Revista Palavra Projeto 2015

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Andréa Coelho Paim Coordenadora da educação infantil, formada em Magistério e Educação Física, no IPA (Instituto Porto Alegre), com especialização em Processos Inclusivos, na UFRGS.

A infância ontem e hoje: “No meu tempo...” Meu interesse pela infância não é de hoje. Pensando bem, recém tinha passado por ela e já iniciava minhas leituras a respeito. Isso faz bastante tempo, e nesse período pude acompanhar diversas descobertas e mudanças em relação a essa etapa do desenvolvimento humano. Algo que ultimamente tem me chamado a atenção é o fato dos adultos lembrarem com muito carinho dessa fase, mas normalmente comentarem que “No meu tempo... era muito melhor!”. Essa reflexão normalmente é seguida de uma lista de brincadeiras (algumas até peraltagens) que faziam quando eram crianças, como brincar livremente na calçada, jogar bola no meio da rua, pular muros, corda, amarelinha, explorar sucatas, brincar mais com a caixa do que com o presente... Eu mesma já me peguei caindo nessa armadilha do tempo. E foi aí que me dei conta sobre a nostalgia que em um determinado momento nos toca de uma maneira especial: normalmente quando nos tornamos mães, pais, avós ou tios e nos aproximamos novamente da infância, numa perspectiva totalmente diferente. Mas, enfim, o que aconteceu que aquela nossa infância não parece estar no presente? Seria a falta de tempo? A insegurança nas ruas? Os perigos que nos rondam e tentam nos paralisar? Para algumas crianças esse momento realmente pode ter ficado

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menos rico, mas as crianças que frequentam uma escola infantil de qualidade certamente serão adultos que lembrarão com bastante carinho dessa fase. A escola infantil de qualidade à qual me refiro é a que compreende o quanto é importante para a formação do sujeito. Que sabe que é nessa fase da vida que construímos as estruturas que servirão de base para o desenvolvimento futuro, e assume essa responsabilidade. Que identifica no ato de brincar inúmeras aprendizagens, que instiga o pensamento, que provoca a reflexão, que permite a cada um descobrir suas características próprias e ser respeitado por elas. O professor dessa escola tem conhecimento sobre as etapas do desenvolvimento infantil, compreendendo as atitudes das crianças de determinada faixa etária, auxiliando-as a avançar através de propostas lúdicas que provoquem a desestabilização de suas certezas, a construção de novas descobertas ou a confirmação de suas ideias. A infância é a fase do aprendizado através da ação, do corpo e de seus inúmeros sentidos. E, provavelmente, é por isso que nossa memória, quando adultos, nos traga as passagens mais significativas, recheadas de sentimentos. É especialmente nesse período que aprendemos a transferir a segurança estabelecida no âmbito familiar para a escola, em especial para


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