Clipping geral e espec 10 a 12052014

Page 20

19 o estado de sp - sp - on line - 12.05.2014

Polícia constrangida

Está em curso no País uma perigosa inversão de valores na área de segurança pública. A polícia, a quem cabe a manutenção da ordem e a repressão ao crime, tem sido tratada por formadores de opinião cada vez mais como uma entidade truculenta e criminosa, responsável pela violência contra inocentes. Essa percepção poupa os delinquentes reais, isto é, aqueles que de fato agridem a sociedade, enquanto os policiais são submetidos a diversas formas de constrangimento a seu trabalho, muito além do que determinam as leis e os manuais de conduta. Tome-se o exemplo mais recente, a morte do bailarino Douglas Rafael da Silva Pereira, conhecido como DG, no morro Pavão-Pavãozinho, no Rio de Janeiro. Douglas provavelmente foi vítima de tiroteio entre policiais e traficantes no local. Mesmo antes de saber exatamente de onde partiu o tiro que o matou, moradores e familiares imediatamente atribuíram o crime à polícia - a mãe do rapaz chegou a dizer que ele foi torturado por policiais. Foi a senha para protestos contra a polícia, que incluíram faixas nas quais se lia “Fora, UPP” e “UPP assassina”, referência às Unidades de Polícia Pacificadora, eixo da política de segurança pública no Rio.

carros e ônibus - tudo em nome de suas utopias totalitárias. Quando foi acionada para fazer o que dela se espera, em alguns casos a polícia cometeu alguns equívocos reprováveis, como o uso exagerado da força. Embora tenham sido pontuais, esses problemas se transformaram imediatamente em senha para que se tentasse desmoralizar todo o trabalho policial, transformando os agentes da lei em inimigos, causando embaraços ao poder público e deixando o caminho livre para a baderna travestida de “movimento social”. Formou-se então uma aliança de conveniência entre o ativismo irresponsável e o crime organizado - que ademais nadam de braçada graças a um discurso acadêmico e político irresponsável que romantiza a afronta ao Estado e que qualifica a repressão policial, por princípio, como um ataque aos pobres e à democracia.

É evidente que se deve questionar a eficácia das UPPs como política de segurança pública, em razão da reincidência da violência nos últimos tempos, assim como se deve criticar duramente a truculência policial nas ruas de São Paulo, não só É compreensível que, sob forte emoção, os durante manifestações, mas, principalmente, no dia familiares de Douglas tenham hostilizado aqueles a dia da cidade. que lhes pareceram culpados pelo crime. O descontentamento da população com o traNo entanto, o que se viu no Rio foi a explora- balho da polícia, em especial quando demonstra ção grosseira da tragédia por parte dos que preten- seu despreparo para atuar sob pressão, é legítimo dem enfraquecer a luta do Estado contra os narco- e deve servir como incentivo para que o Estado traficantes que há décadas dominam os morros e as reforme e aperfeiçoe a corporação. Faltam, por favelas do Rio. exemplo, instrumentos mais eficientes de controle da letalidade policial no Brasil, uma das mais altas Não é por outra razão, aliás, que os famigerados do mundo. black blocs, contumazes baderneiros, engrossaram as manifestações. Para essa turma, lei e ordem são Isso nada tem a ver, porém, com o exagerado instrumentos de “dominação burguesa”. São os só- descrédito das forças de segurança pública. Percios perfeitos da bandidagem. guntar a quem interessa alimentar essa imagem da polícia é ocioso. Como sabe todo cidadão amante da paz social, a vida piorou nas grandes capitais brasileiras desde Certamente não é ao cidadão comum, que esque esses ativistas resolveram impor sua vontade pera sair para o trabalho e voltar para casa sem ser sem qualquer consideração pelos interesses coleti- molestado por assaltantes, assassinos e traficantes vos, paralisando ruas e avenidas, quebrando vidra- ou bloqueado por ativistas fascistoides que sequesças de lojas e de agências bancárias e incendiando tram o espaço público e se nutrem do caos.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.