Revista da APM 728 - Set/Out 2021

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ESPECIAL

Um dos primeiros registros de resistência a imunizações data de 1722, com o reverendo inglês Edmund Mossey. [ RESUMO ]

Em meados dos anos 1860, houve protestos contra a vacina na região de Leicester, e algumas décadas depois no Rio de Janeiro, com a Revolta da Vacina. Artigo publicado no The Lancet, em 1998, ainda é um dos fatos mais determinantes para a sustentação do movimento antivacina. Rápida produção dos imunizantes contra a Covid-19, associada à explosão das fake news, tem dificultado adesão das pessoas em todo o mundo.

HISTÓRIA Resistência às vacinas existe desde o século XVIII

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oenças são enviadas por Deus para punir pecados e qualquer tentativa de prevenir a varíola por inoculação é uma operação diabólica.” O ano era 1722, quando o teólogo e reverendo inglês Edmund Mossey fez essa afirmação em um de seus sermões, intitulado de “A perigosa e pecaminosa prática de inoculação”. O relato, contido no livro “Recusa de vacinas: causas e consequências”, de autoria de Guido Carlos Levi, ilustra um conflito perene quando o tema são as imunizações. Desde que foram descobertas, há quem se posicione contrariamente ao uso.

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Se é verdade que essa resistência está posta desde o século XVIII, é verdade também que, neste início de século

Quando alguém não toma vacina, prejudica não somente a si, mas à comunidade a qual pertence

XXI, a credibilidade das vacinas nunca esteve sob tantos ataques. O que vinha crescendo nas últimas três décadas parece ter ganho tração, inclusive, com a pandemia de Covid-19, que proporcionou à humanidade o desenvolvimento em tempo recorde de novas imunizações, mas também muita mentira e desinformação. Entre motivos científicos, políticos, religiosos, classistas, sociais e filosóficos, são várias as razões pelas quais alguém deixa de vacinar os filhos ou a si próprio. Por seu caráter multifacetado, muitos especialistas têm dificuldades de apontar o porquê, mesmo com todas as evidências científicas favoráveis às imunizações, de muitos fazerem coro a esse movimento antivacina. Eles são unânimes, porém, em apontar que essa corrente pode trazer consequências sérias à saúde pública dos diferentes países. Levi, que é presidente da Comissão de Cultura e Memória da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), é taxativo: quando alguém não toma vacina, prejudica não somente a si, mas à comunidade a qual pertence. “Temos que pensar na imunização como um ato social, não somente individual.”


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