça com 0.60m de espessura e com capitéis invertidos, correspondentes ao encabeçamento das estacas (Figuras 9 a 11). > 12

3.4. Ensaios de Carga De modo a validar os critérios de dimensionamento das estacas, e a antecipar o seu adequado funcionamento, foram realizados, previamente ao início da execução das estacas, 4 ensaios de carga com células Osterberg, com o objetivo de avaliar a resistência do fuste e da base das estacas, bem como as consequências do processo construtivo. Foram realizados dois ensaios em estacas de teste (P1 e P2, com 20m e 25m, respetivamente) e dois em estacas a integrar na obra (W3 e W4, com 20m e 25m, respetivamente). As células Osterberg foram instaladas a aproximadamente 10m da base das estacas (Figuras 12 a 14). Complementarmente, foi realizado um ensaio de carga

estático convencional de compressão, à escala real, sobre uma estaca de 25m, cujo objetivo foi validar os resultados dos ensaios anteriores e, ainda avaliar os efeitos da fluência (Figuras 15 e 16). Pretendeu-se, assim, calibrar os resultados dos ensaios das estacas com os pressupostos admitidos no dimensionamento das mesmas estacas, em particular com os resultados da modelação numérica (Figura 17). Ensaio de Carga com Células Osterberg – Estaca W4 Como exemplo, apresenta-se o caso da estaca W4, ensaiada com recurso a duas células Os-

> 13 > Figura 12: Arranjo do ensaio de carga com célula Osterberg e sistema de monitorização do ensaio. > Figura 13: Resultados do ensaio de carga com célula Osterberg.

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terberg de 330mm de diâmetro, localizadas a 9.1m acima da base da estaca. A estaca foi instrumentada com pares de extensómetros de corda vibrante, fixos em posições diametralmente opostas na armadura da estaca, dispostos em dois conjuntos abaixo da célula Osterberg, e três conjuntos acima. O ensaio foi levado a uma carga máxima de 2,9MN (3,7MPa), aplicado bidirecionalmente pelas células. Na carga máxima foram registados movimentos de 4,1mm e 42,8mm, respetivamente acima e abaixo das células (Figuras 12 a 14). A informação recolhida durante o ensaio permitiu estimar a curva de carga/assentamento,


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ao nível da cabeça da estaca. Para uma carga de 3.5MN aplicada no topo da estaca (4,5MPa), a qual corresponda aproximadamente à carga de serviço da estaca, foi possível estimar um assentamento de 6.2mm, dos quais 2,8mm se devem à deformação elástica da estaca (Figura 17). Foi ainda medida uma resistência mobilizada ao longo do fuste de 20 a 70kPa no troço de estaca acima das células, onde se encontram areias de média compacidade, com Nspt superior a 38 pancadas, e de 100 a 160 kPa, no troço inferior da estaca, onde foram detetadas areias compactadas, com Nspt superior a 60 pancadas. A combinação das resistências do fuste e de ponta permitiu estimar uma carga última da estaca correspondente a uma tensão de 5,9MN (Figura 17). Ensaio de Carga Estático Convencional à Escala Real O ensaio de carga estático foi levado à carga máxima de 4,8MN (6,1MPa), correspondente a cerca de 1,5 vezes a carga de serviço. Para a carga de serviço foi medido um assentamento de 6,1mm, enquanto que, para a carga máxima, este foi de 12,6mm, os quais eram coerentes com os resultados do ensaio de carga com células de Osterberg na estaca W4 (Figuras 15 e 16). O ensaio estático confirmou o adequado comportamento da estaca em termos de fluência, tendo sido aferida uma variação de deformação de 0,067mm/hora no ciclo de carga máxima, bastante inferior ao valor limite de 0,25mm/ hora (Figura 16).

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> Figura 14: Resistências laterais mobilizadas – troço superior (ascendente) e inferior (descendente). > Figura 15: Arranjo do ensaio de carga estático convencional. Estrutura de reação do ensaio. > Figura 16: Resultados do ensaio de carga estático convencional. > Figura 17: Modelo de elementos finitos da estaca. Síntese dos resultados dos ensaios de carga e da modelação.

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Comparação de Resultados Os resultados dos ensaios foram comparados com os resultados do modelo de elementos finitos desenvolvido para estudar o comportamento da estaca, de modo a avaliar e a validar as estimativas dos parâmetros mecânicos do

solo e as hipóteses admitidas sobre o comportamento da estaca. Para a carga de 3,5MN, o modelo de elementos finitos havia previsto um assentamento ao nível da cabeça da estaca de 6mm, o qual se enquadra com os resultados obtidos nos ensaios realizados. A comparação

das curvas de carga/deformação à cabeça da estaca permitiu concluir que, para a carga de serviço de 3,5MN, ambos os resultados conduzem a valores de deformação semelhantes e adequados, comprovando a credibilidade do método de cálculo (Figura 17).

3.5. Comportamento da Obra de Escavação e Contenção Periférica Atendendo às características e localização da obra, foi adotado, durante os trabalhos de escavação, um Plano de Instrumentação e Observação, que incluiu a instalação de alvos topográficos e inclinómetros. Os resultados do referido Plano permitiram a comprovação do excelente comportamento da solução adotada, em particular na limitação do valor dos deslocamentos horizontais, mobilizados na parede moldada e no edifício vizinho, os quais não chegaram a atingir 15mm (Figura 18).

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4. EDIFÍCIO PLATINUM EM MAPUTO 4.1. Enquadramento O edifício em referência, localizado no centro da cidade de Maputo, no cruzamento da Av. Julius Nyerere com a Rua de Kassuende, previa a execução de três pisos enterrados e de vinte e seis pisos elevados, encontrando-se, presentemente, numa fase inicial dos trabalhos de fundações, escavação e contenção periférica. A área de construção dispõe de uma configuração retangular, perfazendo cerca de 1850m2 e uma altura de escavação máxima de cerca de 10.0m (Figuras 19 e 20). No âmbito da solução de contenção periférica, condicionada pelas complexas condições de vizinhança, destacase o recurso a uma cortina de estacas com 600mm de diâmetro, afastadas de 1m, travada por apenas um nível de diafragma constituída por troços de laje, coincidente com o piso -1, em substituição das tradicionais ancoragens provisórias, conferindo um travamento rígido

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> 20 > Figura 18: Planta de localização dos inclinómetros e deformações horizontais registadas no inclinómetro I2. > Figura 19: Localização da obra, com perspetiva do edifício após construção, e corte tipo da solução adotada. > Figura 20: Planta do sistema de travamento da contenção periférica e planta de fundações.

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à contenção e, sobretudo, evitando a ocupação do subsolo dos terrenos vizinhos [Pinto & Pita, 2011]. No que se refere à solução de fundações especiais, condicionada pelo valor das cargas a transmitir ao terreno, assim como pelo dispositivo geológico e geotécnico do local, sublinha-se o recurso a uma solução de laje de ensoleiramento sobre estacas de grande diâmetro, 1000, 1200 e 1500mm (combined piled raft foundations - CPRF) [Duc Long, 2011], com injeção da respetiva ponta ao nível das areias compactas, integradas na Zona Geotécnica 1 (Figuras 19 e 20).

a ausência do mesmo acima da cota final da escavação (Figura 19).

4.2. Principais Condicionamentos

4.3. Principais Soluções Geotécnicas

Condições Geológicas e Geotécnicas As soluções desenvolvidas foram apoiadas no conhecimento das condições geológicas locais, constituídas, essencialmente, por materiais arenosos, cujas características de resistência e rigidez aumentavam, em geral, com a profundidade. Estas características foram confirmadas com base nos resultados do estudo geológico e geotécnico, o qual consistiu na realização de sondagens mecânicas à rotação com execução de ensaios Standard Penetration Test (SPT). No que se refere ao nível freático, confirmou-se

Contenção Periférica De acordo com os condicionamentos descritos, e atendendo aos objetivos desta intervenção, foi proposta e executada uma contenção periférica, constituída por uma cortina de estacas em betão armado com 600mm de diâmetro e afastamento de 1m, a eixos (Figuras 19 e 20). Com esta solução de contenção, foram visadas duas funções simultâneas: – Elemento de contenção: de forma a permitir a realização da escavação na vertical, preservando a estabilidade das estruturas

Por motivos de estabilidade, quer da contenção, quer das estacas localizadas sob pilares e paredes, foi proposto que a ficha das estacas se prolongasse, no mínimo, 6m abaixo da cota final da escavação. Sistema de Travamento da Contenção Periférica durante a Fase de Escavação Atendendo à dificuldade que a execução de ancoragens em terrenos vizinhos ofereceria, foi, tal como havia sucedido no edifício Baía e no edifício Kilamba [Pinto & Pita, 2011] concebida uma solução em que o travamento da contenção seria conseguido à custa de diafragmas de travamento, constituído, neste caso, por troços de laje localizados no piso -1. Desta forma, procurou-se evitar quaisquer trabalhos de execução de ancoragens e, em consequência, reduzir ao máximo os condicionamentos que poderiam resultar da execução destas. O diafragma proposto consistiu novamente num conjunto de elementos estruturais que, na globalidade, formavam um quadro fechado e rígido, à mesma cota, e desta forma resistiam

PUB

Condições de Vizinhança O recinto de construção localiza-se no cruzamento da Av. Julius Nyerere com a Rua de Kassuende, numa zona nobre da cidade de Maputo. Neste enquadramento, procurou-se que as soluções a desenvolver assegurassem o adequado funcionamento destas importantes vias, não interferindo igualmente com a segurança das construções vizinhas, de porte variável (Figura 19).

e infraestruturas localizadas a tardoz do perímetro da escavação; – Elemento de fundação de pilares e paredes, localizados sobre a mesma parede periférica.

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construção em áfrica na atualidade

aos impulsos atuantes na contenção. De modo a facilitar o processo construtivo e a permitir uma maior economia, utilizou-se, no referido quadro fechado e sempre que possível, elementos estruturais que, na fase definitiva, foram integrados na estrutura dos pisos enterrados do edifício. Mais concretamente, utilizaram-se troços da laje do piso enterrado, para materializar o travamento provisório da contenção. Na zona da rampa, foi instalada uma treliça metálica, que será desmontada após a execução das lajes que irão materializar a mesma rampa. Os troços de laje integrantes do quadro foram executados através de betonagem contra o terreno, devidamente compatibilizada com o faseamento dos trabalhos de escavação e de execução das fundações. Estes elementos ficaram apoiados na cortina de estacas e em perfis metálicos, selados no interior das estacas (Figuras 19 e 20). Fundações Atendendo ao cenário geológico da obra, assim como ao valor e tipo de cargas a transmitir pela superstrutura às fundações, foi executada uma solução de laje de ensoleiramento sobre estacas de grande diâmetro, 1000, 1200 e 1500mm (combined piled raft foundations - CPRF) [Duc Long, 2011], com injeção da respetiva ponta ao nível das areias compactas (ZG1). Esta última metodologia, utilizada originalmente em pontes e viadutos [Manai, 2011], permite, no caso de estruturas de grande porte, assegurar o incremento da capacidade de carga na ponta das estacas, com vantagens associadas à economia de prazo e de custo dos trabalhos. Foram executadas, a partir da plataforma de trabalho, localizada à cota da laje do piso -1, estacas com comprimento total de cerca de 20,0m abaixo da cota final de escavação, e devidamente encastradas na zona geotécnica ZG1. Como já referido, as estacas foram encabeçadas por uma laje de ensoleiramento geral, com uma malha de apoios materializada pelas referidas estacas, possibilitando a adoção de uma laje maciça com 0.40m de espessura média e com capitéis invertidos, correspondentes ao encabeçamento das estacas (Figuras 19 e 20).

34

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os casos apresentados no presente artigo permitem destacar o potencial e o grau de exigência das soluções de engenharia geotécnica adotadas em fundações especiais e em estruturas de contenção periférica de edifícios de grande porte, com o objetivo de superar condicionamentos típicos do mercado africano, das quais se podem destacar: – A dificuldade em executar e controlar o desempenho das ancoragens, seja por motivos de enquadramento legal, logístico ou por motivos técnicos. Estes últimos encontram-se, em geral, relacionados com o comportamento evolutivo dos solos tropicais, em termos de perda de resistência e de incremento da deformabilidade, determinado, sobretudo, pela variação do teor em água e pela descompressão induzida por trabalhos de escavação. A substituição da execução de ancoragens por quadros fechados, materializados por troços de lajes, tem permitido o controlo eficaz das deformações das paredes de contenção periférica, além de possibilitar a integração de elementos de travamento das referidas paredes de contenção na estrutura definitiva das lajes dos pisos enterrados; – Na sequência do ponto anterior, a importância da necessidade de serem limitados os trabalhos de bombagem de água, em particular quando as escavações são executadas em solos permeáveis e saturados, como é o caso da zona baixa de Luanda. Neste contexto, destaca-se a eficácia das soluções com recurso a lajes de tampão de fundo em colunas de jet grouting; – A relevância do controlo de qualidade e de execução das obras, em particular a instrumentação e observação dos trabalhos de escavação e contenção periférica e execução de ensaios de integridade e de ensaios de carga em fundações indiretas por estacas. Neste último caso, destaca-se, em particular, o ensaio tipo “Osterberg”, pela sua excelente relação custo – benefício, pois dispensa o recurso a estruturas de reação e permite validar antecipadamente os principais critérios de conceção. Os re-

sultados deste ensaio permitem, ainda, uma importante contribuição para aquisição de um melhor conhecimento sobre o comportamento dos solos tropicais, em termos da respetiva capacidade de carga; – O efeito da injeção do pé das estacas de fundação, de diâmetro não inferior a 1000mm, no incremento da respetiva capacidade de carga, por vezes perturbada pelo próprio processo construtivo, com vantagens económicas e de redução do prazo de execução das fundações de estruturas de grande porte; – As vantagens do recurso a soluções do tipo “combined pile raft foundation (CPRF)”, em particular nas fundações de edifícios de grande altura, quando combinadas com lajes de tampão de fundo em colunas de jet grouting, quando o nível freático se localiza acima da cota final da escavação, ou com a injeção do terreno localizado na base da estacas de fundação, quando o nível freático se localiza abaixo da cota final da escavação.

6. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Donos das Obras apresentadas a autorização para a redação do presente artigo e destacam a qualidade dos trabalhos realizados pelas empresas executantes das mesmas obras.

7. REFERÊNCIAS – Duc Long, P., Piled Raft – A Cost-Effective Foundation Method for High- Rises, Geotechnical Engineering Journal of the SEAGS & AGSSEA, Vol. 41, No.3 (2010). – Manai, R., Enhancement of Pile Capacity by Shaft Grouting Technique in Rupsa Bridge Project, Geotechnical Engineering Journal of the SEAGS & AGSSEA, Vol. 41, No.3 (2010). – Pinto, A. & Pita, X., Deep Excavations in Luanda City Centre, 15th African Regional Conference Conference on Soil Mechanics and Geotechnical Engineering, Maputo, Mozambique. Session 5 – Lateral Support and Retaining Structures, (2011) 269 – 274.



36_39

vias de comunicação aplicação a portugal do novo método de dimensionamento de pavimentos rodoviários da aashto

Este artigo descreve, de forma resumida, o novo método de dimensionamento de pavimentos rodoviários da AASHTO (American Association of State Highway and Transportation Officials) designado por DARWin-ME®. São ainda apresentados alguns resultados da sua aplicação aos pavimentos flexíveis que constam do Manual de Conceção de Pavimentos para a Rede Rodoviária Nacional.

1. INTRODUÇÃO A AASHTO (American Association of State Highway and Transportation Officials) desenvolveu e publicou um novo manual de dimensionamento de pavimentos rodoviários, designado por DARWin-ME®. Para além do manual (MEPDG, 2008), foi também disponibilizado o software que permite aplicar o novo método de dimensionamento considerando dados de tráfego, do clima, das propriedades dos materiais e da estrutura do pavimento, dados estes que são introduzidos inicialmente no software. Posteriormente, o software permite efetuar a previsão do comportamento dos pavimentos em termos de vários parâmetros de estado (IRI, rodeiras, fendilhamento longitudinal, pele de crocodilo, etc.) e uma análise posterior em função dos valores máximos que estes parâmetros podem assumir, valores estes que constam, por exemplo, dos contratos de concessão rodoviária.

2. METODOLOGIA DE DIMENSIONAMENTO A Figura 1 apresenta a metodologia de dimensionamento de pavimentos rodoviários utilizada no software DARWin-ME®, desde a introdução dos dados até à obtenção dos resultados. Para a aplicação do novo método de dimensionamento

>1

> Figura 1: Metodologia de dimensionamento de pavimentos rodoviários.

36

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Adelino Ferreira Engenheiro Civil, Professor Auxiliar DEC, Universidade de Coimbra adelino@dec.uc.pt Fábio Simões Engenheiro Civil, Bolseiro de Investigação DEC, Universidade de Coimbra fsimoes@dec.uc.pt


> Quadro 1: Estruturas dos pavimentos do MACOPAV. Camada de Base (Betuminosa)

Camada de Desgaste Pavimento

Camada Sub-Base (Granular)

Camada Semi-Infinita

Solo de Fundação

tCD (cm)

E (MPa)

ν

tCB (cm)

E (MPa)

ν

tCSB (cm)

E (MPa)

ν

tSF (cm)

E (MPa)

ν

E (MPa)

ν 0,35

P1

4

4000

0,35

6

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

P2

4

4000

0,35

8

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P3

4

4000

0,35

12

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P4

4

4000

0,35

14

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P5

5

4000

0,35

14

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P6

5

4000

0,35

16

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P7

4

4000

0,35

18

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P8

5

4000

0,35

17

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P9

5

4000

0,35

19

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P10

6

4000

0,35

18

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P11

5

4000

0,35

20

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P12

6

4000

0,35

20

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P13

5

4000

0,35

23

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P14

6

4000

0,35

22

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P15

6

4000

0,35

24

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

P16

6

4000

0,35

26

4000

0,35

20

200

0,35

100

60-150

0,35

1000

0,35

Nota: tCD – espessura da camada de desgaste; tCB – espessura da camada de base; tCSB – espessura da camada de sub-base; ν – coeficiente de Poisson; E – módulo de deformabilidade.

Estruturas alternativas para um pavimento flexível

Legenda: BD - Betão betuminoso; MB - Macadame betuminoso; SBG - Sub-base granular; CBR - California Bearing Ratio Nota: a espessura da fundação do pavimento não se encontra representada à escala.

>2

de pavimentos são necessários dados de tráfego, do clima, das propriedades dos materiais e da estrutura do pavimento. Em termos de dados climáticos, foi necessário proceder a uma recolha exaustiva de todos os dados disponíveis no Instituto Português do Mar e da Atmosfera e formatá-los de forma a permitir a sua leitura e análise pelo software DARWin-ME®.

3. APLICAÇÃO ÀS ESTRUTURAS DE PAVIMENTO DO MACOPAV O software DARWin-ME® foi aplicado aos pavimentos definidos no Manual de Conceção de Pavimentos para a Rede Rodoviária Nacional, usualmente designado por MACOPAV (JAE,

1995). Estes pavimentos foram definidos em função da classe de tráfego, que varia entre T1 e T6, e a classe de fundação, que varia entre F1 e F4. O MACOPAV definiu 16 estruturas de pavimentos flexíveis diferentes, resultantes da combinação entre cada classe de tráfego e cada classe de fundação. No Quadro 1 e Figura 2 são apresentados os dados dos pavimentos definidos pelo MACOPAV e ordenados segundo o seu número estrutural (Santos e Ferreira, 2011). O valor do módulo de deformabilidade varia em função da classe de fundação, assumindo 60 MPa para classe F2, 100 MPa para classe F3 e 150 MPa para a classe F4. A classe de fundação F1 não foi considerada uma vez que o MACOPAV considera esta fundação inadequada para pavimentos flexíveis com camada de base

betuminosa. Para além destes dados, existem mais dados a fornecer, nomeadamente a percentagem efetiva de betume (Vbe), a percentagem de vazios (Va) e os dados de tráfego. Na camada de desgaste, a mistura betuminosa tem um valor de Vbe de 10,9% (corresponde a 5,2% de teor em betume) e um valor para Va de 4,1%. Para a camada de base adotou-se uma mistura betuminosa com Vbe de 8,2% (corresponde a 4,1% de teor em betume) e um valor para Va de 7,9%. Estes valores encontramse dentro dos limites recomendados pelo MACOPAV. Existem outros valores que foram assumidos, nomeadamente a velocidade de base, considerada como sendo 30 Km/h, e a temperatura de serviço definida no MACOPAV que depende da localização geográfica. Para

> Figura 2: Desvios da bitola em curvas com raios idênticos e inclinações distintas.

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vias de comunicação

o efeito, foi escolhida a zona de Coimbra para a qual foram definidos os respetivos valores. A aplicação do software DARWin-ME® tem como resultado final a criação de um ficheiro de resultados. Apresenta os dados introduzidos inicialmente no software e os valores de comportamento do pavimento ao longo do período de vida útil (usualmente considerado igual a 20 anos para pavimentos flexíveis). Relativamente aos valores dos parâmetros de estado (fendilhamento longitudinal e transversal, pele de crocodilo, rodeiras nas camadas betuminosas (CB), rodeiras em todo o pavimento e o IRI), estes são apresentados em tabelas e em

gráficos representando a evolução ao longo dos anos. Associado a estes valores, vem o número acumulado de veículos pesados. No Quadro 2 são apresentados os dados de tráfego, nomeadamente o Tráfego Médio Diário Anual de veículos pesados (TMDAp) e o Número Acumulado de Veículos Pesados (NAVP) ao fim de 20 anos. Também são apresentados, os valores de comportamento do pavimento no fim do período de vida útil, ou seja, ao fim de 20 anos. Na Figura 3 são apresentados os valores das rodeiras em cada ano do período de vida útil de 20 anos. Os pavimentos do MACOPAV, resultantes da

> Quadro 2: Estruturas dos pavimentos do MACOPAV. Classe Tráf.

T6

T5

T4

T3

T2

T1

Pav.

TMDAp

Fund.

t (%)

NAVP (20 anos)

IRI

Fendilhamento Longitudinal

(m/km)

Pele Crocodilo

Rodeiras (mm)

(m/km)

(%)

CB

Total

F2

P3

150

3

1,47×106

1,58

19,5

1,53

5,1

11,9

F3

P2

150

3

1,47×10

6

1,61

33,7

4,04

5,8

11,9

F4

P1

150

3

1,47×106

1,62

22,9

5,74

5,8

11,4

F2

P7

300

3

2,94×106

1,60

6,4

0,75

6,9

13,2

F3

P4

300

3

2,94×106

1,59

32,4

1,52

7,4

12,4

F4

P3

300

3

2,94×106

1,59

41,3

2,18

7,6

11,9

F2

P11

500

4

5,44×106

1,64

4,1

0,76

8,6

14,7

F3

P6

500

4

5,44×106

1,66

33,7

1,43

10,4

15,5

F4

P5

500

4

5,44×106

1,66

56,1

1,94

10,9

15,0

F2

P13

800

4

8,70×106

1,68

2,1

0,70

10,4

16,3 16,8

F3

P9

800

4

8,70×106

1,70

22,5

1,17

11,9

F4

P8

800

4

8,70×106

1,70

49,4

1,51

13,0

16,8

F2

P15

1200

5

1,45×107

1,65

1,1

0,78

9,4

15,2

F3

P12

1200

5

1,45×107

1,68

14,7

1,19

11,4

16,3

F4

P10

1200

5

1,45×107

1,71

44,9

1,50

13,5

17,3

F2

P16

2000

5

2,42×107

1,69

1,1

0,96

10,7

16,5

F3

P14

2000

5

2,42×107

1,74

14,6

1,38

13,7

18,5

F4

P12

2000

5

2,42×107

1,75

44,7

1,63

15,2

19,1

combinação entre a classe de fundação e a classe de tráfego, foram definidos com os mesmos limites para o dano acumulado, pelo que utilizando este novo método de dimensionamento também deveriam apresentar valores semelhantes para os diferentes parâmetros de estado. Analisando os valores do Quadro 2, pode-se verificar que em termos de IRI os valores são sensivelmente iguais, variando entre 1,58 e 1,75 m/km. Verifica-se, ainda, que estes valores são muito baixos para a realidade Portuguesa, iniciando no ano 0 com um valor de 1,1 m/km. Este facto, por si só, já justifica a necessidade de calibração deste novo método de dimensionamento para atender às condições da rede rodoviária nacional. Em termos de rodeiras devido apenas à contribuição das camadas betuminosas, o seu valor varia entre 5,1 e 15,2 mm. No entanto, dentro da mesma classe de tráfego, a variação é muito reduzida. Em termos de rodeiras totais, o seu valor varia entre 11,4 e 19,1 mm, sendo valores próximos do limite máximo admissível de 20,0 mm. Dentro da mesma classe de tráfego, a variação continua a ser muito reduzida. Em termos de fendilhamento longitudinal, o seu valor varia entre 1,1 e 56,1 m/km. Dentro da mesma classe de tráfego, a variação continua a ser muito elevada. Em termos de pele de crocodilo, o seu valor varia entre 0,7% e 5,74%. Dentro da mesma classe de tráfego, também se verifica alguma variação. Estes resultados permitem concluir que, considerando o novo método de dimensionamento de pavimentos da AASHTO, o parâmetro mais condicionante são as rodeiras, já que apresentam valores elevados, muito próximos do limite máximo admissível de 20,0 mm. Para a combinação T1, F4 e P12, este valor fica praticamente no limite, resultando em rodeiras de 19,1 mm ao fim de 20 anos de vida útil do pavimento.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em Portugal, no dimensionamento de pavimentos rodoviários tem-se utilizado preferencialmente o método da Shell (Shell, 1978). >3 > Figura 3: Evolução do valor das rodeiras durante o período de vida útil de 20 anos.

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O MACOPAV tem-se utilizado essencialmente no pré-dimensionamento de pavimentos rodoviários considerando dados de tráfego, dados sobre a fundação dos pavimentos, dados sobre os materiais de pavimentação e dados climáticos muito gerais (JAE, 1995). Em termos de gestão da conservação e reabilitação dos pavimentos ou de previsão da evolução do valor de cada parâmetro de estado dos pavimentos (fendilhamento, rodeiras, IRI, etc.) tanto o método da Shell como o MACOPAV pouca ajuda podem dar às administrações rodoviárias. Já o novo método da AASHTO pode ser bastante útil para que as administrações rodoviárias possam acompanhar a evolução dos valores dos parâmetros de estado dos pavimentos com o objetivo de planearem as intervenções de conservação ou reabilitação de modo a cumprirem o que está definido nos contratos de concessão e nos Planos de Controlo de Qualidade. No entanto, a sua aplicação exige uma

enorme quantidade de dados, principalmente dados climáticos, que é necessário recolher e organizar em ficheiros com um formato próprio. Necessita, ainda, que seja efetuada a sua calibração para a realidade Portuguesa. O novo método da AASHTO foi desenvolvido com o objetivo de se tornar o método de referência a nível mundial. Espera-se que em Portugal, além das Universidades, também as administrações rodoviárias e os projetistas de pavimentos iniciem a sua utilização no dimensionamento de novos pavimentos e na reabilitação de pavimentos degradados.

5. AGRADECIMENTOS O autor agradece à Fundação para a Ciência e Tecnologia o apoio financeiro a este trabalho através do Projeto PTDC/ECM/112775/2009 – MODAT - Multi-Objective Decision-Aid Tool for

Highway Asset Management, comparticipado pelo Fundo Comunitário Europeu FEDER.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS – AASTHO (2008). Mechanism-Empirical Pavement Design Guide, Interim Edition: A Manual of Practice. American Association os State Highway and Transportation Officials (AASHTO), Washington, DC, 1-204. – JAE (1995). Manual de Concepção de Pavimentos. Junta Autónoma de Estradas, Lisboa, 1-54. – Santos, J. e Ferreira, A. (2011). Life-cycle cost analysis system for pavement management at project level. International Journal of Pavement Engineering, 1-14. Published online: 06 Oct 2011, DOI:10.1080/10298436.2011.618535, http:// dx.doi.org/10.1080/10298436.2011.618535 – Shell (1978). Shell pavement design manual – asphalt pavements and overlays for road traffic. Shell International Petroleum Company Ltd., London, UK. – TRB (2011). Sensitivity Analyses for Flexible Pavement Design with the Mechanism-Empirical Pavement Design Guide. Transportation Research Board, Washington DC, 1-70. – Velasquez, R., Hoegh, K., Yut, I., Funk, N., Cochran, G., Marasteanu, M. e Khazanovich, L. (2009). Implementation of the MEPDG for New and Rehabilitated Pavement Structures for Design of Concrete and Asphalt Pavements in Minnesota. Department of Civil Engineeing, University of Minnesota, Minneapolis, Minnesota, 1-162.

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40_41 alvenaria e construções antigas As paredes tradicionais de madeira como elementos de construção sismo-resistente Graça Vasconcelos e Elisa Poletti, ISISE, DEC, Universidade do Minho

A alvenaria e madeira consistem nos dois mais antigos materiais de construção usados desde as primeiras civilizações. Estes dois materiais aparecem também combinados desde a antiguidade, sendo a alvenaria utilizada para resistir a esforços de compressão e a madeira utilizada para resistir aos esforços de tração. É frequente ver, em estruturas antigas, elementos de madeira embebidos em paredes de alvenaria a alturas diferentes com predominância para a introdução de elementos de madeira no topo das paredes e ao nível dos pavimentos (ver Figura 1). Outra solução construtiva que combina alvenaria e madeira consiste em paredes tradicionais de madeira preenchidas com alvenaria, que podem apresentar diferentes materiais e aparelhos, nomeadamente alvenaria de tijolo, alvenaria de pedra irregular ou alvenaria de blocos de terra. As paredes são constituídas por um pórtico de madeira e elementos inclinados, que se podem desenvolver diagonalmente. Es-

> Figura 1: Exemplo de madeira embebida na alvenaria (Langenbach, 2009).

(a)

(b)

tes elementos construtivos são utilizados em diferentes países como elementos resistentes a ações sísmicas (por exemplo em Portugal, Itália, Grécia, Peru, Haiti), mas podem ser encontrados em edifícios em vários países do mundo sem o objetivo de contribuir para o bom desempenho sísmico dos edifícios (Espanha, Inglaterra, Alemanha, Polónia, Turquia, Dinarmarca e outros), ver Figura 2. Em particular, as paredes de frontal características dos edifícios Pombalinos são compostas por elementos diagonais (cruzes de St. André) ligados aos elementos verticais e horizontais através de pregos. As paredes de frontal formam uma estrutura interna tridimensional (gaiola pombalina) e são ligadas às paredes exteriores e aos pavimentos com o objetivo de melhorar o comportamento dos edifícios às ações sísmicas, prevenindo o colapso das paredes de alvenaria para fora do plano e contribuindo para a resistência às ações sísmicas através de mecanismos de resistência no plano das paredes (Figura 3). A análise do comportamento de edifícios de madeira ou edifícios mistos madeira e alvenaria, em que se usam paredes tradicionais de madeira submetidos a importantes ações sísmicas, permite verificar que estes edifícios têm apresentado um comportamento muito razoável, com a ausência, em muitos casos, do colapso global da estrutura, particularmente quando comparados com alguns edifícios em betão armado ou alvenaria não armada. Apontam-se, como exemplos, o sismo de 2003 em Lefkada (Grécia), o sismo de 1999

(c)

(d)

em Marara-Kocaeli, (Turquia), o sismo ocorrido na Índia em 2005 e o sismo de El Salvador em 1986 (ver Figura 4). Em todos estes casos, os danos observados nos edifícios tradicionais foram consideravelmente inferiores aos verificados em outras tipologias construtivas, nomeadamente em edifícios de betão armado. Mais recentemente, pôde constatar-se o bom comportamento de edifícios constituídos por paredes tradicionais de madeira preenchidas com alvenaria durante o sismo ocorrido em Haiti em 2010 (ver Figura 4). No caso de edifícios com o primeiro piso em alvenaria e o segundo piso em paredes de madeira preenchidas com alvenaria, verificou-se que os danos se concentraram no piso inferior com colapso da alvenaria para fora do plano e fendilhação diagonal generalizada. A investigação experimental realizada recentemente para avaliação do comportamento de paredes tradicionais de madeira preenchidas ou não preenchidas com alvenaria a ações cíclicas no plano com o objetivo de avaliar, de modo aproximado, o seu comportamento sísmico, revelou o seu bom comportamento mecânico, particularmente no que se refere à capacidade de deformação e dissipação de energia. De acordo com Vasconcelos et al. (2013), diferentes tipologias de paredes de madeira tradicional preenchidas com alvenaria e que são características de diferentes sistemas construtivos apresentam para a razão entre os deslocamentos no topo da parede e a altura da parede (drift lateral) valores entre 3% e 9%, o que demonstra a capacidade de deformação

(e)

> Figura 2: Diferentes exemplos de aplicação de paredes de madeira tradicional; (a) casa típica da ilha de Lefkas (Grécia) (Vintzileau et al., 2007); (b) casa Baraccata (Itália) (Tobriner, 1997); (c) edifício com sistema dhajji-dewari em Kashmir (India) (Langenbach, 2009); (d) edifício em Espanha; (e) edifício na Alemanha.

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(a)

(b)

(a)

> Figura 3: Paredes de frontal em edifício pombalinos; (a) disposição das paredes internas (gaiola) (Mascarenhas, 2004); (b) parede interior de um edifício.

deste sistema construtivo. As paredes de frontal ensaiadas (ligações em meia madeira) a ações cíclicas no plano por Poletti et al. (2013), na Universidade do Minho (ver Figura 5) apresentam um drift lateral de 4%. Qualquer destes valores é consideravelmente superior aos valores mais correntes em estruturas de alvenaria, por exemplo. No seguimento desta campanha experimental, foi também avaliado, experimental e numericamente, o efeito do enchimento, tendo sido avaliada a presença de alvenaria de tijolo e o fasquiado de madeira preenchido com argamassa (ver Figura 5). Verificou-se que a presença de enchimento conduz a um comportamento bastante diferente: (1) aumento da rigidez lateral e da resistência lateral; (2)

(a)

(b)

(b)

(c)

> Figura 4: Exemplos de danos após a ocorrência de sismos: (a) rotura para fora do plano do enchimento em alvenaria (Makarios e Demosthenous, 2006); (b) comparação entre o desempenho de um edifício tradicional e um edifício de betão armado (Dogangün et al., 2006); (c) edifício misto após ao sismo em Haiti (2010) ((Langenbach et al., 2010)).

confinamento das ligações que promove um mecanismo de resistência por flexão e movimento de corpo rígido com a tendência para o destacamento dos postes laterais da base (ver Figura 6a). O mecanismo de resistência ao corte tem um papel importante nas paredes de frontal sem preenchimento, com a rotura da ligação central (meia altura da parede) por corte. Neste caso o levantamento dos postes é muito mais reduzido (Figura 6b). De qualquer modo, verifica-se que em ambos os casos a capacidade de deformação e dissipação de energia está associada a danos moderados, o que confirma o potencial destes elementos apresentarem um bom comportamento para ações sísmicas.

(c)

> Figura 5: Tipologia das paredes ensaiadas: (a) parede de frontal sem preenchimento; (2) parede de frontal preenchida com alvenaria; (c) parede de frontal com fasquio de madeira e argamassa de revestimento.

Referências – Langebach R. From “Opus Craticium” to the “Chicago frame”: Earthquake-resistant traditional construction, International Journal of Architectural Heritage, 1, 29-59, 2007. – Langebach R, Kelley S, Sparks P, Rowell K, Hammer M, Julien O. Preserving Haiti’s Gingerbread Houses. 2010 Earthquake Mission Report. World Monuments Fund. December 2010 – Makarios T, Demosthenous M. Seismic response of traditional buildings of Lefkas Island, Greece. Engineering Structures, 28, 264-278, 2006. – Mascarenhas J. Construction systems – V. (in Portuguese). Lisbon: Livros Horizonte; 2004. – Poletti E, Vasconcelos G, Oliveira D V. influence of infill on the cyclic behaviour of traditional half-timbered walls, International Conference on Rehabilitation and Restoration of Structures, Chennai, India, 13-16 February, 2013. – Tobriner S. The baraccata house: an antiseismic system in the XVIII century Calabria (in Italian). Costruire in laterizio; 56, 110-115, 1997. – Vasconcelos G, Lourenço P B, Poletti E, An overview on the seismic behavior of timber frame structures, 1st International Symposium on Historic Earthquake-Resistant Timber Frames in the Mediterranean Region, H.Ea.R.T.2013 November 4-5, University of, Calabria, Italy, 2013. – Vintzileou E, Zagkotsis A, Repapis C, Zeris Ch. Seismic behaviour of the historical structural system of the island of Lefkada, Greece. Construction and Building Materials, 21, 225-236, 2007.

> Figura 6: Diagramas força-deslocamento para uma carga vertical de 25kN/poste e levantamento dos elementos verticais para deslocamentos horizontais crescentes (BL, BM, BR): (a) parede de frontal preenchida com alvenaria; (b) paredes de frontal sem enchimento.

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42_43 betão estrutural REFORÇO DE FUNDAÇÕES DE BETÃO ARMADO COM MICRO-ESTACAS SELADAS João Veludo, DEC/ESTG do Instituto Politécnico de Leiria

A reabilitação de edifícios e pontes de betão armado exige, frequentemente, o reforço das respetivas fundações. Atualmente, uma das soluções mais utilizadas consiste na aplicação de micro-estacas. Um dos aspetos mais importantes neste tipo de reforço é a ligação da micro-estaca à estrutura. Uma das soluções utilizadas consiste em instalar as micro-estacas em furos previamente executados, sendo posteriormente seladas com calda de cimento não retrátil (Figura 1). Para o dimensionamento destas ligações é fundamental conhecer a magnitude e os mecanismos da tensão de rotura da aderência nas interfaces aço/calda/ betão que controlam a capacidade da ligação. Com o objetivo de avaliar a influência de vários parâmetros na capacidade destas ligações, foi efetuado um extenso trabalho de investigação (Veludo, 2013) com a realização de ensaios de compressão até à rotura, utilizando microestacas de tubos lisos e texturados, numa primeira fase seladas em tubos de aço e PVC e numa segunda fase seladas em blocos de betão armado (450×450×500 mm3). Este trabalho, e o inicialmente desenvolvido por Gómez et al. (2005), permitiram identificar os principais parâmetros que influenciam a capacidade destas ligações, os mecanismos de transferência de carga e apresentar recomendações para dimensionamento. Nesta coluna são apresentados os resultados mais importantes do estudo realizado por Veludo (2013). Na Figura 2 são ilustrados os diagramas carga/deslocamento obtidos nos ensaios de compressão com tubos lisos (Figura 2a) e texturados (Figura 2b). Nos ensaios com tubos lisos observou-se um comportamento frágil, com rotura na interface aço/calda, sendo o mecanismo dominante da aderência o atrito mobilizado nessa interface. Nos ensaios com tubos texturados selados em blocos de betão confinados com pré-esforço lateral, o comportamento e a rotura da ligação dependem da rugosidade da superfície do furo e do nível de confinamento. Nos ensaios com superfície do furo rugosa observa-se uma rotura frágil,

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> Figura 1: Ligação selada de micro-estacas a fundações de betão armado existentes.

rotura na interface calda/betão. Nos ensaios com superfície do furo indentada, verificouse: i) uma rotura monolítica (blocos não confinados); e ii) uma rotura mista por corte e

a) Ligação com micro-estaca de tubo liso.

esmagamento da calda na interface aço/calda e rotura na interface calda/betão nas zonas não confinadas. Para superfície do furo indentada observa-se um comportamento dúctil da

b) Ligação com micro-estaca de tubo texturado.

> Figura 2: Curvas carga / deslocamento.

a) Ligação com micro-estaca de tubo liso (confinamento passivo)

b) Ligação com micro-estaca de tubo texturado (confinamento ativo)

> Figura 3: Relação tensão de rotura da aderência / confinamento.


ligação, aumentando a capacidade da ligação e a ductilidade com o aumento do confinamento. Os mecanismos dominantes da aderência são o atrito e a interação mecânica dos anéis. Na Figura 3 é ilustrada a relação entre a tensão de rotura da aderência e o confinamento passivo (Figura 3a) e o confinamento ativo (Figura 3b). Verifica-se, em ambas as situações, uma forte correlação entre a tensão de aderência e o confinamento. Os resultados obtidos nos ensaios com tubos lisos permitiram definir uma expressão para estimar a tensão de rotura da aderência na interface aço/calda (f bu), em função da rigidez radial do confinamento (K r) (Figura 3a): 0.30 + 0.0101Kr ≤ f bu ≤ 1.75 + 0.0101Kr com Kr =

2E

(1 + ν)

·

do – di di · [ (1 + 2ν) · di + do ]

Referências – Gómez, J., et al., Connection capacity between micropiles and existing footings-bond strength to concrete, Geo3 GEO Construction Quality Assurance/Quality Control Conference Proceedings, Dallas/Ft. Worth, TX, 2005, pp. 196-216. – Veludo, J., Reforço de fundações com micro-estacas. Ligação aço / calda / betão, Tese de Doutoramento, Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal, 2013, p. 337. .

PUB

em que E e ν são o módulo de elasticidade estático e o coeficiente de Poisson do material de confinamento; do e di são os diâmetros exterior e interior do recobrimento do betão. Esta expressão é válida para caldas com uma relação água/cimento inferior a 0,4 e para tubos com rugosidade superior a 0,7 mm. Para utilizar esta expressão deve ser considerado um fator de segurança de 2,5. O confinamento do betão da fundação existente pode garantir uma significativa capacidade da ligação. A existência de armaduras permite aumentar a capacidade e a ductilidade da ligação. No entanto, pode ser necessário a aplicação de pré-esforço lateral e o reforço com armaduras verticais para aumentar o confinamento e evitar roturas frágeis e monolíticas. Outro dos parâmetros chave no dimensionamento destas ligações é o diâmetro do furo, verificando-se um aumento da tensão de rotura da aderência com a diminuição deste. Recomenda-se a adoção de relações diâmetro do furo/diâmetro do tubo entre 1,2 e 2,0. A utilização de micro-estacas texturadas confere uma maior capacidade da ligação, com aumentos

superiores a 70% comparativamente às ligações com tubos lisos. No entanto, é necessário considerar um número de anéis suficientes para evitar o esmagamento da calda no espaço anelar e a utilização de uma superfície do furo indentada para evitar a rotura na interface calda/betão. Para as situações analisadas neste estudo concluiu-se que são suficientes relações entre o comprimento de amarração e o diâmetro da micro-estaca superiores a 15 para tubos lisos e a 6 para tubos texturados. Estas relações são claramente inferiores às obtidas com a aplicação das expressões propostas nos atuais códigos de betão.

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térmica DIRETIVA TRANSPOSTA E NOVA LEGISLAÇÃO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DOS EDIFÍCIOS Carlos Pina dos Santos, Eng.º Civil, Investigador Principal do LNEC

Após vários anos de (por vezes intensa) discussão e de inúmeras sessões de trabalho, foi finalmente aprovada e publicada a nova legislação aplicável aos edifícios de habitação e de serviços, novos e existentes, alterando ou redefinindo a avaliação e os requisitos de desempenho térmico e energético, a política da qualidade do ar interior e, ainda, o sistema de certificação (SCE). Fica assim transposta a Diretiva n.º 2010/31/ UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de maio de 2010, relativa ao desempenho energético dos edifícios, (EPBD recast) que reformulou a anterior Diretiva n.º 2002/91/CE, de 16 de dezembro de 2002 (EPBD). Na minha opinião, outras alternativas de transposição, com outros custos e os mesmos (ou melhores) resultados poderiam ter sido adotadas. Participámos ativamente naquelas discussões e trabalhos, e procurámos contribuir para a evolução e a adequação à realidade nacional da nova regulamentação. Baseámonos em estudos analíticos e documentais e na experiência de campo adquirida quer com produtos e sistemas quer em edifícios em projeto, em construção, em reabilitação ou em uso. Estudámos e analisámos as implicações de diferentes alternativas de evolução ou de ajuste, com base na nossa visão da realidade, procurando olhar para os aspetos construtivos, de qualidade e desempenho globais dos edifícios; de eficácia no alcance dos objetivos definidos (e na própria definição desses objetivos); de aumento da eficiência energética e da viabilidade técnico-económica das opções possíveis ou preferenciais. Ao longo dos dois últimos anos, algumas das reflexões e propostas apresentadas foram referidas ou abordadas nesta coluna da Construção Magazine, com especial ênfase para as que afetam diretamente a necessária, e sempre atual, reabilitação dos edifícios. No que respeita à avaliação dos resultados concretos (e quantificáveis) da aplicação da anterior regulamentação ou da avaliação do impacto da nova, gostaríamos de ter tido acesso quer a mais meios próprios de estudo, quer a uma maior diversidade de informação e de aná-

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lises idóneas, independentes ou elaboradas pelos múltiplos beneficiários e intervenientes com responsabilidade nesta legislação. Sem dúvida que foram introduzidos melhoramentos e ajustes na nova regulamentação. Porém, também consideramos que continuam a existir, ou foram mesmo agravados, desajustamentos face às condições climáticas, construtivas, económicas e sociais da realidade nacional. A atividade desenvolvida no LNEC neste domínio – caracterização e avaliação técnica de produtos e de sistemas de construção; as colaborações prestadas na definição de exigências específicas; ou, ainda, os pareceres técnicos em situações de ocorrência de anomalias construtivas e de sistemas, de problemas de desconforto ou de salubridade do ambiente – permitem-nos tirar muitas conclusões e ensinamentos. Poderia referir os melhoramentos introduzidos no fabrico e comercialização de produtos e de soluções de isolamento térmico1, em soluções de ventilação e sistemas energéticos. Mas também continuamos a constatar a proposta e aplicação de soluções construtivas e de medidas de melhoria desadequadas (ou desajustadas da realidade) por falta de conhecimento técnico fundamentado, pelo recurso a estereótipos ou a soluções de desempenho não evidenciado.

Mas a nova legislação está publicada e em vigor. Só lamento que, por razões diversas, não tenha havido oportunidade de propor – à semelhança do que fizemos no final da elaboração da legislação de 2006 – a criação e o funcionamento efetivo de uma Comissão de Acompanhamento e de Revisão da regulamentação. A minha intervenção continuará a orientar-se pela missão definida para a instituição em que me integro e com a qual me identifico2: coordenar e promover a investigação científica e o desenvolvimento tecnológicos necessários ao progresso, à inovação e à boa prática da engenharia civil; cumpre ainda ao LNEC apoiar o poder executivo, com isenção e idoneidade científica e técnica, nas suas atividades de regulação. Exerce a sua atividade nos múltiplos domínios da engenharia civil e áreas afins e tem como missão empreender, coordenar e promover a investigação científica e o desenvolvimento tecnológicos necessários ao progresso, à inovação e à boa prática da engenharia civil. Cumpre-lhe ainda apoiar o poder executivo, com isenção e idoneidade científica e técnica, nas suas atividades de governo e regulação.

1

Que, pensamos, permitiram quer expandir o mercado interno

2

http://www.lnec.pt/?set_language=pt

quer a exportação para mercados externos, incluindo o europeu.


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iberfibran na 1ª conferência “passivhaus portugal” A Iberfibran esteve presente na primeira Conferência “PassivHaus Portugal”, realizada a 30 de novembro em Aveiro e organizada pela Associação PassivHaus Portugal, conjuntamente com a HomeGrid. Participaram na Conferência aproximadamente 125 engenheiros e arquitetos para quem o tema é de crucial relevância. A Conferência contou também com uma apresentação do Diretor do PassivHaus Institut, Wolfgang Feist, durante a qual foram realçados os desenvolvimentos da norma PassivHaus e as particularidades da aplicação da PassivHaus em Portugal. Este evento alerta para a necessidade de construir com qualidade, conforto e eficiência energética, num nível de exigência que, segundo a Iberfibran, ainda não é totalmente compreendido pelo setor. A presença da Iberfibran neste evento vem reforçar o interesse e empenho da empresa na divulgação deste conceito.

João Gavião, da Homegrid e da Associação Passivhaus Por tugal, deu a conhecer o processo que conduziu à certificação das primeiras casas construídas sob o conceito PassivHaus, bem como o seu desempenho relativo ao conforto e consumos energéticos. Manuel Duarte Pinheiro, do Instituto Superior Técnico, apresentou o Sistema LiderA e o modo como as Primeiras PassivHaus criam valor e contribuem para um meio mais sustentável. A Iberfibran, enquanto empresa produtora de isolamento térmico, FIBRANxps, tem procurado promover a qualidade dos materiais de construção e do setor, e promovido a eficiência energética através dos seus produtos, nomeadamente colaborando com outros agentes do setor como é o caso da Associação PassivHaus. Os materiais FIBRANxps estão presentes nas duas primeiras casas construídas sob o conceito “PassivHaus” e sobre as quais os estudos apresentados se debruçaram.

As PassivHaus são edifícios de elevada eficiência energética e onde o isolamento térmico de alta qualidade e desempenho é essencial. A Iberfibran tem acompanhado a evolução deste conceito, nomeadamente em Portugal, e o FIBRANxps é um dos poucos isolamentos térmicos capazes de se enquadrar nas exigências técnicas das PassivHaus. www.fibran.com.pt

projeto para ipss de coimbra vence iii concurso sika academy O projeto de reabilitação da IPSS de Coimbra ‘Casa do Juiz’ foi o vencedor da III Edição do concurso Sika Academy e, com efeito, verá a sua fachada remodelada, com o início das obras previsto para 2014. Marco Gomes, engenheiro responsável pelo projeto, vai integrar a equipa de trabalho da Sika Portugal, enquanto os restantes finalistas ganham a possibilidade de verem os seus projetos posteriormente desenvolvidos pelas IPSS correspondentes. De acordo com um comunicado de imprensa, a obra projetada por este engenheiro vai garantir à IPSS uma poupança anual entre os €1.400 e os €1.700 em manutenção das suas estruturas, pois serão reparados, por exemplo, problemas de

humidade e infiltrações na fachada. “Os jovens são o futuro do nosso país e, dada a atual conjuntura económica, é cada vez mais importante reforçarmos a aposta naqueles que podem mudar o rumo de Portugal”, explicou Gonçalo Carvalho, responsável de Marketing da Sika Portugal, SA.

De acordo com o mesmo responsável, em contra ciclo com o mercado, o concurso Sika Academy procura promover o potencial de recém-formados, conferindo-lhes a oportunidade de mostrarem as suas habilitações e competências, bem como de se familiarizarem com a atividade profissional. A Sika Portugal anunciou ainda, durante a 3ª edição do Concurso Sika Academy, no passado dia 8 de novembro, que vai garantir uma próxima edição no ano que vem. A Sika Portugal recebeu mais de 120 candidaturas de jovens finalistas ou recém-licenciados dos cursos de engenharia e arquitetura, resultando numa adesão superior a 250% em relação à 2ª edição do concurso. www.sika.pt

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notícias

abertas as candidaturas para o prémio nacional de reabilitação urbana Estão abertas até 31 de janeiro as candidaturas ao Prémio Nacional de Reabilitação Urbana. A ini9ciativa é promovida pela Vida Imobiliária e pela Promevi. Esta edição do galardão visa distinguir as intervenções e projetos de reabilitação urbana que tenham um impacto reconhecido nas comunidades em que se inserem e que tenham sido responsáveis pela criação de valor acrescentado para estas comunidades. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa associase, pelo segundo ano consecutivo, à iniciativa, como entidade institucional de referência que apoia a Reabilitação Urbana.

O Prémio Nacional de Reabilitação Urbana reconhece projetos de reabilitação urbana nas categorias de uso residencial, comercial, serviços e turismo, bem como intervenções de reconhecido impacto social, incluindo equipamentos sociais, iniciativas de requalificação em bairros ou que induzam um benefício social evidente. Lisboa, a cidade anfitriã da gala de entrega do Prémio, em março, será também destacada,

com um prémio para a melhor intervenção de reabilitação urbana localizada na capital. Além disso, está prevista a atribuição de menções honrosas para o projeto com a melhor solução de eficiência energética, a melhor reabilitação com menos de 1.000 metros quadrados e a melhor intervenção de restauro. www.premio.vidaimobiliaria.com

publicadas portarias que regulam a aplicação do novo sce Após a publicação do Decreto-Lei 118/2013 de 20 de agosto, entram em vigor as portarias que regulamentam a sua aplicação. A Portaria n.º 349A/2013, de 29 de novembro, determina as competências da entidade gestora do Sistema de Certificação Energética dos Edifícios (SCE), regulamenta as atividades dos técnicos do SCE, estabelece as categorias de edifícios, para efeitos de certificação energética, bem como os tipos de pré-certificados e certificados SCE e responsabilidade pela sua emissão, fixa as taxas de registo no SCE e estabelece os critérios de verificação de qualidade dos processos de certificação do SCE, bem como os elementos que deverão constar do relatório e da anotação no registo individual do Perito Qualificado (PQ). Compete, assim, à entidade gestora do Sistema de Cer tif icação Energética dos Edifícios (SCE), criar e manter no seu sítio na internet uma bolsa de técnicos do SCE, pesquisável pelo público em geral em área específica denominada Portal do SCE, e emitir

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a respetiva carteira de qualificação no SCE. É também da competência da entidade gestora definir e implementar estratégias e procedimentos para a atuação dos técnicos do SCE inscritos, visando uma uniformização dos documentos por estes produzidos. Compete também à entidade gestora elaborar a proposta dos modelos referentes aos tipos de pré-certificado e certificado SCE. As competências da entidade gestora incluem também a definição de orientações relativamente à informação a registar pelos técnicos do SCE no portal do SCE, bem como verificar, por amostragem, a qualidade da informação e dos dados registados pelos técnicos do SCE. No âmbito das competências do PQ, a portaria estabelece que é da competência destes profissionais efetuar a avaliação do desempenho dos edifícios a certificar no âmbito do SCE, considerando para o efeito as disposições do SCE, REH e RECS, as metodologias, os procedimentos e demais orientações definidas

pela entidade gestora para a execução dos processos de certificação, complementando-as com as melhores práticas aplicáveis aos casos e situações em estudo. Deve também ser considerada, no caso de edifícios novos e sujeitos a grandes intervenções, e para efeito de emissão do pré-cer tificado SCE, toda a informação adequada e suficiente, elaborada pelo técnico que verificou o cumprimento do respetivo regulamento. A portaria 349B/2013, de 29 de novembro, define a metodologia de determinação da classe de desempenho energético para a tipologia de pré-certificados e certificados SCE, bem como os requisitos de comportamento técnico e de eficiência dos sistemas técnicos dos edifícios novos e edifícios sujeitos a grande intervenção. Ambas as portarias entraram em vigor no dia seguinte ao da sua publicação.


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soares da costa – atividade em moçambique A Soares da Costa está presente em Moçambique desde 1982. A empresa iniciou a sua atividade neste mercado com a construção de várias embaixadas (ex-URSS, Suécia e Alemanha), mantendo um importante ritmo de trabalho deste então. A Soares da Costa tem sido um parceiro do crescimento e desenvolvimento do país, estando envolvida no desenvolvimento das infraestruturas que têm potenciado o forte investimento externo que o país recebeu desde a sua independência. Atualmente, a Soares da Costa tem em desenvolvimento uma série de projetos, desde hotéis a pontes, para promotores privados e para instituições públicas, não só em Maputo como noutras regiões de Moçambique. A Soares da Costa tem também no seu portfólio um contrato de longo prazo de concessão rodoviária da estrada PE (700 km) e da nova ponte sobre o Rio Zambeze, em Tete.

Moçambique é (juntamente com o mercado de Angola, Estados Unidos e Brasil) um dos quatro mercados alvo, que estão sob o foco das linhas de orientação estratégica. A Soares da Costa afirma que tem, com sucesso, gerido e trabalhado em conjunto com os recursos locais, transferindo know-how e avançando os métodos mais eficientes para entrega das obras aos clientes dentro dos prazos e orçamento estabelecidos. A empresa beneficia da contribuição de quase 700 colaboradores, incluindo expatriados e quadros locais de elevado potencial. Em 2012, o volume de negócios foi de quase 86 milhões de Dólares, crescendo quase três vezes em três anos (desde 2009), uma dinâmica que a empresa procura manter, através da qualidade do seu trabalho e do reforço da confiança dos seus clientes, constituindo-se como um parceiro do desenvolvimento de Moçambique e dos moçambicanos.

Edifício sede do Tribunal Administrativo de Maputo, um edifício com 7 pisos elevados para escritórios e 2 subterrâneos de estacionamento.

Ponto de Tete, sobre o rio Zambeze, com cerca de 715 metros de extensão.

www.soaresdacosta.pt

gama completa de tubos metálicos da obo bettermann A OBO BETTERMANN alargou a sua gama de tubos metálicos, adicionando aos tubos (com ou sem rosca) eletrozincados, galvanizados a quente após maquinação e lacados a preto, os novos tubos em alumínio, em aço inoxidável 304 e 316, e caixas de derivação em alumínio. Todos estes produtos já se encontram disponíveis, juntamente com os acessórios. Os sistemas de tubos da OBO BETTREMANN são produzidos e certificados conforme a norma de tubos metálicos, IEC EN 61386 “Sistemas de tubo de instalações elétricas para energia e para informática” e a IEC EN 60423 “Diâmetro externo de tubos de instalações elétricas, roscas e acessórios para esses mesmos tubos”. Estão disponíveis tubos de encaixe ou de rosca, com medidas desde M16 a M63. Todos os tubos têm superfícies homogéneas, exteriores e interiores, que não danificam os cabos. A OBO disponibiliza uma gama completa com ângulos e uniões compatível com toda a gama de acessórios da OBO (abraçadeiras, caixas de derivação, ponteiras e tês). www.obo.pt

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profissionais testam nova gama de ferramentas bosch para acabamentos em aço inoxidável A Bosch alargou a sua gama de produtos destinados a acabamentos profissionais em aço inoxidável, com quatro novas ferramentas: a Lixadeira de tubos GRB 14 CE Professional, a Retificadora de Cinta GEF 7 E Professional para aplicações de difícil acesso, a Acetinadora GSI 14 CE Professional e a Rebarbadora angular GWS 15-125 Inox Professional, para acabamentos em aço inoxidável. Numa ação de divulgação da nova gama de ferramentas, os profissionais da Metalomecânica Pereira e Filhos, Lda, em Alcochete, tiveram oportunidade de testar estes produtos. Tratase de uma empresa no mercado há cerca de

30 anos, que começou por trabalhar para a indústria alimentar, tendo também passado pela construção civil. Atualmente, o grosso da produção vai para a indústria hoteleira. Bruno Soeiro e António Soeiro, colaboradores da empresa, destacaram a facilidade de manuseamento das ferramentas, bem como a qualidade dos acabamentos. As novas ferramentas permitem que os profissionais obtenham os melhores acabamentos em aço inoxidável no menor espaço de tempo possível – para polir tubos, rebordos ou superfícies, remover soldaduras, remover a cor azul produzida pelo calor, polir riscos ou para polir

— A nova gama em detalhe

Lixadeira de tubos GRB 14 CE Professional: ferramenta para acabamentos em perfis cilíndricos A Lixadeira de tubos GRB 14 CE Professional é adequada para lixar tubos de diferentes diâmetros e geometrias. A forma especial dos rolos impede que as cintas de lixa deslizem para fora, permitindo realizar um trabalho rápido e sem interrupções. A cinta de lixa ajusta-se até aos 270 graus em torno dos tubos, podendo proceder-se a um acabamento de 360 graus em apenas duas fases. O punho auxiliar ajustável, assim como a posição e o design dos braços de lixar, permitem lixar até muito perto da parede, permitindo por exemplo, polir gradeamentos já instalados sem necessidade de serem desmontados. A velocidade desta lixadeira pode ser regulada em função do tipo de material e do acessório utilizado.

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e estruturar superfícies. Para poder trabalhar estes materiais com o cuidado necessário são adequadas as ferramentas: Lixadeira de tubos, a Retificadora de cinta para aplicações de difícil acesso, a Acetinadora e a Rebarbadora angular, que contam, inclusivamente, com regulação eletrónica. O punho de reduzidas dimensões permite que todas as ferramentas encaixem perfeitamente na mão, podendo ser guiadas com precisão, e permite também tornar o uso mais confortável e fácil. www.bosch-professional.com.pt


mercado

Retificadora de Cinta GEF 7 E Professional: ferramenta para aplicações de difícil acesso Esta ferramenta universal de apenas dois quilos possui um design compacto, o que a torna ideal para trabalhar materiais em locais estreitos ou de difícil acesso, como cantos ou rebordos. Esta ferramenta tem, de acordo com um comunicado de imprensa, o punho circular mais pequeno da sua classe, e pode ser orientada facilmente e com precisão. O ângulo de trabalho pode ser ajustado a 360 graus de forma contínua, sem necessidade de recorrer a ferramentas adicionais. Também não são necessárias ferramentas para substituir a banda de lixa. A velocidade pode ser ajustada, dependendo da aplicação e do material utilizado.

Acetinadora GSI 14 CE Professional: ferramenta para trabalhar superfícies planas

Rebarbadora angular GWS15-125 Inox Professional: ferramenta potente para aço inoxidável

A Acetinadora GSI 14 CE Professional é adequada para a remoção de manchas, riscos e defeitos, bem como para escovar, polir e estruturar superfícies. Isto é possível devido à ampla gama de acessórios dos rolos: cada rolo permite um acabamento diferente de acordo com o tipo de superfícies, que pode selecionar-se dependendo do resultado desejado. A GSI 14 CE Professional pode, por exemplo, proporcionar acabamentos brilhantes.

A Rebarbadora angular GWS15-125 Inox Professional está desenhada para lixar, cortar e remover rebarbas em tubos de aço inoxidável, superfícies e linhas de soldagem. A sua baixa velocidade de 7500 r.p.m. permite trabalhar de uma forma muito suave os materiais e evita manchas no aço inoxidável. Esta ferramenta apresenta um motor de 1500 W e tem um binário de 50% mais elevado do que as rebarbadoras angulares standard. O sistema de Kick-Back Stop, a proteção contra rearranque e coberta protetora, com segurança anti torção, garantem um elevado nível de segurança para os profissionais no tratamento de superfícies metálicas.

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mercado

novo britador de maxilas c120 da metso A Tecnologia de Mineração e Construção da Metso apresenta o britador de maxilas C120 – o 13º membro dos britadores da série C, com qualidade comprovada nos trabalhos mais duros, salienta a empresa. O C120 combina, de acordo com a Metso, fiabilidade incontestável, eficiência em britagem e versatilidade nas aplicações em instalações fixas e móveis com segurança e facilidade de utilização. A Metso procurou, com o C120, apostar num design novo, resistente e intuitivo, baseado numa análise completa do FEA e simulações de fundição. Cada detalhe do C120 foi projetado para uma operação fiável e maior durabilidade do equipamento, resultando, segundo a Metso, numa alta capacidade de britagem e tempo de funcionamento. “Quando começamos o projeto do C120, ouvimos atentamente os nossos clientes e recolhemos dados de campo de vários locais. Com base nisso, decidimos projetar a cavidade de britagem e cinemática antes. Como resultado, a Metso pode, agora, oferecer aos produtores de agregados, empreiteiros de grande porte e empresas de mineração, um novo britador que atende todos os padrões estabelecidos para qualquer exigencia de aplicação,” afirma Ilkka Somero, Gerente de Produtos dos britadores de maxilas da Metso.

Grande curso e maxila fixa A Metso garante excelente produtividade do C120 devido aos vários elementos novos do seu design. Entre as novidades, o britador apresenta um curso longo, direto e agressivo e uma maxila fixa mais comprida do que as existentes nesta classe de britadores. O C120 possui uma ampla abertura de alimentação de 1200 x 870 mm e uma seção transversal de cavidade agressiva, assegurando, segundo a empresa, alto desempenho e um índice de redução. Em termos de volume de cavidade e peso do britador, o C120 está posicionado entre os modelos de britadores de maxilas C116 e C125. A potência nominal do C120 da Metso é de 160 kW (200 HP), operando a uma velocidade de 230 rpm, com abertura na posição fechada entre 70 – 200 mm. O peso operacional é de 26.000 kg (57.200 libras), excluindo os opcionais.

Os opcionais protetores de volantes robustos permitem acesso rápido e seguro aos pontos de manutenção.

A novidade da Metso, o britador de mandíbula C120 teve seu lançamento mundial na exposição Steinexpo na Alemanha.

www.metso.pt

paredes eficientes da saint-gobain weber O princípio na base do conceito das paredes eficientes é o de que as paredes são, em geral, um elemento construtivo complexo constituído por vários materiais cujos comportamentos se condicionam reciprocamente e por isso devem ser pensadas e definidas tendo em conta o funcionamento articulado dos seus vários componentes e os níveis de desempenho pretendidos no plano do conforto térmico, do conforto acústico e da segurança ao fogo. As soluções desenvolvidas demonstram desempenhos de elevada eficiência a partir da utilização combinada de elementos de alvenaria em blocos leves Leca®, de vários tipos em função do tipo de parede pretendida (produzidos sob licença por vários parceiros Saint-Gobain Weber), e também de argamassas e outros materiais da Saint-Gobain Weber para assentamento, revestimento, acabamento, isolamento, impermeabilização e colagem. www.paredeseficientes.com

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projeto pessoal

Maria da Conceição Cunha Engenheira Civil bi Nasceu no Norte, em Darque – Viana do Castelo, em novembro de 1954. Terminada a instrução primária no Colégio de S. José, ingressou no liceu da mesma cidade, o Liceu Nacional de Viana do Castelo. Iniciou o curso de Engenharia Civil na Universidade de Coimbra em 1972. Anos mais tarde, em 1986, completou o primeiro Mestrado em Hidráulica e Recursos Hídricos que se realizou em Portugal (no IST). Logo de seguida foi para a Universidade Católica de Lovaina, Bélgica, onde em 1990 se doutorou em Ciências Naturais Aplicadas – Ramo Água (reconhecido, posteriormente, pelo IST como equivalente a um Doutoramento em Engenharia Civil). Atualmente é Professora Catedrática da área científica de Hidráulica, Recursos Hídricos e Ambiente do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e responsável pelo Grupo de Investigação HyWaRe (Hydraulics, Water Resources and Environment) do Centro de Investigação IMAR-CMA.

sonho de criança O dia era ocupado demais com brincadeiras bem reais para haver tempo para pensar em sonhos.

o seu maior desafio Considerando a vida uma sucessão de grandes desafios, em cada momento estamos sempre com o nosso maior desafio. Por isso aqui vai o atual: tentar sobreviver pessoal e profissionalmente num ambiente de perda de referências e princípios civilizacionais.

um engenheiro civil de referência Entendendo esta referência como sendo relativa a alguém maior com quem tivemos oportunidade de conviver e trabalhar, diria, sem sombra de dúvida, Pierre Hubert, Professor da École des Mines de Paris. Pela criatividade e rigor na investigação, pela simpatia serena e verdadeira, pela enorme cultura humanística e pela forma de viver epicuriana, trata-se de uma personalidade ímpar.

obras de engenharia de referência De referência pela beleza – Mesquita de Córdova, Espanha De referência pelo arrojo – Edifício Marina Bay Sands, Singapura De referência pelo significado – Barragem de Hoover, EUA De referência pela visão – “Polders” - Holanda

dos projetos mais desafiantes, seleciona Também aqui, o último em que estou a trabalhar, um projeto de investigação europeu. Nem de propósito, o seu acrónimo é DESAFIO (Democratisation of Water and Sanitation Governance by Means of Socio-Technical Innovation). Trata-se, claramente, de um desafio em matéria de interdisciplinaridade. Se, por um lado, desenvolvemos investigação com um nível de elevação tal que nos permite falar em criar cidades inteligentes do ponto de vista das infraestruturas, por outro temos zonas do mundo em que há comunidades que não dispõem sequer de uma torneira de água potável. A resolução de problemas em circunstâncias destas, em que há populações enquistadas na sua própria degradação, exige uma visão que vai para além da engenharia tradicional. A tecnologia, por si só, não resolverá estes casos. Estamos mesmo perante um grande desafio!

uma aposta no futuro Desenvolver investigação, entusiasmando os mais jovens colaboradores, no sentido de se vencer o desafio da sustentabilidade no setor da água.

hobby favorito Caminhar à beira-mar, cinema e música; lançar uma boa discussão com interlocutores à altura.

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eventos

tektónica moçambique

Tem lugar a 4 de janeiro a primeira de um conjunto de sete ações de formação do curso Implementação e Auditoria a Sistemas de Gestão Ambiental com base na norma NP EN ISO 14001:2004. O objetivo geral do curso passa por capacitar profissionais para atuarem como auditores ou coordenadores no processo de implementação ou manutenção do Sistema de Gestão Ambiental em empresas com base na norma NP EN ISO 14001:2004. O curso destina-se a Quadros Médios e Superiores de Empresas com responsabilidades na área do Ambiente e Técnicos Ambientais. No final de cada ação, os formandos deverão ter adquirido competências que lhes permitam conhecer os princípios, conceitos e critérios básicos de um sistema de gestão ambiental; conhecer os requisitos da norma NP EN ISO 14001:2004; reconhecer as vantagens da implementação de um sistema de gestão ambiental em empresas; reconhecer as mais-valias de uma empresa que atue no mercado ao abrigo de um sistema de gestão ambiental implementado e planificar e implementar uma auditoria ao sistema de gestão ambiental. O preço por formando é de 360 euros, sendo que os assinantes da Construção Magazine e os sócios da APEA usufruem de um desconto de 10%. www.csustentavel.com

A Fundação AIP, através da AIP Feiras Congressos e Eventos, com o apoio do QREN e o apoio institucional da AICEP, e em parceria com a CTA - Confederação das Associações Económicas de Moçambique, a Câmara de Comércio Moçambique Portugal, o IPEX – Instituto para a Promoção de Exportações a GAZEDA – Gabinete das Zonas Económicas de Desenvolvimento Acelerado e o CPI – Centro de Promoção de Investimento, organizam a Tektónica Moçambique / Intercasa Moçambique, de 26 de fevereiro a 1 de março. A feira é dedicada à Construção e Obras Públicas, Imobiliário, Energia, Ambiente, Arquitetura, Engenharia, Mobiliário e Decoração. O programa inclui, para além da exposição, uma visita empresarial às províncias de Cabo Delgado, que decorre a 24 e 25 de fevereiro. www.tektonica.fil.pt

calendário de eventos

Implementação e auditoria – SGA

Implementação e auditoria a sistemas 4 de janeiro de Gestão Ambiental NP ISO 14001:2004 2014

Braga Portugal

www.csustentavel.com

NanoPortugal Nanociência e Nanotecnologia

12 a 14 de fevereiro Lisboa 2014 Espanha

www.nanopt.org

Tektónica Moçambique Construção

26 de fevereiro a 1 de março 2014

Maputo Moçambique

www.tektonica.fil.pt

Congresso MATERIAIS Construção Sustentável no espaço Construção Sustentáveis luso-brasileiro

5 a 7 de março 2014

Braga Portugal

civil.uminho.pt

Renexpo 2014 Energia

12 e 13 de março 2014

Budapeste Hungria

renexpo-budapest.com

14º Congresso Nacional Geotecnia de Geotecnia

6 a 9 de abril 2014

Covilhã Portugal

www.ubi.pt

As informações constantes deste calendário poderão sofrer alterações. Para confirmação oficial, contactar a Organização.

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