Infotejo 007

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OPINIÃO e industriais (muito poluídas), águas pluviais e águas de infiltração (pouco poluídas); c) verifica-se, em tempo de chuva, a descarga directa de excedentes poluídos para os meios receptores (“overflows”, na terminologia anglo-saxónica), o que também ocorre ocasionalmente em tempo seco, devido a acidentes diversos, nomeadamente por interrupção de bombagens por falha de energia eléctrica, assoreamento da soleira de descarregadores ou colapso de infra-estruturas; d) as marés e os níveis de água nos meios receptores limitam e condicionam a capacidade dos emissários de descarga de águas pluviais; e) agravam-se as dificuldades de adaptação das infra-estruturas, tal como se encontram concebidas e projectadas, face a alterações não previstas na ocupação do território, no clima e nos hábitos de consumo e utilização da água pela população servida.

Muito resumidamente, os sistemas de controlo em tempo real, que suportam a gestão avançada, incluem cadastros informatizados e Sistemas de Informação Geográfica (SIG), redes de monitorização (para controlo da quantidade e qualidade da água), sistemas de teletransmissão da informação, actuadores (i.e. válvulas e adufas motorizadas) e modelos de simulação. A informação transmitida, que caracteriza o estado do sistema, é utilizada conjuntamente com os dados de previsão meteorológica (em regra, obtidos por imagens de radar) a fim de se preverem caudais futuros e telecomandar, em tempo real, a operação do sistema, com vista a aproveitar ao máximo as potencialidades das infra-estruturas, maximizando a afluência de caudais às Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) reduzindo, assim, os riscos de contaminação dos meios receptores, e também os riscos de inundações.

Os métodos e técnicas tradicionais para resolver esses problemas e desafios, baseados no desenvolvimento de soluções estruturais lineares, suportadas em princípios de concentração unidireccional, em que as águas residuais e pluviais afluem a redes enterradas com o objectivo de serem conduzidas, o mais rapidamente possível, para o meio receptor (“tout à l’egout”, na terminologia francesa), implicam elevados investimentos em infra-estruturação, bem como custos ambientais e sociais significativos. A multiplicidade e diversidade de infra-estruturas subterrâneas, muito comum em espaço urbano consolidado, atrasam, dificultam e naturalmente oneram essas intervenções.

Para proceder à gestão avançada eficiente dos sistemas de drenagem urbana, como acontece, entre outras cidades europeias, em Barcelona, Berlim ou Bordéus, torna-se naturalmente necessário conhecer, de forma detalhada, as características físicas das diversas componentes, e dispor de uma planificação adequada, que integre o planeamento das intervenções de projecto, de construção, de manutenção e de operação, associada a uma exploração activa preventiva. Mas os novos paradigmas, ou novas maneiras de pensar relativamente à drenagem urbana, enquadram-se em preocupações emergentes mais vastas e abrangentes, e que respeitam o metabolismo e evolução da cidade do futuro. O sistema urbano recebe afluências (“inputs”), i.e., água, alimento, energia, materiais e produtos químicos, que se acumulam, transformam e reciclam no interior do ciclo urbano, resultando em produtos diversos (“output”), i.e., resíduos gasosos, líquidos e sólidos.

Deste modo, o desenvolvimento da drenagem urbana nas “modernas” cidades europeias, ou seja, as intervenções de expansão, reabilitação e beneficiação das infra-estruturas tem evoluído, em particular nas últimas duas décadas, no sentido de complementar as soluções estruturais (baseadas, por exemplo, no aumento da capacidade hidráulica dos colectores e na construção de reservatórios), com soluções de controlo na origem (“source control”, “best management practices” ou “sustainable urban drainage systems”, na terminologia anglo-saxónica), abordagens de separação tendencial de águas residuais e de águas pluviais e soluções dispondo de equipamentos e tecnologia associada para controlo em tempo real (“real time control”, na terminologia anglo-saxónica).

Em particular, os sistemas lineares que suportam os serviços de saneamento exigem, frequentemente, consumos de recursos, como energia e reagentes, que comprometem objectivos gerais de sustentabilidade. Nesse quadro, tem assumido importância crescente, no modelo da cidade do futuro, a procura de abordagens e soluções verdes, que tenham em conta a redução da pegada de carbono e em geral da pegada ecológica, através da eficiência e produção e valorização energética, da reutilização de efluentes, do uso eficiente da água e do aproveitamento de nutrientes. As soluções locais, descentralizadas, características do controlo na origem são, nesse sentido e em regra, mais sustentáveis que as soluções tradicionais. As soluções de controlo em tempo real, quando convenientemente suportadas por sistemas de informação e conhecimento, conferem maior capacidade de adaptação, flexibilidade e resiliência às infra-estruturas, face às renovadas solicitações e desafios que se colocam à Sociedade.

As técnicas de controlo na origem (pavimentos porosos, trincheiras de infiltração, bacias de retenção e infiltração, entre outras) tem como objectivo principal promover a infiltração e/ou retenção de águas pluviais in situ, para efeitos de regularização de caudais de ponta, permitindo uma maior aproximação ao ciclo hidrológico natural. As soluções de controlo na origem de águas pluviais devem merecer especial atenção logo numa fase precoce do planeamento do território e apresentam particular potencialidade de aplicação em áreas menos consolidadas da cidade, do ponto de vista da ocupação edificada. 2 1 - Cheias em Sacavém - 1990 2 - Centro de Supervisão 1

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