Fim de Semana ARTESP - edição 87_

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Medellín: da relação com Pablo Escobar a um modelo a ser seguido O sistema de Medellín, que começou a operar em 2004, ajudou a revitalizar alguns dos bairros mais problemáticos da cidade, parte de uma renovação que inclui jardins, um museu e uma biblioteca. Em La Paz, o sistema, que foi inaugurado em 2014, uniu comunidades divididas por raça e status social. Esses casos de sucesso aumentaram as expectativas do poder transformador dos bondinhos, e alguns especialistas se preocupam com a possibilidade de a situação se transformar em jogada política. Afinal, falta tanta coisa nessas comunidades. Julio D. Dávila, professor de Política Urbana e Desenvolvimento Internacional na University College London, que estudou os projetos de teleféricos na Colômbia, porém, disse que o benefício social de unir comunidades pobres à vida econômica de uma cidade não pode ser quantificado. “Não dá para usar a análise tradicional de custo-benefício. O que importa é que os pobres têm acesso à cidade e se sentem incluídos”, disse ele. Teleféricos não são mais importantes que serviços básicos Em Ecatepec, o projeto do Mexicable trouxe progresso urbano, disseram os moradores. O município instalou novos postes e asfaltou algumas ruas. Ao longo da rota, o governo pintou fachadas de rosa, verde e lilás e encomendou cerca de 50 pinturas murais enormes: a boca escancarada de um tubarão em um telhado; um retrato de Frida Kahlo feito por Alec Monopoly, grafiteiro de Nova York; um elefante parecido com Elmer, esculpido pelo artista de Oaxaca Fernando Andriacci; uma menina sorridente, cujo rosto envolve uma das estações de concreto do Mexicable. Embora o teleférico da Cidade do México esteja virando uma atração à parte na cidade, os moradores não acreditam muito que o trabalho de embelezamento possa trazer o tipo de renascimento que ocorreu em Medellín. Nelli Huerta, dona de casa que esperava um ônibus em Tablas del Pozo, perto da metade da rota do Mexicable, com sua filha de 10 anos, disse que havia usado o teleférico algumas vezes, mas prefere viajar em terra firme. Olhando para os bondinhos que passam lá em cima, ela disse que, em vez disso, o governo deveria ter gasto o dinheiro em serviços básicos. Paul M. Abed, diretor do Mexicable, disse que o sistema carrega uma média de 18 mil passageiros por dia, e se espera que chegue a 30 mil. A sensação de que, diante da falta de tantos serviços básicos, a instalação de um teleférico possa parecer um luxo não é só dos moradores da Cidade do México. No Rio de Janeiro, os moradores das comunidades beneficiadas por projetos assim também relatam esse sentimento. O primeiro teleférico dito de “transporte de massa” no Brasil foi o do Complexo do Alemão, conjunto de 13 comunidades no Rio de Janeiro, inaugurado em 2011. Desde outubro de 2016, porém, o serviço está paralisado. A versão oficial, do governo estadual, é de que houve desgaste em um dos cabos de tração do sistema, que não tem data para ser consertado. Segundo órgãos da imprensa local, como o RJTV, da Rede Globo, porém, o serviço parou porque o consórcio responsável não recebe pagamento em dia desde de abril do ano passado – só mais uma conta no quadro de falência financeira do Estado do Rio de Janeiro. O segundo teleférico do Rio nesses moldes veio em julho de 2015, no Morro da Providência, ligando a Praça Américo Brum, no alto do morro da Providência, à Central do Brasil e à Cidade do Samba, na Gamboa. Há também um projeto


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