Geonovas Número 28

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74 Ostracodos e microfácies de depósitos margo-carbonatados do Cenomaniano de Lousa - Salemas, região de Lisboa

com uma diminuição de hidrodinamismo. É feita a passagem para um paleoambiente tipicamente salobro sendo a espécie Fossocytheridea merlensis dominante, comum em meio margino-litoral ou marinho restrito (Babinot & Colin, 1976; Tibert et al., 2003). Um novo período de influência predominantemente marinha é marcada pelo surgimento de equinodermes e textularídeos. A grande quantidade de ostracodos, provavelmente da mesma espécie, presentes uns metros acima, e sem grande diversidade de outros organismos, sugere novo paleoambiente tipicamente salobro, com baixo hidrodinamismo. A presença dos géneros Paracypris e Paracaudites mais acima sugere novo paleoambiente mais marinho, com equinodermes presentes. O género Paracypris é típico de ambiente marinho profundo (Van Morkhoven, 1963) podendo ser encontrado até à zona infralitoral (Andreu, 1991), e o género Paracaudites é comum em plataforma, sendo Paracaudites (Dumontina) aff. grekoffi uma espécie de transição entre recife e plataforma interna, associado a calcários de rudistas (Babinot, 1980). O género Fossocytheridea, revela transição de natureza mais salobra e grande quantidade de miliolídeos sugere ambiente lagunar hipersalino. Novo surgimento de dasicladáceas e equinodermes aponta para nova passagem mais marinha, e por fim verificam-se dois períodos deposicionais intercalados, um salobro, mais restrito, registado pela presença de Fossocytheridea merlensis na componente margosa, e outro mais marinho, registado pelas plaquetas carbonatadas onde se observaram dasicladáceas. A presença de Paracypris sp.1 (espécie marinha, menor quantidade) encontrada juntamente com Fossocytheridea merlensis (espécie salobra, maior quantidade) pode ser explicada pelo transporte de Paracypris para o interior da laguna através de períodos em que houve uma pequena influência marinha. Relação carapaças/valvas Segundo Oertli, (1971), quando um ostracodo morre, as suas valvas separam-se devido à intensa actividade bacteriana, que destrói os músculos e os ligamentos. Assim, surgem duas situações: quando a taxa de sedimentação é lenta, o substrato está consolidado e apenas parte dos indivíduos mortos atinge um nível suficientemente fundo para

evitar que as valvas se separem. Com uma elevada taxa de sedimentação, o substrato é suave e a maior parte das carapaças atinge níveis fundos, devido ao seu peso, preservando-se então as carapaças. Com base na relação entre o número de carapaças e valvas da espécie Fossocytheridea merlensis verificou-se maior quantidade de carapaças nos níveis LS7, LS8M e LS10B indicando baixo hidrodinamismo e elevada taxa de sedimentação do meio, contrariamente ao nível LS4BM onde o número de valvas era superior revelando um meio de maior hidrodinamismo, levando a remobilização sedimentar e favorecendo a desagregação das valvas (Fig. 5). Relação jovens/adultos Para o estudo da relação jovens/adultos apenas se utilizaram os exemplares da espécie Fossocytheridea merlensis, visto ser a única que apresentava população adulta e jovem, facilmente identificável (Fig. 6). Verificou-se que o número de carapaças adultas é superior ao número de carapaças de jovens. Segundo De Decker (2002) isto deve-se, provavelmente, às variações do meio que são mais favoráveis à preservação das carapaças adultas em detrimento das carapaças jovens, uma vez que estas são mais finas e mais frágeis, resistindo menos aos processos diagenéticos e deixando, assim, menor registo nas formações geológicas. Por outro lado, poderá também ser explicado o predomínio das carapaças adultas devido à actividade de correntes de fundo que transportam carapaças de dimensões menores, uma vez que após a morte do ostracodo, estas apresentam a mesma resistência hidrodinâmica que as partículas sedimentares do fundo da coluna de água. Conclusões A sucessão analisada ter-se-á depositado em meio predominantemente lagunar restrito, salobro, de baixo hidrodinamismo mas com taxa de sedimentação elevada (informação inferida através da abundância significativa de carapaças de Fossocytheridea merlensis) e com influências marinhas periódicas indicadas pelo aparecimento de Paracypris sp.1, Paracaudites (Dumontina) aff. grekoffi, Paracaudites (Dumontina) juliensis, dasicladáceas e equinodermes em alguns níveis. É de salientar ainda que, du-


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