24 Set 2012

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20 O TEMPO - MG - ON LINE - 24.09.2012

Recall

Mais de 4 milhões de veículos circulam com defeito de fábrica Sem o conserto, proprietário mantém direitos, mas não pode transferir

PEDRO GROSSI

da por um fornecedor diferente, cabendo à montadora juntar as peças. “Elas geralmente vêm com qualidade assegurada. Por isso, a maior parte das falhas na fabricação acontece quando há mudanças de fornecedores”, diz.

Ela afirma ainda que, em qualquer situação, o fabricante segue sendo o principal responsável. “Nada disso tira a responsabilidade da empresa. O consumidor não pode ser penalizado por um erro do fabricante”, conclui.

Para estimular uma maior adesão dos consumidores aos chamados de recall, o governo, por meio do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), publicou uma portaria em março de 2011 que obriga as montadoras De janeiro a agosto de 2012, a enviarem relatórios dos atendicerca de 140 mil donos de veí- mentos de recall. Com base no culos ignoraram os pedidos de número do chassi do veículo e no recall. Desde 1991, quando essa número do Registro Nacional de prática passou a ser adotada no Veículos (Renavan), o governo Brasil, mais de 10 milhões de controla os recalls. Os que não consumidores já foram convoca- forem atendidos terão os pedidos dos a corrigir problemas nos ve- de transferência de veículos bloículos. queados.

A fabricante chinesa Chery irá convocar proprietários dos veículos modelos Tiggo e Cielo para substituição de componentes do motor. Segundo o chamamento de recall protocolado pela fabricante na Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) órgão vinculado ao Ministério da Justiça , a empresa detectou que “os veículos exportados para o Brasil possuem componentes montados com pequena composição de amianto”.

Cerca de 4 milhões de carros, ônibus e caminhões circulam no Brasil com graves problema de fábrica. São falhas elétricas, mecânicas e até em itens de segurança. A estimativa é do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) que diz que, de cada dez consumidores, quatro não atendem aos chamados de recall das montadoras para solução de problemas de fabricação.

“O desinteresse nos recalls não acontece só aqui. Se no Brasil o índice é de 40%, nos Estados Unidos é de 50%”, diz o diretor da Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), Francisco Satkunas. “É realmente um transtorno ter de levar o carro à concessionária e possivelmente ficar sem ele por mais de um dia. Porém, mais do que tudo, esse é um ato de segurança”, explica. Segundo Satkunas, os pedidos mais comuns de recall são para substituição de peças vindas de fornecedores. “Mais ou menos 70% dos casos são de material que vem dos fornecedores, e uns 20%, de montagem. Os outros 10% são falhas em projetos de engenharia”, diz. Ele explica que cada peça de um carro é fabrica-

Direitos. A coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Maria Inês Dalci, diz que o esforço para incentivar a adesão aos recalls é mais pelo cidadão que pelo consumidor. “A preocupação maior é pela segurança, porque acho que as pessoas não têm consciência do risco que estão correndo quando deixam de corrigir um problema de fábrica”. Maria Inês explica, no entanto, que mesmo os consumidores que não fizeram o recall dos veículos têm os mesmos direitos daqueles que atenderam aos chamados. “Quem não solucionou o problema do carro já vai enfrentar problemas na hora de transferir o veículo e já está correndo riscos”.

Carros chineses com amianto

A campanha, que, segundo a empresa, deve abranger 12.460 automóveis, terá início em 1º de outubro. O amianto é considerado cancerígeno pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mas, no Brasil, ele só é proibido em São Paulo. A Chery também fez um recall na Austrália, pelo mesmo motivo. Lá, o amianto é proibido em todo o país. “Foi uma surpresa desagradável ver que o amianto ainda estava sendo utilizado. Nenhum outro fabricante do mundo utiliza esse material. É bom ressaltar que o risco é a médio e longo prazos, mas esse recall é de extrema importância”, avaliou o diretor da Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), Francisco Satkunas. (PG)


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